Os 4 fatores que fizeram o Ibovespa cair 11% e ter seu pior mês em 3 anos e meio

Índice teve uma sessão bastante volátil nesta quarta seguindo os papéis da Petobras, que chegaram a cair 6% na mínima do dia e subir 3,5% na máxima

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Mesmo chegando ao seu dia consecutivo de alta, o Ibovespa teve um maio para esquecer, registrando seu pior mês desde setembro de 2014, quando chegou a cair 11,70%. Se nos últimos dias chamou atenção a derrocada da Petrobras (PETR4) por conta da greve dos caminhoneiros, nas semanas anteriores o mercado brasileiro já passou por diversos “apuros”.

Nesta quarta-feira (30), o benchmark da bolsa brasileira fechou com ganhos de 0,90%, aos 76.753 pontos, com o volume financeiro atingindo R$ 20,466 bilhões. A alta, porém, não evitou uma forte queda de 10,87% no mês. O dólar comercial, por sua vez, caiu 0,07% nesta sessão, cotado a R$ 3,737 na venda, acumulando assim, valorização de 6,61% em maio.

Confira os 4 fatores que levaram o Ibovepa para seu pior mês em mais de 4 anos:

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1) Dólar e o mercado externo

Apesar do Ibovespa conseguir se manter em uma faixa acima de 85 mil pontos no início do mês, o mercado externo já jogava grande pressão na bolsa, levando o dólar, por exemplo e disparar em poucos dias e chegar na faixa de R$ 3,75. A recuperação da economia norte-americana, que pode acelerar a alta de juros pelo Federal Reserve, levou a uma forte alta dos Treasuries de 10 anos, que chegaram a superar os 3,10%, o que pressionou todas as moedas do mundo. No Brasil, o menor diferencial de juros e as tensões políticas acabaram levando a um cenário ainda pior no câmbio.

Por fim, a ata da última reunião do Fomc mostrou que o Fed está tranquilo com a inflação, que, embora tenha atingido a meta de 2%, não deverá ficar neste nível por muito tempo. Isso trouxe certo alívio no mercado na segunda metade do mês.

2) Surpresa com o Copom

Além disso, no dia 16, o Copom (Comitê de Política Monetária) surpreendeu o mercado ao manter a Selic em 6,50%, exatamente por conta do cenário externo mais complicado. A decisão foi elogiada pelo mercado, mas a comunicação acabou sendo uma das grandes críticas, já que uma semana antes o presidente da autoridade, Ilan Goldfajn, chegou a dizer que a alta do dólar era “normal”, indicando que manteria a expectativa de um novo corte de juros. Com esse evento não esperado, os investidores precisaram corrigir suas posições, o que pesou no mercado por alguns dias.

3) Greve dos caminhoneiros

Para completar o mês que já era ruim, o estouro da greve dos caminhoneiros tirou qualquer resquício de ânimo com a economia brasileira. A paralisação, que durou nove dias e só agora começa a dar sinais de que irá realmente acabar, pesou para quase todos os setores da economia, o que afeta também o humor do mercado. A mais impactada foi a Petrobras (veja abaixo), mas muitas outras empresas caíram forte na bolsa com reflexos da greve.

4) Petrobras

Por fim, o maior impacto dos últimos dias foi na Petrobras, que chegou a perder R$ 126 bilhões de valor de mercado em 5 pregões, uma queda de 34%. A greve levou a uma grande discussão sobre a política de preços da companhia, que se mudar pode levar a grandes prejuízos. Se nos últimos meses os investidores voltaram a acreditar na companhia, que teve um ótimo resultado no primeiro trimestre e voltou a pagar dividendos após quase 5 anos, a paralisação lembrou do “risco estatal” que ela tem e temores sobre intervenção do governo na empresa passaram a assombrar as ações. Isso sem contar nos rumores de que o presidente Pedro Parente poderia deixar o cargo, que azedaram ainda mais o mercado.

O pregão nesta quarta-feira:
O Palácio do Planalto divulgou nota nesta manhã na qual afirmou que o governo vai “preservar” a política de preços da Petrobras: “as medidas anunciadas pelo governo para garantir a previsibilidade do preço do óleo diesel, que teve seu valor reduzido ao consumidor, preservaram, como continuaremos a preservar, a política de preços da Petrobras”, diz o governo. As ações da estatal chegaram a esboçar uma recuperação, mas logo voltaram para o campo negativo.

As dúvidas do mercado sobre a autonomia da estatal ganharam força após o presidente Michel Temer, em entrevista à TV Brasil na noite da última terça-feira (29), afirmar que iria reexaminar a política de preços da estatal: “a Petrobras se recuperou ao longo desses dois anos. Estava em uma situação economicamente desastrosa há muito tempo, mas nós não queremos alterar a política da Petrobras. Nós podemos reexaminá-la, mas com muito cuidado”, afirmou o presidente.

Segundo fontes ouvidas pela agência de notícias Reuters, a questão da previsibilidade dos preços, que hoje são reajustados quase diariamente em vista da variação do petróleo no mercado internacional e do câmbio, deverá ser tratada em breve, tema que pode causar novos ruídos sobre a autonomia da Petrobras quanto sua política de preços. De acordo com a agência, o governo já está em conversas com a estatal para rever este assunto.

