Político e empresário do campo, Blairo tem desafio de elevar status da Agricultura

"O grande desafio para o Ministério da Agricultura é ser alçado à categoria de ministério de primeira grandeza", disse Ricardo Tomczyk, uma das lideranças Aprosoja

Reuters

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SÃO PAULO (Reuters) – A experiência política, empresarial e de agricultor bem-sucedido credenciam o agrônomo Blairo Maggi, nomeado ministro da Agricultura pelo presidente interino Michel Temer, a alçar o agronegócio a um patamar que nunca teve dentro de um governo no Brasil, o que permitiria ao gaúcho que fez carreira em Mato Grosso encaminhar temas complicados como uma modernização no crédito agrícola.

Na avaliação de lideranças do setor, o momento difícil pelo qual passa o país exige um líder de peso na Agricultura que converse de igual para igual com outros ministros –incluindo Fazenda e Relações Exteriores–, que conheça e tenha acesso fácil aos principais empresários e executivos do agribusiness e que ao mesmo tempo saiba ouvir as vozes do campo.

“O grande desafio para o Ministério da Agricultura é ser alçado à categoria de ministério de primeira grandeza. E o Blairo é a figura para que isso se torne uma realidade”, afirmou o agricultor Ricardo Tomczyk, uma das lideranças da associação de produtores (Aprosoja) de Mato Grosso, que conheceu o novo ministro na região de Rondonópolis (MT), onde ele iniciou sua vida empresarial.

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Natural de Torres, no Rio Grande do Sul, o novo ministro nasceu em 1956, numa família dos pequenos produtores rurais. Seguindo o pai, André Maggi, que apostou em terras inexploradas de Mato Grosso, Blairo graduou-se em agronomia e comandou a transformação da pequena Sementes Maggi no que hoje é o Grupo Amaggi, a maior negociadora de grãos de capital nacional, atuando também no plantio, processamento e logística de produtos agrícolas.

“Ele tem uma visão empreendedora, visão de mundo global e também conhecimento específico. Ele é produtor rural, apesar de ser um grande empresário, nunca deixou de ser produtor. Tem visão da porteira para fora invejável e da porteira para dentro muito grande”, acrescentou Tomczyk, ex-presidente da associação de produtores de Mato Grosso, o principal Estado produtor de grãos do Brasil.

A experiência política de Blairo, senador recém-filiado ao PP, após dois mandatos como governador de Mato Grosso, é outro fator que deve colaborar para que o novo ministro seja bem-sucedido.

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“Espero que ele possa conversar com o ministro Serra (Relações Exteriores), Meirelles (Fazenda) e Jucá (Planejamento) de igual para igual”, disse o presidente da Sociedade Rural Brasileira, Gustavo Junqueira.

“Ele tem experiência política, vai poder ter interação muito mais próxima de outros ministérios”, avaliou Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), acrescentando que isso facilitaria ao Brasil abrir mercados no exterior, algo fundamental para o agronegócio.

Além disso, essa interação permitiria que o agronegócio participasse, “com a visão que Blairo tem das cadeias produtivas do setor”, de reformas no país consideradas essenciais pela Abag, como a tributária e de outras capazes de reduzir os custos trabalhistas.

“O Ministério da Agricultura poderia ir para outro patamar se integrado com outros ministérios”, disse o presidente da Abag, ressaltando que “o agronegócio é o grande negócio do Brasil”.

Mesmo a questão da sustentabilidade socioambiental do agronegócio, que o setor tanto preza para garantir mercados globais, pode ser bem encaminhada no novo governo, se Blairo adotar no ministério as mesmas diretrizes de seu grupo empresarial, que é um dos signatários de um acordo conhecido como Moratória da Soja, no qual as indústrias se comprometem a não comprar grãos de áreas desmatadas dentro do bioma amazônico.

Isso depois de o novo ministro ter recebido, na década passada, o troféu Motosserra de Ouro, do Greenpeace, após declarações como governador relacionadas ao desmatamento para abrir campos agrícolas.

Gargalo de crédito

A recuperação e a modernização do crédito para o agronegócio deveria ser uma prioridade do novo ministro, para que o setor que vem sendo o menos afetado pela crise econômica e política possa também ser o primeiro a reagir em meio à recessão.

Na avaliação de Tomczyk, que hoje atua no conselho consultivo da Aprosoja, os números recordes de volume de crédito do plano safra governamental não passam de “teoria”, já que o financiamento está mais caro e não tem chegado aos produtores de forma adequada.

Na semana passada, em um de seus últimos atos como ministra da Agricultura, Katia Abreu anunciou o Plano Safra 2016/17 com um aumento de 8 por cento nos recursos, mas com juros mais caros.

“Será uma decepção se o objetivo dele (Blairo) for aumentar o Plano Safra. A agenda dele deve ser desburocratizar a irrigação de capital para o setor. Temos muitos gargalos para entrada de capital nacional e estrangeiro”, afirmou Junqueira.

Para o presidente da SRB, o novo ministro deverá trabalhar para garantir segurança jurídica em assuntos como invasões de terras, projetos de logística, rastreabilidade ou até registro de novas defensivos, para acelerar o fluxo de investimentos privados.