O que o Fed anunciou que azedou o mercado e por que o Ibovespa ganhou força após a fala de Yellen

Índice chegou a cair mais de 1% logo após o Fed manter sua projeção de juros e anunciar o início da redução de seu balanço de pagamentos

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Depois de iniciar o dia em alta e renovar máxima histórica, agora em 76.419 pontos, o Ibovespa bateu sua mínima do dia após o Federal Reserve manter sua projeção de nova alta de juros ainda este ano e anunciar que dará início à redução de seu balanço de pagamentos. No front doméstico, as atenções estão concentradas no STF (Supremo Tribunal Federal), que decide hoje sobre a suspensão da segunda denúncia apresentada por Rodrigo Janot contra Michel Temer.

O benchmark da bolsa brasileira fechou praticamente estável, com alta de 0,04%, aos 76.004 pontos – após chegar a cair 1,18% na mínima do dia, logo após o anúncio. O volume financeiro ficou em R$ 12,219 bilhões. O mercado se assustou com a manutenção das projeções de alta de juros do Fed, mas não falta de uma grande novidade e com o tom mais cauteloso de Yellen em seu discurso, o mercado voltou a ganhar força.

Já o dólar comercial recuou 0,21%, cotado a R$ 3,1294 na venda, ao passo que o dólar futuro com vencimento em outubro caiu 0,16%, sinalizando cotação de R$ 3,135 – após cair 0,7% minutos antes da decisão sair. Os juros futuros com vencimento em janeiro de 2019, por sua vez, tiveram perdas de 3 pontos-base, a 7,36%, enquanto o contrato com vencimento em janeiro de 2021 recuou 7 pontos-base, para 8,81%.

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Segundo Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, não houve nenhuma grande surpresa no comunicado que justificasse a reação negativa do mercado. “O que pode ter acontecido foi um erro do mercado em achar que o Fed poderia mudar suas projeções por causa dos dados recentes da economia”, afirma. Vale lembrar que o Fed sempre colocou em sua meta elevar os juros em dezembro, mas analistas e investidores até então não acreditavam que a autoridade teria espaço para fazer isso este ano.

“O que o Fed está fazendo é indicando que se tudo der certo irá subir os juros, mas os dados seguem mostrando que não há muito espaço para isso”, explica Jason. No geral, o mercado acabou “se abalando” com a não mudança das projeções, mesmo que os fundamentos ainda não justifiquem uma alta das taxas no fim do ano.

Além da falta de um fundamento, ajudou também na recuperação do mercado o discurso mais cauteloso da chair Janet Yellen. Ao ser questionada pela razão do Fed não ter uma abordagem mais dovish, uma vez que a inflação ainda não está atingindo a meta de 2%, Yellen apontou para outro indicador: o emprego, que segundo ela, é um número muito importante para o Fed, ressaltando ainda melhorias no mercado de trabalho. Contudo, ressaltou que a autoridade monetária acompanha de perto os dados de inflação. “Reconheço ser importante que a inflação atinja a meta de 2% e essa é uma preocupação”, afirmou.

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O Federal Reserve manteve a taxa de juros entre 1% e 1,25%, mas deu novos sinais sobre a redução de balanços, aponta a minuta de decisão do Fomc (Federal Open Market Committee). A autoridade anunciou que, pela primeira vez em nove anos, começará a reduzir o tamanho de seu enorme balanço patrimonial. Em uma decisão unânime e amplamente antecipada, o Fed disse que começará a reduzir seu balanço de US$ 4,5 trilhões em outubro em US$ 10 bilhões por mês.

Já as projeções de taxa de juros do Fed, conhecidas como gráfico de pontos, ainda sugerem uma alta de taxa de juros em dezembro e mais três altas em 2018. O Fed reduziu a estimativa mediana das taxas de juros de 2019 de 2,9% para 2,7% e apontou que, num prazo mais longo, essa taxa atingirá 2,8% frente uma estimativa anterior de 3%. Além disso, a autoridade monetária informou que a devastação causada por furacões provavelmente não alterará materialmente o curso da economia no médio prazo.

Destaques do mercado

Na ponta positiva, destaque para a Petrobras, que viu suas ações saltarem mais de 4% após o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, informar que o pagamento da União à estatal pode superar os US$ 12 bilhões. Ainda entre os maiores ganhos, a Braskem subiu mais de 6% com rumores de conversão das ações PN em ON (veja mais aqui).

As maiores altas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 BRKM5 BRASKEM PNA 44,94 +6,70 +31,21 113,61M
 PETR4 PETROBRAS PN 15,87 +4,82 +6,72 1,24B
 PETR3 PETROBRAS ON 16,38 +3,80 -3,31 182,03M
 SBSP3 SABESP ON 33,58 +3,16 +21,08 31,34M
 ESTC3 ESTACIO PARTON 28,60 +2,66 +84,16 318,47M

