Os dois fatores que movimentam o mercado nesta sexta-feira

Índice sinaliza nova sessão positiva após perdas da véspera

Marcos Mortari

Painel de ações (Crédito: Shutterstock)

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SÃO PAULO – Após uma sessão de realização de ganhos e muita especulação sobre a força do governo para dar seguimento a agenda de reformas, o Ibovespa iniciou a sexta-feira (4) em alta, acompanhando o otimismo visto nas principais bolsas internacionais e a valorização do minério de ferro no mercado chinês. Às 10h22 (horário de Brasília), o benchmark da bolsa brasileira subia 0,23%, a 66.932 pontos, com os investidores digerindo, além do movimentado noticiário político, os dados do emprego nos Estados Unidos.

“Ontem a B3 interrompeu sequência de cinco pregões consecutivos de alta e aproveitou para realizar lucros e ajustar expectativas da votação em plenário da denúncia contra o presidente Temer”, observou Alvaro Bandeira, economista-chefe do home broker Modalmais. Na avaliação do especialista, há espaço para o Ibovespa recuperar o patamar de 67.000 pontos e buscar o nível pré-crise do Friboigate, em 68.500 pontos.

Os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 operavam estáveis, a 8,18%, ao passo que os DIs com vencimento em janeiro de 2021 recuavam 1 ponto-base, a 9,14%. Já os contratos de dólar futuro com vencimento em setembro deste ano subiam 0,10%, sinalizando cotação de R$ 3,133.

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Confira ao que se atentar neste pregão:

Destaques da Bolsa

Do lado acionário, os papéis da Petrobras (PETR3; PETR4) operam em alta nesta sexta-feira em dia praticamente estável para os preços do petróleo no mercado internacional. No radar, a companhia efetuou operação junto ao The Bank of Tokyo-Mitsubishi UFJ através do pré-pagamento de dívida de US$ 333 milhões, com vencimento previsto para 2018, e contratação, simultânea, de novo financiamento de US$ 500 milhões, com prazo vencimento em 2022, disse a empresa, em comunicado ao mercado. A companhia contratou outro financiamento de US$ 150 milhões com o Banco Safra, também com vencimento em 2022, ambos sem garantias reais. Os recursos líquidos captados com esses financiamentos serão utilizados na execução da sua estratégia de gerenciamento de passivos e que continuará avaliando novas oportunidades no mercado.

Segundo o Valor Econômico, os sócios controladores da Braskem (BRKM5), Odebrecht e Petrobras, trabalham numa grande operação de mercado para a petroquímica, com a transferência da sede da empresa para os Estados Unidos e a abertura de capital com oferta de ações na Bolsa de Nova York. O plano considera a pulverização do capital da companhia e a rescisão do acordo de acionistas, diz a publicação. Segundo os analistas do BTG Pactual, essa notícia, somada a uma renegociação do acordo de acionistas e um novo contrato, mais longo, de oferta de nafta por parte da Petrobras pode ser um caminho importante para maximizar o valor da venda.

As ações da Vale (VALE3; VALE5) sobem acompanhando os preços do minério de ferro nesta sessão. A commodity negociada no porto de Qingdao, na China, avançou 1,63%, a US$ 74,12 a tonelada, enquanto os contratos futuros do minério negociados na bolsa chinesa de Dailian subiram 1,10%, a 549 iuanes. No radar, a Vale e a BHP continuam os esforços para retomar as operações da Samarco no atual contrato de joint venture e estão considerando grandes mudanças. As duas proprietárias da empresa buscam um novo caminho em que possam comprar a parte uma da outra, arrendando ou vendendo os ativos, ou ainda mantendo o contrato de titularidade, mas designando um operador, disse o CFO da Vale, Luciano Siani Pires, para a Bloomberg.

O Globo, por sua vez, informa que começa a ser avaliada na Vale a ideia da companhia fazer uma parceria com o braço de mineração da CSN (CSNA3), segundo fontes ouvidas pelo setor. No foco, estaria a compra de uma fatia ou uma joint-venture com a Congonhas Minérios, subsidiária da siderúrgica que reúne a mina de Casa de Pedra, além de outras duas minas menores (Engenho e Pires), em Minas Gerais, e ativos de logística. Com dívida líquida de R$ 25,8 bilhões, a siderúrgica vem tentado se desfazer de ativos para levantar recursos. A Vale, por sua vez, teria ganhos de sinergia com a operação, já que a ferrovia e o porto usados para escoar o minério da CSN também são utilizados pela mineradora. A companhia informou em comunicado que não há qualquer deliberação no âmbito dos órgãos de administração da empresa sobre uma eventual compra da mina de Casa de Pedra.

