“Decepção” com inflação azeda o mercado e faz Ibovespa cair pelo 2º dia seguido

SÃO PAULO – Após encerrar sua maior sequência de altas da década na véspera, o Ibovespa voltou a cair nesta quarta-feira (10), seguindo o movimento de correção e digerindo o resultado acima do esperado do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de dezembro, levando o mercado a reduzir as apostas por novos cortes da Selic este ano.

O benchmark de bolsa brasileira fechou com queda de 0,84%, aos 78.200 pontos, também pressionado pelo mau humor em Wall Street, onde os índices caminham para fechar em queda. O volume financeiro da sessão ficou em R$ 7,722 bilhões. O dólar, por sua vez, fechou na mínima do dia, com queda de 0,56%, cotado a R$ 3,2282 na venda.

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O índice de inflação oficial acelerou de 0,28% para 0,44% na passagem de novembro para dezembro, enquanto as estimativas apontavam para uma alta de 0,30% no mês passado. Com o resultado, o IPCA encerrou 2017 em 2,95%, enquanto os analistas esperavam 2,80%, mas ainda ficou abaixo do piso da meta de inflação de 3% pela primeira vez desde que o regime de metas foi implementado no Brasil em 1º de junho de 1999.

Por ficar fora da meta estipulada, o presidente do Banco Central, Ila Goldfajn, precisou escrever um carta ao presidente do CMN (Conselho Monetário Nacional), o ministro Henrique Meirelles. Nela, o BC aponta que a inflação medida pelo IPCA situou-se ligeiramente abaixo do limite inferior da meta em razão da deflação de preços de alimentação no domicílio, que encerrou 2017 com deflação de 4,85%, refletindo, preponderantemente, as condições de oferta, que permitiram níveis recodes de produção agrícola.

“Em vista desse comportamento excepcional dos preços dos alimentos no domicílio (…), o Banco Central seguiu os bons princípios no gerenciamento da política monetária e não reagiu ao impacto primário desse choque de alimentos, permitindo a queda da inflação para abaixo da meta”, afirmou Ilan em carta aberta.

Em vista do resultado surpreendente, os economistas começaram a revisar as expectativas para a Selic este ano. Há consenso que na próxima reunião, marcada para entre 6 e 7 de fevereiro, o Copom irá cortar os juros em 25 pontos-base, levando para 6,75% ao ano. Contudo, a aceleração inesperada da inflação em dezembro, principalmente pelo lado dos alimentos, deixou dúvidas sobre a manutenção desse ritmo no encontro de 20 e 21 de março.

Em entrevista para a Bloomberg, Marcio Milan (Tendências Consultoria) e Jessica Strasburg (CM Capital Markets) acreditam que o resultado aumenta apostas para finalização do ciclo de alívio monetário em fevereiro. Para o economista do Goldman Sachs, Alberto Ramos, o IPCA acima do esperado “fecha a porta” para um corte de 50 pontos-base em fevereiro, como para uma nova queda em março. Por conta disso, os juros futuros com vencimento em janeiro de 2019 registravam alta de 7 pontos-base, cotados a 6,86%, enquanto os contratos de janeiro de 2021 subiam 5 pontos, negociados a 8,94%.

Destaques do mercado

Do lado negativo, destaque para as ações da Eletrobras (ELET6), que recuam pelo segundo pregão seguido com a notícia de que a estatal está enfrentando obstáculos para a venda de suas distribuidoras. Do outro lado, as ações da Kroton (KROT3) ficaram entre os destaques positivos ao reagir ao teste de um importante suporte de curto prazo, oferecendo uma oportunidade de compra (veja mais aqui).