Analistas falam em dólar a R$ 3, mas por que a moeda não passa nem dos R$ 2,70?

Especialistas tentam explicar o que está segurando uma disparada da moeda norte-americana, que insiste em ficar abaixo de R$ 2,70 e alertam: este preço não irá durar

Rodrigo Tolotti

Publicidade

SÃO PAULO – Que as projeções do dólar indicam um forte alta da moeda em 2015 não é nenhuma novidade, mas o que tem sido visto no mercado cambial recentemente é a divisa “estacionada” em R$ 2,70 – e até um pouco abaixo disso. O Banco Central manteve seu programa diário de swaps, mas reduziu a oferta, o que corrobora para a visão dos especialistas de que daqui pra frente a autoridade deve intervir muito menos no mercado. Mas se as expectativas são do dólar em R$ 3,00 no fim do ano, porque a moeda mostra uma “resistência em subir”?

Para o gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo, desde o ano passado o BC “só olha” para o mercado, deixando que a taxa cambial fique mais livre. “A autoridade está deixando o mercado livre para encontrar seu nível ideal”, afirma. E, segundo ele, o que estamos vendo é um equilíbrio que os investidores parecem ter encontrado no mercado, pelo menos por enquanto.

O que se tem visto é uma reação a notícias pontuais, enquanto o mercado mostra “aceitar” por enquanto a moeda próxima de R$ 2,70. A pressão altista da divisa norte-americana continua, mas atualmente a variação do dólar ocorre praticamente junto com outras moedas pelo mundo, seguindo um fluxo global, que nas últimas semanas tem sido de desvalorização da divisa americana.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Enquanto isso, as notícias sobre a economia nacional tem trazido alívio para as cotações. É o caso desta terça-feira, dia em que o câmbio reagiu à combinação entre entradas de recursos, ajustes técnicos e a recepção positiva sobre os comentários do ministro da Fazenda, Joaquim Levy feitos durante um café da manhã. Levy deu novos sinais de que o governo está se esforçando para reequilibrar as contas públicas e recuperar a credibilidade de investidores.

A percepção é que este novo governo começa a tomar cara e sua postura está ganhando crédito com o mercado, que reduz as incertezas e dúvidas sobre a viabilidade do cumprimento da meta de superávit primário de 1,2% do PIB neste ano e da realização dos ajustes necessários na economia.

Banco Central apenas “de olho”
Desde o ano passado o mercado cambial está bem mais volátil, com a moeda norte-americana registrando fortes oscilações diariamente, algo que o Banco Central “não deixava” acontecer. Estaria Alexandre Tombini “largando” o mercado? A ideia dos especialistas é mais ou menos essa. Segundo eles, agora o presidente do BC quer dar liberdade para a moeda, deixando que o mercado encontre o melhor nível, onde o câmbio possa ajudar na atração de investimentos, ao mesmo tempo que não prejudique a indústria.

Continua depois da publicidade

O primeiro passo foi a redução do programa diário de leilões de swap, fato que, segundo a equipe da Guide Investimentos, ajuda a manter o dólar em níveis mais altos, mesmo que a moeda ainda não tenha mostrado fortes altas. Mas o recado dos especialistas é claro: não se acostume com esse nível do dólar, ele não irá durar.

Dólar acima de R$ 3,00
É consenso no entre analistas e economistas que o dólar irá encerrar 2015 a pelo menos R$ 3,00, sendo que alguns especialistas chegam a colocar a moeda em R$ 3,20. Para o HSBC, a cada trimestre o dólar comercial deve avançar R$ 0,10, passando de R$ 2,70 até R$ 3,00 no ano.

“A combinação do enfraquecimento abrangente da produção industrial, do setor de serviços, investimentos e do consumo, na medida em que desemprego aumenta, associada a políticas fiscal e monetária mais apertadas”, estão entre os fatores que levaram banco a se tornar mais pessimista com real.

O alerta é o mesmo feito pela LCA Consultores, que vê um descolamento no câmbio neste momento e já se prepara para ver a moeda em R$ 2,80 logo. A julgar pelos indicadores […], a taxa de cambio deveria estar acima de R$ 2,75. O modelo, que tem mantido ótima aderência, acusa um descolamento na ponta. De fato, nenhum dos indicadores pressiona a taxa de câmbio para baixo. Parece de fato haver aí um descolamento a ser monitorado”, disseram em relatório.

Na última semana o diretor executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme destacou que ainda no primeiro trimestre a moeda norte-americana deve atingir os R$ 2,80 “de forma sustentada”, encerrando o ano em R$ 3,20. “Qualquer que seja o enfoque sobre a situação macroeconômica do Brasil se concluirá que provavelmente estejamos no ‘fundo do poço’, e o ‘provavelmente’ demonstra a insegurança ante um quadro de ampla deterioração de indicadores que, repetitivamente, não encontra limites para pioras e agravamentos, indo sempre além do que era previsto e considerado”, afirmou o diretor em relatório.

Em resumo, daqui pra frente o BC só deve intervir em casos mais extremos, evitando fortes oscilações do dólar, mas deixará a moeda andar mais “livre”, com o mercado encontrando sozinho o patamar que mais o agrada. Passando por um momento mais tranquilo, temos visto a divisa abaixo dos R$ 2,70, mas isso não deve se sustentar e no fim do é quase certeza que o dólar chegue aos R$ 3,00. Ou seja, não se acostume e, seja como investimento ou para viajar, se prepare para ver uma disparada do dólar a qualquer momento.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.