Ibovespa desanima na reta final, mas consegue se “salvar” na semana com alta de 0,7%

Enquanto a reforma da Previdência foi o principal driver da semana, IPCA abaixo do esperado e notícias vindas dos EUA animaram o mercado hoje

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Operando em alta desde a abertura, o Ibovespa encerrou esta sexta-feira (8) longe da máxima, mas mantendo os ganhos, conseguindo assim fechar a semana no positivo, com a Previdência sendo o principal driver para os ativos nos últimos dias. Nesta tarde, chamou atenção a notícia de que o tucano Antonio Imbassahy pediu demissão da Secretaria de Governo e abrindo espaço para finalmente acomodar Carlos Marun (PMDB), nomeação que tem o “selo de qualidade” do centrão e deve ajudar na batalha pelos votos que estão faltando para a Previdência.

O benchmark de bolsa perdeu força na reta final e fechou com alta de 0,34%, aos 72.731 pontos, acumulando ganhos de 0,65% na semana, guiado basicamente pelas mudança de humor sobre a aprovação – ou não – da Previdência na Câmara dos Deputados nas próximas semanas. O volume financeiro ficou em R$ 7,951 bilhões. O dólar comercial, por sua vez, fechou cotado a R$ 3,2947 na venda, alta de 0,25%, após chegar a superar a marca de R$ 3,30 durante o pregão. 

Além da Previdência, o otimismo do mercado nesta sexta foi guiado por três notícias: i) IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) abaixo do esperado; ii) expectativa de inflação baixa nos EUA após divulgado o Relatório de Emprego; iii) Temer confirma data para votação da reforma da Previdência.

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i) IPCA abaixo do esperado
O índice de inflação oficial desacelerou de 0,42% para 0,28% em novembro, enquanto as estimativas apontavam para uma alta de 0,35% na comparação mensal. No acumulado de 12 meses, o IPCA avançou de 2,70% para 2,80%, ainda abaixo do piso da meta de inflação de 3%, o que eleva ainda mais a probabilidade de um novo corte da Selic na reunião de fevereiro.

Conforme observou a equipe de análise da XP Investimentos, o comunicado da última reunião indicou que mais cortes podem ocorrer, mas em magnitude menor, conforme sinalizado no trecho: “Para a próxima reunião, caso o cenário básico evolua conforme esperado, e em razão do estágio do ciclo de flexibilização, o Comitê vê, neste momento, como adequada uma nova redução moderada na magnitude de flexibilização monetária.

Essa visão para a próxima reunião é mais suscetível a mudanças na evolução do cenário e seus riscos que nas reuniões anteriores”. Tal texto provocou maior consenso do mercado sobre a possibilidade de um novo corte nos juros em fevereiro, mas as diferentes casas de análise têm avaliações distintas sobre quais serão os limites desse movimento, sobretudo em função do andamento da agenda de reformas.

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Em vista do resultado abaixo do esperado do IPCA, os juros futuros com vencimento em janeiro de 2019 registravam baixa de 3 pontos-base, cotados a 7,01%, enquanto os contratos de janeiro de 2021 recuavam 2 pontos, negociados a 9,23%. No mesmo momento, o dólar futuro com vencimento em janeiro registrava valorização de 0,18%, aos 3.304 pontos.

ii) Inflação deve seguir baixa nos EUA
Os Estados Unidos abriram 228 mil vagas de emprego em novembro, resultado que ficou acima da expectativa dos analistas, que apontava para a criação de 195 mil novos postos de trabalho no mês passado. Porém, o destaque ficou por conta dos ganhos médios por hora, que subiram apenas 0,2% na comparação mensal ante estimativa de alta de 0,3%, ao passo que a medição anterior foi revisada de estabilidade para queda de 0,1%.

Isso acaba reduzindo a pressão sobre a expectativa de inflação, já que um aumento dos salários resulta em maior pressão de custo para as empresas, como comprova que a economia segue gerando emprego sem pressão significativa nos salários.

Os números reforçam a probabilidade de que Jerome Powell, que assumirá o lugar de Janet Yellen em março do ano que vem, não irá realizar uma guinada muito forte da política monetária nos EUA e seguirá dovish, ou seja, inclinado em manter os estímulos para aquecer a economia.

iii) Agora tem data
Confirmando os rumores, Temer afirmou que a votação da reforma da Previdência está marcada para os dias 18 ou 19 de dezembro na Câmara dos Deputados: “há convicção de que precisamos realizar a votação agora para, na sequência, realizá-la no Senado Federal em fevereiro”, afirmou o presidente, qu não cogita que a votação fique para o ano que vem.

