Puxado por bancos e siderúrgicas, Ibovespa cai entre incerteza eleitoral e atenção a guerra comercial

Guerra comercial entre Estados Unidos e China mantém investidores cautelosos mesmo após semana negativa; quadro indefinido para corrida presidencial também preocupa

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O Ibovespa opera nesta segunda-feira (9) em continuação ao tom pessimista que marcou a semana anterior. Logo na primeira hora de pregão, o índice, que registrava leves ganhos, virou para queda, com os investidores monitorando o cenário de incertezas no plano eleitoral e ainda atentos aos desdobramentos da guerra comercial entre Estados Unidos e China. Às 13h29 (horário de Brasília), o benchmark acumulava perdas de 1,29%, a 83.720 pontos, puxado sobretudo pelas ações dos setores bancário e siderúrgico.

A sessão ainda é de ganhos moderados nas bolsas norte-americanas, em recuperação das perdas da semana passada, em meio ao arrefecimento de preocupações com o recente conflito comercial entre EUA e China. Ontem, autoridades do governo americano utilizaram tom mais ameno ao abordarem a questão comercial com Pequim, ressaltando que tarifas recém-anunciadas contra produtos chineses não entrarão em vigor de imediato e que ainda há tempo para os dois lados chegarem a um acordo.

Em seu perfil no Twitter, o presidente Donald Trump declarou no domingo: “o presidente Xi e eu seremos sempre amigos, independentemente do que aconteça em nossa disputa comercial. China derrubará suas barreiras comerciais porque é a coisa certa a se fazer. As taxas passarão a ser recíprocas e um acordo será feito em propriedade intelectual. Ótimo futuro a ambos os países”. Porém, hoje o tom voltou a ser mais duro, o republicano comparou as tarifas cobradas pelos dois países e concluiu: “Isso soa como comércio livre ou justo? Não soa como comércio estúpido — acontecendo por anos!”.

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Já no radar doméstico, os investidores digerem a prisão do ex-presidente Lula, ocorrida na noite do último sábado, e já avaliam seus impactos sobre a conjuntura política nacional e o cenário eleitoral. O quadro segue nebuloso mesmo com as menores chances de o ex-presidente participar da disputa em outubro, o que faz com que investidores adotem postura cautelosa. A situação mais adversa de Lula não garante o êxito de um candidato pró-reformas econômicas desejado pelo mercado. Além disso, a possível rediscussão da jurisprudência que permite a prisão após condenação em segunda instância pelo STF mantém aberta possibilidade de reversões.

No mesmo horário, os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2019 operavam praticamente estáveis, a 6,25%, enquanto os DIs com vencimento em janeiro de 2021 avançavam 8 pontos-base, a 8,15%. Já os papéis de dólar futuro com vencimento em maio saltavam 0,64%, sinalizando cotação de R$ 3,395.

Confira os destaques deste pregão e a agenda da semana:

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Destaques da Bolsa

Do lado acionário, lideram os ganhos no dia as ações da Marfrig (MRFG3). A companhia deve assumir o controle do frigorífico norte-americano National Beef, após concordar em adquirir uma participação de 48% na companhia, detida atualmente pela Leucadia National, por cerca de US$ 900 milhões. A brasileira também comprará outros 3% do frigorífico de outros acionistas.

Na ponta negativa, chama atenção a queda das instituições financeiras, com Banco do Brasil (BBAS3) e Bradesco (BBDC4) liderando a ponta de baixo. Ajudam a pressionar o índice as ações de Vale e siderúrgica, que monitoram de perto os desdobramentos da guerra comercial entre EUA e China.

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 B3SA3 B3 ON 26,32 -1,83 +15,54 6,45M
 BBDC3 BRADESCO ON EJB 33,34 -1,33 +14,63 2,49M
 NATU3 NATURA ON 31,47 -1,22 -3,88 1,35M
 GGBR4 GERDAU PN 15,94 -1,18 +29,00 21,98M
 CSNA3 SID NACIONALON 8,52 -1,16 +1,67 7,60M

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 MRFG3 MARFRIG ON 7,37 +18,49 +0,68 18,57M
 VVAR11 VIAVAREJO UNT N2 30,36 +1,71 +24,07 2,67M
 ECOR3 ECORODOVIAS ON 9,16 +1,44 -25,53 2,89M
 BRKM5 BRASKEM PNA 46,88 +0,99 +9,35 3,41M
 ENBR3 ENERGIAS BR ON 13,35 +0,98 -4,64 5,77M
* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)

Desdobramentos da prisão de Lula

Após muito tumulto e negociações, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi preso na noite do último sábado (7) e cumpre pena desde então em uma sala especial na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR). 

