Com recesso na política, quais serão os grandes ‘drivers’ do mercado nesta semana?

Índice sinaliza sessão de volatilidade, com investidores adotando postura de cautela

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O recesso parlamentar tende a trazer um pequeno resfriamento no movimentado noticiário político, a despeito dos esforços nos bastidores do governo em conquistar o apoio necessário para evitar surpresas desagradáveis na volta das atividades parlamentares. Com isso, os mercados voltam as atenções aos indicadores econômicos. Nesta segunda-feira (17), o Ibovespa abriu sinalizando movimento de cautela por parte dos investidores. Às 12h18 (horário de Brasília), o benchmark da bolsa brasileira operava com variação negativa de 0,13%, a 65.353 pontos.

No mesmo horário, os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 recuavam 2 pontos-base, a 8,65%, ao passo que os DIs com vencimento em janeiro de 2021 caíam 6 pontos-base, a 9,65%. No radar, destaque para as projeções mais otimistas do mercado para a inflação e as expectativas por um corte a mais na Selic neste ano, conforme mostra o relatório Focus, do Banco Central. Já os contratos de dólar futuro com vencimento em agosto deste ano operavam estáveis, a R$ 3,189.

Confira os destaques desta segunda e da semana:

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Destaques da Bolsa

Do lado acionário, os papéis da Petrobras (PETR3; PETR4) operam em leve queda, acompanhando o desempenho dos preços do petróleo. Lá fora, os contratos do petróleo WTI registravam queda de 0,52%, a US$ 46,30, enquanto os contratos do Brent recuavam 0,37%, a US$ 48,73 o barril. No radar da companhia, o jornal Folha de S. Paulo informa que a Petrobras deve acelerar seu processo de parcerias e desinvestimentos e comunicar a venda de outros ativos nos próximos meses, principalmente a partir de setembro, após as férias no hemisfério norte.

A companhia ainda anunciou um novo reajuste de preços nos combustíveis. Segundo a estatal, será feito um aumento do preço médio nas refinarias em 0,7% para a gasolina e em 0,8% para o diesel. Os novos preços entram em vigor a partir da meia-noite desta terça-feira (17). A nova política de revisão de preços foi divulgada pela petroleira no dia 30 de junho. Com o novo modelo, a Petrobras espera acompanhar as condições do mercado e enfrentar a concorrência de importadores.

A Petrobras também divulgou uma produção média de petróleo no Brasil em junho de 2,2 milhões de bopd (barris por dia), 0,6% superior na comparação com maio. A produção total de petróleo e gás natural da companhia em junho somou 2,81 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boed), dos quais 2,7 milhões boed produzidos no Brasil. A produção de gás natural no Brasil, excluído volume liquefeito, somou 80,3 milhões de metros cúbicos/dia, alta de 1,8% frente a maio.

As ações da Vale (VALE3; VALE5) sobem acompanhando os preços do minério de ferro. Hoje, a commodity spot (à vista) negociada no porto de Qingdao, na China, subiu 1,63%, a US$ 66,81 por tonelada, enquanto os contratos futuros do minério de ferro negociados na bolsa chinesa de Dalian avançaram 3,13%, a 495 iuanes. Seguem o movimento positivo as ações da Bradespar (BRAP4) — holding que detém participação na Vale – e as siderúrgicas.

A JBS informou que sua subsidiária indireta, a JBS Canadá, fechou um acordo para a venda de sua operação de confinamento e de uma fazenda adjacente, localizados em Brooks, no estado de Alberta, no Canadá, à MCF Holdings. O valor da transação foi de 50 milhões de dólares canadenses, cerca de US$ 40 milhões. De acordo com fato relevante divulgado pela JBS, o acordo de venda prevê que a MCF continuará fornecendo gado para a unidade de produção de carne bovina da JBS Canadá, em Brooks. A conclusão da transação, acrescenta o comunicado, está condicionada à aprovação pelas autoridades competentes.

