A fala do Fed que fez o dólar desabar para R$ 3,14 e trouxe “alívio” para o Ibovespa

Índice, que chegou a zerar os ganhos, ganhou força pouco antes da divulgação da ata do Fomc, e reforçou a alta após os comentários do Fed

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Depois de subir forte pela manhã, o Ibovespa chegou a zerar os ganhos no começo da tarde, esboçando um mau humor do mercado com o anúncio do governo na véspera. Por outro lado, pouco antes da divulgação da ata do Fomc, o mercado voltou a se animar e ganhou força, chegando à máxima do dia após os dirigentes do Fed indicarem uma demora maior para a nova alta de juros nos Estados Unidos.

O benchmark da bolsa brasileira fechou com alta de 0,35%, aos 68.594 pontos, após chegar a subir 0,87%, a 68.950 pontos na máxima do dia. O volume financeiro ficou em R$ 10,333 bilhões. Apesar do novo impulso, o mercado segue questionando se a revisão das metas fiscais de fato foi uma vitória do governo e afasta o risco de downgrade do rating brasileiro.

A ata também afetou o dólar, que fechou na mínima do dia, com queda de 0,84%, a R$ 3,1463 na venda. Já o dólar futuro com vencimento em setembro marcou desvalorização de 0,64%, a R$ 3,155. Enquanto isso, os juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 registraram queda de 2 pontos-base, cotados a 8,11%, enquanto os contratos de janeiro de 2021 subiram 4 pontos, negociados a 9,38%.

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A maioria dos diretores do Federal Reserve disseram preferir esperar até a “próxima” reunião do Fomc, em setembro, para decidir sobre o início da redução do balanço de pagamento de US $ 4,5 trilhões de títulos da autoridade americana, segundo mostrou a ata do último encontro do Fomc.

O Fed também se dedicou a um debate profundo sobre leituras de inflação surpreendentemente baixas, com alguns dizendo que o banco poderia “se dar ao luxo de ser paciente” antes de aumentar as taxas de juros novamente.

Bom para o governo?
O governo anunciou o aumento da meta de déficit fiscal de 2017 e 2018 para R$ 159 bilhões. Originalmente, a meta de déficit estava fixada em R$ 139 bilhões para este ano e em R$ 129 bilhões para o ano que vem. Além disso, as projeções para 2019 e 2020 também foram alteradas: para 2019, a estimativa de déficit passou de R$ 65 bilhões para R$ 139 bilhões, enquanto para 2020 o resultado passou de superávit de R$ 10 bilhões para déficit de R$ 65 bilhões.

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Para o gestor da GGR Investimentos, Rafael Sabadell, o mercado viu com bons olhos o esforço do governo em reduzir gastos e entregar um resultado em linha com o esperado, o que culminou em uma reação positiva nas primeiras horas, mas o mesmo otimismo não pode ser visto pelos economistas.

Já para o Credit Suisse, a decisão do governo de aumentar a meta de 2019 e 2020 confirma o enfraquecimento do processo de consolidação fiscal e acreditam que as metas anunciadas serão difíceis de serem cumpridas, possibilidade que não descartada por Sabadell, já que o governo está perdendo margem de manobra para novos cortes: “se a arrecadação continuar decepcionado, deve haver uma revisão”, alerta o gestor.

Em relatório, Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, afirmou que a nova meta fiscal é mais realista, mas decepcionante ao expor uma difícil realidade fiscal e uma desconcertante incapacidade de se fazer uma redução eficiente dos gastos públicos: “o ajuste do déficit fiscal de 2017 até 2020 atesta a dificuldade do País em promover a consolidação fiscal”, afirma Ramos. Pela sua projeção, o Brasil só terá superávits suficientes para reverter a trajetória da dívida pública em 2024.

Perspectiva ainda é negativa
Logo após o anúncio, a S&P retirou a nota de risco soberano do Brasil do status de observação negativa (CreditWatch negativo), mas manteve a perspectiva negativa e o rating em “BB” (dois patamares abaixo do grau de investimento). Segundo o gestor da GGR Investimentos, a retirada foi motivada pela questão política, que ‘foi resolvida’ com a manutenção de Michel Temer no poder. Assim, uma mudança de perspectiva, que de fato altera a percepção de risco para o Brasil, depende do andamento da agenda de reformas, uma das grandes incógnitas deste governo.

