Em novo dia de sell-off internacional, Ibovespa volta a cair; dólar sobe 0,9%

Preocupação com futuro da política monetária norte-americana afeta bolsas ao redor do planeta; no Brasil, governo tenta retomar reforma da Previdência

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Após operar no vermelho durante toda a manhã, o Ibovespa esboçou um movimento de recuperação na tarde desta segunda-feira (5), embalado sobretudo pela alta das ações de Vale (VALE3), bancos e exportadoras, mas voltou a recuar, porém, em menor intensidade. Às 14h30 (horário de Brasília), o benchmark da bolsa brasileira caía 0,32%, a 83.771 pontos. O dia é de mau humor nas principais bolsas internacionais, onde predomina a preocupação dos investidores com a possibilidade de política monetária mais agressiva por parte da nova gestão no comando do Federal Reserve, em função dos dados recentemente apresentados pela economia dos Estados Unidos. No radar doméstico, os agentes econômicos acompanham com atenção a retomada dos trabalhos legislativos, com as tentativas do governo de retomar as discussões para a reforma da Previdência.

No mesmo horário, os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2019 recuavam 1 ponto-base, a 6,82%, ao passo que os DIs com vencimento em janeiro de 2021 avançavam 1 ponto-base, a 8,95%. Os investidores aguardam nesta semana pela primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) no ano, quando poderá ser decretado o fim do ciclo de afrouxamento monetário. Um novo corte de 25 pontos-base na taxa básica de juros, para 6,75%, é altamente aguardada pelo mercado. Contudo, ainda há dúvidas se o Banco Central poderá promover um novo corte na taxa em março.

Os contratos futuros de dólar com vencimento em março, por outro lado, subiam 0,71%, sinalizando cotação de R$ 3,250. O dólar comercial avançava 0,76% ante o real, a R$ 3,2390 na venda. Para o diretor da mesa de câmbio da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, o movimento da moeda norte-americana não passa de um repique, sem alterar a tendência principal de baixa. Neste sentido, as vendas devem começar pesar já que estamos diante de R$ 3,26, principal resistência de curto prazo. Segundo o diretor, enquanto o dólar seguir abaixo deste patamar, a tendência de baixa da moeda seguirá intacta.

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Confira os destaques deste pregão e da semana:

Destaques da Bolsa

Após a queda expressiva de cerca de 2,6% na última sexta-feira, a sessão é mais uma vez de baixa para as ações da Petrobras (PETR3, R$ 21,35, -0,88%; PETR4, R$ 19,82, -0,75%), que seguem o movimento do petróleo, com o WTI em baixa de 0,6% e o brent em queda de cerca de 1% e também o sentimento de maior aversão ao risco do mercado, de olho na perspectiva de que o Federal Reserve poderá subir os juros em um ritmo acima do antes esperado. 

No radar da estatal, o Ibama está acusando a Petrobras de fraude ambiental, informa o jornal O Globo. Segundo informa a publicação citando parecer técnico do Ibama, a estatal forneceu dados falsos para análise de contaminação de águas, fraudando o real impacto ambiental da atividade de exploração marítima de petróleo.

A Petrobras disse a O Globo que usa o mesmo método de medição do teor de óleo e graxa na água desde 1986 e que em 2015 o Ibama mudou seu entendimento sobre como as análises devem ser feitas . O jornal diz também que a estatal negocia há 6 meses um termo de compromisso com o órgão ambiental para se adequar às novas regras. O documento deve ser assinado nas próximas semanas, diz O Globo.

As ações da Vale (VALE3, R$ 41,52, +1,76%) tiveram uma recuperação ao longo do pregão, acompanhando os ganhos do minério, com a commodity negociada em Dalian registrando alta de 2,53%, a 526,5 iuanes. No radar da companhia, a Vale informou que divulgará o relatório de desempenho financeiro referente ao quarto trimestre de 2017 no dia 27 de fevereiro após o fechamento dos mercados. A mineradora divulgará o relatório de produção do quarto trimestre no dia 16 de fevereiro de 2018, sexta-feira, antes da abertura dos mercados.