Além disso, o Conselho de Administração da companhia autorizou acordo para estabilização e renegociação de dívidas do grupo de alimentos e proteína animal com bancos credores. Esse acordo prevê “a substituição das operações de dívida celebradas com os bancos ou prorrogação das parcelas de principal”, segundo ata da reunião realizada na sexta-feira passada. Já um acordo de “renegociação” foi aprovado com o Itaú Unibanco, afirmou a JBS no documento sem dar mais detalhes.

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

C?d. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 BRKM5 BRASKEM PNA 37,11 +2,74 +8,35 5,07M
 VALE3 VALE ON 29,92 +1,36 +28,66 3,23M
 GOAU4 GERDAU MET PN 5,51 +1,29 +14,79 3,29M
 ECOR3 ECORODOVIAS ON 11,25 +1,26 +39,52 895,87K
 RAIL3 RUMO S.A. ON 9,70 +1,15 +57,98 2,97M

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

C?d. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 UGPA3 ULTRAPAR ON 76,89 -2,11 +13,87 11,35M
 ELET3 ELETROBRAS ON 14,42 -1,17 -31,72 1,37M
 HYPE3 HYPERMARCAS ON 28,72 -1,07 +12,42 2,56M
 CSAN3 COSAN ON 35,16 -0,96 -5,46 900,86K
 PCAR4 P.ACUCAR-CBDPN 67,34 -0,78 +23,00 3,43M
* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)

Relatório Focus

As expectativas do mercado para o desempenho da inflação oficial e da taxa básica de juros voltaram a cair, conforme aponta a mais recente edição da pesquisa Focus, feita semanalmente pelo Banco Central com economistas. Segundo o levantamento, a mediana das projeções para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) caíram de 3,38% para 3,29% neste ano, ao passo que para o ano seguinte recuaram de 4,24%, para 4,20%.

Do lado dos juros, os economistas passaram a projetar mais um corte neste ano. Agora, a mediana das expectativas para a Selic foram de 8,25% para 8% em 2017, enquanto para o ano seguinte, as projeções seguiram em 8%. Do lado do PIB (Produto Interno Bruto), o cenário é o mesmo do último levantamento: 0,34% e 2% para os dois anos, respectivamente. Já para o câmbio, as apostas são de que o dólar encerre este ano a R$ 3,30 (R$ 0,05 a menos em comparação com a última pesquisa) e o ano seguinte a R$ 3,45 (mesmo patamar do levantamento da semana passada).

Entre os cinco economistas que mais acertam em suas projeções — o chamado “top 5” –, no cenário de curto prazo, as projeções para a inflação oficial subiram de 3,03% para 3,07% em 2017 e continuaram em 4,49% em 2018. Já para a Selic, as apostas continuam em 8% nos dois anos. Para o câmbio, as expectativas continuaram no dólar valendo R$ 3,45 ao final deste ano, ao passo que para o ano seguinte caíram de R$ 3,58 para R$ 3,55.

Noticiário político

O início do recesso no Congresso nesta semana tende a trazer maior tranquilidade ao noticiário político nos próximos dias. Porém, os bastidores devem seguir movimentados com os esforços do governo em barrar a denúncia contra Michel Temer, cuja votação no Plenário da Câmara ficou marcada para 2 de agosto. Segundo a Folha de S. Paulo, o presidente já admite a possibilidade de postergar a decisão para setembro em meio às dificuldades em conseguir quórum. No entanto, ao G1, o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ) descartou essa possibilidade. 

“A expectativa deste assunto precisa ter fim ainda em agosto. O quórum precisa ser elevado. Se não tiver quórum no dia 2, vou repautar ainda em agosto. Mais para o meio de agosto do que para o fim, até porque ninguém quer esta situação. Não podemos deixar o governo nessa situação, pendurado”, disse Maia ao G1.

Mesmo em meio à expectativa de um noticiário mais tranquilo na política, uma “surpresa” pode vir com a confirmação de uma delação premiada do ex-deputado Eduardo Cunha durante o recesso parlamentar. 

