Ibovespa “trava” nos 76 mil pontos e encerra sequência de duas altas semanais, com incertezas nos EUA

Preocupações sobre novo presidente do Federal Reserve e possível reforma tributária de Donald Trump voltam a movimentar o mercado e anular os efeitos de bons resultados na China

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O Ibovespa interrompeu uma sequência de duas semanas positivas ao recuar 0,78% entre 16 e 20 de outubro, fechando a 76.390 pontos, puxado sobretudo pelo cenário externos, com as incertezas acerca dos próximos passos da política monetária norte-americana em meio à decisão do futuro presidente do Federal Reserve e aos desdobramentos das políticas de isenção tributária do presidente Donald Trump.

A leve alta de 0,14% do índice nesta sexta-feira (20) não foi capaz de anular as perdas registradas sobretudo na terça-feira, que contrastaram com o noticiário chinês, que impulsionou o mercado de commodities na maior parte da semana, juntamente com o clima de tensão envolvendo os curdos no Iraque. As preocupações com o desfecho do imbróglio entre Catalunha e Espanha também pesaram no comportamento dos investidores estrangeiros. No cenário doméstico, o cenário político ainda rouba a cena antes da esperada rejeição da denúncia contra o presidente Michel Temer pelo plenário da Câmara dos Deputados e em meio ao pessimismo dos investidores com o avanço da reforma da Previdência na casa. O giro financeiro negociado na B3 neste pregão foi de R$ 7,88 bilhões.

Os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 caíram 2 pontos-base, a 7,30%, ao passo que os DIs com vencimento em janeiro de 2021 avançaram 5 pontos-base, a 8,87%. Já os contratos de dólar futuro com vencimento em novembro deste ano encerraram o dia em alta de 0,85%, sinalizando cotação de R$ 3,199, intensificando os ganhos na última hora de pregão. O dólar comercial, por sua vez, fechou em alta de 0,44% ante o real, a R$ 3,1898 na venda.

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Confira os destaques deste pregão:

Noticiário americano

Por 51 votos favoráveis e 49 contrários, os senadores norte-americanos aprovaram uma resolução que permite a inclusão das mudanças tributárias propostas pelo presidente Donald Trump no orçamento de 2018, sem a necessidade dos votos dos democratas. O projeto de lei com estas mudanças será apresentado no Congresso no início de novembro e a expectativa é de que seja aprovado até o final do ano.

A vitória do presidente norte-americano no Senado deixará para trás um importante obstáculo para a reforma tributária defendida na campanha presidencial, e, com isso, impulsionar a economia dos EUA, principalmente os setores de construção e industrial. Nesta linha, o próximo nome do Federal Reserve será importante para esse processo, mas as especulações continuam fortes em torno dos candidatos — e têm provocado nervosismo no mercado.

Seguem fortes as especulações sobre o novo comando do Federal Reserve. Trump entrevistou na última quinta-feira (19) Janet Yellen, que termina seu mandato em fevereiro do ano que vem, encerrando o ciclo de conversas com os candidatos à presidência da autoridade monetária. Conforme aponta a LCA Consultores, o vice-presidente Mike Pence e o Secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, aparentemente, apoiam os nomes do professor de Stanford, John Taylor, e do atual diretor do Fed, Jerome Powell, que ganhou força nas últimas horas.

Segundo informações do site norte-americano Politico, Trump estaria mais inclinado em nomear Powell como o novo presidente do BC, o que implicaria em seguir com a política monetária expansionista de Yellen, já que tem um perfil mais “dovish”, ou seja, mais complacente com medidas de estímulos monetários, o que faz sentido com seu plano de impulsionar a economia.

Inflação acelera

O IPCA-15, que é considerado uma prévia da inflação oficial, acelerou de 0,11% para 0,34% na passagem de setembro para outubro e ficou em linha com o esperado pelo mercado, que projetava avanço de 0,35%. Nos 12 meses encerrados em agosto, o IPCA-15 subiu de 2,56% para 2,71%, mantendo-se abaixo do piso da meta de 3%. Com a inflação controlada, os juros futuros com vencimento em janeiro de 2019 e 2021 operavam em ligeira alta de 2 pontos-base, cotados a 7,24% e 8,85%, respectivamente.

Adeus Previdência?

Conforme conta reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, líderes dos principais partidos da base aliada ouvidos descartam votar matérias consideradas impopulares. Estão na lista medidas como o aumento de alíquota da contribuição previdenciária para servidores e o adiamento do reajuste do funcionalismo público. Tais posições desafiam os planos do Planalto de enviar duas medidas provisórias nesse sentido logo após a esperada derrubada da denúncia contra Temer na quarta-feira. Juntas, as lideranças partidárias ouvidas representam pelo menos 240 dos 513 deputados.

Ainda de acordo com a reportagem, a maioria dos líderes partidários avalia que nem mesmo uma reforma da Previdência enxuta, como vem sendo discutida pelo Planalto, tem chances de ser aprovada na Câmara em um ano pré-eleição. O próprio líder do PMDB na casa, deputado Baleia Rossi (PMDB-SP), diz que a PEC não é a mais importante no momento para o país. “Não é aquela medida que, se não votar, o país acaba”, disse. O parlamentar é um grande aliado do presidente Michel Temer e ilustra bem a questão.

Bolsas mundiais

A sessão foi positiva para os principais índices mundiais, assim como o dólar tem alta frente às principais moedas, com as notícias vindas dos EUA. Além do cenário americano, destaque para eventos do fim de semana na Europa e na Ásia. O governo espanhol entrou em acordo com o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), principal partido de oposição, para que sejam convocadas eleições antecipadas na Catalunha. O pleito, que deve acontecer em janeiro, servirá para evitar a aplicação do Artigo 155 da Constituição espanhola, que permite ao Estado dissolver o parlamento regional, destituir o líder Carles Puigdemont, convocar novas eleições e até cancelar a autonomia administrativa da Catalunha.

No Japão serão realizadas eleições legislativas no próximo domingo (22), com expectativa de que a coalizão do primeiro-ministro Shinzo Abe tenha uma folgada vitória. Na China, continua em andamento o 19º Congresso do Partido Comunista chinês, que termina na próxima terça-feira (24).

Este foi o desempenho dos principais índices:

*Dow Jones (EUA) +0,61%

*S&P 500 (EUA) +0,41%

*Nasdaq (EUA) +0,31%

*CAC-40 (França) +0,08%

*FTSE (Reino Unido) 0,00%

*DAX (Alemanha) +0,01% 

*FTSE MIB +0,97%

*Hang Seng (Hong Kong) +1,17% (fechado)

*Xangai (China) +-0,28% (fechado)

*Nikkei (Japão) +0,04% (fechado) 

*Petróleo WTI +0,35%, a US$ 51,66 o barril

*Petróleo brent +1,05%, a US$ 57,83 o barril

*Contratos futuros do minério de ferro negociados na bolsa chinesa de Dalian +5,39%, a 469 iuanes

*Minério de ferro spot (à vista) no porto de Qingdao, na China, +2,60%, a US$ 62,42 a tonelada

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.