As duas notícias que fizeram o dólar disparar e o Ibovespa ter o pior pregão em 4 meses

Pesquisa Ibope apontando força de Lula e Bolsonaro já havia elevado o mau humor do mercado, e uma novidade nos EUA piorou a situação à tarde

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Em queda desde a abertura após a pesquisa Ibope divulgada no fim de semana mostrar Lula e Bolsonaro na frente da disputa, o Ibovespa acentuou as perdas na tarde desta segunda-feira (30) seguindo o exterior após o mercado ser pego de surpresa com rumores sobre um plano gradual de 5 anos para corte de impostos corporativos nos Estados Unidos. Com isso, o índice chegou a cair 2,20% na mínima do dia.

O benchmark da bolsa brasileira fechou com perdas de 1,55%, aos 74.800 pontos, registrando seu pior pregão desde 20 de junho, quando afundou 2,01%. O volume financeiro ficou em R$ 10,324 bilhões. O dólar comercial, por sua vez, saltou 1,18%, cotado a R$ 3,2819 na venda, ao passo que o dólar futuro com vencimento em novembro avançou 1,30%, para R$ 3,280, em um movimento oposto ao que se viu no exterior, graças ao mau humor do investidor doméstico com a pesquisa Ibope e o futuro da reforma da Previdência.

Mais cedo, pesava no mercado a pesquisa Ibope sobre as eleições presidenciais divulgada no último domingo (29), que mostrou que Luiz Inácio Lula da Silva e o deputado federal Jair Bolsonaro iriam para o segundo turno caso o pleito fosse hoje. Em todos os cenários, o ex-presidente ficaria com o mínimo de 35% e o máximo 36% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro teria 15% em cenário contra Lula – veja mais clicando aqui.

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De acordo com um analista que pediu para não ser identificado, o mercado está digerindo o cenário que sendo construído de um duelo entre Lula e Bolsonaro, dois candidatos que assustam os investidores por terem uma visão menos reformista. Contudo, o nome do ex-presidente assusta mais do que do deputado carioca, fato que justifica o estresse elevado no mercado nesta segunda. “Mercado está vendo que Lula estará no segundo turno caso possa concorrer em 2018 e com possibilidade de sair vitorioso”, explica o analista.

Porém, foi uma notícia externa que ajudou o Ibovespa atingir sua mínima. Wall Street passou a cair mais forte nesta sessão – puxando a B3 – após a Bloomberg afirmar que a Câmara está considerando implementar o plano de cortes nos impostos corporativos durante um período de cinco anos, uma demora muito maior do que era esperado. Segundo a agência de notícias, há uma discussão para que ocorra uma “fase gradual de corte de impostos corporativos proposto por Trump e líderes republicanos – um cronograma que levaria a taxa a atingir 20% em 2022”.

Com Lula ganhando força, riscos sobre a Previdência e tensão externa – que também envolve a escolha do novo presidente do Fed -, o clima de aversão ao risco dominou o pregão, encabeçado pelas ações do setor financeiro e do setor de commodities, essas por conta da forte queda do minério de ferro na China, o que pressiona os papéis da Vale (VALE3) e siderúrgicas.

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Os juros futuros com vencimento em janeiro de 2019 fecharam em alta de 4 pontos-base, cotados a 7,33%, enquanto os contratos de janeiro de 2021 dispararam 15 pontos-base, aos 9,23%.

Destaques do mercado

Em vista da queda do minério de ferro, as ações do setor siderúrgico lideram as perdas nesta manhã, enquanto as ações da Estácio (ESTC3) se recuperam da forte queda recente após serem elevados para compra pelos analistas do Citibank.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 MRVE3 MRV ON 12,89 -5,71 +23,14 57,10M
 CSNA3 SID NACIONALON 8,55 -5,63 -21,20 140,44M
 GOAU4 GERDAU MET PN 5,22 -5,09 +8,75 93,41M
 MRFG3 MARFRIG ON 6,25 -4,58 -5,45 9,77M
 USIM5 USIMINAS PNA 8,72 -4,49 +112,68 227,72M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 BRKM5 BRASKEM PNA 53,25 +11,96 +55,47 295,39M
 CPFE3 CPFL ENERGIAON 27,51 +0,26 +10,07 233,75M
 ABEV3 AMBEV S/A ON 20,96 +0,24 +29,46 345,46M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 PETR4 PETROBRAS PN 16,78 -1,47 937,17M 594,47M 42.503 
 VALE3 VALE ON 32,35 -0,61 628,51M 651,92M 33.793 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 43,11 -1,28 463,88M 366,18M 23.649 
 BBAS3 BRASIL ON 35,21 -3,53 349,53M 267,17M 26.378 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 20,96 +0,24 345,46M 308,46M 26.963 
 BBDC4 BRADESCO PN 35,15 -1,79 335,64M 302,69M 23.986 
 BRKM5 BRASKEM PNA 53,25 +11,96 295,39M 66,83M 24.986 
 PETR3 PETROBRAS ON 17,35 -0,29 249,85M 114,42M 21.627 
 ITSA4 ITAUSA PN 10,84 -2,78 239,81M 168,05M 27.743 
 CPFE3 CPFL ENERGIAON 27,51 +0,26 233,75M 27,93M 5.002 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