Ainda sobre o noticiário político, atenção para a “polêmica” do último fim de semana de que o relator da reforma política na comissão especial da Câmara dos Deputados, deputado Vicente Cândido (PT-SP), deve incluir em seu parecer um artigo que, se aprovado, impedirá a partir da eleição de 2018 a prisão de candidatos até oito meses antes da eleição. Por fim, a defesa do ex-presidente Lula  recorreu da decisão do juiz federal Sérgio Moro de condená-lo a nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Apresentados na sexta-feira pelos advogados do ex-presidente, os chamados embargos de declaração pedem que Moro esclareça “omissões, contradições e obscuridades” na decisão.

Reforma da Previdência e Refis

Mesmo em meio à crise política, o governo Temer ainda tem expectativas em aprovar pelo menos uma fatia da reforma da Previdência, apontam jornais deste final de semana. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), admite votar apenas parte do projeto proposto e adiar “para 2018 ou para o futuro” a decisão sobre temas polêmicos que podem ser barrados pelo Congresso. 

Já a Folha de S. Paulo destaca que as alterações feitas pelo governo para viabilizar a reforma da Previdência na Câmara (que atualmente está com a tramitação parada diante da crise política) aumentaram em mais de 40% a expectativa de economia com a aposentadoria de servidores públicos federais na próxima década. Para o regime dos servidores da União, a expectativa era que o texto original gerasse R$ 62 bilhões de economia de 2018 a 2027. Com as mudanças na Câmara, o número saltou para R$ 88 bilhões.

Atenção ainda para as mudanças feitas pelo deputado Newton Cardoso Jr. (PMDB-MG) no texto do novo Refis proposto pelo governo, que colocaram em risco o cumprimento da meta fiscal deste ano e podem impor um perdão de 73% da dívida a ser negociada no programa de parcelamento. O levantamento do impacto feito pela área técnica do Ministério da Fazenda, obtido pelo ‘Estadão/Broadcast’, mostra que a arrecadação prevista para 2017 pode derreter, passando de R$ 13,3 bilhões para apenas R$ 420 milhões. O tamanho do buraco não só surpreendeu negativamente a equipe econômica como criou um imbróglio político para o governo, que precisará reverter o estrago feito no relatório em meio à busca de votos para barrar a denúncia contra o presidente Michel Temer.

Agenda econômica da semana

Um dos grandes “eventos” da semana é o início da temporada de resultados corporativos do segundo trimestre, apesar de ainda contar com poucas divulgações: Weg, Localiza e Paranapanema, a partir de quarta-feira (19).

No Brasil, atenção especial para o IPCA-15, que após a deflação de junho deve mostrar uma nova queda da taxa neste início de mês. Marcado para ser divulgado na quinta-feira (20), às 9h (horário de Brasília), o indicador deve registrar queda de 0,13%, segundo compilado pela Bloomberg, ante resultado de +0,16% no mês passado. Ainda saem nesta semana o IGP-10 e IPC-S (ambos segunda-feira às 8h), IPC-Fipe (quarta-feira às 5h) e contas externas de junho. Relatório de despesas e receitas deve ser divulgado na sexta-feira e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles já fala na possibilidade de liberação de recursos.

No exterior, após um CPI abaixo do esperado corroborar com o discurso dovish da presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, nesta semana o ritmo da divulgação de indicadores cai bastante. Os únicos indicadores com maior potencial de impacto aparentemente são o Empire Manufacturing  de julho (nesta segunda-feira às 9h30) e o de vendas de moradias novas de junho (quarta-feira às 9h30). 

Atenção ainda para as reuniões de política monetária.  O BCE tem reunião na próxima quinta-feira em meio à expectativa de que, diante da melhora de atividade na zona do euro, haja sinalização de redução dos estímulos, mas analistas esperam que taxas fiquem estáveis. Encontro do BOJ, seguido de fala de Kuroda, também chama a atenção dos mercados.

(Com Bloomberg, Agência Estado e Agência Brasil)

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.