Ibovespa perde força no fim em meio a “tiro e bomba” em Brasília e dólar fecha na máxima do dia

SÃO PAULO – O Ibovespa voltou a subir neste quarta-feira (24) com o mercado de olho na situação política doméstica e na sinalização mais cautelosa dos membros do Federal Reseve acerca de uma nova alta de juros nos Estados Unidos. Enquanto isso, no exterior, os investidores ficam de olho no rebaixamento do rating da China pela agência de classificação de risco Moody’s.

O Ibovespa fechou com alta de 0,95%, aos 63.257 pontos, mas longe da máxima do dia, quando chegou a subir 2,16%, superando os 64 mil pontos. Na reta final do pregão, no leilão de fechamento, o índice perdeu força e voltou para o mesmo patamar das 11h da manhã de hoje, apagando os ganhos da tarde. O volume financeiro ficou em R$ 9,451 bilhões. No radar, destaque também para os desdobramentos da crise política, que hoje contou com confusão, envolvendo tiros e bombas em Brasília nas manifestações contra Temer.

Já o dólar acabou afetado pelas incertezas geradas pelos protestos na capital, com a moeda encerrando com ganhos de 0,40%, cotado a R$ 3,2791, próxima da máxima do dia – após chegar a cair para R$ 3,25 na mínima do dia. Enquanto isso, os contratos de dólar futuro com vencimento em junho deste ano subiram 0,27%, a R$ 3,286. Os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 caíram 1 ponto-base, a 9,59%, ao passo que os DIs com vencimento em janeiro de 2021 recuaram 20 pontos-base, a 10,78%. 

Nos EUA, os membros do Federal Reserve concordaram que deveriam suspender o aumento das taxas de juros até que vejam provas de que a recente desaceleração econômica foi transitória, mostrou nesta quarta-feira a ata da sua última reunião de política.

“Até Temer cair, volatilidade é o nome do jogo. A crise em Brasília é forte, o Brasil vai ficar revezando entre alta e baixa, vai ser difícil ter uma tendência”, afirmou um operador do mercado que não quis ser identificado. “O que tem segurado o mercado é a expectativa de sucessão indireta. Isso tudo traz um alívio ao mercado, com uma possível manutenção de Ilan [Goldfajn] e [Henrique] Meirelles na equipe econômica”.

Vale lembrar que, na véspera, a base governista barrou na CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania) da Câmara o avanço da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que propõe eleições diretas. Ainda na terça-feira, o governo conseguiu, mesmo que sob protestos da oposição, impor um dia de votações no Congresso Nacional de forma a passar um ar de “normalidade” no Legislativo, com o Senado aprovando três medidas provisórias no início da noite.

A oposição tentou impedir a leitura do parecer da reforma trabalhista na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), levando à suspensão da sessão, mas o texto foi dado como lido pelo relator, senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES).

Destaques da Bolsa
Do lado acionário, os papéis da Vale (VALE3; VALE5) caíram seguindo os preços do minério de ferro nesta sessão. A commodity à vista negociada no porto de Qingdao, na China, caiu 2,39%, a US$ 60,52 a tonelada, enquanto o contrato futuro mais negociado do minério de ferro para setembro na bolsa de Dalian fechou em queda de 7%, a 455,50 iuanes (US$ 66,00) a tonelada, após tocar 452 iuanes na mínima da sessão. Foi a maior queda desde 5 de maio.

O movimento do minério de ferro ocorre após a Moody’s ter reduzido a nota de crédito soberano pra emissões de longo prazo locais e em moeda estrangeira, alertando que a força financeira do país pode evaporar nos próximos anos conforme a economia desacelerar e a dívida continuar a crescer.

A J&F — holding que controla a JBS (JBSS3) — negou ontem à noite, por meio de sua assessoria de imprensa, que contratou o Bradesco BBI ou qualquer outro banco para a venda de ativos. Na última terça-feira, as ações da empresa foram da maior queda para a maior alta (ganho de 25% da mínima do dia até o fechamento) em meio aos rumores sobre essa operação.

Segundo informações da Reuters, membros da família Batista – que detêm 42% da empresa – estariam de olho em formas para levantar recursos em meio à demanda de pagamento de R$ 11 bilhões para fechar acordo de leniência com o Ministério Público Federal.

As ações da Petrobras (PETR3; PETR4) intensificaram os ganhos após surpresa positiva com os dados dos estoques de petróleo dos EUA. O papel acabou destoando do movimento visto no petróleo, com os contratos do petróleo Brent caíram 0,42%, a US$ 53,92 o barril, enquanto os do WTI recuaram 0,37%, a US$ 51,28 o barril.

No radar, a companhia informou o resgate antecipado de títulos com vencimento previsto para 2018, no valor somado de cerca de US$ 1,8 bilhão. O resgate será financiado com os recursos captados pela companhia na recente emissão de títulos. A companhia havia informado na véspera a reabertura de títulos de dívida de 4 bilhões de dólares no exterior, por meio de sua subsidiária Petrobras Global Finance (PGF).

As maiores altas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

^* – Lote de mil ações
¹ – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão) IBOVESPA

Estoques de petróleo
Segundo a EIA (Agência Internacional de Energia, na sigla em inglês), os estoques de petróleo caíram em 4,4 milhões de barris na semana encerrada em 19 de março, atingindo um total de 516,3 milhões de barris. A mediana das estimativas dos analistas consultados pela Bloomberg apontava para uma queda de 2,08 milhões de barris ante recuo de 1,75 milhão uma semana antes. Já os estoques de gasolina caíram em 787 mil barris no período, contra expectativas de queda de 695,4 mil e recuo anterior de 413 mil barris.

Planos para a sucessão de Temer
Em meio à turbulência política, o Banco Central não renova atuações de 40.000 swaps diários no câmbio, diante de sinais de estabilização do dólar nos três últimos dias. Em meio a tumultos, agenda econômica tem avanço no Congresso, mas o quadro político segue instável, com hipótese de substituição de Michel Temer discutida nos jornais. Os aliados tiveram sucesso na aprovação da MP que permite o saque do FGTS, leitura do relatório da reforma trabalhista e adiamento da análise da PEC sobre eleições diretas. 

Por outro lado, a base aliada prevê a saída de Temer em breve e planeja sucessão, com os nomes do ex-ministro Nelson Jobim, do presidente interino do PSDB Tasso Jereissati, do ex-presidente FHC e do presidente da Câmara Rodrigo Maia aparecendo como opções. Os aliados querem eleições indiretas e manutenção da política econômica.

Vale destacar ainda a avaliação de Mark Mobius, presidente executivo da Templeton Emerging Market Group, de que a ampla investigação de corrupção do país pode ser vista como uma Revolução Francesa sem o derramamento de sangue”. “As pessoas querem ver mudanças. Estão fartas de corrupção. Eles têm sido capazes de aplicar o estado de direito em uma medida que é realmente surpreendente. É um estudo de caso para outros mercados emergentes sobre o que pode ser feito”. Segundo Mobius, ainda que o próximo ano possa “parecer caótico “, a perspectiva de longo prazo é positiva para o Brasil.

(com Reuters)