Ibovespa sobe 5% na melhor semana em mais de um ano e dólar cai 3% com melhora de humor

Índice registra alta em todos os dias da semana após aprovação da reforma trabalhista, condenação de Lula e vitória de Temer na CCJ

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – A vitória parcial do presidente Michel Temer na Câmara dos Deputados ao aprovar relatório favorável à sua permanência no cargo na CCJ, junto com a reforma trabalhista e a notícia da condenação de Lula pelo juiz Sérgio Moro levaram o Ibovespa a registrar alta em todos os dias da semana, chegando ao seu maior patamar desde a “bomba” da delação da JBS.

Com tudo isso no radar, o benchmark da bolsa brasileira fechou esta sexta-feira (14) com ganhos de 0,40%, aos 65.436 pontos, acumulando na semana uma alta de 5,00%, em seu melhor desempenho semanal desde abril de 2016, quando subiu 5,84%. O volume financeiro ficou em R$ 6,189 bilhões nesta sessão, com ajuda de altas de mais de 1% das blue chips Petrobras e Vale.

Os contratos de dólar futuro com vencimento em agosto deste ano, por sua vez, caíram 0,87%, sinalizando cotação de R$ 3,195. Já o dólar comercial, recuou 0,73%, para R$ 3,1849 na venda, na quinta queda em seis pregões, acumulando perdas de 2,88% no período.

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Os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 recuaram 4 pontos-base, a 8,67%, ao passo que os DIs com vencimento em janeiro de 2021 caíram 12 pontos-base, a 9,71%. As perdas ocorreram diante da percepção de maiores dificuldades na retomada da economia brasileira podem levar o Banco Central a uma postura mais agressiva sobre os juros. 

Além do cenário político de vitória e derrota do governo, impacta o desempenho dos papéis no mercado de renda fixa a divulgação do IBC-Br (índice de atividade calculado pelo Banco Central) de maio, que marcou recuo de 0,51% na comparação mensal, abaixo que a projeção mais pessimista, que indicava recuo de 0,50%. Com isso, o indicador chegou aos 133,77 pontos, em seu menor patamar desde janeiro.

No exterior, o CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) dos Estados Unidos ficou em junho ante maio, após ajustes sazonais, informou o Departamento do Trabalho. O resultado veio abaixo da previsão de analistas ouvidos pelo Wall Street Journal, que estimavam alta de 0,1%. O núcleo do CPI, que exclui itens voláteis, como alimentos e energia, teve alta de 0,1%, menor que a previsão de ganho de 0,2% dos analistas. Os preços ao consumidor em doze meses subiram 1,6% em junho, abaixo do avanço de 1,9% de maio.

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Destaques da Bolsa

Do lado acionário, os papéis da Petrobras fecharam em alta, seguindo a cotação do petróleo. No mercado internacional, os contratos futuros do WTI registraram alta de 0,52%, a US$ 46,32 o barril, enquanto os futuros do Brent subiam 0,48%, a US$ 48,65 o barril. No radar, a estatal anunciou nesta sexta-feira um novo reajuste de preços nos combustíveis, com corte do preço médio nas refinarias em 1,9% para a gasolina e uma queda de 0,7% para o preço do diesel. Os novos preços entram em vigor a partir da meia-noite deste sábado (15).

As ações da Vale subiram nesta sessão, apesar do dia de leve queda do minério de ferro. A commodity negociada no porto de Qingdao, na China, fechou em queda de 0,26%, a US$ 65,74 a tonelada, nesta sexta-feira. Seguiram o movimento positivo as ações da Bradespar — holding que detém participação na mineradora — e das companhias do setor siderúrgico.

Do lado do Bradesco, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) aceitou a proposta para encerrar um processo contra o banco e os executivos Robert John Van Dijk e Denise Pavarina, com o pagamento de R$ 1,5 milhão. O caso é relacionado ao Bradesco Fundo de Investimento em Cotas de Fundos de Investimento Curto Prazo Fácil. 

A área técnica da autarquia responsabilizou os envolvidos por manter a taxa de administração em “patamar incompatível com os objetivos de investimento, inviabilizando que a rentabilidade do fundo se aproximasse aos objetivos previstos em regulamento”. A área também avaliou que suas práticas feriram a relação fiduciária entre administrador e gestor e cotistas.

Os acusados apresentaram ao diretor relator do caso, Henrique Machado, proposta conjunta de termo de compromisso para pagamento à CVM de R$ 450 mil. Deste total, R$ 300 mil seriam pagos pelo Bradesco e R$ 75 mil por cada um dos diretores. Verificando que havia outro processo administrativo sancionador em curso com acusação similar, os acusados apresentaram nova proposta de pagamento à CVM no montante de R$ 1,5 milhão, sendo R$ 1,1 milhão pelo Bradesco e R$ 200 mil para cada um dos diretores.

Ainda no noticiário da instituição financeira, o Estadão informa que o primeiro plano de demissão voluntária do Bradesco, anunciado ontem, deve alcançar ao menos 5 mil colaboradores e, de acordo com fontes ouvidas pelo jornal, chegar a 10 mil funcionários, em uma estimativa de adesão maior.

