Puxado por Petrobras, bancos e Vale, Ibovespa ameaça perder os 63 mil pontos; DIs caem

A menos de uma hora do fechamento, em dia de forte volatilidade, índice sinaliza sessão negativa

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Após um dia de elevado nível de tensão em Brasília, em decorrência dos protestos contra o presidente Michel Temer e a agenda de reformas, que terminou em confronto e convocação — já revogada — das Forças Armadas pelo governo, o Ibovespa tem nova sessão de volatilidade nesta quinta-feira (25). Às 16h21 (horário de Brasília), o benchmark da bolsa brasileira caía 0,37%, a 63.026 pontos, puxado sobretudo pela virada das ações de Petrobras e Vale, além do mergulho dos bancos, após ensaiar uma sessão positiva na primeira hora de pregão. 

No mesmo horário, os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 apresentavam recuo de 4 ponto-base, a 9,54%, ao passo que os DIs caíam 8 pontos-base, a 10,67%. Já os contratos de dólar futuro com vencimento em junho subiam 0,40%, sinalizando cotação de R$ 3,295. O dólar comercial avançava 0,4%, a R$ 3,2923 na venda. O movimento da moeda americana ocorre mesmo após o Banco Central colocar todos os 8.000 contratos de swap cambial em rolagem em junho.

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Destaques da Bolsa

Do lado acionário, os papéis da Petrobras (PETR3; PETR4) viraram para queda, puxados também pelo recuo dos preços do petróleo no mercado internacional. O movimento da commodity ocorre após a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) decidir nesta quinta prorrogar os cortes na produção de petróleo em nove meses, até março de 2018. Apesar de aparentemente positivo, a decisão desapontou alguns investidores, que esperavam uma redução por um período ainda maior.

Ainda no radar, a Petrobras realizou nesta manhã coletiva, com integrantes da Diretoria da companhia, no Rio de Janeiro. A companhia informou ainda que, “tendo foco na maximização de valor do seu portfólio”, “concluiu por exercer o direito de preferência” com o percentual mínimo de 30% para a 2ª e 3ª rodadas de licitações de blocos exploratórios sob o regime de partilha de produção no pré-sal, segundo comunicado. As áreas envolvidas são a 2ª Rodada: área unitizável adjacente ao campo de Sapinhoá e a 3ª Rodada: Peroba e Alto de Cabo Frio Central.

Além disso, a estatal informou que tomou ciência de decisão da 3ª Vara da Justiça Federal de Sergipe de extinguir uma ação popular que tentava suspender a cessão dos direitos sobre campos em águas rasas em Sergipe e no Ceará, o que na prática libera a venda dos ativos. A petroleira havia realizado pedido pela extinção do processo baseada em decisão do Tribunal de Contas da União, que autorizou a continuidade do programa de desinvestimentos da empresa.

O noticiário sobre JBS (JBSS3) segue movimentado. Em resposta a questionamento da CVM sobre motivos pelos quais a companhia não divulgou fato relevante ao mercado sobre acordo de colaboração premiada, quando já circulavam notícias a respeito desde a noite de 17 de maio de 2017, a JBS disse que divulgou comunicado no dia 18 de maio, mesmo dia em que tomou conhecimento das informações, quando foram disponibilizadas pelo ministro Edson Fachin.

Até então informação era desconhecida pela empresa porque homologação do acordo de colaboração estava condicionada ao sigilo, disse ela, citando que apenas os 7 colaboradores a conheciam. A companhia afirmou também que as provas produzidas no acordo não são inteiramente conhecidas. A JBS afirmou que voltará aos seus acionistas e ao mercado quando vier a conhecer fatos certos e efetivamente ocorridos que se mostrarem relevantes. 

O empresário Wesley Batista e seus advogados apresentaram na quarta-feira contraproposta de pagamento de 4 bilhões de reais para acordo de leniência do grupo J&F junto ao Ministério Público Federal do Distrito Federal, que foi recusada pela órgão. O MPF-DF propôs pagamento de cerca de 11 bilhões de reais pela J&F para aceitar acordo de leniência. A primeira proposta do grupo controlador do frigorífico JBS havia sido de 1 bilhão.

