Dólar já é uma bolha e os mercados não vão desperdiçá-la, diz gestora americana

Equipe da Ashmore ressalta o poder de alta da moeda norte-americana e questiona: "quando foi a última vez que você ouviu alguém falar que o dólar não iria subir?"

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – “Se você duvida que a alta do dólar é uma bolha, pergunte a si mesmo: quando foi a última vez que você encontrou alguém que não estava ‘bullish’ (acreditando em alta) do dólar? É essa questão que os economistas da Ashmore – gestora especialista em mercados emergentes e que gere US$ US$ 63,7 bilhões – levantam para explicar que o mercado está no meio de uma bolha cambial. Não é apenas no Brasil que a moeda norte-americana renova máximas em mais de uma década, em outros mercado, a divisa está cada vez mais forte, o que traz preocupações para os investidores.

“A valorização atual do dólar é claramente uma bolha, que obedece a dinâmica do fluxo de curto prazo enquanto ignora as premissas fundamentalistas”, afirmam Jan Dehn e John Sfakianakis, que assinam o relatório da gestora, escrito no final de janeiro. O dólar, pela sua ampla liquidez, ainda possui o o maior potencial para um “efeito manada” no mercado global, que é quando os investidores abandonam uma posição quase que desesperadamente, provocando uma forte queda nas cotações deste ativo. 

Mas há como evitar isso? Os próprios economistas se mostram céticos: “os mercados financeiros provavelmente não deixariam uma boa bolha ser desperdiçada”. Em outras palavras: enquanto o fluxo de capital disser “dólar deve subir”, os investidores dificilmente mudarão de direção, mesmo que os fundamentos gritem o contrário. “Entre agora e a volta da inflação nos EUA em 2016 nós esperamos que investidores continuem a levar cada vez mais dinheiro para o dólar”, complementam.

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Os motivos
E o que explica essa dinâmica do mercado? Procura por liquidez é praticamente a resposta. A dupla da Ashmore explica que as moedas do G3 – dólar, euro e iene – são as maiores e mais negociadas do mundo. “Mudanças regulatórias, o medo da volatilidade e falta de convicção sobre o futuro só tem servido para aumentar a sua atratividade para os investidores institucionais, em especial a partir de uma perspectiva de liquidez”, explicam.

O momento atual da economia mundial é frágil nesse sentido: as taxas de juros nos EUA seguem beirando 0% ao ano, assim como na Europa, o que propicia o ingresso de “dinheiro barato” nos merados. Como aditivo a essa enxurrada de moedas, o BCE (Banco Central Europeu) trabalha com a criação de um programa de estímulos na zona do euro semelhante ao “Quantitative Easing” americano, que consistia na injeção de capital na economia através da compra de títulos de dívida. Como cereja do bolo, a China está trocando sua dinâmica de crescimento, que antes era agressivamente forte, para uma expansão mais consistente e sustentável – em outras palavras, o principal consumidor de matérias-primas do mundo está pisando no freio.

Emergentes: meros espectadores
Isso tudo deixa
as moedas emergentes naturalmente em desvantagem: “como pode a sua moeda competir em um jogo de fluxo quando o banco central não imprime divisas?”, questionam. Além das medidas anunciadas pelo BCE, vale lembrar que o Banco Central da Suiça encerrou a paridade do franco suíço com o euro, o que provocou uma forte reação no mundo todo, com o dólar caindo praticamente em relação a todas as moedas, no que alguns especilialistas chamaram de “tsunami”.

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No Brasil, o dólar comercial tem alta de 9% no ano, estando atualmente a R$ 2,90. Porém, desde sua mínima, atingida em 26 de janeiro, a R$ 2,5706, a moeda norte-americana disparou 12,83%.

“Mais uma vez, os bancos centrais emergentes são meros espectadores ao lado de seus irmãos em economias desenvolvidas”, diz a dupla da Ashmore. “Nos velhos tempos, era uma virtude não imprimir [dinheiro]. No mundo de hoje, isso só o torna menos líquido e, portanto, menos interessante”, conclui.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.