Cena política freia otimismo e Ibovespa mergulha 1.400 pontos da máxima do dia; dólar avança

Dólar futuro saltou 1% da mínima desta sessão e os DIs mais longos dispararam após revés de Temer na CCJ

Paula Barra

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SÃO PAULO – Depois de iniciar o dia em forte alta e cravar novo recorde histórica em 78.024 pontos (+1,84%) nesta quinta-feira (5), o Ibovespa perdeu força em meio a duas notícias envolvendo Michel Temer e mergulhou 1.400 pontos desde a máxima desta sessão. Ainda assim, o índice conseguiu encerrar o pregão no positivo (+0,03%), aos 76.618 pontos. O volume financeiro movimentado hoje atingiu R$ 11,19 bilhões, frente média diária de R$ 9,9 bilhões dos últimos 21 pregões. 

O mercado azedou logo após o PSDB anunciar que vai tirar o deputado Bonifácio Andrada (MG), considerado um aliado de Temer, da vaga do partido na CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e de Cidadania) da Câmara (veja mais aqui), o que pode forçar o presidente buscar mais capital político para vetar a segunda denúncia ou até mesmo ser escolhido um parlamentar contra o presidente.

Por conta disso, o dólar futuro, que operava praticamente estável no começo da tarde, registrava alta de 0,52%, a R$ 3,163. Da mínima até agora, a alta foi de 1%. O movimento coincidiu também com a aceleração da moeda americana no exterior.

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Segundo o diretor da mesa de operações da Mirae Asset, Pablo Spyer, a comunicação do PSDB sem dúvida contribuiu para o movimento de realização do mercado, mas é importante lembrar que o dólar também se fortaleceu frente a todas as moedas do mundo. “Acredito que foi um movimento de correção saudável da bolsa. A notícia por si só não era para derrubar o índice em mais de 1.000 pontos, mas depois de renovar a máxima histórica me pareceu um movimento natural”, comentou.  

No mesmo sentido, os contratos futuros DIs mais longos também ganharam força nesta tarde. O DI janeiro/2021 fechou perto da máxima do dia a 9,02%, alta de 15 pontos-base. Já o DI janeiro/2019 subiu 3 pontos-base, a 7,35%. 

A segunda notícia envolvendo o presidente e que alterou o humor dos investidores está relacionada ao andamento do ajuste fiscal, que pode ser comprometido pela paralisação do governo para focar em salvar Temer da segunda denúncia, colocando em risco as contas públicas. Segundo matéria do Valor Econômico, o presidente só deve assinar o pacote de medidas anunciado há quase dois meses para cumprir a meta fiscal de déficit de R$ 159 bilhões em 2018 após a votação da segunda denúncia no plenário da Câmara no fim de outubro. Assim, os juros futuros com vencimento em janeiro 2021 sobem 13 pontos-base, cotados a 9%, precificando maior dificuldade do governo em fechar as contas.

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Apesar da perda de força, o Ibovespa segue acima de 76.419 pontos – último topo rompido ou máxima intradiária do dia 20 de setembro. Nesta manhã, o otimismo foi alimentado por 3 fatores:

I) Captações externas

A bem sucedida captação externa do Tesouro na última terça-feira (3), que levou o mercado para novas máximas, puxou a fila das captações corporativas. A primeira foi a empresa de saneamento Aegea, que concluiu a emissão no exterior de US$ 400 milhões, que foi seguida pela Braskem, que confirmou na noite de ontem uma captação de US$ 1,75 bilhão em uma emissão de bônus de cinco e dez anos, com a demanda superando a casa de US$ 8 bilhões. De olho nessa janela de oportunidade, Iochpe-Maxion e Banco do Brasil pretendem lançar títulos no mercado internacional, ao passo que a estatal tem planos de levantar, pelo menos, US$ 750 milhões em bônus de até dez anos.

Na quarta-feira (4), William Landers, da BlackRock (a maior gestora de recursos de recursos do mundo em ativos sob gestão), destacou uma visão positiva sobre o País, justificada por melhora dos indicadores e queda dos juros, que tem espaço para cair ainda mais, ao passo que a melhora econômica ainda mais significativa pode vir com aprovação de reforma da Previdência, mesmo que amena. Porém, o que pode atrapalhar o cenário é a eleição de 2018: “risco de candidato populista ser eleito é pequeno, mas não negligenciável”, apontou.