A JBS (JBSS3) fechou acordo para vender a totalidade de sua participação na Vigor Alimentos para o mexicano Grupo Lala, por um valor de aproximadamente R$ 1,112 bilhão. A JBS tinha 19,43% de participação no capital da Vigor. A JBS vai receber aproximadamente R$ 780 milhões no fechamento da operação. O Grupo Lala é o maior grupo da indústria de lácteos do México e um dos principais das Américas. O valor de mercado da empresa é de aproximadamente US$ 4,8 bilhões e o faturamento líquido em 12 meses, ao final de junho, foi de US$ 2,9 bilhões. A JBS afirma que pretende utilizar parte dos recursos obtidos com a operação para amortizar dívidas que estão sujeitos no acordo de estabilização fechada recentemente com os bancos.

Ainda sobre o grupo J&F, o Valor informa que a Arauco e a J&F não conseguiram chegar a um acordo ontem à noite para a venda da Eldorado Brasil Celulose ao grupo chileno, apurou o Valor. O prazo do contrato de exclusividade expirava ontem. Sem acordo, a partir de hoje a concorrência pela Eldorado está aberta a todos os interessados. Segundo uma pessoa a par das negociações, a brasileira Fibria, a indonésia April e a própria Arauco passam a disputar o ativo.

Do lado dos resultados, a Smiles (SMLE3) registrou lucro líquido de R$ 146,2 milhões no segundo trimestre, uma alta de 18,3% ante o mesmo período do ano passado. A receita líquida, por sua vez, ficou em R$ 441,7 milhões entre abril e junho, crescimento de 26,3% em relação a um ano antes. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) subiu 32,6%, atingindo R$ 172 milhões, enquanto a margem Ebitda avançou 1,8 ponto percentual, para 38,9%.

Já a Multiplus (MPLU3) fechou o segundo trimestre com lucro líquido de R$ 125,9 milhões, uma queda de 7,7% em relação ao mesmo período de 2016. De acordo com a companhia, o recuo é atribuído principalmente a queda da taxa de juros e a menor receita financeira. O lucro operacional da companhia subiu 0,5% entre abril e junho ante um ano antes, para R$ 147,9 milhões. A margem operacional no trimestre foi de 25,1%, queda de 2 pontos porcentuais em um ano. Já a receita líquida da Multiplus fechou em R$ 589,4 milhões, uma alta de 8,4% na comparação anual. A companhia emitiu 23,2 bilhões de pontos no segundo trimestre de 2017, um aumento de 27% em relação ao mesmo período do ano anterior. A quantidade de pontos resgatados, por sua vez, cresceu 17% em relação a um ano antes, somando 19,3 bilhões.

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 BRKM5 BRASKEM PNA 39,10 +2,30 +14,16 7,39M
 HYPE3 HYPERMARCAS ON 29,45 +1,73 +15,28 5,38M
 CSAN3 COSAN ON 35,63 +1,45 -4,20 1,13M
 ENBR3 ENERGIAS BR ON 14,75 +1,37 +10,07 942,41K
 CSNA3 SID NACIONALON 7,63 +1,19 -29,68 6,75M

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 15,28 -1,04 +10,49 3,18M
 QUAL3 QUALICORP ON 33,02 -1,02 +75,35 1,89M
 LREN3 LOJAS RENNERON 29,52 -1,01 +40,89 2,50M
 ESTC3 ESTACIO PARTON 18,30 -0,81 +17,83 5,34M
 BBSE3 BBSEGURIDADEON 27,59 -0,58 +0,33 6,77M
* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)

Noticiário político

O radar político desta sexta-feira ainda tem como foco o desenrolar da votação da denúncia contra o presidente Michel Temer, após a vitória dele na última quarta-feira. Conforme destaca o jornal Folha de S. Paulo, os partidos da base aliada do governo que votaram em massa a favor do peemedebista estão cobrando o preço do apoio. As legendas elevaram a a pressão por cargos ocupados por “infiéis”, sobretudo as pastas ocupadas pelo PSDB, que marcou elevada dissidência. Eles fazem duas ameaças principais, aponta o jornal: travar a discussão da reforma da Previdência e até retirar apoio ao presidente na votação de uma provável segunda denúncia apresentada pela PGR (Procuradoria Geral da República). 

