De olho nos EUA e nas eleições, dólar não deve voltar mais para R$ 2,20

Elevação de juros pressiona a moeda, que deve encerrar o ano próxima de R$ 2,30, mas decisão das eleições pode mudar o cenário para dezembro

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – As últimas semanas foram bastante agitadas no mercado cambial. Para quem imaginava o dólar flutuando na banda informal entre R$ 2,25 e R$ 2,30 se surpreendeu com a forte disparada da divisa na última semana. Em apenas 6 pregões a moeda norte-americana disparou 4,68%, pulando de R$ 2,2391 para atuais R$ 2,3439, e a tendência agora é que o dólar não volte mais para onde estava.

Quem diz isso é o gestor da FCL Capital, Fernando Araújo. “É concesso entre os analistas de que o dólar não está no patamar que deveria. O dólar hoje deveria estar maior do que está”, explica. Um dos grandes fatores que fez com que a moeda ficasse tão “fora de lugar” é a diferença de juros entre o Brasil e as grandes economias, como EUA e a Europa. “Agora que estamos próximos dos juros subirem nos EUA, a tendência é de pressão altista no dólar”, afirma Araújo.

Na última semana os investidores começaram a reagir com a proximidade da reunião do Federal Reserve, que só termina amanhã. Há pelo menos 5 dias que os mercados na China e Europa estão no aguardo da decisão, que pode trazer a primeira sinalização sobre o fim dos estímulos à economia, o Quantitative Easing 3, além de uma perspectiva para o início da alta dos juros.

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Segundo o gestor da FCL, não há como ter certeza sobre o que será anunciado, mas o Fed já mostrou que está disposto a deixar o mais claro possível, sempre, quais serão suas atitudes e o que está pensando. “Se não for neste encontro, o próximo com certeza terá algum comentário sobre a elevação dos juros”, diz Araújo. “Grande parte do mercado trabalha com a projeção de que será em junho de 2015”, completa.

Efeito eleições no dólar
Assim como tem ocorrido com o mercado de ações, o câmbio agora passa a refletir o cenário eleitoral também. De acordo com Araújo, a tendência é de alta para qualquer cenário, mas uma vitória da situação ou oposição pode definir o ritmo em que o dólar vai subir. “Não vejo o dólar voltando mais para R$ 2,20. Não importa quem vença a moeda deve subir”, afirma.

“Se Dilma vencer o que devemos ver é uma forte alta do dólar, já que a expectativa é de manutenção da atual política econômica. Por outro lado, se Marina se tornar presidente a moeda deve subir em um ritmo mais lento, terminando o ano próximo no nível atual”, explica o gestor. Vale destacar ainda que a disparada da divisa na última semana coincidiu com uma série de pesquisas mostrando que Marina parou de crescer e agora está empatada com Dilma.

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Para onde vai o dólar?
Araújo diz que é muito complicado fazer projeções de curtíssimo prazo. Mesmo com a queda da divisa na sessão de hoje – que cai 0,77% e volta para os R$ 2,33 – para o final do ano, segundo ele, é praticamente impossível que o dólar se distancie para baixo dos R$ 2,30, apesar que uma vitória de Marina pode ajudar para que a moeda encerre este ano em um patamar mais baixo. Para ele, para 2014 a tendência é que fique no preço atual, perto dos R$ 2,35.

Já para 2015 em diante a dificuldade em fazer alguma projeção ocorre pela falta de resposta para duas questões. A primeira é quando os EUA irão elevar os juros, o que irá puxar o dólar para equiparar o valor com o resto do mundo. A segunda questão é quando o Banco Central irá encerrar seu programa de swaps, o que até o momento tem ajudado a controlar o preço da divisa. Apesar de não fazer nenhum projeção, Araújo ressalta: “o dólar não vai cair mais”.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.