De NTN-A ao Japão: entenda os 4 fatores que puxaram o dólar de R$ 4,20 para R$ 3,90

Apesar da moeda já esboçar uma reação e se aproximar dos R$ 4,00, uma combinação de fatores permitiu que o dólar ficasse abaixo deste patamar nas últimas semanas

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Em 21 de janeiro, o dólar comercial atingiu seu maior valor de fechamento na história, a R$ 4,1655, mas desde então passou a cair – contra todas as projeções -, voltando para R$ 3,8750 na última semana. Apesar das análises de especialistas continuarem indicando que a moeda norte-americana vá subir forte este ano, alguns eventos pontuais acabaram puxando a divisa para este nível mais baixo (que já começa a ser ameaçado).

O próprio cenário externo se tornou mais favorável para uma queda do dólar no mundo todo, mas movimentos vindo do Japão, além de ações tomada pelo BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) também estão entre os fatores que fizeram o real ter um desempenho bem superior aos seus pares emergentes. Entre 21 de janeiro e 4 de fevereiro, o dólar comercial caiu cerca de 7%.

Com a Ásia levando mau humor às bolsas do mundo todo nos últimos dias, o dólar registra uma forte arrancada, e às 13h29 (horário de Brasília) registrava alta de 0,74%, cotado a R$ 3,9629 na compra e R$ 3,9646 na venda, mas ainda se mantém abaixo dos R$ 4,00. Confira abaixo os 4 fatores que derrubaram o dólar nas últimas semanas:

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Movimentação de Notas do Tesouro
No início do mês uma notícia do Valor Pro indicou uma movimentação completamente atípica de NTN-A (Notas do Tesouro Nacional – série A) no mercado secundário de títulos públicos. Foram negociados 423.315 destes títulos em um dia, movimentando R$ 1,6 bilhão. O volume chamou atenção porque este é um título que não é emitido pelo Tesouro há anos, sendo que a última vez que as NTN-As foram negociadas no mercado secundário foi em 4 de dezembro, com 136.500 negócios. 

O rumor que circulou entre os investidores, de acordo com a agência de notícias, é de que são os bancos públicos e outras instituições ligadas ao governo que estão comprando estes ativos. Em contrapartida, eles venderiam dólares no mercado à vista para zerar a exposição cambial e melhorar o desempenho da moeda nacional.

O rumor seria baseado no fato de que um expressivo fluxo vendedor dos bancos públicos e também estaria sendo percebido algo parecido nos fundos de previdência. Algo parecido foi feito nos últimos dias de janeiro, quando o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) vendeu dólares nos últimos dias de janeiro ao se desfazer de posições atreladas ao câmbio para pagar as pedaladas fiscais.

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Ajuste do mercado
Entre os fatores domésticos, está também o reequilíbrio das contas externas, que tem sido mais forte em relação ao começo do ano passado, sinalizando que o ajuste tem reagido principalmente neste ponto, como destaca a corretora Nomura.

Enquanto as perspectivas da crise política e econômica tenham piorado desde o início do ano passado, a fraca demanda doméstica está atuando, de forma a rever o déficit de US$ 4 bilhões da balança comercial em 2014 para um superávit de US$ 24 bilhões atualmente. Por sua vez, o déficit em conta corrente diminuiu de US$ 104 bilhões (4,3% do PIB) para US$ 59 bilhões (3,3% do PIB).

“Este ajuste rápido fez com que as contas externas destacam-se como um relativamente positivo aspecto da economia brasileira, que ainda inclui os níveis de reserva robustos”. Com isso, houve um limite para a depreciação do real, afirma o economista da Nomura, João Pedro Ribeiro.

Federal Reserve
Mesmo com tantos eventos afetando o mercado, os Estados Unidos não deixaram o radar dos investidores. Desde o início do ano, uma série de dados ruins da economia americana e a política monetária de outros bancos centrais pelo mundo sinalizando um Federal Reserve mais “dovish” (brando) ajudaram a derrubar o dólar no mundo todo.

Em relatório, o Bank of America Merrill Lynch chegou a sugerir que, se a economia americana se enfraquecer, o Fed poderia considerar taxas negativas (a exemplo do Japão) como medida de estímulo. Na quarta-feira (10), a presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, destacou a fragilidade da economia dos EUA, apesar de não descartar novas altas de juros nos próximos meses.

A recuperação do preço do petróleo até semana passada era outro fator que favorecia na queda do dólar – a commodity chegou a casa dos US$ 28 o barril no final no mês passado e superou os US$ 32 na última semana. Porém, novas quedas do petróleo nesta semana estão ajudando no caminho contrário, com o dólar subindo (ainda sem superar os R$ 4,00).

Juros no Japão e operações de “carry trade”
Segundo o diretor da mesa de operações da Mirae Asset Wealth Management, Pablo Spyer, o real teve um desempenho melhor do que outras moedas de países emergentes por causa da entrada de recursos do extremo Oriente para fazer uma operação conhecida como “carry trade”. Basicamente, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros em um país e aplica em outro que possui taxas de juros mais altas, fazendo uma espécie de arbitragem. 

O Japão anunciou recentemente a sua decisão de reduzir as taxas de juro para o terreno negativo, -0,1%. Isso significa que o japonês que quiser poupar dinheiro comprando títulos do seu país vai ter que pagar para manter seu dinheiro parado. Acaba sendo literalmente uma “perda fixa” em vez de uma renda fixa.

A razão do banco central do país fazer isso é clara: o governo tenta desesperadamente estimular a economia japonesa, que está há anos em uma espiral deflacionária. Desestimulando os poupadores, o Japão espera aumentar o consumo e o investimento produtivo. 

No entanto, há uma terceira opção para quem quer ganhar dinheiro no país, que é justamente o carry trade. E que país melhor para usar na operação do que o Brasil, com suas taxas de juro de 14,25% ao ano. “O asiático pega dinheiro emprestado lá no país dele e aplica aqui no Brasil para ganhar o nosso juro”, explica Spyer.

E a maneira de investir aqui, obviamente, é comprando reais para depois comprar títulos brasileiros. A demanda por real aumenta e impede que o câmbio fique mais desvalorizado apesar das péssimas notícias no nosso cenário macroeconômica. O diretor da Mirae ainda atenta para o fato de que não é só o Japão que está fazendo mais carry trade, mas também a China, já que estão vindo regras de flexibilização ao envio de remessas ao exterior na segunda maior economia do mundo.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.