ESPECIAL: 6 das ações preferidas dos principais “value investors” do Brasil

Gestores de ações que participaram da 10ª edição do "Value Investing Brasil" falaram sobre algumas das as empresas que eles gostam para um horizonte de longo prazo

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – Soa quase como uma blasfêmia dizer “compre ações e esqueça elas” logo depois de uma semana tão traumática que tivemos na bolsa brasileira. Mas quando falamos com “value investors” (investidores de valor, ou aqueles que seguem os conceitos de Warren Buffett, comprando ações com foco no longo prazo), essa é a maneira como deveríamos encarar (ou pelo menos tentar) nossas aplicações no mercado acionário: buscar um relacionamento de longo prazo e olhar para a empresa com a mentalidade de sócio, e não como especulador.

Na última terça-feira (23), alguns dos principais adeptos desta estratégia de investimentos no Brasil participaram da 10ª edição do “Value Investing Brasil”, evento realizado durante o dia toda em um hotel localizado na Vila Olímpia, zona sul de São Paulo. Dentre os 7 palestrantes brasileiros do evento, 4 deles comentaram sobre suas ações prediletas dentre as que eles possuem em carteira.

O InfoMoney separou 6 ações que foram mais exploradas pelos gestores durante o evento: Eztec (EZTC3), Duratex (DTEX3), B3 (antiga BM&FBovespa, BVMF3), Tupy (TUPY3), Equatorial Energia (EQTL3) e Energisa (ENGI11).

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Para entrarem neste seleto grupo dos “queridinhas” dos investidores de valor, é necessário que estas empresas apresentem um bom histórico de resultados sólidos e crescentes, consigam impor diferenciais competitivos relevantes e mantenham uma certa previsibilidade em suas demonstrações financeiras. Por conta disso, não é surpresa notar que estas 6 companhias ser muito bem cotadas em bolsa. As ações de B3, Equatorial, Energisa e Eztec estão bem próximas de suas máximas históricas, enquanto Eztec chegou perto de seu topo histórico neste mês. Tupy e Duratex não têm tido anos tão brilhantes, mas também estão cotadas perto de seus níveis máximos.

Além da apresentação de boas ações para investir, o evento também trouxe uma percepção dos gestores sobre os cenários caso a Reforma da Previdência – algo tão desejado pelos investidores – não seja aprovada. Além da expectativa de queda menor da Selic e do aumento de impostos, uma das possibilidades citadas foi a extinção do JCP (juros sobre capital próprio) distribuído aos acionistas, algo que impactaria diretamente as ações de bancos como Itaú e Bradesco (clique aqui para ler mais sobre a cobertura do evento).

Confira a análise de cada um das 6 ações e os gestores que falaram sobre elas no evento:

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1) Eztec (EZTC3): um “porco-espinho” no setor “raposa”

Gestor que falou da ação: Luiz Felipe Amaral, da Equitas Investimentos
Temos ações da Eztec há 8 anos [ação era negociada entre R$ 1,15 e R$ 5,60 em 2009; hoje, ela vale cerca de R$ 18]. O setor de construção tem baixa barreira de entrada, o que dificulta a criação de um ambiente de “earnings growth” (crescimento de lucro). Mesmo assim, a Eztec é disparada a melhor empresa do setor em várias métricas, desde resultados contábeis até margens operacionais e financeiras. Ela é a única do setor que desde seu IPO (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês) entregou um rendimento maior do que o capital investido.

Quando falamos de Eztec, gostamos da fazer uma analogia com a “raposa e o  porco-espinho” [fábula grega que diz que a raposa sabe muitas coisas, enquanto o porco-espinho sabe uma só, mas muito importante]. O setor imobiliário é como uma raposa, onde você pode atuar em diversos mercados de diversas faixas de renda. A Eztec, por sua vez, é um porco-espinho, que só entende a região de São Paulo e o cliente de alta renda. Então ela sempre focou só nisso e conseguiu alcançar o máximo de eficiência neste segmento. Ela faz exatamente aquilo que ela é boa em fazer e não inventa moda: compra terreno, busca o máximo de eficiência e vende mais caro.