De acordo com Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, o fato das mudanças ainda dependerem do fator político, onde parte dos “cartuchos” de Temer foram gastos para se manter no poder, eleva o nível de incerteza. Com isso, Meirelles tende a tomar novamente o protagonismo nas negociações com o Congresso, porém não há tempo hábil para isso.

Em teleconferência para investidores nesta quarta-feira, Lisa Schineller, diretora executiva da S&P, afirmou que a questão fiscal e a dinâmica de crescimento são as maiores fraquezas do Brasil, como ainda existem riscos de downside para o País, ainda que menos intensos do que em maio.

Nesta tarde, foi a vez da Moody’s comentar a mudança da meta, ajudando a trazer mais alívio para o mercado. De acordo com a agência, a alteração não afeta a avaliação sobre o Brasil no curto prazo. Em nota, a agência destacou que a revisão da meta fiscal não deverá impactar a nota do país nos próximos meses, mas advertiu para o risco de a dívida pública explodir nos próximos anos caso o governo não consiga avançar na aprovação de reformas estruturais.

Destaques do mercado
Na ponta positiva, destaque para as ações de Fibria (FIBR3) e Suzano (SUZB5), que sobem forte com novos rumores de fusão entre as fabricantes de papel e celulose. Do lado negativo, atenção para as ações da Qualicorp (QUAL3), que seguem recuando após o fraco resultado do segundo trimestre (entenda mais clicando aqui).

Além disso, a B3 anunciou a segunda prévia do Ibovespa para o período de setembro e dezembro deste ano. As ações da Taesa (TAEE11) seguem na lista, enquanto foi oficializada a retirada dos papéis preferenciais classe A da Vale (VALE5) e o aumento do peso da ações ordinárias (VALE3) da mineradora de 4,233% para 9,031%.

As maiores altas, dentre as ações que compõem o índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 FIBR3 FIBRIA ON 38,23 +5,14 +22,82 163,18M
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 17,10 +4,72 +23,65 103,62M
 WEGE3 WEG ON 20,38 +3,93 +33,25 48,42M
 USIM5 USIMINAS PNA 5,91 +3,68 +44,15 90,55M
 KROT3 KROTON ON 17,72 +3,14 +34,78 470,18M

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 QUAL3 QUALICORP ON 33,30 -3,56 +76,84 156,67M
 MRVE3 MRV ON 13,15 -2,23 +25,62 117,46M
 MULT3 MULTIPLAN ON N2 71,59 -1,93 +21,58 93,54M
 BRFS3 BRF SA ON 41,49 -1,91 -14,01 642,65M
 NATU3 NATURA ON 26,54 -1,52 +15,88 87,64M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 VALE3 VALE ON ATZ 31,73 +1,96 825,01M 235,55M 35.640 
 BRFS3 BRF SA ON 41,49 -1,91 642,65M 106,18M 10.224 
 PETR4 PETROBRAS PN 13,13 -0,15 593,20M 395,23M 29.373 
 KROT3 KROTON ON 17,72 +3,14 470,18M 131,38M 23.408 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN EJ 39,81 +0,20 468,14M 349,70M 20.782 
 BBDC4 BRADESCO PN 32,38 0,00 428,01M 275,82M 21.153 
 BBAS3 BRASIL ON 30,69 -0,81 308,40M 183,77M 20.802 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 19,81 +0,15 292,36M 195,41M 19.096 
 BVMF3 BMFBOVESPA ON 21,57 -0,83 193,75M 156,79M 20.680 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Cenário político
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), afirmou que o relatório sobre a TLP será apresentado às 15h00 e será dada vista coletiva. Ainda no radar político, os jornais de hoje informam que o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi informado de que as negociações de seu acordo de delação foram suspensas pela Procuradoria-Geral da República.

Por fim, a Polícia Federal cumpriu nesta manhã cinco mandados de busca e apreensão em uma operação de combate a crimes de lavagem de capitais, evasão de divisas, crimes contra o sistema financeiro nacional e corrupção. A ação é o primeiro desdobramento da Operação Lava Jato no Rio Grande do Sul.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.