Ibovespa zera perdas no fim com virada da Vale; DIs têm nova queda de olho na crise política

Índice operou em queda durante toda a tarde com as ações da Petrobras e Vale no negativo, mas conseguiu se recuperar no fim do pregão

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Após um dia de elevado nível de tensão em Brasília, em decorrência dos protestos contra o presidente Michel Temer e com o mercado de olho na agenda das reformas, o Ibovespa passou por maior volatilidade nesta quinta-feira (25), reduzindo as perdas na reta final do pregão.

O benchmark da bolsa brasileira fechou com leve queda de 0,05%, aos 63.226 pontos, com a virada para alta da Vale ajudando a compensar as perdas de Petrobras. Enquanto isso, a JBS disparou mais de 20% após notícias de que a companhia contratou o Bradesco BBI para vender a Alpargatas, Eldorado e Vigor. Apesar da forte alta, vale ressaltar que a companhia tem participação de apenas 1% no índice, ou seja, esse ganho teve um “impacto” no Ibovespa de 0,2%.

Já o dólar comercial encerrou o dia com alta de 0,12%, cotado a R$ 3,2830 na venda, enquanto os contratos de dólar futuro com vencimento em junho subiram 0,17%, sinalizando cotação de R$ 3,287. O movimento da moeda americana ocorre mesmo após o Banco Central colocar todos os 8.000 contratos de swap cambial em rolagem em junho.

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Os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018, por sua vez, apresentaram recuo de 4 ponto-base, a 9,54% – uma queda de 55 pontos-base desde a quinta passada quando explodiu o caso político no país -, ao passo que os DIs com vencimento em janeiro de 2021 caíram 8 pontos-base, a 10,67%.

“Mercado deve seguir monitorando disposição de Temer em renunciar e nomes possíveis para sua substituição”, disse Rogério Braga, sócio-gestor da Quantitas Gestão de Recursos, à Bloomberg. “Mercado entende que saída de Temer aumenta a probabilidade de governo conseguir passar mais algumas medidas”, completou.

Destaques da Bolsa

Do lado acionário, os papéis da Petrobras (PETR3; PETR4) viraram para queda durante a tarde, puxados também pelo recuo dos preços do petróleo no mercado internacional. O movimento da commodity ocorre após a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) decidir nesta quinta prorrogar os cortes na produção de petróleo em nove meses, até março de 2018. Apesar de aparentemente positivo, a decisão desapontou alguns investidores, que esperavam uma redução por um período ainda maior.

Ainda no radar, a Petrobras realizou uma coletiva onde informou que, “tendo foco na maximização de valor do seu portfólio”, “concluiu por exercer o direito de preferência” com o percentual mínimo de 30% para a 2ª e 3ª rodadas de licitações de blocos exploratórios sob o regime de partilha de produção no pré-sal. As áreas envolvidas são a 2ª Rodada: área unitizável adjacente ao campo de Sapinhoá e a 3ª Rodada: Peroba e Alto de Cabo Frio Central.

Além disso, a estatal informou que tomou ciência de decisão da 3ª Vara da Justiça Federal de Sergipe de extinguir uma ação popular que tentava suspender a cessão dos direitos sobre campos em águas rasas em Sergipe e no Ceará, o que na prática libera a venda dos ativos. A petroleira havia realizado pedido pela extinção do processo baseada em decisão do Tribunal de Contas da União, que autorizou a continuidade do programa de desinvestimentos da empresa.

As ações da JBS (JBSS3) voltaram a disparar nesta sessão, em meio à notícia de que o grupo J&F – que controla a empresa – contratou o Bradesco BBI para vender as empresas Alpargatas, Eldorado e Vigor. A informação é do jornal O Estado de S. Paulo e teria sido confirmada com uma fonte próxima à empresa e uma fonte próxima ao banco. Vale lembrar que no início desta semana uma notícia da Reuters apontava que a empresa teria contrato o mesmo banco – Bradesco BBI – para a venda de ativos, no entanto, a assessoria de imprensa da J&F negou a informação. 

Em resposta a questionamento da CVM sobre motivos pelos quais a companhia não divulgou fato relevante ao mercado sobre acordo de colaboração premiada, quando já circulavam notícias a respeito desde a noite de 17 de maio de 2017, a JBS disse que divulgou comunicado no dia 18 de maio, mesmo dia em que tomou conhecimento das informações, quando foram disponibilizadas pelo ministro Edson Fachin.

