Ibovespa ignora derrocada dos juros e tem “pior pregão do mês”, mas não assusta

Após chegar a cair quase 1%, índice segue exemplo dos últimos dois pregões e ameniza perdas, mas não evita fechamento no vermelho

Marcos Mortari

Publicidade

SÃO PAULO – Na esteira do dia de pouca inspiração nos mercados globais, o Ibovespa não conseguiu renovar seu maior fechamento da história. Ao contrário do que aconteceu na véspera, quando conseguiu reverter a queda da maior parte da tarde em ganhos ao final do pregão, o índice encerrou a quinta-feira (21) com variação negativa de 0,53%, a 75.604 pontos, com apenas três das 59 ações da carteira teórica registrando alta superior a 1%. Foi o pior pregão do mês para o benchmark, o que reforça seu bom desempenho no período. O giro financeiro negociado na B3 foi de R$ 9,233 bilhões. O dólar comercial, por sua vez, encerrou o dia em alta de 0,5% ante o real, cotado a R$ 3,1449 na venda.

Os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 recuaram 2 pontos-base, a 7,56%, ao passo que os DIs com vencimento em janeiro de 2021 caíram 8 pontos, a 8,72%. Pesa sobre o movimento dos yields a percepção de que o Banco Central dará continuidade ao seu ciclo de corte de juros, podendo levar a Selic a um patamar abaixo de 7% em 2018.

No radar dos investidores, destaque para os dados do Relatório Trimestral de Inflação e do IPCA-15, que reforçaram as expectativas pela manutenção do ritmo de cortes da Selic pelo Copom (Comitê de Política Monetária), além da decisão do Supremo Tribunal Federal, por dez votos a um, de enviar à Câmara a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, o que tende a atrasar a tramitação da agenda de reformas.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

No exterior, destaque para o rebaixamento de rating da China pela Standard&Poor’s, que levou o minério de ferro a uma forte queda no mercado internacional. Também chama atenção o discurso otimista do presidente do BCE (Banco Central Europeu), Mario Draghi, com relação ao desempenho da economia local, assim como os reflexos ainda da decisão do Federal Reserve por sinalizar uma redução em seu balanço pela primeira vez em nove anos.

Confira os destaques do pregão:

Destaques da Bolsa

Do lado acionário, menos de dez ações do índice conseguiram encerrar o dia no campo positivo. Entre elas, merecem destaque os papéis da Estacio (ESTC3, R$ 29,73, +3,95%), em meio ao “efeito Advent”. Após vender sua participação na Fleury, a gestora de private equity volta seu olhar para a educacional. Também chama atenção a alta das ações do Banco do Brasil (BBAS3, R$ 35,52, +2,19%), renovando máxima histórica e se distanciando dos demais grandes bancos no acumulado deste mês. Após o Itaú BBA colocar a ação do BB como sua top pick do setor ontem, o JPMorgan elevou hoje a recomendação para as ações BBAS3 de neutra para overweight (exposição acima da média do mercado), com o preço-alvo sendo elevado de R$ 37 para R$ 40.

Do lado negativo, as ações da Vale (VALE3, R$ 32,51, -1,99%) afundaram nesta sessão acompanhando os preços do minério de ferro. Acompanharam o movimento da mineradora os papéis de Bradespar (BRAP4, R$ 24,55, -2,54%) — holding que detém participação na companhia — e as siderúrgicas, com Gerdau (GGBR4, R$ 11,55, -2,37%), Metalúrgica Gerdau (GOAU4, R$ 5,64, -1,05%) e CSN (CSNA3, R$ 10,24, -2,94%). 

No radar, a Vale divulgou uma apresentação em que projeta que deve fechar o ano com dívida líquida entre US$ 14 bilhões e US$ 16 bilhões, ante US$ 22,1 bilhões registrados ao final do segundo trimestre. Segundo a empresa, a desalavancagem, que tem sido feita por meio de desinvestimentos e cortes de despesas, entre outros, é uma alavanca importante para impulsionar a revalorização da Vale. De acordo com a apresentação, a Vale está adotando medidas para melhorar a realização de preços do minério de ferro, que devem resultar em ganho adicional de US$ 400 milhões a US$ 600 milhões no Ebitda ajustado do segundo semestre de 2017. Em relatório desta manhã, o Itaú BBA reiterou recomendação “outperform” para os papéis da empresa, com preço-alvo para 2018 de US$ 13,00 por ADR (American Depositary Receipts).