As maiores altas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 BTOW3 B2W DIGITAL ON 25,35 +6,87 +23,66 60,70M
 BBAS3 BRASIL ON EJ 30,37 +6,52 -3,17 638,21M
 ESTC3 ESTACIO PARTON 25,15 +5,23 -22,66 136,42M
 B3SA3 B3 ON 21,77 +5,02 -4,07 362,50M
 SMLS3 SMILES ON 58,40 +4,17 -19,15 63,15M

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 USIM5 USIMINAS PNA 8,25 -3,62 -8,94 158,91M
 GOLL4 GOL PN N2 13,49 -3,02 -7,60 45,11M
 CYRE3 CYRELA REALTON 11,69 -2,58 -8,01 37,65M
 JBSS3 JBS ON 8,93 -2,30 -8,48 173,18M
 MRFG3 MARFRIG ON 7,91 -2,23 +8,06 25,17M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 PETR4 PETROBRAS PN EJ N2 18,98 -1,66 2,38B 2,07B 120.650 
 VALE3 VALE ON 50,63 +0,94 1,31B 883,97M 43.708 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 42,98 +0,19 1,06B 708,35M 44.371 
 BBDC4 BRADESCO PN 29,17 -0,61 719,57M 402,68M 45.047 
 BBAS3 BRASIL ON EJ 30,37 +6,52 638,21M 359,32M 38.321 
 QUAL3 QUALICORP ON 19,05 +2,31 622,93M 86,09M 35.498 
 TAEE11 TAESA UNT N2 19,24 +3,89 620,00M 47,02M 35.157 
 PETR3 PETROBRAS ON EJ N2 22,19 -0,22 594,27M 473,64M 49.028 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 19,69 +0,51 497,99M 450,60M 41.070 
 ITSA4 ITAUSA PN 11,23 +0,27 486,63M 256,81M 40.847 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Dados econômicos nos EUA e Brasil

A economia brasileira cresceu 0,4% no primeiro trimestre de 2018 e o resultado veio levemente acima da mediana das expectativas dos economistas consultados pela Bloomberg, que sinalizava uma alta de 0,3% no PIB (Produto Interno Bruto) no período. O desempenho observado entre janeiro e março mostra uma aceleração da economia em relação aos últimos três meses do ano anterior, quando o crescimento foi de 0,1%.

Além dos dados domésticos, os investidores repercutem os indicadores econômicos nos EUA. O número de postos de trabalho no setor privado dos EUA avançou de 163 para 178 mil na passagem de abril para maio, mas ficou abaixo do esperado pelo mercado (190 mil). Ainda pela manhã, foi divulgada a segunda prévia do PIB norte-americano referente ao primeiro trimestre, que apontou crescimento de 2,2% na passagem trimestral, enquanto o mercado esperava avanço de 2,3%. Agora, o mercado aguarda pelo Livro Bege do Fed, às 15h00, referente ao último encontro do colegiado.

Notícias do dia
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) anunciou hoje (30) que, mesmo com a liminar do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que considerou a greve abusiva, a paralisação da categoria foi iniciada e atinge refinarias, terminais e plataformas da Bacia de Campos. O movimento programou atos e manifestações ao longo do dia.

Pelo balanço da FUP, os trabalhadores cruzaram os braços nas refinarias de Manaus (Reman), Abreu e Lima (Pernambuco), Regap (Minas Gerais), Duque de Caxias (Reduc), Paulínia (Replan), Capuava (Recap), Araucária (Repar), Refap (RS), além da Fábrica de Lubrificantes do Ceará (Lubnor), da Araucária Nitrogenados (Fafen-PR) e da unidade de xisto do Paraná (SIX).

Os petroleiros afirmam que o movimento é uma reação à política de preços dos combustíveis, de crítica à gestão na Petrobras e contra os valores cobrados no gás de cozinha e nos combustíveis. A paralisação dos petroleiros ocorre três dias depois de o presidente Michel Temer e equipe negociarem um acordo com os caminhoneiros.

Por mais de uma semana, os caminhoneiros pararam o país, provocando desabastecimento nos postos de gasolina, supermercados e prejuízos à economia. Na véspera, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, classificou como “política” a paralisação de 72h dos petroleiros. Para ele, o movimento não apresentou uma pauta reivindicatória. O executivo afirma, ainda, que houve um acordo, no ano passado, com vigência de 24 meses, incluindo reajuste salarial.

Na noite de ontem, o plenário do Senado aprovou, em votação simbólica, o projeto de lei (PLC 52/2018) que retira diversos setores da economia da lista dos que contam com desoneração da folha de pagamentos. Foi mantido no texto o dispositivo que zera até o final do ano a cobrança de PIS/Cofins sobre o óleo diesel. A oposição tentou derrubar essa previsão, mas não obteve sucesso. Senadores da base do governo garantiram que o presidente da República, Michel Temer, vetará essa parte do projeto, que segue agora para sanção.

O texto faz parte do acordo com os caminhoneiros para dar fim ao movimento grevista, com a redução de R$ 0,46 no preço do óleo diesel. Pela proposta, serão reonerados o setor hoteleiro, o comércio varejista (exceto calçados) e alguns segmentos industriais, como automóveis. Também terá fim a desoneração da folha sobre o transporte marítimo de passageiros e de carga na navegação de cabotagem, interior e de longo curso; a navegação de apoio marítimo e de apoio portuário; empresas que realizam operações de carga, descarga e armazenagem de contêineres em portos organizados; o transporte ferroviário de cargas e a prestação de serviços de infraestrutura aeroportuária.

A desoneração permite que empresas deixem de recolher a alíquota de 20% de contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento e paguem percentual que varia de 1% a 4,5% sobre a receita bruta. Das 56 atividades econômicas atualmente desoneradas, metade será mantida e a outra metade voltará à contribuição previdenciária tradicional.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.