As maiores altas, dentre as ações que compõem o índice Bovespa, foram:

 C?d. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 JBSS3 JBS ON 8,21 +22,54 -27,75 430,63M
 FIBR3 FIBRIA ON 36,95 +6,03 +18,71 176,46M
 KLBN11 KLABIN S/A UNT N2 17,45 +5,12 +0,14 50,01M
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 15,18 +5,05 +9,77 86,01M
 BRFS3 BRF SA ON 45,92 +2,61 -4,83 118,14M

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 CYRE3 CYRELA REALTON 10,86 -3,55 +6,50 47,00M
 ECOR3 ECORODOVIAS ON 9,47 -3,17 +17,45 24,74M
 SANB11 SANTANDER BRUNT 25,05 -2,64 -11,09 37,79M
 ITSA4 ITAUSA PN 8,80 -2,33 +8,20 287,15M
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 35,05 -1,88 +5,75 761,60M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 35,05 -1,88 761,60M 636,49M 27.240 
 PETR4 PETROBRAS PN 13,74 -1,43 620,92M 647,43M 44.970 
 VALE5 VALE PNA 26,18 +0,58 573,18M 689,61M 26.309 
 JBSS3 JBS ON 8,21 +22,54 430,63M 168,75M 59.531 
 BBDC4 BRADESCO PN 27,26 -0,69 297,21M 401,08M 24.605 
 ITSA4 ITAUSA PN 8,80 -2,33 287,15M 179,57M 37.860 
 BBAS3 BRASIL ON EJ 27,71 +0,40 252,20M 280,33M 25.983 
 BVMF3 BMFBOVESPA ON EJ 18,53 -1,44 227,37M 251,42M 21.692 
 FIBR3 FIBRIA ON 36,95 +6,03 176,46M 63,45M 11.051 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 18,92 +0,32 167,13M 296,99M 15.194 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Tensão política
Ontem foi mais um dia de tensão política. Após confrontos e depredações em ministérios, Michel Temer autorizou uso das Forças Armadas para “garantir ordem” até 31 de maio, segundo decreto publicado em edição extra do Diário Oficial, o que gerou polêmica, conflito entre poderes e afetou mercado na quarta-feira. Os manifestantes em Brasília incendiaram o Ministério da Agricultura, enquanto dezenas de milhares se reuniram na área da Esplanada dos Ministérios para exigir a saída do presidente Michel Temer. O ministro da Defesa Raul Jungmann disse que Temer decretou ação para “garantia da lei e da ordem”, o que levou a uma retomada do dólar na tarde de ontem com o agravamento dos protestos em Brasília.

Vale destacar que, na noite desta quarta, após a dispersão do protesto, integrantes da Defesa avaliavam que a ação das Forças Armadas não era mais necessária e Temer deve revogar o decreto. O governo ainda apontou, segundo o jornal, achar que a radicalização da manifestação deve esvaziar novos atos por diretas. Em reunião nesta quinta com o ministro da Defesa Raul Jungmann, o presidente avaliará se a medida será revogada. 

A tensão chegou na Câmara e, com a ausência de deputados da oposição, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou na noite de ontem seis medidas provisórias (MPs) que trancavam a pauta de votações da Casa. A aprovação das MPs ocorreu sem a presença da oposição que decidiu se retirar do plenário em protesto contra a edição do decreto do presidente Michel Temer que autorizou a presença das Forças Armadas nas ruas do Distrito Federal.

A decisão de abandonar o plenário foi tomada por deputados do PT, PSOL, Rede, PDT, PCdoB e PMB. Após o reinício dos trabalhos, o líder do PT, deputado Carlos Zarattini (SP), anunciou que os partidos de oposição decidiram retirar todos seus deputados do Plenário em protesto contra o decreto do presidente Michel Temer que prevê o emprego das Forças Armadas na Esplanada dos Ministérios entre os dias 24 e 31 de maio para “garantir a lei e a ordem”.

O pós-Temer

Em meio à eclosão da crise política, as negociações para a substituição de Temer continuam: jornais destacam que a saída via cassação pelo TSE passou a ser mais provável e a Folha apontou que os ex-presidentes FHC, Lula e José Sarney articulam o pós-Temer.  

O Valor Econômico, por sua vez, aponta que o impasse na sucessão de Michel Temer aumenta as dúvidas quanto ao prosseguimento da reforma da Previdência, na hipótese de renúncia. A relação dos cotados, que já foi mais extensa, concentra-se em três nomes – Tasso Jereissati (PSDB-CE), Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim, aponta o jornal. Ao afunilar a lista de possíveis candidatos, começam a surgir, também, os vetos. 

Ainda sobre Temer, a Folha ressalta que a Procuradoria-Geral da República deve pedir a abertura de um novo inquérito com base em diálogo do deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) com o presidente. Já o relator da Lava Jato no STF, Edson Fachin, barrou o depoimento de Temer à Polícia Federal. A defesa de Temer argumentou que perícia da PF na gravação da conversa entre o presidente e o empresário Joesley Batista ainda não terminou e um depoimento de Temer, portanto, não poderia ocorrer agora.

(Com Reuters, Bloomberg, Agência Brasil e Agência Estado)

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.