A Eztec foi muito bem ao olhar projeto a projeto da companhia e costuma entregar resultados melhores do que o orçado. Por valuation, hoje paga-se 10% de desconto sobre o valor de liquidação da empresa, ou seja, quando compramos uma ação da Eztec hoje pagamos menos do que se ela fosse liquidada e ainda levamos “de graça” a expectativa de crescimento futura. É a ação “net-net” que Benjamin Graham [investidor que é tido por Warren Buffett como seu principal mentor] tanto defende. A Eztec relativamente parece cara frente ao setor, mas os fundamentos mostram que ela está barata em relação ao seu histórico. Sobre caixa gerado das operações: acreditamos que ela fará o melhor uso possível deste dinheiro, seja decidindo por distribuir como dividendos, seja reinvestindo ou fazendo aquisições. 

2) Duratex (DTEX3): Ebitda pode dobrar em até 4 anos

Gestor que falou da ação: Paulo Weickert, da Apex Capital
Muito ligada ao setor de consumo, mas tem forte correlação com o setor imobiliário. O segmento Deka (metais e louças) tem relação com imóveis novos. Múltiplo da empresa parece caro, mas não está, pois ela trabalha com 55% da capacidade ociosa, então ela não precisa de muito capex (investimentos em bens de capital) para crescer. A margem em 2017 foi de 17%, contra média histórica de 30%. Como o produto da Duratex tem uma correlação de 3x com o PIB (Produto Interno Bruto), há uma expectativa de recuperação de volumes e também com preço. Ou seja, mais volume de vendas e maior margem.

Olhando para os próximos 3 ou 4 anos, a margem pode ser novamente igual a 30% ou até maior que isso. Sendo assim, o Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) pode dobrar neste período. Logo, o múltiplo atual dela está bem descontado quando olhamos para o projetado no longo prazo. 

3) B3 (antiga BM&FBovespa, BVMF3): um “monopólio” por escolha do próprio mercado

Gestor que falou da ação: Pedro Sales, Verde Asset:
O livro “Flashboys” explica por que ter duas bolsas é mais maléfico do que benéfico para um mercado. De uma maneira resumida: você consegue mandar uma ordem via fundo de uma bolsa e mandar a ordem contrária via outro fundo em outra bolsa e arbitrar esses valores. Mercado mostra que é melhor ter uma bolsa do que duas. Então, não é um monopólio de fato, pois tanto o mercado quanto os clientes e reguladores preferem que seja assim. Ela faz muito bem o que faz sozinha e deve manter isso para os próximos 3, 5 ou 10 anos.

Além disso, a quantidade dinheiro crescerá na economia nos próximos, e mesmo que isso ocorra numa velocidade menor, o dinheiro existente em bolsa não cresceu nos últimos anos, e acreditamos que isso não é o normal. Então a B3 tem alto espaço para crescimento, possui alta barreira de entrada e o mercado prefere que ela continue atuando sozinha. Um ponto extra: o investimento para ela manter esse crescimento é muito baixo, o que abre espaço para que ela distribua 100% do lucro aos acionistas.

Em nossas contas, ela pode ter um retorno em dividendos na faixa de 6% a 7% ao ano. Somando isso à expectativa de valorização das ações, o retorno pode chegar a 16%, 17% ao ano, fazendo uma conta superficial. Sobre block chain: temos essa evolução tecnológica como o maior risco para o setor. Mas o principal ponto disso é que ninguém no mundo tem noção de como será quando essa tecnologia chegar. Nossa opinião: se viver, vai demorar muito, pois envolve sistema de segurança. 

