Euforia passageira: 2 fatores que azedaram o mercado e fizeram o Ibovespa cair quase 2%

Índice volta a cair forte após dispara da véspera com mercado de olho em plano de impostos de Trump e discussões sobre a Previdência

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Após a empolgação do mercado na véspera, com o Ibovespa disparando 2,7%, o índice volta a ficar pressionado nesta quinta-feira (9), perdendo novamente o patamar de 74 mil pontos. Com os investidores ainda atentos aos esforços do governo sobre a reforma da Previdência, pesa nesta sessão também o cenário externo, com rumores de que a reforma tributária de Donald Trump pode ser adiada

O benchmark da bolsa brasileira fechou com queda de 1,93%, aos 72.930 pontos – o volume financeiro ficou em R$ 9,125 bilhões. O dólar comercial, por sua vez, encerrou o dia com leve queda de 0,12%, cotado a R$ 3,2599 na venda, enquanto o dólar futuro com vencimento em dezembro operava estável a R$ 3,263.

Já o contrato futuro com vencimento em janeiro de 2019 subia 4 pontos-base, para 7,28%, enquanto os DIs para janeiro de 2021 avançava 4 pontos-base, a 9,27%.

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Nos EUA, senadores republicanos querem cortar os impostos corporativos só a partir de 2019, timing muito diferente do pretendido pela Câmara, que prevê a entrada em vigor já no início do ano que vem. O próprio secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, admitiu que não descarta o adiamento do corte de 35% para 20% dos impostos corporativos, o que pode colocar em xeque o projeto de aceleração da economia prometido pelo presidente em sua campanha.

Ainda falando sobre os EUA, chama atenção o desempenho das empresas nessa temporada de resultados do terceiro trimestre. Segundo levantamento, 85% das empresas já divulgaram os seus números e 75% dos balanços apresentaram resultados acima do esperado, comprovando o bom momento operacional das companhias, principalmente do lado do setor de tecnologia, com destaque para Apple, que se tornou a primeira empresa de capital aberto a atingir o valor de mercado de US$ 900 bilhões.

Repique ou reversão?
Depois da disparada no pregão passado, acompanhada de volume atingindo a média (força compradora), nada mais natural de que o Ibovespa sofrer uma realização nesta quinta-feira, nada que altere a expectativa pela retomada da tendência de alta de curto prazo. Porém, para isso, o mercado precisa superar a barreira dos 75 mil pontos, por onde passa atualmente a média móvel exponencial de 21 dias.

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Caso supere com boa margem percentual essa barreira, a tendência de baixa de curtíssimo prazo será anulada e de alta principal voltará a reinar, abrindo caminho para a faixa de 77 mil pontos. Do contrário, seguindo sob 75.180 pontos, o momentum de baixa de curtíssimo prazo prevalecerá e o índice tomará novo impulso para finalmente testar 71.500 pontos, topo rompido no final de agosto que abriu espaço para toda a valorização acompanhada em setembro.

De acordo com o analista técnico da Rico Investimentos, Gilberto Coelho, a disparada do Ibovespa na última quarta-feira (8) apagou o cenário mais pessimista para o mercado e reviveu a expectativa pela busca do topo histórico, que, caso rompido, abre caminho para a faixa de 85 mil pontos – confira a análise completa.

Destaques do mercado

Do lado negativo, destaque para as ações da Usiminas (USIM5) e Vale (VALE3), que recuaram na esteira do minério de ferro, enquanto os papéis da Fibria (FIBR3) se recuperam após recuarem cerca de 10% nos últimos dias.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 ELET6 ELETROBRAS PNB 23,50 -5,36 -3,59 42,88M
 CSNA3 SID NACIONALON 7,85 -5,08 -27,65 99,00M
 BRAP4 BRADESPAR PN 23,72 -5,04 +63,68 51,37M
 ELET3 ELETROBRAS ON 20,52 -4,56 -2,83 88,42M
 GOAU4 GERDAU MET PN 4,92 -4,28 +2,50 70,54M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 JBSS3 JBS ON 8,00 +5,82 -29,60 166,28M
 FIBR3 FIBRIA ON 52,10 +5,25 +67,38 169,25M
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 21,13 +5,18 +52,79 222,94M
 KLBN11 KLABIN S/A UNT ED N2 18,99 +2,26 +10,68 79,07M
 TAEE11 TAESA UNT N2 20,36 +0,59 +3,64 45,86M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 VALE3 VALE ON 32,80 -3,36 636,82M 703,58M 30.866 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN ED 41,45 -2,70 530,13M 400,70M 27.901 
 PETR4 PETROBRAS PN 16,72 -1,36 494,51M 627,15M 25.623 
 BBDC4 BRADESCO PN EJ 32,71 -3,62 391,41M 324,02M 33.513 
 BBAS3 BRASIL ON 32,26 -2,57 323,34M 274,87M 30.073 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 20,22 -0,25 256,44M 327,99M 21.719 
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 21,13 +5,18 222,94M 89,04M 19.464 
 UGPA3 ULTRAPAR ON 74,05 -4,01 190,36M 85,61M 14.991 
 USIM5 USIMINAS PNA 8,52 -2,63 184,84M 218,35M 19.725 
 LREN3 LOJAS RENNERON 34,49 -3,55 173,32M 127,40M 16.254 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Do que está perdido, a metade de nada é um bom negócio? 
Na coletiva de imprensa convocada ontem pelo deputado Arthur Maia (PPS-BA), o relator da reforma não detalhou como será a reforma, mas deixou bem claro que duas cláusulas são fundamentais e que sem elas a reforma não se justificaria: a idade mínima e o fim da aposentadoria integral para altos salários do serviço público para equalizar com o setor privado. A estratégia é aprovar o novo texto em dois turnos na Câmara até o dia 15 de dezembro e terminar a votação no Senado em fevereiro de 2018, ressalta o Estadão.

