Coreia do Norte ativa “modo pânico” no mercado e Ibovespa tem o pior pregão em 3 meses

Índice cai mais de 1% também de olho no "balde de água fria" de Rodrigo Maia e notícias ruins vindas da Europa

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Em queda desde a manhã, o Ibovespa acelerou as perdas durante a tarde desta segunda-feira (25), recuando mais de 1% com o mercado reagindo negativamente a fala do ministro das Relações Exteriores da Coreia do Norte, que acusou Donald Trump de declarar guerra ao país. Pesou também as notícias vindas da Europa, com a vitória “amarga” de Angela Merkel nas eleições da Alemanha, além do balde de água fria de Rodrigo Maia com relação ao andamento da reforma da Previdência.

O benchmark da bolsa brasileira fechou com queda de 1,26%, aos 74.443 pontos, próximo da mínima do dia, quando recuou 1,44%. O volume financeiro ficou em R$ 8,304 bilhões. Este foi o pior pregão desde 20 de junho, quando o índice recuou 2,01%, além de ser a pior sequência (três quedas seguidas) desde o período entre 8 e 10 de agosto.

A sessão também foi de maior aversão no exterior, com os índices de Wall Street recuando, em especial o Nasdaq, com perdas de mais de 1%, enquanto o ouro teve alta de mais de 1%. Na mesma toada, o Risco-País medido pelo CDS (Credit Default Swaps) de 5 anos sobe 3%, cotado a 318 pontos.

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A Coreia disse ter o direito de tomar medidas, incluindo derrubar aviões americanos, mesmo se eles não tiverem no espaço aéreo norte-coreano. “Desde que os EUA declararam guerra ao nosso país, teremos todo o direito de fazer contra medidas, incluindo o direito de derrubar aviões estratégicos dos EUA, mesmo quando não estão dentro da fronteira do espaço aéreo do nosso país”, disse o ministro de Negócios Estrangeiros, Ri Yong Ho, a repórteres em Nova York.

Algumas horas depois, a porta-voz da Casa Branca afirmou que o presidente Donald Trump não declarou guerra à Coreia do Norte. Sarah Sanders classificou de “absurda” a afirmação do ministro norte-coreano. “Não declaramos guerra à Coreia do Norte e francamente a sugestão é absurda”, disse.

Ao contrário das últimas duas quedas do Ibovespa, nesta segunda o clima de aversão ao risco dominou os mercados. Os juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 registraram queda de 1 ponto-base, cotados a 7,54%, enquanto os contratos de janeiro de 2021 subiram 11 pontos-base, a 8,84%. O dólar comercial, por sua vez, subiu 0,95%, cotado a R$ 3,1574 na venda, enquanto o dólar futuro com vencimento em outubro avançou 0,94%, para R$ 3,157.

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Segundo Ari Santos, gerente da mesa de renda variável da H. Commcor, essa notícia era tudo o que o mercado queria para iniciar um processo de realização após oito semanas consecutivas de valorização. Segundo ele, a tensão geopolítica superou os sinais positivos vindos da economia, como o comportamento benigno da inflação, que orientaram a queda dos juros futuros nos últimos pregões. 

Vitória amarga de Merkel
O partido de coalizão de Mekel, formado pela CDU (União Democrata-Cristã) e CSU (União Social-Cristã da Baviera) conquistou 33% dos votos, uma queda de 8,5 pontos em relação há quatro anos atrás e marcou o pior resultado desde 1949, enquanto que os ultradireitistas do AfD (13%), que nas eleições de 2013 ficaram fora da disputa, se impuseram como “terceira força política” do país com 12,6% dos votos. Na avaliação do jornal alemão Bild, o resultado inesperado foi um “terremoto eleitoral” e deve dificultar a vida da chanceler alemã nesses quatro anos.

Os analistas políticos acreditam que a chanceler alemã saiu enfraquecida do pleito pelo aumento do apoio à extrema-direita, resultado pela escolha de dois anos atrás de acolher milhares de refugiados. Na visão de Carsten Brzeski, economista da consultoria ING, “o resultado fraco pode transformar Angela Merkel em um pato manco muito mais rápido do que os observadores internacionais e os mercados financeiros pensam”.

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Ainda falando sobre Europa, a primeira derrota de Emmanuel Macron em eleições para o Senado francês, cuja maioria deve ficar com os Republicanos, partido de oposição ao LRM (partido do presidente francês), revela que Macron deverá encontrar dificuldades para avançar com seu plano de medidas econômicas, avalia José Faria Júnior, diretor de câmbio da Wagner Investimentos. Pesa também o rebaixamento do rating do Reino Unido pela Moody’s de AA1 para AA2, afirmando esperar que as finanças britânicas se enfraqueçam em meio a redução do ritmo do crescimento econômico como consequência do Brexit.

