Bolsas internacionais em baixa e Ibovespa em alta: o que explica esse descolamento do mercado?

Dia também é marcado pelo vencimento de opções sobre ações

Rafael Souza Ribeiro

Publicidade

SÃO PAULO – Se descolando das bolsas internacionais, o Ibovespa registrava alta de 0,31%, aos 68.926 pontos, às 12h10 (horário de Brasília) desta segunda-feira (21), mais uma vez beneficiado pela disparada do minério de ferro na China, que ofusca os problemas políticos nos EUA e as dúvidas quanto ao rumo da dívida pública brasileira. 

No mesmo momento, os juros futuros com vencimento em janeiro de 2019 registravam baixa de 3 pontos, cotados a 8,03%, enquanto os contratos de janeiro de 2021 recuavam 2 pontos, negociados a 9,42%. Além disso, o dólar futuro com vencimento em setembro marcava desvalorização de 0,14%, aos 3.151 pontos. 

Os contratos futuros da commodity negociados em Dalian dispararam 6,62%, enquanto o minério de ferro negociado no porto de Qingdao com 62% de pureza subiu 2,40%, voltando para a faixa de US$ 80,00 a tonelada, em vista da queda dos estoques de minério de ferro nos portos da China, comprovando que ainda há forte demanda pelo produto. Segundo o RBC Capital Markets, o minério de ferro deverá se manter acima de US$ 70 por tonelada até o fim de dezembro depois de subir devido à demanda chinesa

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

De acordo com José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos, além do impulso gerado pelas commodities metálicas, o mercado também é favorecido pelo ajuste de posições por conta do vencimento de opções sobre ações na B3, que ocorre nesta manhã. Apesar deste otimismo, o diretor alerta sobre os riscos do cenário político norte-americano, com a dificuldade de Trump em implementar as reformas econômicas prometidas, como também os domésticos, com a votação da TLP e da reforma política nesta semana, além das preocupações com a situação fiscal.

Crise fiscal

As dificuldades do governo em fechar as contas segue no radar dos mercados. Em entrevista ao jornal O Globo, o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, afirmou que, embora a revisão das metas de 2017 e 2018 e as medidas de ajuste fiscal — como teto para os salários dos servidores — dependam do Legislativo, ele não perde o sono por isso: “sou sempre otimista com o Congresso”. De acordo com o ministro, o governo está disposto a fazer o que for preciso para cumprir a meta fiscal de 2017. 

Já o jornal Valor Econômico informa que o déficit alto põe o governo sob risco de crime fiscal, apontando que a equipe econômica está preocupada com os riscos de descumprimento da chamada “regra de ouro” das finanças públicas, o artigo 167 da Constituição, que proíbe a emissão de dívida em valor superior às despesas de capital (essencialmente investimentos) do exercício. Com os elevados déficits fiscais, há crescente possibilidade de infração à norma em 2018, o que configuraria crime de responsabilidade das autoridades, inclusive do presidente da República. Se a questão não for equacionada, quem assumir o governo em 2019 também terá dificuldade para cumprir a regra, a menos que paralise a máquina pública por falta de pagamentos.

Neste sentido, o Estadão informa que, apesar das dificuldades em fechar as contas, o governo Michel Temer criou três programas de parcelamento de débitos tributários (Refis) que têm juntos o poder de perdoar R$ 78,1 bilhões em dívidas durante todo o prazo de vigência, segundo cálculos da Receita Federal. O valor corresponde à renúncia potencial de arrecadação do governo com a redução de juros, multas e encargos das dívidas de empresas, estados e municípios. E esse número pode ficar maior, já que dois dos programas, criados por medida provisória, ainda estão em tramitação no Congresso e podem ser alterados pelos parlamentares, aumentando os benefícios aos devedores.

E agora Trump?

Na semana passada, Donald Trump decidiu desfazer três conselhos consultivos formados por executivos proeminentes. Vários desses executivos haviam renunciado antes do anúncio devido a comentários polêmicos de Trump sobre o recente confronto entre supremacistas e um grupo opositor em Charlottesville, na Virgínia. Na sexta-feira, porém, gerou certo alívio a demissão do estrategista-chefe do governo americano, Steve Bannon, considerado um dos opositores do diretor do Conselho Econômico Nacional, Gary Cohn.

Por conta dessa dificuldade em governar, Trump não conseguiu entregar as reformas econômicas prometidas em sua campanha e sua aprovação caiu vertiginosamente, sendo a mais baixa para qualquer líder americano em seu primeiro ano no cargo. Assim, os riscos legislativos estão ganhando cade vez mais força e para Alec Phillips, analista político do Goldman Sachs, há 50% de chance de ‘shutdown’ (paralisação) do governo no curto prazo.

Segundo Phillips, o teto da dívida norte-americana – que ainda precisa ser elevado – deve impedir que uma paralisação mais longa ocorra, mas ressalta que, para isso, Trump precisa solidificar o apoio em sua base, além de precisar do apoio do Partido Democrata. Para ele, “o tamanho do fosso entre a confiança do consumidor e a aprovação presidencial é muito incomum” para esse período do governo, já que Trump está em seu primeiro ano de governo e isso reflete a fragilidade do presidente.

Destaques do mercado
Destaque positivo para as ações de Vale (VALE3) e Bradespar (BRAP4), que sobem na esteira do minério de ferro. Do outro lado, os papéis da Marfrig (MRFG3) registram queda ainda reagindo ao resultado abaixo do esperado no segundo trimestre. 