As maiores altas, dentre as ações que compõem o índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 MRVE3 MRV ON 13,84 +3,28 +32,21 151,30M
 KLBN11 KLABIN S/A UNT N2 16,50 +2,48 -5,31 24,02M
 CMIG4 CEMIG PN 9,00 +2,16 +19,91 74,39M
 QUAL3 QUALICORP ON 31,57 +1,77 +67,65 35,16M
 BRKM5 BRASKEM PNA 36,12 +1,75 +5,46 31,07M

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 ELET3 ELETROBRAS ON 14,59 -4,64 -30,91 41,91M
 LREN3 LOJAS RENNERON 28,95 -2,00 +38,17 47,83M
 MRFG3 MARFRIG ON 6,75 -1,75 +2,12 6,88M
 NATU3 NATURA ON 24,63 -1,20 +7,54 289,05M
 WEGE3 WEG ON 19,00 -1,04 +23,88 20,13M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 PETR4 PETROBRAS PN 13,05 +1,40 465,45M 510,11M 25.153 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 37,58 +0,21 337,05M 360,87M 24.059 
 VALE5 VALE PNA 27,80 +1,39 318,88M 513,56M 20.636 
 BBDC4 BRADESCO PN 29,70 +0,10 299,44M 282,37M 22.515 
 NATU3 NATURA ON 24,63 -1,20 289,05M 52,58M 6.263 
 JBSS3 JBS ON 7,15 -0,97 193,51M 107,13M 28.444 
 BVMF3 BMFBOVESPA ON 20,53 +0,39 180,20M 128,06M 15.306 
 ITSA4 ITAUSA PN 9,21 -0,22 170,92M 119,60M 32.311 
 KROT3 KROTON ON 15,50 +1,64 167,34M 208,03M 13.381 
 BBAS3 BRASIL ON 29,41 +1,07 157,48M 201,35M 10.964 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Denúncia contra Temer
No noticiário político, destaque para a vitória do presidente Michel Temer na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara, após diversas trocas de membros da comissão, mas também houve derrota no cronograma de votação no Plenário, que ficou para depois do recesso parlamentar, à revelia dos esforços do governo em acelerar o trâmite.

A CCJ aprovou parecer que defende rejeição da denúncia contra Temer por 41 votos contra 24 e 1 abstenção; antes, o colegiado havia rejeitado parecer por seguimento da denúncia por 44 a 25 votos, além de uma abstenção. Para o governo, resultado mostra base forte de Temer: “vitória na CCJ por 15 votos a mais do que o necessário é a comprovação robusta da grande sustentação da base parlamentar do presidente Michel Temer”, afirmou o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. 

Por outro lado, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, anunciou que a votação do parecer contrário ao prosseguimento da denúncia ocorrerá no próximo dia 2 de agosto, após o recesso parlamentar. De acordo com ele, a decisão foi tomada após um acordo feito com as lideranças do governo e da oposição. A decisão foi considerada um revés para o Planalto, uma vez que será um risco bem maior para o governo. Isso porque a possibilidade de surgirem “fatos novos” até lá ameaçam a recuperação do peemedebista, principalmente com a possibilidade de delações premiadas do deputado cassado Eduardo Cunha e do doleiro Lúcio Funaro.

Além do governo Temer, o noticiário político também segue de olho nos próximos movimentos após condenação de Lula pelo juiz Sérgio Moro. De acordo com os jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, que citam ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), a possibilidade de o petista conseguir uma liminar na corte que o permita concorrer à Presidência, mesmo se condenado em segunda instância, é considerada remota entre magistrados.

Henrique Meirelles e FMI

No noticiário econômico, destaque para as falas do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que ontem reconheceu a importância do alerta feito na quarta-feira pelo Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a hipótese de descumprimento da meta fiscal deste ano. “É um alerta importante e vamos observar. Vamos atender e estamos, de fato, já em alerta sobre isso. Vamos prestar ainda mais atenção, nos dedicar ainda mais e levar muito a sério a recomendação”, disse em rápida entrevista após a cerimônia de sanção da reforma trabalhista. O ministro foi também questionado sobre a possibilidade de avanço da reforma da Previdência neste ano. “Acho que sim. Tem chance de ser neste ano, sim. É possível”, disse. 

Vale destacar ainda que o Congresso Nacional aprovou na noite de ontem a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) para 2018. A lei serve de base para a elaboração do Orçamento de todo o poder público no ano que vem.  O texto, que segue para sanção presidencial, mantém a meta fiscal proposta pelo governo e prevê para 2018 deficit primário de R$ 131,3 bilhões para o conjunto do setor público consolidado (que engloba o governo federal, os estados, municípios e as empresas estatais). Esta será a primeira LDO a entrar em vigor após aprovação da Emenda Constitucional do Teto de Gastos Públicos, que atrela os gastos à inflação do ano anterior, por um período de 20 anos.

Ainda no radar econômico, o FMI (Fundo Monetário Internacional) elevou levemente a projeção para o crescimento do Brasil em 2017, de 0,2% para 0,3%, mas baixou a previsão para 2018, de 1,7% para 1,3%. No longo prazo, o FMI considera uma taxa estável de 2% de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2019 a 2022. “Enquanto o fim da recessão aparenta estar à vista, uma recente elevação da incerteza política colocou uma sombra sobre a perspectiva econômica”, aponta o FMI. 

(Com Bloomberg, Agência Estado e Agência Brasil)

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.