Ainda no radar corporativo, destaque para a aprovação da indicação de Octavio de Lazari Junior para assumir a presidência da diretoria executiva do Bradesco (BBDC3, R$ 37,48, +0,62%; BBDC4, R$ 38,90, +1,25%). O atual presidente, Luiz Carlos Trabuco Cappi, permanecerá na presidência do Conselho e cumprirá o seu atual mandato de presidente da diretoria executiva até a primeira reunião do Conselho a ser realizada após a próxima Assembleia Geral Ordinária prevista para 12 de março de 2018.

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

C?d. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 BVMF3 B3 ON 25,33 -2,58 +11,19 168,43M
 VVAR11 VIAVAREJO UNT N2 26,04 -2,54 +6,42 11,71M
 CSNA3 SID NACIONALON 10,50 -2,51 +25,30 43,68M
 BRFS3 BRF SA ON 34,21 -2,42 -6,53 103,16M
 BRML3 BR MALLS PARON 12,71 -2,31 -0,16 18,11M

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

C?d. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 VALE3 VALE ON 41,51 +1,74 +3,10 544,18M
 ELET6 ELETROBRAS PNB 23,40 +1,74 +3,08 10,92M
 ELET3 ELETROBRAS ON 20,07 +1,41 +3,77 22,63M
 BRKM5 BRASKEM PNA 49,46 +1,35 +15,37 46,39M
 BBDC4 BRADESCO PN EJ 38,90 +1,25 +15,04 207,28M
* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)

Novo presidente do Fed

O “dovish” Jerome Powell oficialmente assumiu como novo comandante do Federal Reserve nesta segunda-feira, sucedendo Janet Yellen. Em sua declaração, o executivo chamou atenção para a boa performance da economia norte-americana em tempos recentes, sobretudo de indicadores como a inflação e o desemprego. “Através das nossas decisões de política monetária, iremos apoiar o contínuo crescimento econômico, um mercado de trabalho saudável e a estabilidade nos preços”, afirmou. Ele não fez indicações diretas ao recente sell-off das ações. Powell disse ainda que o setor financeiro está “muito mais forte” do que esteve durante a crise financeira. “Meus colegas e eu vamos permanecer vigilantes e estamos preparados para responder riscos em evolução”, disse. 

Retomada do Congresso

O Congresso Nacional retoma as atividades nesta segunda, com a votação da reforma da Previdência no centro dos debates. Ainda sem consenso entre os parlamentares, a Proposta de Emenda à Constituição 287/2016 é tratada como tema prioritário do ano pelo presidente da República, Michel Temer que, em entrevista na noite de sexta-feira à Rede TV!, negou que tenha “jogado a toalha” sobre a reforma após rumores e indicações do próprio presidente de que ele teria desistido. 

Na Câmara dos Deputados, a matéria está prevista para ser lida em plenário ainda nesta segunda-feira. Apesar dos esforços do Planalto, a votação marcada para o dia 19 deste mês, pode não acontecer nessa data. A pauta de apreciações do plenário é atribuição do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tem afirmado que somente colocará o tema em pauta quando tiver garantia dos votos necessários para aprovação. De acordo com a Folha de S. Paulo, sem votos, Maia pretende engavetar o projeto e transferir o ônus da derrota para o Palácio do Planalto. 

Segundo o ministro Carlos Marun ainda faltam entre 40 e 50 votos para alcançar os 308 votos favoráveis necessários, em dois turnos, para aprovação da proposta na Câmara. Contudo, segundo planilha de cruzamento de votos obtida pelo Estadão, o governo só tem 237 votos favoráveis. Para entrar em vigor, a medida também deve ser apreciada em dois turnos pelo Senado. Ontem, Temer se reuniu com o relator da reforma da Previdência, deputado Arthur Maia (PPS-BA), e com os ministros Henrique Meirelles (Fazenda) e Moreira Franco (Secretaria Geral da Presidência) para discutir a proposta. 