Além das notícias vindas da Europa, as incertezas com o avanço da Reforma da Previdência não anima os investidores. De acordo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o governo detém entre 150 e 200 votos favoráveis para aprovar a reforma e que não há clima para a votação no Congresso neste momento, que, inclusive deve ficar paralisado por conta da tramitação da nova denúncia contra Temer.

Novo horário de Bolsa em outubro
Com a confirmação do governo de que o horário de verão será mantido este ano, a B3 informou também nesta segunda-feira (25) os novos horários de negociação, que serão alterados a partir de 16 de outubro, com o pregão à vista funcionando das 10h às 18h, sem o after market.

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A mudança acontece devido ao início do horário de verão no Brasil, em outubro, e ao fim do horário de verão nos Estados Unidos, no início de novembro. A intenção é manter o fluxo de clientes estrangeiros dada a diferença de horário entre os países. Ainda não foi informado quando o pregão voltará ao horário regular.

O segmento BM&F também terá seus horários alterados. As operações de contratos futuros e de opções e operações estruturadas referenciadas em dólar comercial sofrerão mudanças nos horários a partir do dia 6 de novembro, com pregão até às 18h15. Já os contratos futuros e de opções e operações estruturadas referenciadas em commodities terão duas fases de mudança, sendo a primeira no dia 16 de outubro e a segunda em 6 de novembro.

Desde 2015 a bolsa opera em dois horários, o chamado “regular” entre março e outubro, das 10h às 17h, com datas efetivas de início e de fim dependendo do horário de verão, enquanto o estendido em uma hora vale para o restante do ano.

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Destaques do mercado

Na ponta negativa, além do setor siderúrgico, destaque para as ações da B3 (ex-BM&FBovespa), que recuam após o Itaú BBA reduzir a recomendação de outperform (desempenho acima da média do mercado) para marketperform (desempenho em linha com o mercado).

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 USIM5 USIMINAS PNA 8,23 -12,45 +100,73 397,87M
 ESTC3 ESTACIO PARTON 28,60 -5,92 +84,16 185,68M
 GOAU4 GERDAU MET PN 5,24 -5,07 +9,17 119,67M
 CMIG4 CEMIG PN 8,24 -4,96 +9,79 104,03M
 CYRE3 CYRELA REALTON 13,87 -4,80 +36,02 40,60M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 RAIL3 RUMO S.A. ON 11,14 +2,77 +81,43 287,48M
 QUAL3 QUALICORP ON 38,30 +2,08 +105,37 103,89M
 PETR4 PETROBRAS PN 15,84 +0,96 +6,52 574,73M
 PETR3 PETROBRAS ON 16,32 +0,74 -3,66 102,37M
 CSAN3 COSAN ON 37,81 +0,03 +1,66 32,86M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 VALE3 VALE ON 31,09 -2,57 650,07M 705,70M 43.540 
 PETR4 PETROBRAS PN 15,84 +0,96 574,73M 626,98M 28.754 
 USIM5 USIMINAS PNA 8,23 -12,45 397,87M 160,62M 36.566 
 BBDC4 BRADESCO PN 35,41 -1,69 336,93M 318,32M 20.805 
 RAIL3 RUMO S.A. ON 11,14 +2,77 287,48M 102,69M 25.914 
 BVMF3 BMFBOVESPA ON 24,32 -2,68 257,82M 197,18M 20.495 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 43,10 -0,99 255,32M 365,25M 13.609 
 CIEL3 CIELO ON ED 20,95 -2,10 231,07M 136,55M 16.238 
 ESTC3 ESTACIO PARTON 28,60 -5,92 185,68M 122,03M 18.137 
 BBAS3 BRASIL ON 34,80 -1,42 185,34M 261,24M 20.663 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Correção até 74 mil pontos
Para o analista técnico Aliakyn Pereira de Sá, da XP Investimentos, o momento é de cautela para o mercado e projeta uma correção até a faixa de 74 mil pontos nos próximos dias, onde deve encontrar maior pressão de compra e pode iniciar uma recuperação. Para o analista, a tendência continua é de alta, mas o mercado parece ainda bem esticado e uma correção seria saudável após oito semanas consecutivas de valorização (confira a análise completa).

Relatório Focus

O otimismo dos economistas voltou a se manifestar na mais recente edição do relatório Focus, divulgado pelo Banco Central na manhã desta segunda-feira. De acordo com o documento, a mediana das projeções para a inflação oficial recuou de 3,08% para 2,97% neste ano e de 4,12% para 4,08% em 2018. Do lado do PIB (Produto Interno Bruto) também houve melhora, com as expectativas crescendo de 0,60% para 0,68% em 2017 e de 2,20% para 2,30% no ano seguinte.

