Perdeu força: os dois eventos que alteraram o humor do mercado nesta segunda-feira

Alta das commodities é ofuscada pelo vencimento de opções e fala da Yellen

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – Depois de iniciar o dia em alta e marcar máxima em 77.382 pontos (+0,52%), impulsionado pelas commodities, o Ibovespa perdeu força e às 14h46 (horário de Brasília) operava em baixa de 0,39%, aos 76.692 pontos, com dois eventos pressionando o mercado neste início de tarde de segunda-feira (16):

1) Aumento de juro nos EUA
Em seminário na capital norte-americana no último domingo (15), a presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, afirmou que a inflação, embora esteja surpreendentemente baixa, deve subir devido ao crescimento sólido da economia e forte crescimento do mercado de trabalho, fatores que vão guiar o aumento gradual da taxa de juros. Ainda assim, a presidente da autoridade monetária dos EUA afirmou que o Fed está observando de perto do efeito do aperto monetário sobre preços, já que “a grande surpresa na economia dos EUA neste ano foi a inflação”

Em vista deste comentário da presidente do Fed, que consolida as apostas para o aumento do juro neste ano e novos avanços no ano que vem, o dólar comercial, que recuou por três sessões consecutivas, registrava alta de 0,50%, cotado a R$ 3,17 na venda.

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2) Vencimento de opções
A partir de 11h30, uma hora e meia antes do encerramento do horário do vencimento de opções de ações na B3, o mercado iniciou o processo de correção acompanhado neste momento, guiado justamente pelas blue chips, que são as ações que possuem maior liquidez no mercado de opções.

As ações da Vale (VALE3), que figuravam entre as maiores altas do Ibovespa por conta do minério de ferro com valorização superior a 2%, neste momento operam praticamente estáveis, movimento de reversão iniciado justamente a partir de 11h45. O mesmo pode ser visto com os papéis da Petrobras (PETR4), que marcaram máxima em R$ 16,26 por volta das 11h00 e neste momento estão “zeradas”, em efeito de ajuste ao vencimento de opções.

De acordo com Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Corretora, a realização do Ibovespa pode ser tratada como natural depois do índice registrar o maior fechamento de sua história na sexta-feira (13) e a forte alta acumulada neste ano: “obviamente a fala da Yellen de que a inflação vai acelerar não ajuda muito nem o clima político interno depois das notícias do fim de semana envolvendo Temer e Maia”, finaliza Spyer.

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Destaques do mercado

Do lado positivo, as units do Santander disparama pós virar “top pick” do Credit Suisse (veja mais aqui), enquanto as ações da MRV recuam após três sessões consecutivas de alta.

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

C?d. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 MRVE3 MRV ON 14,03 -3,11 +34,03 24,32M
 BRFS3 BRF SA ON 45,49 -2,51 -5,72 79,83M
 TAEE11 TAESA UNT N2 21,91 -2,49 +11,53 37,26M
 SBSP3 SABESP ON 31,64 -2,38 +14,09 34,12M
 LAME4 LOJAS AMERICPN 18,83 -2,03 +10,93 81,97M

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

C?d. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 SANB11 SANTANDER BRUNT EJ 30,96 +3,65 +10,96 82,35M
 FIBR3 FIBRIA ON 53,19 +3,10 +70,89 54,45M
 KLBN11 KLABIN S/A UNT N2 19,85 +3,06 +14,69 22,56M
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 20,92 +2,85 +51,27 31,73M
 NATU3 NATURA ON 30,77 +2,16 +34,35 14,10M
* – Lote de mil a??es
1 – Em reais (K – Mil | M – Milh?o | B – Bilh?o)

Commodities em alta
Seguindo com o movimento de alta verificado na sexta-feira (13), o minério de ferro negociado no porto de Qingdao com 62% de pureza, um dos mais acompanhados pelo mercado, subiu 4,06% neste pregão, encerrando a US$ 62,53 a tonelada, movimento que também foi acompanhado pelos contratos futuros da commodity negociados na bolsa chinesa de Dalian, que registraram alta de 3,81%.

Na mesma linha, os contratos de petróleo negociados em Nova York e Londres sobem mais de 1% com receios sobre tensão entre Iraque e curdos. O governo do Iraque considerou uma “declaração de guerra” a presença de combatentes curdos na província disputada de Kirkuk.

Crise política renasce

A votação da denúncia ganhou ingredientes complicadores para o presidente Michel Temer no final de semana: a delação de Lúcio Funaro e suas consequências. Nas gravações, divulgadas nessa sexta-feira pelo jornal Folha de S. Paulo, Funaro diz que o ex-deputado Eduardo Cunha recebia dinheiro de propina e repassava valores ao presidente Michel Temer. Funaro também relata que buscou com o ex-assessor especial do presidente Temer, José Yunes, um pacote com dinheiro e afirmou que Yunes tinha conhecimento do conteúdo entregue. 