Apesar da definição, tal movimentação também pode ter efeitos limitados, a depender de quais serão as condições do governo em mobilizar a base aliada na última semana de atividades legislativas, dissipando a possibilidade de quórum baixo e reduzida disposição dos parlamentares em votar medidas impopulares – veja a análise completa aqui.

Correndo com a Previdência
Em uma decisão surpreendente (e arriscada) o líder do governo na Câmara combinou com Rodrigo Maia o início da votação em 18 de dezembro e concluir a votação na quarta-feira (20). Com a data marcada, o governo dedicará a próxima semana ao esforço de convencimento dos parlamentares para que o governo atinja pelo menos 320 votos – número considerado como uma margem de segurança para aprovar o texto – para passar o texto no plenário.

A definição de uma data para o primeiro turno da votação representa a fixação de um farol, através do qual o governo estrutura toda sua estratégia de busca por converter votos no varejo. A missão não é nada fácil, mas o governo não mede esforços e adota estratégia de diversificar as frentes de ação.

Nesta ofensiva para conseguir os votos necessários, Temer, sob a tutela de Rodrigo Maia, estuda devolver cargos que foram tirados de aliados que votaram contra o governo nos últimos meses para garantir mais congressistas e vai se dedicar aos dois partidos da base que estão bastante relutantes com a reforma: PR e PSD.

Com essas duas manobras, o presidente da Câmara calcula que o governo conseguirá 30 votos devolvendo os cargos a esses deputados e garantir pelo menos 280 parlamentares, faltando apenas 28 para aprovar com a contagem mínima.

“Desta forma, o governo deixa para a última semana do Congresso para tentar conseguir os votos necessários à aprovação desta reforma. Caso contrário, esse tema poderá debatido novamente no próximo governo”, resume a LCA Consultores.

Eleições 2018

Segundo a Folha de S. Paulo, Geraldo Alckmin tentará se reaproximar do PMDB e neutralizar o apoio a uma eventual candidatura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, fazendo uma ofensiva ao mercado financeiro. Segundo o jornal, o tucano aumentará os encontros com empresários e investidores, assim como adotará em seu discurso um tom mais voltado à economia, com a defesa de medidas de equilíbrio fiscal e de recuperação da atividade econômica.

Sobre 2018, em evento realizado ontem na Casa do Saber, em São Paulo, Luciano Huck afirmou que neste momento “é preciso encontrar uma candidatura viável de centro”, principalmente porque os candidatos que estão liderando as pesquisas não são bons. À imprensa, Huck chegou a dizer que Marina Silva e Geraldo Alckmin são bons nomes, mas disse esperar que algum outro nome, de fora de política, também entre na disputa: “tem que aparecer” – veja mais clicando aqui.

Enquanto isso, o líder das pesquisas eleitorais, o ex-presidente Lula, é matéria de capa da revista Veja desta semana. Segundo a publicação, em proposta de delação premiada, Antonio Palocci, afirma que o ditador líbio Muamar Kadafi (morto em 2011) repassou US$ 1 milhão à campanha do então candidato petista em 2002. A assessoria de Lula respondeu, quando procurada pela Bloomberg, que não comentará a “suposta alegação de possível delação”.

China surpreende

A balança comercial chinesa referente ao mês de novembro surpreendeu o mercado e revelou que o gigante asiático segue forte. As importações cresceram 17,7% em relação ao mesmo período do ano passado, bem acima das expectativas do mercado de 11,3%, lideradas pelas commodities. As exportações aumentaram 12,3% em relação a novembro de 2016, ritmo mais rápido em 8 meses, lideradas por fortes vendas de produtos eletrônicos e alta tecnologia, também superando de longe a projeção do mercado (+6%).

Em vista do resultado surpreendente, os principais índices de ações europeus fecharam em alta, influenciados positivamente também pelo Relatório de Emprego dos EUA e a vitória de Trump no Congresso. Por 235 contra 193, a Câmara norte-americana aprovou a extensão do prazo para negociação da elevação do teto da dívida do país até 22 de dezembro, que agora segue para aprovação do Senado. Na prática, a extensão do período evita a paralisação de agências federais a partir de sábado, o que forçaria o governo norte-americano a tomar medidas extraordinárias para continuar funcionando.

Na Ásia, o dia foi de ganhos por conta do resultado acima do esperado da balança chinesa e os dados positivos da economia japonesa. Revisão divulgada ontem à noite mostrou que o PIB (Produto Interno Bruto) do país registrou expansão anualizada de 2,5% no terceiro trimestre, bem maior do que a primeira prévia de 1,4%.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.