4) Tupy (TUPY3): exposição “fora do radar” interessante para dólar

Gestor que falou da ação: Luiz Felipe Amaral, da Equitas Investimentos
É um investimento que temos há 4 anos. Ela produz blocos e cabeçotes de motor a diesel, é uma engenharia extremamente complexa, necessita-se em média de 2 anos de alinhamento entre fornecedores e fabricantes. A vantagem dessa demora é que temos um baixíssimo “switch and cost”, que é a troca de fornecedores. Soma-se a isso o fato do mercado ter encolhido bastante no mundo nos últimos anos, o que tirou o interesse para entrada de novos players. Como ela atua fortemente no mercado internacional, ela tem boa parte da sua receita atrelada ao dólar, o que nos fez encarteirar algumas ações nesse momento de incerteza, já que o mercado tratou a Tupy como uma “empresa doméstica”, isto é, desconsiderou o efeito positivo da alta do dólar.

O resultado de 2016 foi ruim, mas por fatores pontuais. A capacidade ociosa mais a baixa concorrência diminui necessidade de investimentos, o que pode resultar em forte geração de caixa direto para os acionistas. Carros elétricos são um grande risco, mas resta saber se eles virão daqui 5, 10, 15, 20 anos…

5) Equatorial (EQTL3): uma empresa fora da curva em um setor bem regulado

Gestor que falou da ação: Pedro Sales, da Verde Asset
A empresa atua em distribuição de energia, que é um monopólio em cada região do Brasil, pois você não abre concorrência para saber qual energia é melhor para usar na tua casa, você usa aquela que já é entregue. E a Equatorial se diferencia em dois pontos principais: gestão de pessoas que tocam os projetos e bom uso do capital.

A história de sucesso da Equatorial começa em 2004, quando ela comprou a Cemar “quebrada” por R$ 1,00 e a transformou de uma das piores empresas de energia do Brasil em uma das melhores. Para ter uma noção da melhora: as quedas de energia caíram de 65 horas/ano para 15 horas/ano, o roubo de energia caiu 40% e o Ebitda passou de R$ 100 milhões negativos para R$ 700 milhões positivos. Em 2013: comprou a Celpa, que pouco mais da metade da transformação foi concluída: passou de Ebitda negativo para positivo e reduziu fortemente a queda de energias hora/ano (embora o nível siga alto).

As próximas oportunidades para a Equatorial podem estar nas distribuidoras da Eletrobras: é uma história velha, mas que voltou com força recentemente. Em termos de valuation, a Equatorial é negociada a um P/L (Preço/Lucro) projetado para 2017 de 12,5x; colocando transmissão, que ainda não entrou nas contas, cai para 11x. E um item que não está nas minhas contas nem na de ninguém do mercado são as oportunidades que de aquisição que surgirão.

6) Energisa (ENGI11): pode ser uma “nova Equatorial”?

Gestores que falaram da ação: Flavio Sznajder, da Bogari Capital e Pedro Sales, da Verde Asset

Flavio Sznajder: a Energisa tem tudo pra ser uma nova Equatorial. Primeiro ponto que eu gosto sobre ela é que empresas que possuem um controle estratégico me atraem mais do que empresas que têm controladores “financeiros”. As exceções de empresas cujo controlador vem do lado financeiro e não do mercado de atuação da empresa e que me agradam são Lojas Americanas, Ambev e Equatorial. A Energisa é controlada por um player que atua no setor, pois é uma empresa de família e que existe há mais de 100 anos, então ela já viveu de tudo dentro deste setor. Outro ponto que gostamos é que a Equatorial não teve sucesso apenas pela gestão: o setor é bem regulado e ajudou bastante. A compra do Grupo Rede [em 2014] foi a grande tacada da companhia.

Pedro Sales: comparar Energisa com Equatorial é injusto pois a Equatorial já conquistou o mercado pela sua excelência e ela é muito fora da curva no setor. A Energisa faz uma boa gestão, mas pelo histórico menor, ela ainda tem um caminho maior a percorrer. Ela precisa ser testada para de fato mostrar sua excelência.

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers