Kallaugher explica: o icônico desenho que resume por que a bolsa teve uma semana tão maluca

E o mais curioso de toda essa histeria dos preços: nenhuma notícia relevante foi divulgada, nem hoje e nem na semana inteira.

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Bolsa dispara, bolsa despenca, mercado em “modo pânico”, a euforia voltou… Foi incrível quantas vezes lemos e ouvimos isso só nesta semana nas manchetes de jornais ou da boca de analistas, seja aqui no Brasil ou no exterior. Só nesta sexta-feira (9), a volatilidade beirou ao ridículo do inexplicável: o Ibovespa chegou a oscilar 2.200 pontos das 13h às 16h30, indo de 81.900 pontos para 79.690 pontos, para logo depois recuperar 1.700 pontos nos 50 minutos seguintes (no mesmo em que escrevo, o Ibovespa opera em 81.190 pontos, leve queda de 0,4% em relação ao fechamento de ontem). E o mais curioso de toda essa histeria dos preços: nenhuma notícia relevante foi divulgada, nem hoje e nem na semana inteira.

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Vendo essa loucura inexplicável nas bolsas mundiais, impossível não se recordar de um dos quadrinhos que melhor ilustra o incompreensível comportamento dos “traders” do mercado financeiro. O desenho abaixo foi feito por Kevin Kallaugher, cartunista político com 40 anos de carreira, com passagem por alguns dos jornais econômicos mais famosos do mundo, incluindo o The Economist.

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Na imagem, um homem fala ao telefone que tem uma ação que pode se destacar, gerando um efeito “telefone sem fio” em que outros investidores entendem que é pra vender, mesmo sem saberem o motivo. Isso vai rodando até um homem irritado diz que não “aguenta mais essa loucura”, e ao se despedir faz com que alguém entenda que é para comprar. Tudo isso cria um círculo no mercado em que todos compram e vendem desesperados sem reais motivos, apenas na euforia.

Para dizer que não tivemos nenhum motivo que justificasse essa volatilidade, ganharam força nos últimos dias as apostas de que o Federal Reserve elevará os juros da economia dos EUA de maneira mais forte do que o anteriormente esperado. A taxa local, que está entre 1,25% e 1,5% ao ano, estava prevista para ter mais 3 altas de 25 pontos-base cada ao longo de 2018, mas a expectativa uma alta adicional e antes do previsto (a aposta anterior era pelo menos em maio; agora, caiu para março) pode ter tirado a atratividade dos investimentos em bolsa – que, diga-se de passagem, tiveram uma performance espetacular nos últimos anos no mundo todo.

Com os juros norte-americanos subindo, o rendimento dos Treasuries dos EUA começam a ganhar atratividade para investidores mais conservadores, que podem retirar seus investimentos de renda variável ou de praças financeiras mais arriscadas (leia-se Emergentes, como o Brasil) e levá-los para estes ativos tidos como “os mais seguros do mundo” (aos olhos do mercado financeiro). Essa saída de capital justificaria por si só uma queda das ações provocada por uma venda destes investidores.

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O argumento é bonito, mas há muitas ressalvas que merecem ser feitas: a primeira é de que não tivemos em si um grande “gatilho” para que os investidores mudassem completamente sua percepção de como será a dinâmica de juros nos EUA; a segunda ressalva, que muitos gestores inclusive já destacaram nas últimas semanas (como se tivessem se antecipando ao “pânico” que estaria por vir) é a de que, no fim das contas, se os juros subirem nos EUA, isso seria uma “boa notícia” para a atividade global, pois mostraria que a principal economia do mundo está sólida o bastante para seguir crescendo sem estímulos monetários (para saber mais, clique aqui e veja como foi painel apresentado por Marcio Appel, da Adam Capital, e Rogerio Xavier, da SPX).

Na segunda-feira, primeiro dia de queda forte do Ibovespa, fizemos um vídeo alertando os investidores para não seguirem o “pânico” demonstrado pelo mercado, por um motivo simples: os fundamentos da tese de que vale a pena comprar ações neste momento não tinham sofrido nenhuma alteração. Hoje, no final da semana, a tese ainda permanece válida. “Mas então por que a bolsa caiu tanto?”, talvez descobriremos a resposta nos próximos dias, ou talvez a imagem acima explica este movimento – assim como já explicou em tantas outras vezes.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.