As apostas para a taxa básica de juros, por sua vez, se mantiveram em 7% para o final dos dois anos. Há quatro semanas, a mediana das estimativas para a Selic estava em 7,25% para este ano e 7,50% para 2018 — número que foi reduzido nas últimas semanas, na medida em que se passou a esperar uma inflação ainda mais baixa.Entre os cinco economistas que mais acertam em suas projeções — o chamado “top 5” –, as estimativas para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) no cenário de curto prazo caíram 12 pontos-base em 2017 para 2,88%, enquanto para o ano que vem o corte foi de 19 pontos-base, para 3,75%.

Agenda política da semana

A semana será marcada pelo recebimento da nova denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra Michel Temer pela Câmara dos Deputados, acusado pelos crimes de organização criminosa e obstrução de Justiça. De olho nessa nova tramitação, o presidente reuniu-se no fim da tarde do domingo (24) com alguns de seus ministros mais próximos e com parlamentares da base aliada para traçar a estratégia para enfrentar a segunda denúncia. 

Outro tema de interesse do governo incluído na pauta da Câmara para esta semana é a conclusão do debate em torno da reforma política, com as sessões do plenário marcadas para começar a partir das 11h30 de terça-feira (26). Além disso, o líder do governo na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), disse no domingo que vai consultar Rodrigo Maia para colocar o texto do Refis (parcelamento de débitos tributários) em votação até quarta-feira no Congresso.

As eleições de 2018 também seguem no radar. A última pesquisa Ipsos apontou uma queda na desaprovação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um aumento do juiz Sérgio Moro. Contudo, ao  jornal O Estado de S. Paulo, Danilo Cersosimo, um dos responsáveis pela pesquisa Ipsos, afirmou que Lula talvez tenha alcançado seu maior patamar: “dificilmente ele passará disso. A rejeição a seu nome é ainda muito grande, difícil de reverter”, afirmou. 

A pesquisa também mostrou a percepção em relação ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), que também pode disputar a eleição de 2018. Ele possui desaprovação alta, de 66%, e taxa de aprovação baixíssima, de 3% – índice que pode ser explicado pelo desconhecimento de seu nome. Na última sexta-feira, Meirelles afirmou ter recebido perguntas e manifestações de apoio à eventual candidatura presidencial durante encontros que teve com investidores em Nova York. 

Apetite pelo Brasil

Estão marcados para quarta-feira (27) dois importantes leilões na B3 e que vão ajudar a entender como está o interesse do investidor estrangeiro no País, fato importante para a sustentação da bolsa, já que os “gringos” são a maior parte do volume no mercado. O primeiro destaque é a 14ª rodada de leilões da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

O outro leilão é o das usinas da Cemig, mas este caso está travado na Justiça ainda. Até o momento está tudo programado para ocorrer na quarta, mas a companhia entrou com um pedido para adiamento de 15 dias. As usinas envolvidas são Jaguara, São Simão, Miranda e Volta Grande. A previsão do governo é arrecadar R$ 11 bilhões e usar o dinheiro para atingir a meta fiscal deste ano.

Agenda de indicadores e falas do Fed
Nesta segunda-feira, o Tesouro Nacional divulga às 10h00 (horário de Brasília) o relatório mensal de dívida pública do mês de agosto. Já no exterior, o presidente do Federal Reserve de Nova York, William Dudley, fala em Syracuse às 9h30, enquanto o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, fala em Bruxelas às 10h. 

Durante a semana, na agenda econômica, destaque para o Resultado Primário do Governo Central, na quinta-feira (28), que deve registrar déficit ao redor de R$ 13,9 bilhões, confirmando o consenso de piora dos resultados fiscais no curto prazo. No dia seguinte, às 9h00 sai o resultado da Pnad Contínua, que deve apresentar uma melhora no mercado de trabalho, com aumento de População Ocupada. 

Ocorre também nesta semana a decisão da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), atualmente em 7%. Após as recentes sinalizações do Banco Central, a expectativa do mercado é que o CMN reduza a taxa em 50 pontos-base, para 6,5%, a fim de manter algum subsídio na taxa.

Nos EUA, na quinta-feira às 9h30, será apresentada a última revisão para o PIB (Produto Interno Bruto) norte-americano ao segundo trimestre e dados de atividade e de inflação na sexta-feira, também no mesmo horário. Outro ponto importante fica para outros seis discursos de membros do Federal Reserve, com destaque para a fala de Janet Yellen na terça-feira, às 13h.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.