As decepções que fizeram as ações da Smiles recuarem mais de 10% neste pregão

Resultado abaixo do esperado, dúvidas sobre novas fontes de receita e política de dividendos ajudam explicar a derrocada do papel

Rafael Souza Ribeiro

Publicidade

SÃO PAULO – Reconhecida pelo mercado com uma empresa premium por conta do alto nível de eficiência e a recorrência de bons resultados, os investidores aguardavam por mais um balanço surpreendente da Smiles (SMLS3) no terceiro trimestre. Porém, a decepção com a receita líquida e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações), que ficaram abaixo do esperado pelo mercado em 5% e 6%, respectivamente, já foi motivo para a derrocada do papel, que lidera as perdas do Ibovespa com desvalorização de 8%, cotados a R$ 76,00.

O crescimento de 16% do faturamento bruto total frente ao terceiro trimestre do ano passado, que corresponde ao total faturado pela empresa nos resgates de milhas (quando os prêmios são efetivamente amortizados) – principal fonte de receita da companhia -, não foi suficiente para ofuscar a queda de 4,5% da receita de breakage (milhas emitidas que expiram sem serem resgatadas) em relação ao ano passado e os menores ganhos com floating (ganho financeiro ao aplicar o caixa recebido à vista na emissão de pontos) por conta da queda da Selic. Para se ter uma ideia, a receita líquida de R$ 440,8 milhões ficou abaixo da menor estimativa compilada pela Bloomberg, que no caso foi de R$ 451 milhões.

A queda na receita está relacionada à venda de pontos para bancos, que recuou mais uma vez no terceiro trimestre. Essa dinâmica negativa não é uma boa notícia, já que 75% das milhas acumuladas pela Smiles são derivadas dos bancos, mais especificamente, pelos pontos gerados pelos cartões de crédito. Essa recorrência preocupa e deixa o mercado com uma “pulga atrás da orelha”, já que tem um impacto relevante nas margens da empresa em resultados futuros. Inclusive, na teleconferência sobre os resultados, alguns analistas questionaram Leonel Andrade sobre essa dinâmica e o CEO afirmou que a empresa está trabalhando para recuperar as margens, como está diminuindo a dependência dos bancos via maior diversificação de produtos, a fim de diluir as receitas.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Em vista destas dúvidas, nada mais natural questionar sobre o ritmo de crescimento da companhia, outro fator que está contribuindo para a queda para as ações. Segundo analista que pediu anonimato ao InfoMoney, apesar de reinar na indústria de programa de fidelização, está cada vez menos óbvio as novas fontes de receita da Smiles. De olho nisso, Andrade antecipou na teleconferência de resultados que a empresa está na fase final de conclusão de um projeto para explorar outras alternativas, o que pode incluir uma aquisição, e um pacote de inovações tecnológicas, mas todos esforços focados no segmento de turismo e entretenimento, que é o core business da companhia. Esse disclaimer é necessário, pois rumores apontavam que a Smiles poderia se aventurar no segmento de varejo, à exemplo da CVC (CVCB3).

Detalhe que fez toda diferença

Ainda no campo das decepções, um ajuste contábil fez toda a diferença para quem investe na empresa em busca dos fartos dividendos. Na teleconferência de resultados, o presidente da companhia afirmou que a empresa deve divulgar nas próximas semanas o futuro dos R$ 193 milhões do lucro caixa gerado pelos créditos fiscais pela incorporação da Webjet, que, segundo Andrade, pode ser revertido em proventos para os acionistas.

A empresa, que tem como política pagar 100% do seu lucro líquido sob a forma de dividendos ao final de cada ano contábil, contabilizou esse benefício fiscal na conta Reserva de Capital, o que, pela Lei das S.A. impede a empresa pagar via dividendos, que somente pode ser desembolsado ao ser vinculado à conta de lucro líquido do exercício, de lucros acumulados e de Reserva de Lucros. Para distribuir via Reserva de Capital, a companhia teria que alterar todo seu estatuto e criar ações preferenciais, o que parece uma alternativa pouco provável. Assim, a Smiles terá que distribuir esse provento através de JCP (Juros sobre Capital Próprio), o que incide 15% de Imposto de Renda na fonte (entenda a diferença entre dividendos e JCP).

Com isso, o payout, que é a proporção do lucro da empresa distribuído na forma de proventos aos acionistas, naturalmente será menor do que os 100% oriundos dos dividendos. Além disso, com a incorporação da Webjet, a Smiles precisou alterar o CNPJ da companhia, o que justificou também o novo ticker das ações, gerando uma segregação dos resultados. Assim, os proventos pagos pela empresa ao final de cada ano contábil sofreram alteração e a companhia não deve pagar 100% em 2017, revelou um analista de mercado que pediu anonimato ao InfoMoney. Segundo ele, o acionista não vai receber parte dos lucros acumulados no primeiro semestre e o payout deve ficar entre 60% este ano, ao passo que será normalizado somente ano que vem.

Motivo para pânico?

Apesar de todas essas decepções, o analista acredita que o mercado exagerou na queda e que o resultado, apesar de abaixo do esperado pelo mercado, não sugere esse pânico que tomou conta da ação. Outro ponto importante é que estamos falando de um ativo, que mesmo com a correção de hoje, sobe mais de 80% no ano, contra um Ibovespa que registra valorização de 20%.

Portanto, a combinação de um papel caro e resultados decepcionantes foi o estopim para a forte queda acompanhada nesta terça-feira, que na mínima do dia atingiu R$ 74,04 e recuou 10,3%, voltando para o patamar verificado em setembro deste ano.