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 BRAP4 BRADESPAR PN 24,63 +2,75 +69,96 4,97M
 BBSE3 BBSEGURIDADEON EDR 28,05 +1,70 +2,01 25,56M
 VALE3 VALE ON ATZ 32,05 +1,58 +37,82 79,11M
 BBAS3 BRASIL ON 30,83 +1,35 +11,15 23,83M
 CYRE3 CYRELA REALTON 12,33 +1,31 +20,92 1,69M

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 MRFG3 MARFRIG ON 7,01 -1,13 +6,05 488,38K
 RAIL3 RUMO S.A. ON 10,12 -1,08 +64,82 2,06M
 RENT3 LOCALIZA ON 54,65 -0,91 +69,12 1,85M
 ENBR3 ENERGIAS BR ON 14,77 -0,87 +10,22 522,33K
 NATU3 NATURA ON 27,60 -0,76 +20,51 7,82M
* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)

PSDB em crise

A crise no ninho tucano parece se agravar a cada dia. Desta vez, o alvo da polêmica foi a reunião na última sexta-feira entre o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), após a propaganda partidária veiculada na quinta-feira rachar o PSDB. No último domingo, a Executiva do partido em São Paulo criticou e manifestou “desconforto” em relação aos encontros entre os dois. “A presença de Aécio Neves hoje, em reuniões internas ou públicas, só nos causa desconforto e embaraços. Prove sua inocência, senador, e aí sim retorne ao partido”, afirmou o diretório, acrescentando que o senador Tasso Jereissati, presidente em exercício da sigla, é quem pode falar em nome do PSDB. Após a reunião com Aécio, Temer diz que não interfere em assuntos de outros partidos e afirmou que se reuniu com o parlamentar para tratar sobre a situação da Cemig. 

Neste cenário de crise do partido, a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, informa que a ala do PSDB que defende o apoio ao governo Temer quer a saída de Tasso Jereissati (CE) da presidência interina da sigla até o fim desta semana. Diz que, se Aécio Neves (MG) não encontrar um substituto, o PSDB vai perder deputados. Entre os que ameaçam deixar a sigla estão quadros históricos e fundadores da legenda e ao menos dez parlamentares estariam dispostos a sair se o cearense continuar no cargo.

Para completar, João Doria aparece na frente do governador do estado Geraldo Alckmin na preferência dos eleitores para a disputa à presidência da República, segundo aponta pesquisa do instituto Paraná Pesquisas. De acordo com o levantamento, feito com base em 2.802 questionários online entre os dias 15 e 17 de agosto, Doria está disparado na frente. Pergunta-se: “entre Geraldo Alckmin e João Doria, quem seria o melhor candidato à Presidência da República em 2018?”. As respostas são: 40,3% disseram Doria; 13,2%, Alckmin; 41,3%, nenhum deles; e 5,2% não souberam dizer.

Agenda econômica da semana

Durante a semana, os investidores seguem atentos aos debates da reforma política e da criação da TLP no Congresso. Entre os indicadores, atenção especial para o IPCA-15 de agosto, que será divulgado na quarta-feira (23). Segundo a equipe de análise da Rosenberg Associados, a expectativa é de variação positiva de 0,38%, revertendo a deflação registrada no mês anterior de 0,18%. Além disso, o ministro do STF Alexandre de Moraes disse que decidirá até o início desta semana sobre os mandados de segurança que querem obrigar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a dar um parecer sobre os pedidos de impeachment contra Temer que estão no Congresso Nacional. 

Nesta segunda-feira, foi divulgado o tradicional Relatório Focus, apontando um leve aumento para o IPCA projetado deste ano, passando de 3,50% para 3,51%, enquanto para o dólar a mediana dos economistas consultados pelo BC recuou de R$ 3,25 para R$ 3,23 ao final de 2017, enquanto para o ano que vem passou de R$ 3,40 para R$ 3,39. Do lado do PIB (Produto Interno Bruto), no entanto, não houve alteração nas estimativas: crescimento de 0,34% neste ano e de 2% no ano seguinte. Da mesma forma, as projeções para a Selic — a taxa básica de juros — seguiram apontando para 7,5% nos dois períodos.

Na agenda internacional, destaque para a reunião dos principais formuladores da política monetária mundial no simpósio de Jackson Hole, que será realizado entre os dias 24 e 26 de agosto. Há uma grande expectativa pelo discurso do presidente do BCE (Banco Central Europeu), Mario Draghi, como também da presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, por conta das sinalizações de ambos quanto ao futuro da política monetária.

Bolsas mundiais

As bolsas mundiais têm uma sessão indefinida, com o mercado de olho nas potenciais sinalizações sobre os juros do Federal Reserve e BCE (Banco Central Europeu) durante o simpósio de Jackson Hole e continua no radar o intrincado cenário político em Washington, que dificulta a eventual implementação de reformas favoráveis aos negócios pelo governo dos EUA mais adiante.

Às 12h10, este era o desempenho dos principais índices:

*S&P 500 (EUA) -0,25%

*Nasdaq (EUA) -0,40%

*Dow Jones (EUA) -0,15%

*CAC-40 (França) -0,59%

*FTSE (Reino Unido) -0,16%

*DAX (Alemanha) -0,87% 

*Hang Seng (Hong Kong) +0,40% (fechado)

*Xangai (China) (fechado) +0,57% (fechado)

*Nikkei (Japão) -0,40% (fechado)

*Petróleo WTI -1,59%, a US$ 47,74 o barril

*Petróleo brent -2,07%, a US$ 51,63 o barril

*Contratos futuros do minério de ferro negociados na bolsa chinesa de Dalian +6,62%, a 596 iuanes

* Minério de ferro negociado em Qingdao 62% +2,40%, a US$ 79,81 a tonelada