Lula e STF

Também vale ficar de olho no STF. O tão esperado placar no Supremo Tribunal Federal que pode definir o futuro do ex-presidente Lula (condenado em segunda instância no último dia 24) e da Operação Lava Jato poderá ser desvendado já na terça (6), segundo informou a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, no último domingo.

Alexandre de Moraes, novo presidente da primeira turma do STF, colocou na pauta dois casos que tratam diretamente a discussão sobre a prisão após condenação em segunda instância. Ele ainda não se pronunciou sobre o tema na corte e seu voto seria decisivo para mudar o entendimento atual – em 2016, a detenção foi autorizada por um placar de seis a cinco.

Vale ressaltar que a  defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recorreu na sexta ao Supremo para evitar a eventual prisão preventiva dele após o fim dos recursos na segunda instância da Justiça. O caso será relatado pelo ministro Edson Fachin, responsável pelos casos da Lava Jato na corte.

Agenda da semana

Na agenda de indicadores, o Brasil ganha destaque com a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), na quarta-feira (7), que deve cortar novamente a Selic em 25 pontos-base, que passaria para 6,75%, renovando sua mínima histórica. A questão agora ficará com o comunicado, em que o Banco Central poderá indicar se este é o fim do ciclo de alívio monetário.

No dia seguinte é a vez do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apresentar o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de janeiro. Segundo analistas compilados pela Bloomberg, a expectativa é que o dado mensal fique em 0,42%, com o acumulado de doze meses passando para 2,99%. Para a GO Associados, o dado de janeiro deve mostrar pressão principalmente dos grupos alimentação e transportes, enquanto o grupo habitação deve dar a principal contribuição baixista para o indicador.

Nos Estados Unidos, além da posse de Jerome Powell no Federal Reserve, os investidores devem acompanhar com atenção os discursos de dirigentes da autoridade monetária do país. Estão programados para a semana pronunciamentos de Bullard, Dudley, Evans e Harker, em um contexto de preocupação dos investidores com a possibilidade de uma aceleração no ritmo de elevação dos juros, tendo em vista os números mais favoráveis recentemente divultados para a economia do país. Também ganha destaque o deadline do Congresso para aprovar um novo teto da dívida pública norte-americana e evitar o shutdown: quinta-feira.

Bolsas mundiais

No dia que marcou a posse de Jerome Powell no Federal Reserve, os rendimentos dos Treasury Bonds seguem em alta e impactam negativamente nos mercados de ativos de risco, como ações e commodities. Por mais que o novo comandante represente a linha “dovish” similar à de Janet Yellen, os agentes econômicos começam a suspeitar de uma possível gestão mais agressiva na política monetária, com dados econômicos mais robustos. As bolsas americanas e europeias dão continuidade ao sell-off visto no fim da semana anterior.

Na Alemanha, atenção para a dificuldade na formação de um governo pela chanceler Angela Merkel. Ela disse que os conservadores enfrentaram negociações difíceis com os social-democratas (SPD) no domingo, em um esforço para formar uma coalizão governante, e não estava claro quando os dois partidos chegariam ao fim das negociações.

No mercado de commodities, o petróleo recua, com rali perdendo força com receio de alta da produção dos EUA após melhor janeiro para o mercado em mais de uma década; metais tem desempenho misto em Londres, enquanto o minério de ferro sobe na China.

Às 14h (horário de Brasília), este era o desempenho dos principais índices:

*Dow Jones -0,24%

*CAC-40 (França) -1,32%

*FTSE (Reino Unido) -1,23%

*DAX (Alemanha) -0,53% 

*FTSE MIB (Itália) -1,49%

*Hang Seng (Hong Kong) -1,09% (fechado)

*Xangai (China) +0,73% (fechado)

*Nikkei (Japão) -2,55% (fechado)

*Petróleo WTI -0,49%, a US$ 65,13 o barril

*Petróleo brent  -0,31%, a US$ 68,37 o barril

*Contratos futuros do minério de ferro negociados na bolsa chinesa de Dalian +2,53%, a 526,5 iuanes (nas últimas 24 horas)

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.