Ibovespa tem 5ª queda em 6 pregões com indefinições sobre Previdência e PIB dos EUA

Aproximação do fechamento da última janela de oportunidade para aprovar mudanças nas regras de aposentadoria reduz apetite a riscos por parte dos investidores

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Depois de chegar a subir 0,5% no início do pregão e sinalizar a possibilidade de uma pequena recuperação em meio a movimentos recentes de correção, o Ibovespa virou para queda e conheceu seu quinto pregão negativo em seis dias. Nesta quarta-feira (29), o benchmark da bolsa brasileira fechou em queda de 1,94%, a 72.700 pontos, com investidores digerindo o resultado levemente acima do esperado do PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos e as indefinições sobre a reforma previdenciária à medida que o mundo político se aproxima do fechamento da última janela de oportunidade para votar as medidas antes das eleições de 2018. Apenas oito das 59 ações da carteira teórica do Ibovespa encerraram o dia no campo positivo. O giro financeiro negociado na B3 foi de R$ 9,72 bilhões.

Seguindo o menor apetite a riscos por parte dos investidores no mercado brasileiro, os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2021 fecharam em alta de 10 pontos-base, a 9,31%, ao passo que os DIs com vencimento em 2018 registraram leve recuo de 1 ponto-base, a 7,034%. Os contratos de dólar futuro com vencimento em dezembro deste ano avançaram 0,96%, sinalizando cotação de R$ 3,245, enquanto o dólar comercial subiu 0,98% ante o real, cotado a R$ 3,2401 na venda.

Confira os principais destaques do dia:

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Destaques da Bolsa

Do lado acionário, as ações da Vale (VALE3, R$ 35,81, -1,21%) interromperam os ganhos nesta sessão e caem depois de subirem 13% nas últimas 8 sessões, indo na contramão hoje do movimento de alta do minério de ferro. Nesta quarta-feira, os contratos futuros da commodity negociados na bolsa chinesa de Dalian subiram 2,09%, a 512,5 iuanes. Merece menção que o desempenho recente dos papéis da mineradora vieram na esteira também de uma série de revisões de recomendações. Ontem, a companhia teve a sua ação elevada para compra pelo BTG Pactual, com novo preço-alvo de US$ 14 para o ADR; enquanto, na segunda-feira, foi o Morgan Stanley que revisou a recomendação de “equalweight” (exposição em linha com a média) para “overweight” (exposição acima da média).

Juntamente com a Vale, as ações da Bradespar (BRAP4, R$ 25,57, -1,65%) – holding que detém participação na mineradora – também viraram para o campo negativo nesta tarde, enquanto as siderúrgicas fecharam em sentidos opostos, com Gerdau (GGBR4, R$ 11,08, +0,91%), Metalúrgica Gerdau (GOAU4, R$ 5,12, +1,19%), Usiminas (USIM5, R$ 8,93, -3,67%) e CSN (CSNA3, R$ 7,54, -3,08%). 

No radar, o colegiado da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) rejeitou recurso da CSN e do Fundo de Investimento Multimercado (Diplic) sobre a necessidade de realização de Oferta Pública de Aquisição de Ações (OPA) da Usiminas.

A siderúrgica tenta provar que houve troca de controle na Usiminas no momento em que o grupo ítalo-argentino Ternium/Techint ingressou no capital da companhia mineira, em 2012. A CSN quer mostrar que tem direito, assim como os demais minoritários da CSN, a receber 80% do valor de R$ 36 por ação, o chamado tag along, que foi pago pelo papel da Usiminas pela Techint/Ternium à época da compra. Essa ferramenta de proteção aos minoritários em caso de troca de controle está prevista da lei das S/As.

As ações da Petrobras acentuam queda nesta tarde, acompanhando o dia negativo para os preços do petróleo, com o mercado à espera da reunião da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) amanhã e no aguardo dos dados oficiais de estoques nos Estados Unidos. Ontem, a API indicou alta nos estoques em 1,6 milhão de barris por dia na semana passada. 

Em Londres, os contratos futuros do petróleo Brent registravam queda de 0,41%, a US$ 63,35 o barril, enquanto os contratos do WTI, negociados em Nova York, recuavam 1,00%, a US$ 57,41 o barril. 

Além disso, no radar, a Petrobras anunciou corte de 0,8% do preço da gasolina e de 0,5% do preço do diesel, válidos a partir da próxima quinta-feira. 

