Os 3 fatores que fizeram o Ibovespa destoar do exterior e “emperrar” nos 77 mil pontos

Índice chega a sinalizar dia positivo aos investidores, mas tensão política, volatilidade com vencimento de opções e fala de Janet Yellen pesam sobre o apetite a riscos por parte do mercado

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Não foi desta vez. Após abrir sinalizando um pregão levemente positivo para o mercado brasileiro, o Ibovespa virou para queda no início da tarde desta segunda-feira (16), pouco antes do vencimento de opções sobre ações, e fechou próximo da estabilidade, com variação negativa de 0,13%, a 76.891 pontos — mais uma vez sem consolidar uma superação do patamar de 77 mil pontos. O movimento contrastou com o dia de maior apetite a riscos visto nas principais bolsas internacionais, em meio ao bom desempenho das commodities.

Além do próprio vencimento de opções, que normalmente traz volatilidade ao mercado, o índice também respondeu às falas da chairwoman do Federal Reserve, Janet Yellen, no fim de semana, que deram a entender que a autoridade monetária dos Estados Unidos tende a elevar juros mais uma vez ainda neste ano. A instabilidade do noticiário político também prejudicou o apetite dos investidores a riscos. O giro financeiro negociado na B3 foi de R$ 14,87 bilhões.

Do lado dos DIs, os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro 2019 fecharam em leve queda de 1 ponto-percentual, a 7,29%, ao passo que os papéis com vencimento em janeiro de 2021 subiram 5 pontos-percentuais, a 9%. Já o dólar comercial subiu 0,75% ante o real, cotado a R$ 3,1727 na venda. “O mercado não gostou muito da briga entre Temer e Maia”, afirmou Thiago Castellan Castro, operador da corretora Renascença. Contudo, os recentes atritos não preocupam o investidores sobre o desfecho da segunda denúncia contra o presidente na Câmara dos Deputados.

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Confira os destaques deste pregão:

Destaques da Bolsa

As ações da Petrobras tiveram alta hoje acompanhando os preços do petróleo no mercado internacional, que ganharam força com tensão entre o governo do Iraque e a região semiautônoma curda e com ameaça de Donald Trump de encerrar o acordo nuclear com o Irã. Em Londres, os contratos futuros do Brent registraram alta de 1,21%, a US$ 57,86 o barril, enquanto, em Nova York, os contratos futuros do WTI avançaram 0,84%, a US$ 51,88 o barril. No radar, a companhia informou que Antonio Carlos Alves Caldeira, diretor executivo de Operação e Logística da sua subsidiária integral Petrobras Distribuidora (BR), apresentou na sexta-feira sua renúncia ao cargo.

O Valor informa ainda que, enquanto o pré-sal desperta a cobiça das maiores petroleiras do mundo e se consolida como a principal fronteira exploratória do Brasil, os demais polos de produção do país convivem de um modo geral com o declínio de suas atividades e baixa atratividade de investimentos. Dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP) mostram que, se não fosse a Bacia de Santos, onde estão situadas as maiores descobertas do pré-sal, a produção nacional caminharia em 2017 para o seu terceiro ano seguido de queda.

Seguindo os preços do minério de ferro, as ações da Vale fecharam no positivo nesta sessão, após chegarem a registrar leves perdas com o vencimento de opções sobre ações na B3. O minério de ferro spot (à vista) no porto de Qingdao, na China, registrou alta de 4,06%, a US$ 62,53 a tonelada, enquanto os contratos futuros do minério de ferro negociados na bolsa chinesa de Dalian subiram 3,81%, a 463 iuanes.

As units do banco disparam nesta sessão e se descolam dos seus pares na bolsa. O movimento ocorre na esteira de um relatório do Credit Suisse, que colocou a ação como sua “top pick” após incorporar expectativa de maior crescimento do PIB brasileiro (de 0,2% para 0,7% em 2017; e 2,0% para 2,5% em 2018) e taxa Selic mais baixa (7% ao ano). O banco cita também que a instituição apresenta o maior potencial de valorização (20,5%), melhor dividend yield (7,5%) e melhor momentum de ganhos. No caso do Santander, o preço-alvo das units foi elevado de R$ 32,00 para R$ 36,00 e a recomendação “outperform” (desempenho acima da média) mantida.

O setor varejista teve mais um dia de pesadelo na B3. Segundo uma notícia do Valor Econômico, a Amazon está oferecendo condições mais agressivas em contratos com redes varejistas que devem ser vendedores no site da empresa quando comparado com B2W e Magazine Luiza. Enquanto a B2W fechou seus novos negócios com uma taxa média de aceitação de 12%, incluindo o custo de desconto de recebíveis, a Amazon cobriu propostas oferecendo uma taxa de 10%. Para os varejistas, a Amazon informa que não cobrará, neste momento, o custo do desconto de recebíveis.