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 ELET6 ELETROBRAS PNB 24,71 -3,63 +1,37 30,18M
 ELET3 ELETROBRAS ON 21,25 -3,41 +0,63 59,19M
 CSNA3 SID NACIONALON 10,24 -2,94 -5,62 79,96M
 BRAP4 BRADESPAR PN 24,55 -2,54 +69,40 69,10M
 GGBR4 GERDAU PN 11,55 -2,37 +7,14 91,96M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 ESTC3 ESTACIO PARTON 29,73 +3,95 +91,43 245,80M
 BBAS3 BRASIL ON EJ 35,52 +2,19 +29,19 587,74M
 USIM5 USIMINAS PNA 9,52 +1,82 +132,20 193,05M
 RENT3 LOCALIZA ON 61,71 +1,01 +90,97 86,40M
 ECOR3 ECORODOVIAS ON 11,18 +0,63 +38,65 22,95M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram :

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 VALE3 VALE ON 32,51 -1,99 848,20M 699,58M 32.965 
 PETR4 PETROBRAS PN 15,67 -1,26 726,38M 623,58M 40.626 
 BBAS3 BRASIL ON EJ 35,52 +2,19 587,74M 253,72M 38.011 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 43,38 +0,14 364,33M 371,26M 25.281 
 ESTC3 ESTACIO PARTON 29,73 +3,95 245,80M 113,73M 27.289 
 CIEL3 CIELO ON ED 21,58 -1,55 237,05M 132,18M 26.018 
 BBDC4 BRADESCO PN 36,07 -0,08 211,03M 329,62M 20.093 
 ITSA4 ITAUSA PN 11,15 +0,09 194,25M 184,70M 15.367 
 USIM5 USIMINAS PNA 9,52 +1,82 193,05M 153,30M 15.432 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 21,36 -0,56 191,51M 262,44M 21.738 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Inflação

No Relatório de Trimestral de Inflação, divulgado nesta manhã, o Banco Central reiterou a redução gradual dos cortes da Selic e elevou a previsão para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 2017 de 0,5% para 0,7%, enquanto para o próximo ano a expectativa foi para 2,2%. O IPCA também foi cortado pelo BC, de 3,8% para 3,2% em 2017 e de 4,3% para 4,2% em 2018.

Contudo, a grande novidade do relatório estava com as projeções para a partir de 2019, sendo a primeira vez que o mercado conheceria o que a autoridade monetária pensa sobre o futuro da inflação. Para o biênio 2019-2020, a inflação deverá ficar em 4,2% e 4,1%, respectivamente, mostrando convergência com a projeção de 2018. O economista Flávio Serrano, do Haitong, disse à Bloomberg que o RTI está bem alinhado com a trajetória de queda da Selic: “já existia a chance de Selic ficar abaixo de 7%, agora aponta que piso seria 6,5%”, disse Serrano. Para ele, a Selic permanecerá no mesmo patamar ao longo de 2018, começando a se aproximar de 8% – 8,5% no final do ano que vem ou início de 2019.

Já o IPCA – 15, que é considerado uma prévia da inflação oficial do país, desacelerou para 0,11% na passagem de agosto para setembro, enquanto os analistas de mercado esperavam inflação de 0,13% no período. O índice acumulado em 12 meses apontou inflação de 2,56% na mesma base de comparação, enquanto espera-se 2,59%.

Minério de ferro afunda

O minério de ferro spot (à vista) negociado no porto de Qingdao com 62% de pureza, um dos mais acompanhados pelo mercado, fechou em queda de 5,11% nesta quinta-feira, a US$ 66,09 a tonelada, após o corte de rating da China pela S&P (Standard & Poor’s). Com isso, a commodity metálica chega a 15,1% de desvalorização em setembro, distanciando-se cada vez mais da faixa dos US$ 80 vistas no mês passado. Na mesma linha, os contratos futuros de minério de ferro negociados na Bolsa de Mercadorias de Dalian caíram 4,84%, a 472 iuanes.

A agência de classificação de risco Standard & Poor’s cortou o rating de longo prazo da China de AA- para A+, citando riscos crescentes da rápida acumulação de crédito do país e a perspectiva da nova nota se manteve estável. “O downgrade reflete nossa avaliação de que um período prolongado de forte crescimento do crédito aumentou os riscos econômicos e financeiros da China”, afirmou a S&P. Esse foi o primeiro corte de nota desde 1999.

Apesar do viés negativo, a notícia pode influenciar positivamente o mercado chinês, já que o governo local pode anunciar medidas de apoio para aliviar a situação do crédito local. Além disso, com a proximidade do Congresso do Partido Comunista, o interesse do Estado (que tem forte atuação no mercado financeiro chinês) em manter a estabilidade é muito grande.

“A notícia pode ser interpretada positivamente na China”, disse Qin Han, analista-chefe de renda fixa da Guotai Junan Securities, em Xangai, à Bloomberg. “Os investidores domésticos talvez esperem que o governo divulgue medidas de apoio para aliviar qualquer perturbação”. Se sustentar os mercados era importante em maio, agora é ainda mais. As autoridades enfatizaram a necessidade de estabilidade às vésperas do evento político mais importante em anos.