Com esse episódio, as atenções voltam ao STF (Supremo Tribunal Federal), em meio às indicações do ministro Marco Aurélio de que pode levar em mesa, na próxima quarta-feira, discussão de pedido de liminar que pretende rever a decisão da Corte que autoriza a prisão após o fim dos recursos na 2ª instância. No requerimento de liminar, o Partido Ecológico Nacional (PEN), pediu que o magistrado, em decisão monocraticamente, conceda a liberdade de condenados que ainda possam recorrer às instâncias superiores. O resultado da nova votação pode afetar a situação de Lula.

Caso o requerimento do partido prospere a incógnita é, mais uma vez, o voto da ministra Rosa Weber. Em seu voto na última quarta, ela afirmou que, no caso concreto, aplica a jurisprudência atual da Corte, embora o entendimento fosse contrário à sua posição pessoal. Segundo o Valor, espera-se que, analisando o caso em abstrato, Rosa se manifeste contra a prisão após segunda instância e, assim, forme-se um placar de 6 a 5 – desta vez, favorável à situação de Lula. Já segundo a Folha de S. Paulo, ela não é mais considerada voto certo contra a prisão em segunda instância. 

Já de olho nos desdobramentos políticos, a ausência de Ciro Gomes em ato no sindicato, promovido no último sábado, afastou apoio do PT ao pedetista, informa a Folha.

Enquanto isso, atenção para as mudanças ministeriais. O Palácio do Planalto confirmou  que o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, vai assumir a pasta de Minas e Energia, que estava vaga com a saída de Fernando Coelho Filho, candidato à reeleição para deputado federal em Pernambuco. Moreira Franco também é secretário-executivo do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI). O presidente Michel Temer participa da cerimônia de posse de Dyogo de Oliveira na presidência do BNDES às 10h30.

Agenda doméstica da semana

No Brasil, a agenda da semana reserva, entre os principais dados, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de março, na terça-feira (10) às 9h (horário de Brasília), que segundo a GO Associados deve subir 0,13%, com o acumulado em 12 meses ficando em 2,72%.

“A inflação de março deve mostrar ausência de pressões relevantes”, explicam os analistas, citando os dados de alimentos com uma ligeira deflação, assim como os transportes. “Em suma, o IPCA de março continuará mostrando um cenário inflacionário confortável em 2018”, conclui a GO Associados.

Na quinta-feira (12), também às 9h, o IBGE divulga a Pesquisa Mensal de Comércio de fevereiro, com expectativa de alta de 0,9% no conceito restrito (não inclui automóveis e materiais de construção) e de 0,7% no ampliado, em relação ao mês de janeiro. “O resultado do varejo deve manter a percepção de recuperação gradual da economia, amparado na melhora das condições de consumo das famílias”, afirmam os analistas da GO.

Destaques internacionais

Na agenda de indicadores, nos EUA, os dados de inflação ao produtor, marcado para amanhã, e ao consumidor, para quarta-feira (11), além da divulgação da ata do Fomc, no mesmo dia, são os principais eventos da semana.

“Todos os indicadores têm a função de auxiliar o mercado a calibrar as perspectivas para a dinâmica recente da inflação no país e o ritmo de altas de juros pelo Fomc ao longo do ano”, explica a GO Associados. Por ora, sinais de que a inflação americana ainda não está pressionada excessivamente pelo crescimento econômico têm evitado apostas em altas mais drásticas dos juros do Fed.

Na China, além de potenciais retaliações às tarifas de Trump, saem CPI, PPI e balança comercial. Na Europa, Draghi fala no dia 11, mesmo dia em que Kuroda, do Banco Central do Japão, faz discurso.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.