II) Meirelles pronto para 2018

De acordo com informações da Reuters, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já montou uma equipe para auxiliá-lo na corrida à presidência em 2018. Conforme aponta a matéria, os membros, que são ligados à FGV (Fundação Getulio Vargas), serão responsáveis pela produção de uma análise diária de redes sociais e pelo planejamento estratégico da divulgação de conteúdo sobre as ações do ministro.

A notícia ganha força já que em setembro Meirelles foi convidado pelo PSD (Partido Social Democrático), partido que é filiado, para a corrida eleitoral do ano que vem. Apesar do convite, o ministro negou que seja pré-candidato à Presidência da República e reiterou que neste momento está focado nas questões econômicas, como o andamento da agenda de reformas.

III) Selic em 6,5%

Com a inflação sob controle e o tom “expansionista” do Banco Central, em especial no último RTI (Relatório Trimestral de Inflação), os economistas do Itaú revisaram a expectativa para o fim do clico de baixa da Selic de 7% para 6,5%, antevendo corte de 0,75 ponto percentual na reunião marcada para o fim de outubro e de 50 pontos-base em dezembro e fevereiro.

Os economistas também cortaram as projeções para o IPCA deste ano de 3,2% para 3,0%, assim como para 2018, que saiu de 4,0% para 3,8%. Segundo a análise, a diminuição na expectativa para a inflação deste ano ocorreu em virtude da redução nas projeções para a variação de alimentação e dos serviços.

Destaques do mercado

As maiores altas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 TAEE11 TAESA UNT N2 22,90 +3,11 +16,57 44,64M
 SANB11 SANTANDER BRUNT 28,40 +1,87 +1,32 67,66M
 CYRE3 CYRELA REALTON 14,33 +1,85 +40,53 48,25M
 CMIG4 CEMIG PN 8,36 +1,83 +11,39 66,51M
 KLBN11 KLABIN S/A UNT N2 19,06 +1,71 +10,13 44,20M

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 ESTC3 ESTACIO PARTON 31,75 -4,68 +104,44 151,41M
 GOAU4 GERDAU MET PN 5,45 -4,39 +13,54 195,00M
 KROT3 KROTON ON 20,37 -4,05 +56,05 188,63M
 NATU3 NATURA ON 31,75 -3,26 +38,63 57,15M
 BRML3 BR MALLS PARON 13,94 -2,52 +34,91 122,72M

* – Lote de mil ações 
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão) IBOVESPA

Reforma política
O plenário da Câmara aprovou ontem, por 223 votos favoráveis, 209 contrários e três abstenções, o projeto de lei do Senado que cria um fundo com recursos públicos para o financiamento de campanhas eleitorais. Inicialmente, a matéria foi aprovada por votação simbólica, mas um destaque proposto pelo PHS permitiu que o texto fosse votado nominalmente pelos deputados. A divergência sobre o tipo de votação gerou debate acirrado entre os parlamentares.

Com a apreciação concluída e sem alterações no texto oriundo do Senado, o texto segue para sanção presidencial. Para estar em vigor nas próximas eleições, a matéria deve ser sancionada até 7 de outubro, um ano antes do pleito. 

Bolsas mundiais

As bolsas europeias fecharam em alta, com destaque para a de Madri, que começou o pregão em tom negativo ligadas ao processo para separar a Catalunha da Espanha, mas subiu forte após o ministro da economia da Espanha, Luis de Guindos, descartar qualquer mediação.

No mercado de commodities, os futuros de petróleo subiram alta, mantendo a tendência observada de madrugada, após acumularem perdas por três sessões consecutivas e apagarem a valorização da semana passada. Há expectativa de que o rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdulaziz Al Saud, discuta hoje uma possível extensão do acordo da Opep durante encontro com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em Moscou.

O desempenho dos principais índices nesta sessão:

*Dow Jones (EUA) +0,50%

*S&P 500 (EUA) +0,56%

*Nasdaq (EUA) +0,78%

*CAC-40 (França) +0,30% (fechado)

*FTSE (Reino Unido) +0,54% (fechado)

*DAX (Alemanha) -0,02%  (fechado)

*IBEX 35 (Espanha) +2,47% (fechado)

*Nikkei (Japão) +0,01% (fechado)

*Petróleo WTI +1,54%, a US$ 50,75 o barril

*Petróleo brent +2,13%, a US$ 56,99 o barril