Euforia tem motivo? Tudo que você precisa saber sobre os contratos futuros de Bitcoin

Entenda como funciona, quais os riscos e por que o mercado está comemorando o lançamento destes derivativos

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Um dos eventos mais aguardados do ano no mercado de bitcoin finalmente aconteceu e na noite de domingo (10) os contratos futuros da criptomoeda passaram a ser negociados na CBOE (Bolsa de derivativos de Chicago). Apesar de fazer a moeda disparar nas últimas horas, o debate sobre o assunto segue bastante intenso.

Alguns especialistas acreditam que o surgimento deste produto negociado em bolsa irá mudar o bitcoin, ajudando a aumentar sua popularidade e fazendo com que investidores entrem no mercado. Já os críticos, incluindo pessoas dentro da indústria de futuros, argumentam que os contratos são prematuros e, no pior caso, apresentam um risco sistêmico dada a volatilidade do mercado de moedas digitais.

Mas para muitos investidores, ainda não está claro nem o que são estes contratos futuros, algo já bastante conhecido no mercado de ações. Veja abaixo como funciona os derivativos de bitcoin:

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O básico
Os contratos futuros de bitcoin passaram a ser negociados na CBOE Global Markets com o símbolo XBT, às 21h (horário de Brasília) no domingo. Com o início dos negócios, o preço da criptomoeda teve um forte salto, chegando aos US$ 18 mil. Vale lembrar que a bolsa “rival” CME Group planeja lançar seu contrato futuro em 18 de dezembro.

Basicamente, um contrato de futuro permite que um operador coloque uma aposta alavancada dizendo se o preço do ativo (no caso o bitcoin) irá subir ou cair até o contrato expirar. Na linguagem de mercado, quem acredita que irá aumentar fica “long” naquele ativo, enquanto o investidor que acha que o preço irá cair fica “short”.

Os futuros de bitcoin serão liquidados em dinheiro, o que significa que nenhum bitcoins realmente será transacionado quando um contrato expirar. Os investidores “vencedores” pegam seus ganhos dos “perdedores”. Além disso, os investidores não precisam esperar o vencimento, normalmente eles exercem as opções (zerando sua posição) antes desta data limite.

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Ficando “short”
Entre as grandes vantagens do mercado futuro está a possibilidade de se ficar “vendido” em determinado ativo. Segundo analistas estrangeiros, esse mecanismo significa que hedge funds podem levar o bitcoin mais a sério, ajudando a melhorar as perspectivas de mercado para a criptomoeda.

No mercado, para cada pessoa que fica “short” outra está ficando “long”. Com isso, sempre haverá um vencedor e um perdedor neste mercado, dependendo do movimento que o ativo tiver.

Um exemplo: um contrato de bitcoin a US$ 20 mil com vencimento em junho de 2018. Isso significa que nesta data quem estiver comprado irá pagar US$ 20 mil, enquanto quem estiver vendido terá de “entregar” (vender) o ativo por este preço. Imagine que na data de vencimento, o bitcoin esteja valendo US$ 25 mil. O investidor comprado, neste caso, tem um lucro de US$ 5 mil, enquanto o vendido tem um prejuízo de US$ 5 mil.

Fazer hedge
Outra grande vantagem da criação deste produto é a oportunidade do investidor fazer o chamado “hedge”, ou seja, ter uma proteção no mercado. No caso do bitcoin, os investidores chamados de “baleias” (grandes players) podem se aproveitar dos futuros para se protegerem de uma queda acentuada e repentina dos preços.

Isso ocorre porque mesmo as pessoas que têm grandes quantidades de bitcoin podem entrar no mercado de opções para buscar uma posição vendida na criptomoeda, reduzindo assim suas perdas em caso de queda forte dos preços. O movimento com opções de compra também é possível.

Mais uma vez, isso amplia o “leque” de opções de investimento, trazendo para o mercado de bitcoin principalmente os grandes investidores institucionais e os hedge funds, que podem ter mais segurança para investir em bitcoin.

Críticas e controle de risco
Apesar das diversas vantagens, um dos grandes riscos do mercado de bitcoin ainda é sua volatilidade, e nas opções isso é ainda mais perigoso. Grandes bancos e corretoras têm criticado o lançamento dos contratos futuros, dizendo que é uma ideia prematura. Em uma carta aberta à Commodity Futures Trading Commission, a Futures Industry Association disse que o produto não recebeu feedback suficiente sobre os níveis de margem e outros pontos importantes.

No caso da margem, ela é a quantia de dinheiro que um investidor deve inicialmente colocar como garantia quando toma uma posição futura. Para muitos contratos altamente negociados hoje, o valor da margem é inferior a 10% do valor total do contrato subjacente.

Mas o CME exigirá que os operadores de bitcoin colocem uma margem de 35%, enquanto o CBOE deve exigir 44% do preço de liquidação diária. No caso do CBOE, isso significa que se o contrato fosse negociado em US$ 15.000, um investidor que deseja ficar “long” ou “short” terá que colocar US$ 6.600.

Como a maioria dos contratos de futuros, os de bitcoin estão sujeitos a limites de variação de preço. No caso do contrato CBOE, a negociação será interrompida por dois minutos se a melhor oferta no contrato mais próximo da expiração se mover 10% acima ou abaixo do fechamento do dia anterior. Se, após a operação, o contrato se mover 20% ou mais acima ou abaixo da liquidação do dia anterior, os negócios serão interrompidos por cinco minutos.

Vale destacar que uma série de grandes bancos de Wall Street estão dizendo aos seus clientes que não vão oferecer acesso aos futuros de bitcoin. O Goldman Sachs, o maior corretor de futuros dos EUA, oferecerá acesso, mas apenas a certos clientes. A questão é que ainda vai demorar mais um pouco para o mercado se acostumar e entender realmente como funciona este produto e seus impactos na relação com o bitcoin.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.