Previdência em risco e mau humor externo fazem Ibovespa cair mais de 1%; dólar salta para R$ 3,23

Mercado fica de olho ainda na votação da segunda denúncia contra Temer, que pode sacramentar o futuro da reforma da Previdência

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – A sessão que já era negativa para o Ibovespa nesta segunda-feira (23) azedou na reta final do pregão com o mercado seguindo o clima tenso no exterior e também de olho no rumo da votação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer e com a reforma da Previdência, que segundo a Bloomberg deve mesmo ser desidratada pelo governo para ser aprovada.

O benchmark da bolsa brasileira fechou com queda de 1,28%, aos 75.413 pontos – próximo da mínima do dia, quando caiu 1,41%. O volume financeiro ficou em R$ 7,500 bilhões. Já o dólar comercial, teve forte alta de 1,30%, cotado a R$ 3,2311 na venda – maior patamar desde 11 de julho -, enquanto o dólar futuro com vencimento em novembro avançou 1,39%, para R$ 3,241.

Para Bruno Marques, da XP Gestão, o movimento vai em linha com o cenário negativo do exterior. Segundo ele, o mercado brasileiro não seguiu o mau humor de Wall Street nos últimos dias, principalmente no câmbio, algo que acabou se acentuando nesta sessão. “Com o S&P 500 caindo 0,5%, a tendência é ver o Ibovespa recuando estes 1% como está hoje”, afirma.

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Por volta das 16h, o movimento negativo do mercado se acentuou após a Bloomberg divulgar uma notícia, citando duas fontes, afirmando que o governo decidiu desidratar a reforma da Previdência para conseguir que ela seja aprovada. Isso ocorre por conta do desgaste que Temer teve para conseguir superar as duas denúncias contra ele na Câmara (a segunda deve ser votada nesta quarta).

De acordo com a Bloomberg, em vez de uma ampla mudança no sistema que economizaria R$ 600 milhões em 10 anos, Temer busca agora preservar a adoção da idade mínima de 65 anos para homens e 62 anos para as mulheres se aposentarem (com período mínimo de 25 anos de contribuição), a regra de transição e a unificação dos regimes previdenciários do setor público e da inciativa privada.

Marques não acredita que esta notícia deva ter pesado no mercado por não ser uma novidade. “Das poucas pessoas que acreditam que a reforma da Previdência vai passar, todas sabem que será desidratada”, afirma. Por outro lado, ele diz que houve um forte fluxo no câmbio e na bolsa por volta do horário que a matéria foi publicada. “Concordo que houve este movimento forte, mas acredito que tenha sido coincidência apenas”, completa.

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Outro ponto de grande foco dos investidores é a própria denúncia contra Temer. Como gastou boa parte do capital político na primeira denúncia, o presidente está encontrando maior dificuldade com os parlamentares para ganhar vantagem no Congresso na votação da segunda acusação contra ele. 

O governo hoje teme uma rebelião de membros da base aliada, o que pode comprometer o resultado. Embora corra poucos riscos de ver a formação de 342 votos contra si, o peemedebista sabe que o desempenho nesta votação dirá muito sobre sua capacidade para conduzir alguma agenda de reformas em novembro, apesar de serem searas completamente distintas.

De acordo com a Eurasia, o presidente Michel Temer deve perder o suporte de apenas alguns deputados na votação da segunda denúncia em relação ao número de apoio na primeira votação em agosto, quando 263 deputados votaram a favor dele (227 votaram contra em agosto, sendo necessários 342 votos contra Temer para a denúncia passar). Contudo, se trinta ou mais parlamentares desertarem, a probabilidade para a reforma da Previdência deve diminuir, diz a consultoria, em relatório.

Enquanto isso, os juros futuros com vencimento em janeiro de 2019 subiram 5 pontos-base, para 7,29%, enquanto os contratos para janeiro de 2021 tiveram alta de 8 pontos-base, a 8,95%, após o último Relatório Focus apontar um novo aumento da expectativa para a inflação deste ano de 3% para 3,06%, ficando pela primeira vez acima do piso da meta de inflação.

