“Concorrência é o que te faz acordar cedo e trabalhar mais do que os outros”, diz CEO da CVC

Em entrevista ao InfoMoney, Luiz Eduardo Falco fala sobre os ótimos resultados divulgados pela empresa na primeira metade do ano e explica como a empresa driblou a crise que, em tese, deveria impactar em cheio seu segmento de atuação

Rafael Souza Ribeiro

Publicidade

SÃO PAULO – Destaque positivo da temporada de resultado do segundo trimestre (veja mais aqui), a CVC (CVCB3) apresentou Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado de R$ 94,1 milhões, alta de 21% frente ao mesmo período do ano passado, enquanto o lucro líquido cresceu 56% na mesma base de comparação. Números impressionantes principalmente por se tratar de uma empresa que atua no segmento de turismo, diretamente afetado pela recessão da economia. O mercado percebeu esse “sucesso” em mitigar os efeitos da crise: as ações da CVC, que já haviam subido 83% em 2016, avançam 80% neste ano, acumulando ganhos de quase 200% desde sua estreia na bolsa, em dezembro de 2013.

Para explicar mais sobre os números reportados e trazer um panorama da empresa, como do setor de viagens brasileiro, o InfoMoney entrevistou o presidente do Grupo CVC, Luiz Eduardo Falco, que revela como a operadora de turismo “driblou” a crise econômica dos últimos anos e o aumento da concorrência, que, segundo Falco, serve de incentivo para “acordar mais cedo e trabalhar mais do que os outros” para conquistar o mercado. Confira a entrevista completa:

InfoMoney: No 1º semestre de 2017 a CVC cresceu 14,4% em Ebitda e 15,5% em lucro na comparação com os primeiros 6 meses de 2016. Como uma empresa que trabalha com turismo consegue um resultado desses em meio a um cenário de profunda recessão e desemprego, e que em tese deveria afastar a vontade do brasileiro de viajar?
Luiz Eduardo Falco: Com esse resultado, são 14 trimestres que a CVC apresenta crescimento contínuo de Ebitda. O motivo disso é a capacidade da empresa se adaptar ao mercado: optamos por pacotes nacionais e menor tempo de estadia; ao invés de oferecer um resort, uma pousada com tudo incluso. Enfim, oferecer produtos que se adequem ao bolso do consumidor, pois sabemos que ele perdeu poder de compra.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Nós tivemos uma ajuda de 1.200 lojas até o final do ano que ficam nos telefonando todo dia reportando seu desempenho, o que nos deixa mais rápidos na adaptação ao mercado. Além disso, nós, ao longo desses anos, empregamos muita tecnologia nas lojas e isso tem ajudado aumentar bastante na prospecção de clientes. A maneira que você vê isso é pelas “vendas mesmas lojas” [unidades que foram abertas há pelo menos um ano], indicador que conseguimos crescer em linha com a inflação mesmo em um cenário de crise. Isso é sintoma de uma rede que responde muito rápido ao mercado.

IM: O segmento internacional também conseguiu mostrar crescimento. O diferencial entre o dólar de 2016, que chegou a valer mais de R$ 4,00 no começo do ano, com a taxa atual beirando os R$ 3,10, foi determinante para isso?
LEF: Sim. O resultado de hoje é bem mais forte do que do ano passado até por uma questão de base de comparação. Mas o valor do dólar em si não foi um problema em 2016, a questão foi que ele disparou para R$ 4,00 e assustou fortemente a demanda. Por isso que nosso resultado em viagens internacionais foi muito abaixo do normal, e neste ano a gente deve voltar ao normal. Normalmente, o segmento nacional representa 60% do faturamento da empresa, e o internacional fica com 40%. Hoje, o internacional está rodando entre 36% e 37%, voltando ao seu ponto de equilíbrio. O dólar na casa de R$ 3,00 ainda é caro, mas por outro lado você tem uma demanda reprimida por viagens internacionais.

IM: Além da base de comparação mais fraca, o “medo da crise” tem ajudado a CVC no segmento internacional neste ano, tendo em vista o robusto crescimento na área de intercâmbio?

LEF: Do ponto de vista de materialidade de receita, nem tanto, porque é uma linha que ainda está no começo. A questão do intercâmbio é que estamos tratando de um bolso diferente do consumidor: do investimento. Quando o cliente faz intercâmbio, ele realiza um investimento para a vida, como aprender um idioma ou realizar um curso profissionalizante. Então, o fato do Grupo CVC estar na linha de intercâmbio, por meio da rede de lojas e marca Experimento Intercâmbio Cultural, é porque nós queremos atuar com consultoria em todos os momentos da vida do cliente, tanto no lazer, como no investimento de carreira profissional. Atualmente, possuímos 43 lojas e vamos abrir mais 10 lojas este ano.

IM: Chamou atenção também a virada do segmento de viagens corporativas, que vai ao encontro da aquisição da totalidade das ações da Rextur em junho. Isso mostra que segmento já chegou ao fundo do poço e é hora da retomada?
LEF: O segmento de viagens corporativas é quase que uma equação matemática, pois tem uma forte relação com o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Então, o que você está vendo agora é reflexo de uma pequena recuperação do PIB. Respondendo sua pergunta sobre se chegou ao fundo do poço: sim, mas agora está saindo, desde que o PIB marque uma tendência de recuperação mesmo que devagar, mas pelo menos apontando para cima. E foi exatamente isso que nos fez comprar a Rextur.

IM: Em maio, a CVC anunciou a compra do Grupo Trend, considerado um dos maiores concorrentes domésticos. O setor de viagens é bastante pulverizado, pois vimos a abertura de diversas empresas de viagens para aproveitar o “boom” econômico, da mesma forma que muitas fecharam ou operam no limite em vista da crise recente. Passado tudo isso, você acredita em um movimento de consolidação do setor?
LEF: Acredito que sim e a CVC é uma plataforma interessante para aproveitar esse movimento, pois ela tem dinheiro e ações para comprar. É natural que uma empresa que seja pública, como no caso da CVC, tenha apetite para crescer seja uma plataforma de consolidação. Nos últimos dois anos o grupo adquiriu 4 empresas. É um ritmo forte. Mas, mesmo assim, nós temos 15% do mercado, o que prova como é pulverizado

IM: No mercado de viagens, como em diversos em outros mercados, o consumidor costuma guiar sua escolha pelo mais barato. Esse é um problema para CVC?
LEF: Não, pois nos força a ser o mais barato. A concorrência é boa para o consumidor e tem que ter concorrência, não existe nada sem concorrência que esteja no mercado de consumo. Ela te faz acordar mais cedo, trabalhar mais do que os outros, comprar melhor, aproveitar sua fortalezas. Mas é varejo, todo dia começa de novo.