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

C?d. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 CYRE3 CYRELA REALTON 10,81 -4,00 +6,01 43,89M
 SANB11 SANTANDER BRUNT 24,94 -3,07 -11,48 28,84M
 ECOR3 ECORODOVIAS ON 9,52 -2,66 +18,07 20,84M
 ITSA4 ITAUSA PN 8,80 -2,33 +8,20 241,18M
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 34,97 -2,10 +5,51 623,90M

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

C?d. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 JBSS3 JBS ON 7,97 +18,96 -29,86 320,65M
 FIBR3 FIBRIA ON 36,97 +6,08 +18,78 158,45M
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 15,18 +5,05 +9,77 77,91M
 KLBN11 KLABIN S/A UNT N2 17,22 +3,73 -1,18 34,99M
 BRKM5 BRASKEM PNA 33,50 +2,67 -2,19 37,50M
* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)

Tensão política
Ontem foi mais um dia de tensão política. Após confrontos e depredações em ministérios, Michel Temer autorizou uso das Forças Armadas para “garantir ordem” até 31 de maio, segundo decreto publicado em edição extra do Diário Oficial, o que gerou polêmica, conflito entre poderes e afetou mercado na quarta-feira. Os manifestantes em Brasília incendiaram o Ministério da Agricultura, enquanto dezenas de milhares se reuniram na área da Esplanada dos Ministérios para exigir a saída do presidente Michel Temer. O ministro da Defesa Raul Jungmann disse que Temer decretou ação para “garantia da lei e da ordem”, o que levou a uma retomada do dólar na tarde de ontem com o agravamento dos protestos em Brasília.

Vale destacar que, na noite desta quarta, após a dispersão do protesto, integrantes da Defesa avaliavam que a ação das Forças Armadas não era mais necessária e Temer deve revogar o decreto. O governo ainda apontou, segundo o jornal, achar que a radicalização da manifestação deve esvaziar novos atos por diretas. Em reunião nesta quinta com o ministro da Defesa Raul Jungmann, o presidente avaliará se a medida será revogada. 

A tensão chegou na Câmara e, com a ausência de deputados da oposição, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou na noite de ontem seis medidas provisórias (MPs) que trancavam a pauta de votações da Casa. A aprovação das MPs ocorreu sem a presença da oposição que decidiu se retirar do plenário em protesto contra a edição do decreto do presidente Michel Temer que autorizou a presença das Forças Armadas nas ruas do Distrito Federal.

A decisão de abandonar o plenário foi tomada por deputados do PT, PSOL, Rede, PDT, PCdoB e PMB. Após o reinício dos trabalhos, o líder do PT, deputado Carlos Zarattini (SP), anunciou que os partidos de oposição decidiram retirar todos seus deputados do Plenário em protesto contra o decreto do presidente Michel Temer que prevê o emprego das Forças Armadas na Esplanada dos Ministérios entre os dias 24 e 31 de maio para “garantir a lei e a ordem”.

O pós-Temer

Em meio à eclosão da crise política, as negociações para a substituição de Temer continuam: jornais destacam que a saída via cassação pelo TSE passou a ser mais provável e a Folha apontou que os ex-presidentes FHC, Lula e José Sarney articulam o pós-Temer.  

O Valor Econômico, por sua vez, aponta que o impasse na sucessão de Michel Temer aumenta as dúvidas quanto ao prosseguimento da reforma da Previdência, na hipótese de renúncia. A relação dos cotados, que já foi mais extensa, concentra-se em três nomes – Tasso Jereissati (PSDB-CE), Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim, aponta o jornal. Ao afunilar a lista de possíveis candidatos, começam a surgir, também, os vetos. 

Ainda sobre Temer, a Folha ressalta que a Procuradoria-Geral da República deve pedir a abertura de um novo inquérito com base em diálogo do deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) com o presidente. Já o relator da Lava Jato no STF, Edson Fachin, barrou o depoimento de Temer à Polícia Federal. A defesa de Temer argumentou que perícia da PF na gravação da conversa entre o presidente e o empresário Joesley Batista ainda não terminou e um depoimento de Temer, portanto, não poderia ocorrer agora.

Bolsas mundiais

As bolsas europeias operam próximo à estabilidade nesta manhã, em meio à repercussão da ata considerada “dovish” (branda) do Fomc, o que leva também a um recuo do dólar ante a maioria das moedas emergentes. Vale destacar os dados da economia do continente. O Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido aumentou 0,2% no primeiro trimestre ante o quarto trimestre de 2016 e registrou expansão anual de 2% no mesmo período. Há cerca de um mês, o ONS havia estimado crescimento mais forte, de 0,3% na comparação trimestral e de 2,1% no confronto anual. Economistas consultados pelo The Wall Street Journal previam que as estimativas originais seriam mantidas.

Na Ásia, os mercados acionários da China tiveram forte alta, com o índice CSI300 tendo o melhor dia em mais de nove meses, apesar da decisão surpresa da Moody’s de rebaixar a classificação de risco do país no dia anterior e também seguindo a ata do Fomc. Os operadores citaram as crescentes expectativas de que o índice global MSCI incorporasse ações chinesas no próximo mês e alguns também sugeriram que a compra direcionada pelo estado pode ter ajudado a sustentar o mercado.

(Com Reuters, Bloomberg, Agência Brasil e Agência Estado)

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.