Em uma escala de 1 a 10, Maia atribuiu um 10 às chances da Previdência ser aprovada com as flexibilizações: “do que está perdido, a metade é um grande negócio. É melhor conseguir que a Previdência, em vez de economizar R$ 800 bilhões, economize R$ 400 bilhões, do que não economizar nada”, afirmou.

Apesar dos esforços, os partidos aliados reconhecem que o governo não possui os 308 votos para aprovar a PEC (Proposta de Emenda Constitucional), ainda mais um tema tão polêmico a um ano das eleições. Um termômetro da popularidade de Temer entre os parlamentares está sendo o resultado da segunda denúncia contra o presidente na Câmara, que não foi nada animador, já que foram contabilizados 251 votos contra 263 na primeira investida de Rodrigo Janot.

Por isso, antes de lutar pela Previdência, Temer precisa correr com a reforma ministerial para acomodar o “centrão” para voltar discutir o andamento da pauta no plenário e reorganizar sua base aliada. O descontentamento de grande parte dos aliados tem relação à situação do PSDB no governo, que, mesmo sem apoiar Temer condicionalmente, ainda possui voz nos ministérios, enquanto os aliados que votaram a favor do presidente na Câmara estão “a ver navios”.

Os deputados do “centrão” cobiçam especialmente os cargos de Imbassahy, que mais de uma vez já revelou sua antipatia ao governo Temer, além de Araújo, de olho na fatia do bolo do programa “Minha Casa, Minha Vida”. Com a ameaça velada dos parlamentares do “centrão”, Temer avalia antecipar para após o feriado de 15 de novembro a reforma ministerial, que estava programada para abril do ano que vem, quando candidatos às eleições terão de deixar os cargos, segundo informações do G1.

Previdência representa muito mais
A reforma da Previdência, mesmo que mais enxuta, tem um peso muito grande para o futuro da economia, pois, além de sinalizar o compromisso do governo com as contas públicas e evitar um rebaixamento do rating, garante a manutenção da política de cortes da Selic. Na ata da última reunião do Copom, o Banco Central deixou claro que o ritmo de cortes dependerá dos esforços do governo para aprovar a reforma da Previdência: “uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária”, apontou o documento.

Além disso, conseguir o apoio para a Previdência, que está diretamente relacionada à reorganização da base, também será importante para aprovação do pacote de ajuste do orçamento para o ano que vem e destravar a pauta do plenário da Câmara dos Deputados, que conta com as novas regras do setor de mineração e privatização da Eletrobras.

De olho no avanço da agenda de reformas, o dólar futuro com vencimento em dezembro registrava desvalorização de 0,41%, aos 3.249 pontos, enquanto os juros futuros com vencimento em janeiro de 2019 e 2021 operam praticamente estáveis, cotados a 7,24% e 9,21%, respectivamente, na expectativa pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de outubro na próxima sexta-feira (10).

Novo diretor da PF e cenários para 2018

A escolha do delegado Fernando Segóvia para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal, um cargo importante para a Operação Lava Jato, em substituição a Leandro Daiello, gera apreensão em grupos do órgão, conforme apontam os jornais desta quinta-feira. Segundo a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, às vésperas da escolha, integrantes graduados da Polícia Federal diziam que Segóvia não era “o nome certo” e que, se fosse o eleito, deveria chegar sabendo que o modo como a PF opera hoje “está enraizado e não vai mudar”.

Agora que ele foi escolhido, a ordem nos grupos contrários à sua nomeação é “recolher as armas e monitorar”, para ver como Segóvia leva as negociações com os policiais federais. Jornais de ontem destacaram que o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, foi um dos principais fiadores da indicação do nome. Na cúpula da Polícia Federal, as articulações de Padilha foram compreendidas como se ele estivesse com receio de onde as investigações poderiam chegar.

Além disso, destaque para a repercussão da “carta aos brasileiros” divulgada pelo presidenciável Jair Bolsonaro na tarde de ontem, em que afirma que suas propostas serão pautadas pelo respeito aos contratos, respeito às leis e pelo total respeito à Constituição Brasileira. O deputado confirmou a colaboração do economista e pesquisador do Ipea Adolfo Sachsida.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.