Destaques do mercado

Depois de três semanas consecutivas de alta, as ações da Smiles, que estreiam o novo ticker SMLS3, ficaram entre os destaques de baixa desta segunda-feira. Na ponta positiva, as empresas elétricas, com destaque para a Eletrobras, tiveram os melhores desempenhos, junto com as companhias de papel e celulose Fibria e Suzano.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 ESTC3 ESTACIO PARTON 29,45 -4,85 +89,63 96,81M
 USIM5 USIMINAS PNA 9,65 -4,46 +135,37 217,30M
 KROT3 KROTON ON 18,10 -4,38 +38,66 188,19M
 CPLE6 COPEL PNB 26,80 -4,11 +1,73 18,95M
 WEGE3 WEG ON 21,57 -3,71 +41,41 36,86M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 ELET3 ELETROBRAS ON 22,45 +3,65 +6,31 126,25M
 ELET6 ELETROBRAS PNB 26,45 +3,52 +8,51 79,34M
 FIBR3 FIBRIA ON 53,12 +2,43 +70,66 127,01M
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 20,47 +2,15 +48,02 69,98M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 PETR4 PETROBRAS PN 16,20 -0,12 475,66M 617,28M 32.966 
 VALE3 VALE ON 32,71 -0,73 392,85M 668,13M 18.368 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 43,59 -0,93 283,52M 367,26M 15.176 
 BVMF3 BMFBOVESPA ON 24,38 -1,06 271,58M 192,84M 15.026 
 BBDC4 BRADESCO PN 35,60 -0,95 264,96M 303,66M 16.935 
 USIM5 USIMINAS PNA 9,65 -4,46 217,30M 242,69M 14.185 
 BBAS3 BRASIL ON 36,31 -3,20 203,67M 280,92M 14.956 
 KROT3 KROTON ON 18,10 -4,38 188,19M 155,78M 16.653 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 21,30 -1,07 171,35M 318,47M 16.385 
 FIBR3 FIBRIA ON 53,12 +2,43 127,01M 129,96M 11.169 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Agenda econômica
O destaque da agenda doméstica na semana fica para o Copom: o Banco Central deverá anunciar uma redução de 75 pontos-base na taxa básica de juros, recuando de 8,25% para 7,5% ao ano. Contudo, os investidores deverão observar com atenção o comunicado a ser apresentado, que trará novas indicações sobre os próximos passos da política monetária brasileira. Os investidores ainda observam o resultado fiscal do governo central, previsto para quinta-feira (26). O número será divulgado após surpresa positiva da arrecadação do mesmo mês, que veio acima das expectativas.

A agenda de indicadores americana é extensa e destaca o PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre, a ser divulgado na sexta-feira (27), às 10h30 (horário de Brasília). O indicador deve trazer novas sinalizações sobre o nível de recuperação da maior economia do mundo e interferir nos rumos das decisões de política monetária do Fed. Ainda na pauta externa, destaque para a agenda de divulgação de PMIs (Purchasing Managers’ Index) nos Estados Unidos e na Europa, na terça-feira (24), para os dados do PIB do Reino Unido, na quinta-feira às 6h30. Também no velho continente, destaque para a reunião do Banco Central Europeu, que deve manter os juros.

Eleições internacionais

No noticiário internacional, vale destacar a eleição na Argentina, com a coalização Cambiemos, do presidente Mauricio Macri, conseguiu 42% dos votos, enquanto o Kirchnerismo obteve 21,75%. A ex-presidente Cristina Kirchner também conseguiu se eleger para o Senado com 37,2% dos votos. “Desta forma, por conta deste desempenho Macri se qualifica como favorito para eleições presidenciais de 2019. Além disso, amplia sua maioria no Congresso para dar continuidade à sua agenda reformista”, aponta a LCA Consultores.

Na Ásia, o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, venceu as eleições deste domingo (22) com uma vantagem que abre caminho para uma polêmica reforma da Constituição pacifista do país. O partido de Abe ficou com pelo menos 264 das 465 cadeiras da Câmara Baixa, com o qual garante a maioria absoluta do Parlamento. A coalizão formada pelo PLD e o Komeito elegeu pelo menos 292 deputados, muito perto de obter a maioria de dois terços obtida nas eleições de dezembro de 2014 e a eleição de Abe sugere continuidade da política de expansão fiscal e alívio monetário.

De olho em 2018

Falando nas eleições de 2018, os jornais dos últimos dias destacam as movimentações para o pleito presidencial. Segundo a Folha de S. Paulo, uma eventual candidatura do apresentador Luciano Huck à presidência em 2018 passou a entrar no radar de investidores, analistas de mercado e de diversos partidos. Na última semana, o apresentador tornou-se assunto central em conversas de analistas, uma vez que ele representaria o pensamento liberal para a economia, sem conservadorismo nos costumes. No mundo político, aponta a publicação, o movimento é semelhante, uma vez que pesquisas que chegaram a ele e a partidos indicam forte potencial de voto no Nordeste – confira mais clicando aqui

Já Lula começa a sua caravana por Minas Gerais ao lado do empresário Josué Gomes, filho de José de Alencar (seu vice e fundador da Coteminas, agora presidida por Josué) e pretende reerguer uma ponte com o empresariado, como avançar com alianças para além de sua basem, segundo informações da Folha. Já em entrevista ao jornal El Mundo, o ex-presidente disse que, se eleito, fará referendo para revogar muitas das medidas de Temer e disse que é um crime ter lei que limita investimentos do estado por 20 anos referindo-se ao teto de gastos.

Ainda falando sobre o ex-presidente, atenção à pesquisa Datafolha que mostra que, se depender do eleitorado evangélico, a candidatura de Jair Bolsonaro e de Marina Silva é impulsionada, enquanto Lula perdeu força (veja mais aqui). 

Bolsas mundiais
Em dia de alta nos mercados internacionais, o destaque ficou por conta do Japão, com o índice Nikkei subindo forte após o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, vencer as eleições deste domingo (22). Na Europa, os investidores digerem os balanços do terceiro trimestre de 2017, mas seguem cautela de olho na questão da Catalunha, com separatistas planejando resposta à decisão da Espanha de anunciar medidas para reduzir autoridade do governo da região.

Entre as moedas, o dólar se fortalece contra a maioria das demais divisas com investidores aguardando escolha para novo presidente do Federal Reserve e ainda refletindo expectativa com plano fiscal de Donald Trump. No mercado de commodities, os metais em Londres sobem e se recuperam de queda semanal, enquanto o petróleo oscila entre leves ganhos e perdas após a Opep dizer que todas as opções estão em aberto para reequilibrar o mercado.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.