A nova política de revisão de preços foi divulgada pela petroleira no dia 30 de junho. Com o novo modelo, a Petrobras espera acompanhar as condições do mercado e enfrentar a concorrência de importadores. Em vez de esperar um mês para ajustar seus preços, a Petrobras agora avalia todas as condições do mercado para se adaptar, o que pode acontecer diariamente. Além da concorrência, na decisão de revisão de preços, pesam as informações sobre o câmbio e as cotações internacionais.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Ibovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 CPFE3 CPFL ENERGIAON 25,28 -6,89 +1,15 42,87M
 BBAS3 BRASIL ON EJ 31,16 -4,53 +14,10 409,28M
 SMLS3 SMILES ON 78,71 -4,27 +89,35 60,34M
 USIM5 USIMINAS PNA 8,90 -3,99 +117,07 211,73M
 QUAL3 QUALICORP ON 30,80 -3,90 +65,16 75,30M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Ibovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 GOAU4 GERDAU MET PN ED 5,13 +1,38 +6,88 71,24M
 EMBR3 EMBRAER ON 15,55 +1,30 -1,50 32,21M
 GGBR4 GERDAU PN ED 11,10 +1,09 +3,26 119,21M
 CIEL3 CIELO ON 22,99 +0,39 +2,02 124,37M
 EQTL3 EQUATORIAL ON 64,60 +0,23 +20,55 74,35M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram :

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 PETR4 PETROBRAS PN 15,33 -3,22 712,60M 647,37M 46.698 
 VALE3 VALE ON 35,70 -1,52 653,99M 677,49M 32.305 
 BBAS3 BRASIL ON EJ 31,16 -4,53 409,28M 296,27M 25.168 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 41,88 -2,06 406,30M 419,57M 28.844 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 20,56 -1,06 310,73M 283,09M 26.465 
 BBDC4 BRADESCO PN 32,86 -1,91 295,50M 329,10M 24.324 
 BVMF3 BMFBOVESPA ON EJ 23,50 -3,13 232,80M 198,67M 31.761 
 CCRO3 CCR SA ON 16,00 -2,32 228,48M 147,80M 36.083 
 USIM5 USIMINAS PNA 8,90 -3,99 211,73M 189,84M 17.253 
 FIBR3 FIBRIA ON 47,80 -2,13 208,80M 100,72M 15.127 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

“Reforma da reforma”?

Antes mesmo de completar uma semana a apresentação do novo texto para a reforma previdenciária, o governo volta a enfrentar dificuldades para a conquista do apoio dos 3/5 necessários de deputados (ou 308) para votar as medidas no plenário da Câmara em dois turnos ainda neste ano. Nos bastidores das articulações, membros do PSDB começam a pressionar por uma nova alteração na PEC (Proposta de Emenda à Constituição), o que gerou reação por parte do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Segundo ele, não há mais disposição para novas concessões e que o governo não conta mais com margem de manobra para negociar. “Chegamos no osso, no limite, e não estamos pensando em mais concessão alguma. Não haverá concordância do governo com qualquer tipo de novas alteração”, afirmou.

Na última terça-feira (28), o líder dos tucanos, Ricardo Tripoli (SP), afirmou que o partido está negociando com o governo para acrescentar pontos na reforma da Previdência e que o relator da proposta, Arthur Maia (PPS/BA), está “disposto a receber este material e fazer uma análise”. O PSDB exige três mudanças: i) benefício integral na aposentadoria por invalidez, independentemente do lugar onde o problema ocorreu; ii) permissão para acumular benefícios (pensão e aposentadoria) até o teto do INSS (atualmente em R$ 5.531); iii) regra de transição especial — com pagamento de pedágio — para que os servidores que ingressaram no sistema até 2003 possam ter integralidade (último salário da carreira) e paridade (mesmo reajuste salarial dos ativos) sem ter o cumprimento da idade mínima de 65 anos (homem) e 62 anos (mulher), como sugere a reforma do governo.

De um lado, há a percepção de dificuldades entre os tucanos para entregar apoio integral da bancada à impopular medida a um ano das eleições. Do outro, há quem aposte que, com o governador Geraldo Alckmin na presidência do partido, será possível uma superação dos recentes atritos e uma unificação, que poderá favorecer o governo na votação da reforma da Previdência. Nesse sentido, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) destacou que a articulação intensa do governo neste momento é “fundamental” e comentou que os tucanos são peça chave para a aprovação do texto na casa legislativa ainda neste ano, para que o texto passe a tramitar no Senado no início de 2018, com a volta do recesso parlamentar. “Vamos avaliar se esses três pontos [propostos pelo PSDB] vão inviabilizar a aprovação ou não, porque sem os votos do PSDB é quase impossível chegar a 308 votos”, afirmou.

O ministro Eliseu Padilha, por sua vez, afirmou que ainda que é cedo para contar votos e que isso deve começar a partir da semana que vem. Segundo ele, o PSDB já está fora da base aliada, mas espera que isso não tenha impacto na votação da reforma da previdência, já que a reforma é historicamente defendida pelos tucanos: “não me consta que PSDB tenha deixado de ter compromisso com Previdência”, disse o ministro-chefe da Casa Civil. O peemedebista disse ainda que caberá ao presidente Michel Temer decidir sobre o futuro dos ministros tucanos, podendo mantê-los no cargo por meio de sua cota pessoal.