Radar político
O STF (Supremo Tribunal Federal) deve concluir na sessão de hoje o julgamento sobre o envio à Câmara dos Deputados da segunda denúncia apresentada pelo ex-procurador-geral da República (PGR) Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer. Até o momento, o placar da votação está em 7 votos a 1 pelo envio, maioria necessária para o envio à Câmara. Contudo, a expectativa é de que a denúncia seja barrada em plenário.

Se Michel Temer está “tranquilo” com relação à denúncia, as rusgas na base aliada voltam ao radar. O presidente da República em exercício, Rodrigo Maia, mostrou todo seu descontentamento com o PMDB após um evento na noite de ontem em Brasília. Segundo ele, o PMDB está tentando “reduzir o crescimento do Democratas na Câmara dos Deputados”. Maia acusou “ministros do Palácio”, sem citar nomes, e o presidente nacional do partido, senador Romero Jucá, de dar “facada nas costas” do DEM. 

Após sucessivas tentativas de votação, o plenário da Câmara aprovou no final da noite de ontem (20), em segundo turno, a análise do texto-base da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 282/2016, que estabelece o fim das coligações partidárias nas eleições proporcionais a partir de 2020. Faltam votar três destaques antes da PEC seguir para o Senado. 

De olho em eleições

Falta ainda um ano para as eleições de 2018, mas o mercado segue de olho nas movimentações dos possíveis candidatos para o pleito do ano que vem. Ontem, em entrevista à Bloomberg, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é cedo demais para falar em candidatura em 2018 e que está focado na recuperação econômica do Brasil; se isso acontecer, ele pensará nos próximos passos. “Não existe menor possibilidade de que eu tire foco da minha atenção da economia; minha agenda mostra isso com clareza, foco total é economia, mas eu também disse que me sentia muito honrado com a opinião dos parlamentares do PSD”, afirmou a agência.

Sobre a economia, Meirelles afirmou que a recuperação não está mais tão dependente do Congresso. De acordo com ele, o nível de confiança cresceu, a inflação desacelerou a recorde de baixa, o que leva à redução das taxas de juros; reforma da Previdência é muito importante para próximas décadas, deve ser votada no próximo mês, afirmou.

Bolsas mundiais

As bolsas asiáticas fecharam sem direção única nesta quinta-feira, após as decisões de política monetária do Federal Reserve e do Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês). A autoridade monetária norte-americana manteve a taxa de juros entre 1% e 1,25%, mas deu novos sinais sobre uma redução em seu balanço patrimonial pela primeira vez em nove anos. Em uma decisão unânime e amplamente antecipada, o Fed disse que começará a reduzir seu balanço de US$ 4,5 trilhões em outubro em US$ 10 bilhões por mês.

Já as projeções de taxa de juros do Fed, conhecidas como gráfico de pontos, ainda sugerem uma alta de taxa de juros em dezembro, fazendo o mercado ajustar suas estimativas para a última reunião do ano. Com a sinalização, a aposta de alta de juros olhando pra curva do rendimento dos treasuries subiu forte ontem, indo de 51% pra 67%. Sobre as perspectivas para os juros, o diretor de câmbio da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, destaca que o comunicado foi mais agressivo do que o esperado, mas não é possui cravar que haverá uma alta dos juros este ano devido a perda do ritmo do crescimento do PIB devido aos furacões que atingiram os EUA.

Além do esperado anúncio do Federal Reserve, os investidores internacionais também observaram a percepção mais otimista do presidente do BCE (Banco Central Europeu), Mario Draghi, com relação ao desempenho da economia no velho continente. Segundo ele, muito já foi conquistado desde a crise financeira global iniciada em 2008 e o sistema financeiro impõe menos riscos à economia real. Segundo Draghi, os bancos na Europa ficaram mais resistentes desde então e a união do setor bancário registrou avanços Contudo, ele alertou que o nível de empréstimos inadimplentes na região continua elevado. Na avaliação do comandante da autoridade monetária europeia, a política monetária não é o instrumento adequado para lidar com desequilíbrios financeiros.

Este foi o desempenho dos principais índices acionários mundiais:

*Dow Jones (EUA) -0,16%

*S&P 500 (EUA) -0,19%

*Nasdaq (EUA) -0,34%

*CAC-40 (França) +0,49% (fechado)

*FTSE (Reino Unido) -0,11% (fechado)

*DAX (Alemanha) +0,25% (fechado)

*Hang Seng (Hong Kong) -0,06% (fechado)

*Xangai (China) -0,23% (fechado)

*Nikkei (Japão) +0,18% (fechado)

*Petróleo WTI -0,12%, a US$ 50,63 o barril

*Petróleo brent +0,28%, a US$ 56,45 o barril

*Minério de ferro spot (à vista) no porto de Qingdao, na China, -5,11%, a US$ 66,09 a tonelada

*Contratos futuros do minério de ferro negociados na bolsa chinesa de Dalian -4,84%, a 472 iuanes

Tópicos relacionados

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.