Saída do Ibovespa, dividendos e opções: o que mudará para VALE5 após a conversão de ações?

Papéis não fazem mais parte do Ibovespa e opções serão ajustadas

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – A conversão de ações preferenciais da Vale (VALE5; R$ 29,11; +1,32%) em ordinárias (VALE3; R$ 31,30; +1,62%) foi muito bem sucedida: concluída na última sexta-feira (11), a mineradora informou que 84,4% dos papéis VALE5 se tornarão VALE3 a partir desta terça-feira (15), superando com folga a adesão mínima necessária para que o processo de conversão acontece, que era de 54,1%.

Contudo, cerca de 306,9 mil de VALE5 continuarão existindo na B3. Os investidores que optaram por permanecer com estes ativos precisam se atentar ao “novo mundo” desta ação que até outrora era uma das mais negociadas da bolsa e mais importantes em termos de participação no Ibovespa. Listamos abaixo as quatro principais mudanças que acontecerão:

1) Volume

A principal mudança prática está atrelada à liquidez que VALE5 passará a ter na bolsa – ou melhor, passará a não ter. Isso porque estas 306,9 mil ações que continuarão no mercado perderão completamente a atratividade em relação a VALE3, já que esta terá muito mais benefícios em termos de governança corporativa e não será afetada pela distribuição de dividendos (a Vale não faz distinção de dividendos para as ações ON e PNA). Com os investidores tendo menos interesse em comprar VALE5 ao invés de VALE3, a liquidez deste papel tende a reduzir drasticamente.

“Como ela vai perder liquidez, o interesse dos investidores em se posicionar neste papel vai evaporar”, diz um analista que conversou com o InfoMoney antes da conversão de ações. Já um gestor disse que a VALE5 corre o risco de ficar “micada”, fazendo alusão aos papéis de baixíssima liquidez negociados na B3, chamados de “micos”.

Até a última semana, VALE5 movimentava em média R$ 430 milhões por dia na bolsa, mais do que o dobro de VALE3 (R$ 200 milhões/dia). Já nesta segunda-feira (14), a tendência começou a se reverter: VALE3 movimentou R$ 527 milhões, contra R$ 328 milhões de VALE5 (importante mencionar que esse volume atual de VALE5 ainda mostra-se elevado pois as ações convertidas só serão liberadas para negócio a partir da próxima terça-feira, dia 15).

2) Saída do Ibovespa

Uma consequência da perda de liquidez é a saída de VALE5 do Ibovespa. As ações preferenciais da Vale não fazem mais parte da carteira teórica do principal índice de ações da bolsa brasileira, bem como de todos os outros índices que ela fazia parte – como IBRA, IBRX 50, IBRX 100, IGCX, IGCT, IMAT e MLCX. Ao mesmo tempo, os papéis ordinários passaram a ter 9,12% de participação no Ibovespa, tornando-se o segundo mais relevante dentro do índice, atrás apenas de Itaú Unibanco PN (11,16%).

O que isso muda na prática? Muitos fundos de ações têm como objetivo acompanhar ou superar o Ibovespa. Com a saída de VALE5 do índice, estes fundos também irão retirar o ativo da carteira.

3) Mercado de opções

Outra mudança que estava preocupando os investidores está direcionado ao excitante e arriscado mercado de opções. Muitos investidores estavam receosos com os contratos de compra ou venda de VALE5 que vão vencer na próxima segunda-feira, dia 21. Contudo, a B3 informou via comunicado que todas as séries de opções sobre VALE5 serão excluídas e as posições serão migradas para novas séries sobre VALE3, que terão o preço de exercício e as posições ajustadas pelo fator de conversão utilizado na troca de ações, de 0,9342.

4) Dividendos

Para boa parte dos detentores das 15,6% VALE5 que não se tornarão VALE3, a questão do dividendo foi o determinante para a decisão. Isso tudo por uma matemática simples: como a relação de troca era de 0,9342 VALE3 para cada 1 VALE5 e como não há distinção do valor pago em dividendos para cada ação, o detentor das ações preferenciais passará a receber menos dividendos por ação na troca.

Exemplo: Se ele tinha 10 mil ações da Vale, passará a ter 9.342 ações ordinárias; se a mineradora anunciar um dividendo de R$ 0,10 por ação, este acionista receberia R$ 1.000 caso não tenha convertido as ações; mas caso tenha convertido, a remuneração seria de R$ 934,20.

Para os gestores e analistas consultados pelo InfoMoney, no entanto, essa conta não compensa olhando para a “nova realidade” de VALE5 no mercado. Além disso, no longo prazo essa diferença nos dividendos será meramente residual tendo em vista a expectativa de valorização superior que VALE3 terá sobre VALE5. Por fim, a Vale pretende em breve deve migrar para o Novo Mercado e os acionistas ordinários terão uma opção embutida que não tinham: se mudar o controle, o novo controlador terá que comprar de todos pelo mesmo preço.