As maiores altas, dentre as ações que compõem o Ibovespa, foram:

 C?d. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 FIBR3 FIBRIA ON 53,92 +4,52 +73,23 103,31M
 SANB11 SANTANDER BRUNT EJ 31,05 +3,95 +11,29 125,46M
 NATU3 NATURA ON 31,13 +3,35 +35,92 28,15M
 KLBN11 KLABIN S/A UNT N2 19,76 +2,60 +14,17 47,49M
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 20,85 +2,51 +50,77 59,16M

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o Ibovespa, foram:

 C?d. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 LAME4 LOJAS AMERICPN 18,60 -3,23 +9,57 148,49M
 BRFS3 BRF SA ON 45,20 -3,13 -6,32 144,97M
 TAEE11 TAESA UNT N2 21,90 -2,54 +11,48 56,60M
 EMBR3 EMBRAER ON 16,99 -2,47 +7,62 46,10M
 QUAL3 QUALICORP ON 36,81 -1,94 +97,38 57,19M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o Ibovespa, foram:

 C?digo Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 VALE3 VALE ON 33,35 +1,34 1,20B 638,78M 45.342 
 PETR4 PETROBRAS PN 16,12 +0,25 720,67M 614,54M 29.888 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 44,40 -0,52 327,43M 389,48M 21.275 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 21,92 -0,95 290,71M 317,03M 28.756 
 BBDC4 BRADESCO PN 36,52 -0,27 271,65M 322,42M 19.777 
 BVMF3 BMFBOVESPA ON 23,84 +0,34 200,85M 209,69M 21.131 
 BBAS3 BRASIL ON 37,50 +0,21 192,78M 277,57M 16.488 
 USIM5 USIMINAS PNA 10,28 -0,39 192,55M 227,76M 15.634 
 RAIL3 RUMO S.A. ON 13,30 +1,68 156,25M 178,82M 21.585 
 LAME4 LOJAS AMERICPN 18,60 -3,23 148,49M 101,24M 27.193 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Commodities em alta

Seguindo com o movimento de alta verificado na sexta-feira (13), o minério de ferro negociado no porto de Qingdao com 62% de pureza, um dos mais acompanhados pelo mercado, subiu 4,06% neste pregão, encerrando a US$ 62,53 a tonelada, movimento que também foi acompanhado pelos contratos futuros da commodity negociados na bolsa chinesa de Dalian, que registraram alta de 3,81%.

Na mesma linha, os contratos de petróleo negociados em Nova York e Londres subiram em meio às preocupações sobre a tensão entre Iraque e curdos. O governo do Iraque considerou uma “declaração de guerra” a presença de combatentes curdos na província disputada de Kirkuk.

Janet Yellen e os juros nos EUA

Em seminário na capital norte-americana no último domingo (15), a presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, afirmou que a inflação, embora esteja surpreendentemente baixa, deve subir devido ao crescimento sólido da economia e forte crescimento do mercado de trabalho, fatores que vão guiar o aumento gradual da taxa de juros. Ainda assim, a presidente da autoridade monetária dos EUA afirmou que o Fed está observando de perto do efeito do aperto monetário sobre preços, já que “a grande surpresa na economia dos EUA neste ano foi a inflação”

Em vista deste comentário da presidente do Fed, que consolida as apostas para o aumento do juro neste ano e novos avanços no ano que vem, o dólar comercial, que recuou por três sessões consecutivas, registrava alta de 0,50%, cotado a R$ 3,17 na venda.

Crise política renasce

A votação da denúncia ganhou ingredientes complicadores para o presidente Michel Temer no final de semana: a delação de Lúcio Funaro e suas consequências. Nas gravações, divulgadas nessa sexta-feira pelo jornal Folha de S. Paulo, Funaro diz que o ex-deputado Eduardo Cunha recebia dinheiro de propina e repassava valores ao presidente Michel Temer. Funaro também relata que buscou com o ex-assessor especial do presidente Temer, José Yunes, um pacote com dinheiro e afirmou que Yunes tinha conhecimento do conteúdo entregue. 

A defesa do presidente Michel Temer criticou a divulgação dos vídeos com depoimentos da delação premiada do doleiro Lúcio Funaro à Procuradoria-Geral da República (PGR). Em nota, o advogado Eduardo Carnelós diz que o vazamento é “criminoso” e foi produzido por quem pretende “insistir na criação de grave crise política no país”. O advogado de Temer também afirma que as declarações de Funaro são “vazias” e “sem fundamento”. Contudo, o vídeo também está disponível na Câmara dos Deputados e o ataque do advogado irritou Rodrigo Maia (DEM-RJ). 