Conforme aponta a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, uma primeira análise sobre o apoio à reforma da Previdência evidencia que o clima na Câmara a favor do projeto melhorou, embora ainda faltem cerca de 50 votos para selar o acordo. Como já disse o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o que interessa agora é assegurar os votos necessários para a aprovação da proposta, independente do calendário: “neste ou no próximo ano, o importante é que a reforma da Previdência seja aprovada”, frisou.

Por falar no ministro da Fazenda, segundo reportagem da Folha de S. Paulo, Meirelles fez um cálculo político estratégico nas últimas semanas e decidiu investir de forma mais incisiva em busca do apoio de Michel Temer e Rodrigo Maia à sua candidatura em 2018 — confira mais aqui.

Entrevista com Gustavo Franco

Em entrevista ao InfoMoney publicada nesta quarta-feira, o ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Rio Bravo Gustavo Franco destacou por que está otimista com relação a 2018 e por que acredita que o Brasil sairá melhor do processo eleitoral de 2018.

“Os ventos estão na direção pró-reformas e não há nada mais indicativo nessa direção do que a posição do próprio governo Michel Temer”. Na entrevista, Franco também destacou, à luz do lançamento do livro “A Moeda e a Lei – uma história monetária brasileira (1933-2013)”, o teste que as instituições monetárias brasileiras passaram no Brasil. Ele avalia que, em 2013, o sistema de metas de inflação e o Copom resistiram até ao ambiente intervencionista do governo Dilma Rousseff.

Confira a entrevista completa clicando aqui.

Indicadores econômicos

A segunda revisão do PIB norte-americano apontou para um crescimento de 3,3%, enquanto os analistas esperavam por um avanço de 3,2%, comprovando que a economia segue forte.

Além dos dados nos EUA, no cenário doméstico o destaque ficou por conta do resultado primário do setor público, que apontou para um superávit de R$ 4,758 bilhões em outubro, superando a estimativa de R$ 4,1 bilhões para o período. Esse foi o primeiro resultado positivo após cinco meses de déficits.

No final da noite, as atenções estarão por conta dos dados do PMI de manufatura da China de novembro às 23h, com expectativa de uma leve desaceleração de 51,6 para 51,4 frente ao visto em outubro. O investidor deve monitorar o número já que seu resultado costuma gerar intensa volatilidade no minério de ferro.

Bolsas mundiais

O dia foi de movimentos opostos para os principais índices acionários de Wall Street. De um lado, o Dow Jones renovou máximas com os investidores apostando na continuidade da euforia com a economia, após divulgação do PIB local levemente acima das expectativas dos analistas e ainda comemorando os avanços na agenda de reforma tributária do presidente Donald Trump. O S&P 500 chegou a atingir sua máxima histórica, mas reverteu ganhos e encerrou o dia em leves perdas. Em um tom bem mais negativo, o Nasdaq fechou em queda superior a 1%, puxado sobretudo pelos papéis de Facebook, Netflix e Alphabet.

Na Ásia, as principais bolsas do continente terminaram os negócios desta quarta-feira em alta, com as da China se recuperando na segunda metade do pregão, refletindo o bom momento das bolsas norte-americanas. O Nikkei subiu 0,49% após dois pregões negativos, apesar de a Coreia do Norte ter testado ontem um novo míssil balístico que caiu no litoral do Japão, que tem capacidade de atingir qualquer parte do território estadunidense, segundo Pyongyang.

Já na Europa, o dia foi majoritariamente de ganhos, sustentados pela alta das ações do setor bancário e com os investidores digerindo os dados econômicos da região. O índice de sentimento econômico da zona do euro, que mede a confiança de setores corporativos e dos consumidores, subiu de 114,1 em outubro para 114,6 neste mês, atingindo o maior nível desde outubro de 2000, em linha com o esperado pelo mercado.

Do lado das commodities, o dia foi de perdas para o petróleo, mesmo com reunião favorável ao controle na produção por membros da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).

Este foi o desempenho dos principais índices do mercado:

*Dow Jones (EUA) +0,40%

*S&P 500 (EUA) -0,08%

*Nasdaq (EUA) -1,35%

*CAC-40 (França) +0,14%

*FTSE (Reino Unido) -0,90%

*DAX (Alemanha) +0,02% 

*Hang Seng (Hong Kong) -0,19% (fechado)

*Xangai (China) +0,13% (fechado)

*Nikkei (Japão) +0,49% (fechado)

*Petróleo WTI -1,02%, a US$ 57,40 o barril

*Petróleo brent -0,47%, a US$ 63,31 o barril

*Contratos futuros do minério de ferro negociados na bolsa chinesa de Dalian +2,09%, a 512,5 iuanes

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.