BNDES trader, Fed, ajuste: dólar caiu 7% desde a máxima, mas baixa deve continuar?

Diversos fatores mudaram a tendência de alta do dólar desde o último dia 21 de janeiro - analistas veem boa oportunidade de compra para divisa americana

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Movimentação atípica de NTN-A (Notas do Tesouro Nacional – série A), Federal Reserve, contas externas. Desde o último dia 21 de janeiro, quando o dólar atingiu os R$ 4,1655 (a cotação máxima histórica de fechamento), a divisa estrangeira já registrou uma queda de cerca de 7%, chegando aos R$ 3,875. O dólar fechou cotado a R$ 3,8941 na venda, em baixa de 0,613%. 

Além de dias de menor turbulência no mercado internacional e a divisa americana caindo em boa parte do mundo depois de um início de ano bastante tenso, o real tem se valorizado em meio a alguns fatores domésticos.

Um dos destaques foi para a notícia de ontem do Valor Pro de umamovimentação completamente atípica de NTN-A (Notas do Tesouro Nacional – série A) no mercado secundário de títulos públicos. Foram negociados 423.315 destes títulos ontem, movimentando R$ 1,6 bilhão. O volume chama a atenção porque este é um título que não é emitido pelo Tesouro há anos, sendo que a última vez que as NTN-As foram negociadas no mercado secundário foi em 4 de dezembro, com 136.500 negócios.

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O rumor que circula entre os investidores, de acordo com a agência de notícias, é de que são os bancos públicos e outras instituições ligadas ao governo que estão comprando estes ativos. Em contrapartida, eles venderiam dólares no mercado à vista para zerar a exposição cambial e melhorar o desempenho da moeda nacional.

O rumor seria baseado no fato de que um expressivo fluxo vendedor dos bancos públicos e também estaria sendo percebido algo parecido nos fundos de previdência. Algo parecido foi feito nos últimos dias de janeiro, quando o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) vendeu dólares nos últimos dias de janeiro ao se desfazer de posições atreladas ao câmbio para pagar as pedaladas fiscais. 

Entre os fatores domésticos, está também o reequilíbrio das contas externas, que tem sido mais forte em relação ao começo do ano passado, sinalizando que o ajuste tem reagido principalmente neste ponto, como destaca a corretora Nomura. 

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Enquanto as perspectivas da crise política e econômica tenham piorado desde o início do ano passado, a fraca demanda doméstica está atuando, de forma a rever o déficit de US$ 4 bilhões da balança comercial em 2014 para um superávit de US$ 24 bilhões atualmente. Por sua vez, o déficit em conta corrente diminuiu de US$ 104 bilhões (4,3% do PIB) para US$ 59 bilhões (3,3% do PIB). “Este ajuste rápido fez com que as contas externas destacam-se como um relativamente positivo aspecto da economia brasileira, que ainda inclui os níveis de reserva robustos”. Com isso, houve um limite para a depreciação do real, afirma o economista da Nomura, João Pedro Ribeiro.

Claro, os fatores externos continuam sendo bastante importantes para a desvalorização da moeda americana, em meio aos últimos dados ruins da economia americana e a política monetária de outros bancos centrais pelo mundo sinalizando um Federal Reserve mais “dovish” (brando). Em relatório, o Bank of America Merrill Lynch chegou a sugerir que, se a economia americana se enfraquecer, o Fed poderia considerar taxas negativas (a exemplo do Japão nesta semana) como medida de estímulo.

Com isso, as ordas de venda de dólares no mercado de câmbio aumentaram. A recuperação do preço do petróleo, que chegou a casa dos US$ 28 o barril no final no mês passado e agora está acima de US$ 32 também ajuda as moedas emergentes.

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A alta do real se sustenta?
Apesar da tendência de queda da divisa americana, há ceticismo de boa parte do mercado sobre se a tendência continuará, principalmente por conta dos fatores internos. 

Como ressalta a Nomura, a expectativa é de que o real se enfraqueça neste ano, mas há um passo menor do que em 2015, quando a moeda brasileira teve queda de 48%. “Nossa previsão oficial é do dólar a R$ 4,20 no final do ano, particularmente em um ambiente de contínuos preços baixos de commodities. Também reconhecemos os muitos riscos relacionados com a elaboração de políticas nacionais, especialmente em um ambiente político complicado. No entanto, vemos os ajustes externos como um grande fator limitando o enfraquecimento adicional em relação aos níveis atuais e apoiando a nossa previsão”, afirma o economista da Nomura. 

O diretor da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, destaca que é muito difícil saber se a tendência de queda do dólar vai durar muito.  “Naturalmente o Fed deve ir mais devagar na alta dos juros, mas o quadro externo é muito crít ico, assim como o local (especialmente a dinâmica da dívida pública e a situação de penúria dos estados, inclusive do Sudeste)”, afirma.

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Pelo modelo da Wagner Investimentos, a compra de dólares entre R$ 3,80 e R$ 3,90 é atrativa. “Esperar cair mais ou esperar muito tempo pode ser um comportamento que deixe para trás uma oportunidade aparentemente muito interessante de compra do dólar/real (e também do euro/real)”, ressalta Júnior. A estimativa do dólar futuro para o final deste ano é de R$ 4,25, a uma média de R$ 4,08.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.