A defesa do presidente Michel Temer criticou a divulgação dos vídeos com depoimentos da delação premiada do doleiro Lúcio Funaro à Procuradoria-Geral da República (PGR). Em nota, o advogado Eduardo Carnelós diz que o vazamento é “criminoso” e foi produzido por quem pretende “insistir na criação de grave crise política no país”. O advogado de Temer também afirma que as declarações de Funaro são “vazias” e “sem fundamento”. Contudo, o vídeo também está disponível na Câmara dos Deputados e o ataque do advogado irritou Rodrigo Maia (DEM-RJ). 

Segundo Maia, “houve uma perplexidade muito grande ver o advogado do presidente da República, depois de tudo que fiz pelo presidente, da agenda que construí com ele, de toda defesa que fiz na primeira denúncia, ser tratado de forma absurda e – vamos chamar assim – sem nenhum tipo de prova, de criminoso”. Conforme aponta o jornal O Estado de S. Paulo, para interlocutores do Palácio do Planalto, a medida foi vista como mais uma ação de Maia para tentar constranger o governo e mostrar descolamento do presidente.

Agenda de indicadores

No exterior o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) da China e o 19º Congresso do Partido Comunista chamam atenção, juntamente com a esperada fala da chairwoman do Fed, Janet Yellen. As falas da comandante da autoridade monetária norte-americana, previstas para sexta-feira às 21h15, tendem a dar novas sinalizações sobre os rumos do ciclo de alta de juros na maior economia do mundo, após a inflação abaixo do esperado em setembro reduzir as apostas de um tom mais ‘hawkish’ nas próximas reuniões do Fomc (Federal Open Market Committee). O Fed também divulgará o Livro Bege às 16h da quarta-feira (18).

Na agenda de indicadores domésticos, destaque para os dados do IPCA-15, a serem divulgados pelo IBGE  (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na sexta-feira (20) às 9h. A expectativa dos analistas da Rosenberg são de uma elevação de 0,33% no indicador inflacionário, puxado sobretudo pelo grupo de alimentos e bebidas. Ainda na agenda doméstica, o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), na quarta-feira, às 8h30, deve trazer novas sinalizações sobre o ritmo da retomada da economia. Para a Rosenberg, haverá um leve recuo na margem, após dois meses consecutivos de crescimento, seguindo o que se observou com a indústria e o comércio. 

Semana decisiva na política

Nesta semana, as atenções de deputados e senadores estarão voltadas principalmente à análise pela Câmara da denúncia contra o presidente Michel Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral), além da decisão sobre o futuro de Aécio Neves (PSDB-MG), afastado do mandato pelo Supremo Tribunal Federal (STF), este último já devendo acontecer na terça-feira (17). 

A partir de terça, os deputados se concentrarão na análise, discussão e votação na Comissão de Constituição e de Justiça (CCJ) da Câmara da denúncia do Ministério Público Federal contra o presidente Temer e ministros. O parecer sobre a peça foi apresentado na última terça-feira (10) pelo relator, deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), que recomendou a rejeição do prosseguimento da denúncia, afirmando que ela se baseia em “delações espúrias, sem credibilidade não havendo justa causa para o prosseguimento da ação penal”.

A votação do parecer na CCJ poderá ocorrer na quarta ou na quinta-feira, a depender do ritmo das discussões. Qualquer que seja o resultado da votação na comissão, o parecer será encaminhado para discussão e votação em plenário da Câmara, prevista para terça (24) ou quarta-feira (25). Para que a Câmara autorize o Supremo Tribunal Federal (STF) a investigar o presidente e os ministros, serão necessário 342 votos favoráveis de deputados ao prosseguimento da denúncia.

Bolsas mundiais

A sessão é de ganhos para as bolsas mundiais, tendo como destaque os ganhos das mineradoras, com o minério avançando antes do Congresso na China. Além disso, as bolsas asiáticas seguem o tom positivo dos mercados de Nova York na sexta-feira, enquanto investidores digeriam os últimos dados de inflação da China. 

Dados publicados no fim da noite de ontem mostraram que a taxa anual de inflação ao consumidor chinês desacelerou de 1,8% em agosto para 1,6% em setembro, como previam analistas, graças a uma queda nos preços de alimentos. Já a inflação anual ao produtor da China ganhou força, de 6,3% em agosto para 6,9% no mês passado.

Às 14h46, este era o desempenho dos principais índices:

*Dow Jones (EUA) +0,29%

*S&P 500 (EUA) +0,05%

*Nasdaq (EUA) +0,11%

*CAC-40 (França) +0,21% (fechado)

*FTSE (Reino Unido) -0,11% (fechado)

*DAX (Alemanha) +0,09% (fechado)

*Hang Seng (Hong Kong) +0,76% (fechado)

*Xangai (China) -0,35% (fechado)

*Nikkei (Japão) +0,47% (fechado)

*Petróleo WTI +1,42%, a US$ 52,18 o barril

*Petróleo brent +1,80%, a US$ 58,20 o barril

*Minério de ferro spot (à vista) no porto de Qingdao, na China, +4,06%, a US$ 62,53  a tonelada

*Contratos futuros do minério de ferro negociados na bolsa chinesa de Dalian +3,81%, a 463 iuanes