Aliás, ontem, tanto Temer quanto o ministro da Fazenda Henrique Meirelles deram entrevistas manifestando otimismo sobre as reformas. À rádio Band News, o presidente afirmou sentir-se “fortalecido” para aprovar a reforma da Previdência, enquanto Meirelles disse que a expectativa do governo é aprovar até outubro a PEC e até, no máximo, novembro a reforma tributária. Já nos bastidores, a Folha informa que Temer consultou líderes da base sobre a possibilidade de começar a votação do projeto na primeira quinzena de setembro e finalizá-la em outubro, mas há resistências entre deputados governistas tanto em relação ao conteúdo como ao calendário. Assim, em conversas, o presidente reconheceu a necessidade de reorganizar a base antes dessa votação.

Sinais pós-votação da denúncia

De acordo com Samar Maziad, vice-presidente e principal analista para o Brasil da Moody´s, se o governo elevar a meta de déficit primário de R$ 139 bilhões para R$ 159 bilhões, não haverá alteração da classificação do rating soberano do Brasil. Como proporção do PIB, essa elevação será pequena, para 2,5% do PIB. Conforme destaca a LCA Consultores, para ele, pesa muito na classificação brasileira a credibilidade da equipe econômica que foca a agenda de reformas de médio prazo e a solidez da economia.

No final da tarde de ontem, analistas do JPMorgan elevaram o crédito soberano do Brasil para overweight. Eles apontaram que a vitória de Michel Temer na Câmara reduz as incertezas políticas e melhora a perspectiva da aprovação da reforma da Previdência. O crédito soberano do Brasil foi elevado, uma vez que é esperado que seu desempenho supere o de se seus pares no curto prazo, dado que níveis atuais de valuation e posicionamento de investidores ainda estão abaixo dos observados antes das denúncias contra Temer.

Vale destacar a fala do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn. reiterando a sinalização de que a Selic pode ser reduzida em 100 pontos base na reunião do Copom de setembro, se as condições que vigoravam em julho forem mantidas. Foram mencionados por ele a elevada ociosidade econômica, a inflação projetada abaixo da meta e a recuperação gradual da economia.

Por fim, atenção para a nova suspensão do aumento dos combustíveis em todo o país, segundo decisão do  juiz federal Ubiratan Cruz Rodrigues, da 1ª Vara Federal de Macaé (RJ). Ele atendeu a uma ação popular contra os efeitos do decreto assinado pelo presidente Michel Temer, no último dia 20, que aumentou as alíquotas do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) sobre a comercialização de gasolina, óleo diesel e etanol.  O reajuste nas alíquotas do PIS/Cofins sobre a gasolina, o diesel e o etanol foi determinado por meio de decreto presidencial no dia 20 de julho.  A alíquota subiu de R$ 0,3816 para R$ 0,7925 para o litro da gasolina e de R$ 0,2480 para R$ 0,4615 para o diesel nas refinarias. Para o litro do etanol, a alíquota passou de R$ 0,12 para R$ 0,1309 para o produtor. Para o distribuidor, a alíquota, antes zerada, aumentou para R$ 0,1964.

Dados de emprego

Tidos como o principal driver dos mercados nesta sexta-feira (4), os dados de emprego nos Estados Unidos registraram criação de 209 mil novas vagas em julho, ante alta de 222 mil no mês passado. As expectativas dos analistas consultados pela Bloomberg variavam de 125 mil a 220 mil, sendo a mediana 180 mil novos postos no período.

Os payrolls do setor privado apresentaram aumento de 205 mil novas vagas, ante estimativas de 180 mil e contra 194 mil registrados no mês anterior. Do lado do setor manufatureiro, foram gerados 16 mil novos postos de trabalho, contra expectativas de 5 mil; em junho, o indicador ficou em 12 mil novas vagas.

A taxa de desemprego, por sua vez, recuou de 4,4%, para 4,3%, atingindo seu menor patamar em 16 anos, ao passo que a média salarial subiu 0,3%, por US$ 26,36 a hora, de acordo com os dados apresentados pelo governo nesta manhã. O subemprego se manteve em 8,6%.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.