Apesar de alta nos preços, Klabin (KLBN11) e Suzano (SUZB3) devem seguir com pressão de custos por guerra e lockdown chinês

Demanda internacional deve continuar forte, mas gargalos logísticos e custos mais altos impõem desafios às empresas do setor

Augusto Diniz

Setor de papel e celulose (Shutterstock)

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Mesmo diante de um cenário de alta demanda e baixos estoques, o que deverá manter os preços da celulose em patamares elevados ao longo deste ano, companhias como Klabin (KLBN11), Suzano (SUZB3) e Irani (RANI3) não devem se beneficiar por completo destes fatores.

Isso porque o aumento dos custos de produção, como de combustíveis e insumos químicos, devem seguir pressionado as margens das empresas, sobretudo enquanto a guerra entre Rússia e Ucrânia, que impacta importantes cadeias produtivas, seguir.

Junte a isso, os gargalos logísticos que desde o início da pandemia têm atingido importantes portos responsáveis pelo desembarque de papel e celulose provenientes do mercado brasileiro e que voltaram a travar, com a nova onda de pandemia na China, gerando novos lockdowns, por conta da política de Covid zero no país asiático.

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Adicionalmente, o real apreciado também afeta as empresa, em uma indústria onde 100% do preço da celulose é dolarizado, seja no mercado interno como externo.

Ou seja, o quadro que, à primeira vista, poderia ser benéfico às vendas de commodities produzidas no Brasil, como de papel e celulose, gerou custos mais altos na cadeia de produção e logística nada desprezíveis.

Preços da celulose devem se manter elevados

De certo, apenas o consenso de que o preço da celulose deve se manter elevado. “A tendência, em meio a tudo que está acontecendo no mundo hoje, é continuar esses aumentos ao longo do ano”, avaliou Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos.

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O próprio CEO da Suzano, Walter Schalka, na apresentação dos resultados do 1T22, comentou que a escassez de celulose no mercado vem permitindo ajustes de preços. Schalka afirmou que os níveis de estoque de celulose continuam baixos, inclusive os da Suzano.

Além disso, o dos clientes estão “muito baixos”, perto do limite operacional, acrescentou. Assim, grande parte dos compradores vem pedindo volumes maiores do que aqueles contratados. Com a demanda em alta, a Suzano deixou de vender no mercado “spot” (para entrega imediata) para atender só os contratados.

Conforme a agência Risi, a Suzano elevou o preço da commodity, essa semana, em US$ 30 a tonelada para o mercado chinês. O aumento passa a valer a partir de junho. Essa elevação é impulsionada por fundamentos de mercado favoráveis, principalmente relacionados aos desafios do lado da oferta, acrescentou a Risi.

Enquanto isso, o Itaú BBA atualizou os preços da celulose para 2022 e 2023 tanto da Suzano como da Klabin, aumentando estimativas com demanda resiliente para fornecimento global.

Por fim, a Irani manteve preços no 1T22 sem aumentar volume, garantindo mais rentabilidade. Mas a empresa já informou que a tendência é de subida de preços em toda a linha da companhia no segundo semestre, mesmo com expansão de volumes.

Incertezas no cenário global

Ter demanda forte global por papel e celulose é um fator muito positivo para a indústria brasileira, mas requer atenção a fatores externos imponderáveis.

“A demanda vinha voltando numa velocidade forte. O conflito (Rússia-Ucrânia) motivou a alta das commodities. O problema são as restrições do lockdown na China. Você aumenta o preço, mas não consegue entregar”, ressaltou Bertotti.

Cristiano Teixeira, diretor-geral da Klabin, na apresentação dos resultados do 1T22, chegou a dizer que “não necessariamente os preços levam às melhores margens” porque a “confusão logística” segue complexa.

“Então, tem uma dinâmica de demanda, com essa influência do conflito, majorada pelas questões logísticas, em que os preços sobem, e não necessariamente as margens, por questões logísticas”, disse Teixeira.

Um relatório do Bradesco BBI informou que os embarques globais de celulose tinham crescido 13% em março em relação a fevereiro, mas o movimento foi 3% menor em relação ao mesmo mês do ano passado, quando a pandemia ainda exigia fortes restrições.

O lockdown na China é apontado como o grande responsável pelas restrições logísticas globais hoje, com vários complexos portuários operando com restrições. Assim, o transporte de contêineres tem sido o mais afetado.

Um dos principais produtos da Klabin, a celulose fluff, é embarcada em contêineres. Marcos Ivo, diretor Financeiro da companhia, comentou na teleconferência de resultados do 1T22 que o problema é tão crônico que ele não vê a questão resolvida até o final do ano.

“A gente não sabe quando a política de Covid zero vai acabar na China, mas quando terminar as restrições, os gargalos logísticos conseguirão ser amenizados”, acrescentou Gustavo Bertotti.

Conflito Rússia-Ucrânia gera mais inflação

O economista considera as sanções à Rússia por conta da guerra com a Ucrânia o mais difícil de lidar nesse momento. Ele vê um insumo essencialmente atingido: a energia. “E o conflito não deve ter cessar-fogo, com novas sanções à Rússia”, disse. Com esse cenário, Bertotti crê que o choque inflacionário no mundo deve ganhar força.

Marcos Ivo, da Klabin, disse que “tem um processo de inflação colocado. A gente tem os itens dentro de nossa matriz de insumo, como combustível e químicos, que são commodities de preço global, e esses preços subiram e estão refletidos no nosso resultado”.

O Bradesco BBI apontou que, durante a teleconferência dos resultados, a Klabin deixou pistas que trabalha em medidas para melhorar a eficiência e o desempenho de custos dos itens sob controle da empresa, mas que “a visibilidade é limitada no atual ambiente volátil”.

A Irani, por sua vez, relatou “que o período foi caracterizado pela preocupação mundial com os efeitos da inflação, potencializados pela guerra Rússia-Ucrânia”.

O Itaú BBA acredita que ventos favoráveis ​​para a celulose persistam, com uma demanda saudável e resiliente (principalmente na Europa e Estados Unidos), baixos estoques globais e escassez de oferta causada por restrições logísticas e adiamentos de projetos de aumento de capacidade.

Mas destacou também que pressão inflacionária de custos sobre madeira, produtos químicos, energia e combustível, ampliados pelo conflito Rússia-Ucrânia, são itens desfavoráveis esse ano ao setor de papel e celulose.

Resultados

Apesar dos problemas, o primeiro trimestre das companhias foi positivo. A XP Investimentos viu como “bons” os resultados da Klabin nos três primeiros meses do ano, embora as pressões de custos não devam arrefecer no curto prazo para a companhia. A corretora manteve a recomendação de compra com preço-alvo de R$31,2/ação.

O Itaú BBA, avaliando o cenário, estima que os preços mais altos da celulose devem mais do que compensar o real apreciado e um avanço nos custos de produção tanto da Klabin como da Suzano.

A Suzano lucrou R$ 10,306 bilhões no primeiro trimestre deste ano, revertendo prejuízo de R$ 2,755 bilhões de igual período do ano passado, alavancado pelo resultado financeiro.

O banco mantém recomendação de compra para ambas as companhias, mas reduziu o preço-alvo para Suzano de R$ 75 para R$ 72 ao fim de 2022; já o preço-alvo para Klabin foi elevado de R$ 28 para R$ 29.

com relação a Irani, a XP aponta resultados “positivos, superando estimativas”. A corretora, no entanto, manteve classificação neutra “devido ao ambiente macro mais difícil pela frente”.

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