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 WEGE3 WEG ON 22,66 -3,37 +48,15 55,55M
 CSNA3 SID NACIONALON 10,55 -3,21 -2,77 105,73M
 CIEL3 CIELO ON ED 21,92 -2,49 -2,73 152,83M
 MULT3 MULTIPLAN ON N2 75,52 -2,34 +28,26 57,52M
 LAME4 LOJAS AMERICPN 19,67 -2,24 +15,87 83,52M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 PETR4 PETROBRAS PN 15,87 +4,82 1,24B 595,79M 66.379 
 VALE3 VALE ON 33,17 -2,21 801,85M 694,93M 35.297 
 BBAS3 BRASIL ON EJ 34,76 +0,64 420,31M 246,15M 30.815 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 21,48 +0,37 364,10M 257,82M 27.932 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 43,32 -1,05 363,64M 371,53M 23.485 
 BVMF3 BMFBOVESPA ON 24,79 +2,14 358,59M 189,26M 27.655 
 BBDC4 BRADESCO PN 36,10 -0,58 329,07M 329,58M 25.264 
 ESTC3 ESTACIO PARTON 28,60 +2,66 318,47M 104,40M 12.063 
 USIM5 USIMINAS PNA 9,35 +1,63 240,14M 149,21M 25.332 
 KROT3 KROTON ON 19,67 +2,23 204,41M 154,56M 19.358 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Política monetária domina a agenda
A decisão de política monetária do Federal Reserve concentra as atenções do mercado nesta quarta-feira. Conforme aponta a LCA Consultores, nesta reunião, se espera o anúncio do início do programa de redução do balanço de US$ 4,5 trilhões a partir de outubro e também há grande expectativa pela sinalização quanto ao rumo dos juros.

Atenção ainda para as sinalizações de política monetária também no Brasil. Ontem, em seu pronunciamento para investidores em Nova York, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, manteve a avaliação de que a economia segue em recuperação, liderado pelo consumo das famílias. Quanto à inflação, Ilan comentou que os preços seguem em uma dinâmica favorável, mesmo quando se considera diferentes formas de aferição.

Segundo a LCA, a fala de Ilan reafirmou as apostas de novo corte da Selic em outubro, provavelmente, para 7,5% ao ano: “a taxa final poderá ficar um pouco abaixo deste patamar: 7,00%. As projeções de inflação do BC para 2019 e 2020 serão importantes para se avaliar por quanto tempo o juro básico permancerá neste nível”, afirmaram os economistas da consultoria.

No Brasil, foi divulgado pela manhã os dados da arrecadação federal, que mostraram uma reação em agosto e totalizaram  R$ 104,2 bilhões, avanço de 10,7% fem relação ao registrado no mesmo mês do ano passado. O resultado geral da arrecadação foi ajudado pelas receitas do governo com “royalties” do petróleo, que avançaram 18,68% em agosto, somando R$ 2 bilhões.

Julgamento do STF

O STF (Supremo Tribunal Federal) decidirá hoje sobre a suspensão da segunda denúncia apresentada por Rodrigo Janot contra Michel Temer e integrantes do PMDB. A questão começou a ser decidida na semana passada, antes do envio das acusações ao Supremo, mas o julgamento foi interrompido sem nenhum voto proferido. A expectativa, de acordo com diversos jornais, é de que o STF rejeite suspender a denúncia contra Temer (apesar de haver algum receio de pedido de vista, o que pode interromper o julgamento).

Isso porque a sessão, que está prevista para começar às 14h00, será marcada pela “estreia de fato” da nova procuradora-geral da República, Raquel Dodge, como representante do MPF (Ministério Público Federal) no Supremo. E são justamente os primeiros passos da nova PGR que serão monitorados de perto, conforme aponta a LCA Consultores em nota (veja mais clicando aqui). Se a denúncia de fato não for barrada, deve aportar na Câmara dos Deputados ainda nesta semana, na quinta ou na sexta-feira, aponta a LCA.

Refis e reforma política

Presidente em exercício da Câmara, o deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG) afirmou na véspera que pautará para esta quarta-feira a votação no plenário da Casa da Medida Provisória que cria o novo Refis. O peemedebista disse que os líderes da base aliada ainda negociam os últimos pontos do texto, para que possa ir à votação. A proposta precisa ser aprovada na Câmara e no Senado e sancionada pelo presidente da República até 11 de outubro, quando perde a validade.

O acordo entre parlamentares e equipe econômica já estabeleceu em 70% o desconto máximo que contribuintes que aderirem ao Refis terão nas multas. O percentual acordado é maior do que o previsto no texto original enviado pelo governo na MP, de 50%, e menor do que os 99% propostos pelo relator da MP, deputado Newton Cardoso Júnior (PMDB-MG), em seu parecer sobre a matéria aprovada em comissão especial.

Ainda sobre a agenda do Congresso, a Câmara dos Deputados rejeitou na noite de ontem o trecho da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que estabelecia o “distritão” em 2018 e criava o sistema distrital misto em 2022, que combina voto majoritário e voto em lista preordenada pelos partidos nas eleições proporcionais. Com 205 votos favoráveis, 238 contrários e uma abstenção, os deputados não acataram um dos destaques à PEC 77/2003, que institui um novo sistema eleitoral e cria um fundo público para financiar as campanhas. Pelo “distritão”, cada cidade ou estado passaria a ser considerado um distrito e seriam eleitos os candidatos a vereador e a deputado que recebessem mais votos.

Por fim, ainda sobre a política,  o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal em Brasília, aceitou a denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal na semana passada contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com isso, o petista se torna réu por corrupção passiva em caso envolvendo uma suposta “venda” da Medida Provisória 471, em 2009, que prorrogou os incentivos fiscais para montadoras instaladas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.