Segundo Maia, “houve uma perplexidade muito grande ver o advogado do presidente da República, depois de tudo que fiz pelo presidente, da agenda que construí com ele, de toda defesa que fiz na primeira denúncia, ser tratado de forma absurda e – vamos chamar assim – sem nenhum tipo de prova, de criminoso”. Conforme aponta o jornal O Estado de S. Paulo, para interlocutores do Palácio do Planalto, a medida foi vista como mais uma ação de Maia para tentar constranger o governo e mostrar descolamento do presidente.

Agenda de indicadores

No exterior o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) da China e o 19º Congresso do Partido Comunista chamam atenção, juntamente com a esperada fala da chairwoman do Fed, Janet Yellen. As falas da comandante da autoridade monetária norte-americana, previstas para sexta-feira às 21h15, tendem a dar novas sinalizações sobre os rumos do ciclo de alta de juros na maior economia do mundo, após a inflação abaixo do esperado em setembro reduzir as apostas de um tom mais ‘hawkish’ nas próximas reuniões do Fomc (Federal Open Market Committee). O Fed também divulgará o Livro Bege às 16h da quarta-feira (18).

Na agenda de indicadores domésticos, destaque para os dados do IPCA-15, a serem divulgados pelo IBGE  (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na sexta-feira (20) às 9h. A expectativa dos analistas da Rosenberg são de uma elevação de 0,33% no indicador inflacionário, puxado sobretudo pelo grupo de alimentos e bebidas. Ainda na agenda doméstica, o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), na quarta-feira, às 8h30, deve trazer novas sinalizações sobre o ritmo da retomada da economia. Para a Rosenberg, haverá um leve recuo na margem, após dois meses consecutivos de crescimento, seguindo o que se observou com a indústria e o comércio. 

Semana decisiva na política

Nesta semana, as atenções de deputados e senadores estarão voltadas principalmente à análise pela Câmara da denúncia contra o presidente Michel Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral), além da decisão sobre o futuro de Aécio Neves (PSDB-MG), afastado do mandato pelo Supremo Tribunal Federal (STF), este último já devendo acontecer na terça-feira (17). 

A partir de terça, os deputados se concentrarão na análise, discussão e votação na Comissão de Constituição e de Justiça (CCJ) da Câmara da denúncia do Ministério Público Federal contra o presidente Temer e ministros. O parecer sobre a peça foi apresentado na última terça-feira (10) pelo relator, deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), que recomendou a rejeição do prosseguimento da denúncia, afirmando que ela se baseia em “delações espúrias, sem credibilidade não havendo justa causa para o prosseguimento da ação penal”.

A votação do parecer na CCJ poderá ocorrer na quarta ou na quinta-feira, a depender do ritmo das discussões. Qualquer que seja o resultado da votação na comissão, o parecer será encaminhado para discussão e votação em plenário da Câmara, prevista para terça (24) ou quarta-feira (25). Para que a Câmara autorize o Supremo Tribunal Federal (STF) a investigar o presidente e os ministros, serão necessário 342 votos favoráveis de deputados ao prosseguimento da denúncia.

Bolsas mundiais

A sessão foi de ganhos para os principais índices acionários das bolsas mundiais, tendo como destaque os ganhos das mineradoras, com o minério avançando antes do Congresso do Partido Comunista na China. Na Ásia, as bolsas seguiram o tom positivo dos mercados de Nova York no pregão anterior, enquanto investidores digeriam os últimos dados de inflação do gigante chinês.

Dados publicados no fim da noite de ontem mostraram que a taxa anual de inflação ao consumidor chinês desacelerou de 1,8% em agosto para 1,6% em setembro, como previam analistas, graças a uma queda nos preços de alimentos. Já a inflação anual ao produtor da China ganhou força, de 6,3% em agosto para 6,9% no mês passado.

Na Europa, a incerteza política na Espanha continuou chamando atenção, enquanto o presidente catalão, Carles Puigdemont, não conseguiu apresentar a clareza demandada pelo governo central sobre se a posição assumida pela região autônoma na última terça-feira, de fato, poderia ser considerada uma declaração de independência. No Reino Unido, os desdobramentos das negociações pelo Brexit continuam ganhando destaque.

Às 17h46, este era o desempenho dos principais índices:

*Dow Jones (EUA) +0,32%

*S&P 500 (EUA) +0,14%

*Nasdaq (EUA) +0,25%

*CAC-40 (França) +0,21% (fechado)

*FTSE (Reino Unido) -0,11% (fechado)

*DAX (Alemanha) +0,09% (fechado)

*Hang Seng (Hong Kong) +0,76% (fechado)

*Xangai (China) -0,35% (fechado)

*Nikkei (Japão) +0,47% (fechado)

*Petróleo WTI +0,80%, a US$ 51,86 o barril

*Petróleo brent +1,15%, a US$ 57,83 o barril

*Minério de ferro spot (à vista) no porto de Qingdao, na China, +4,06%, a US$ 62,53  a tonelada

*Contratos futuros do minério de ferro negociados na bolsa chinesa de Dalian +3,81%, a 463 iuanes

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.