2 eventos que podem definir o rumo do mercado
Além do cenário para as eleições de 2018, os investidores estão na expectativa por dois eventos nesta semana que prometem definir o rumo do mercado, já que devem mexer tanto com as expectativas para o dólar, como para os juros futuros:

1) Fim do ciclo de cortes?
Na próxima terça-feira (31), às 8h00, será divulgada a Ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que irá decifrar a dúvida do mercado após o BC retirar o termo “encerramento gradual do ciclo” do texto pós-reunião, o que deixou margem para interpretações sobre o fim do ciclo, que para uns já está certo que será encerrado em dezembro, fechando em 7%, enquanto para outros a porta está aberta para os 6,5% em fevereiro de 2018.

Se a ata deixar sinais mais claros de que estamos diante do final da política de cortes de juros na última reunião do ano, os juros futuros devem retomar o caminho das altas, como visto na última quinta-feira, quando chegaram a disparar mais de 20 pontos-base e fez o dólar comercial atingir a faixa de R$ 3,30. Contudo, se o documento revelar um BC confortável para decidir se reduz a Selic abaixo de 7% caso a inflação permaneça comportada, os DIs devem recuar forte e dar fôlego para o Ibovespa romper finalmente a faixa de 77 mil pontos, em busca de novas máximas.

2) Quem assumirá o Fed?
Outro evento que promete mexer com o mercado, principalmente com o dólar, trata-se da definição do nome que irá presidir o Federal Reserve a partir de março do ano que vem, quando o mandato de Janet Yellen terá seu fim.

A Casa Branca informou que Trump irá anunciar o sucessor no dia 2 de novembro e a escolha do atual governador do Fed, Jerome Powell, que ganhou muita força na última semana, deve manter o perfil expansionista sob o comando do Banco Central norte-americano, com a promessa de gradualismo no aumento dos juros, o que favorece o fluxo de dólares e os mercados emergentes. Na outra ponta está o professor de economia da Universidade de Stanford, John Taylor é o homem que poderia levar a uma alta mais acentuada dos juros nos EUA.

Agenda econômica da semana
Pela manhã, além da divulgação do tradicional relatório Focus, com as estimativas para a economia brasileira, o IGP-M de outubro revelou inflação de 0,20% na comparação mensal, ante estimativa de alta de 0,30%. Mais tarde, às 10h30, será divulgado o resultado primário do setor público de setembro, com estimativa de déficit de R$ 55,8 bilhões. Já à noite, as atenções estarão concentradas para a Ásia, com taxa de desemprego no Japão às 21h30 e produção industrial às 21h50, ambos de setembro, enquanto às 23h00 serão revelados os dados de manufatura da China de outubro, que devem impactar no minério de ferro.

Ainda nos EUA, ocorre ainda nesta semana a reunião do Fed na próxima quarta-feira (1) e apesar da expectativa de manutenção da taxa de juros, as atenções se voltam ao comunicado em busca de pistas adicionais sobre uma possível elevação em dezembro. Na sexta-feira (3) será divulgado o Relatório de Emprego, com estimativa de dado forte, com a criação de 310.000 vagas, numa possível recuperação após queda de setembro causada pelos furacões na região. No Japão ainda teremos a reunião do Bank of Japan, enquanto na zona do Euro sai o PIB.

Além da Ata do Copom, no cenário doméstico o mercado monitora as discussões sobre reforma da Previdência, em meio a um ceticismo crescente dos investidores de que o governo terá força para aprovar o texto. 

Noticiário político

A relação entre Michel Temer e o presidente da Câmara Rodrigo Maia seguem em destaque no noticiário após o presidente conseguir barrar a denúncia contra ele na Câmara dos Deputados por um placar mais apertado do que na votação da primeira denúncia, em agosto. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Maia afirmou que  vai rejeitar todos os 25 pedidos de impeachment contra o presidente Michel Temer que estão parados em sua gaveta, mas que rejeitará no momento adequado, porque haverá direito a recurso. Segundo a sua argumentação, após ter sido leal a Temer nas duas denúncias, não faz sentido agora atuar contra o governo.

Maia ainda afirmou que o presidente tem que reorganizar a sua base: “as próximas semanas serão decisivas para a gente entender qual verdadeiro tamanho do governo na Câmara. Mas com certeza, a reforma da Previdência não será a que a equipe econômica sonhou, que a gente sonhou”. Já a Folha de S. Paulo deste fim de semana apontou que o presidente da Câmara, de olho nas eleições de 2018, quer se aliar ao PSDB para isolar Temer.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.