Ibovespa sobe e recupera os 62 mil pontos com mercado de olho em reformas; dólar cai para R$ 3,26

Índice volta a subir com o mercado de olho no andamento das reformas trabalhista e da Previdência

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – A crise política continua no radar dos investidores, mas a terça-feira (23) mostrou um tom menos pessimista após as recentes quedas, com o mercado no aguardo de novas sinalizações sobre a situação do governo Michel Temer e o futuro da agenda de reformas. Apesar da crise, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tenta manter o cronograma para a reforma da Previdência, o que ajuda a trazer um certo alívio nos ativos.

O Ibovespa fechou em alta de 1,65%, aos 62.662 pontos – próximo da máxima do dia, quando avançou 1,79% -, com apenas 4 das 58 ações do índice registrando queda, enquanto a JBS registrou forte alta de 9,5%, seguida pelos papéis da Eletrobras e Banco do Brasil, com altas de 5,3% e 2,2%, respectivamente. O volume financeiro nesta sessão ficou em R$ 9,487 bilhões.

Na avaliação de Pablo Spyer, diretor da mesa de trade da Mirae Asset Wealth, o movimento do índice nesta sessão reflete uma maior entrada de estrangeiros após as fortes quedas dos dias anteriores, sobretudo no caso das empresas estatais. A volatilidade traz uma oportunidade de compra em alguns casos.

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Segundo o especialista, também traz uma parcela de contribuição o esforço do governo e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para votar a reforma da Previdência entre os dias 5 e 12 de junho na casa. No Senado, a Comissão de Assuntos Econômicos retomou as discussões sobre a reforma trabalhista, com chances de o relator Ricardo Ferraço (PSDB-ES) apresentar seu texto ainda nesta sessão, a despeito das críticas da oposição.

Os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 recuaram 13 pontos-base, a 9,60%, ao passo que os DIs com vencimento em janeiro de 2021 caíram 46 pontos-base, a 11,03%. Já os contratos de dólar futuro com vencimento em junho deste ano recuaram 0,11%, sinalizando cotação de R$ 3,273, enquanto o dólar comercial fechou em queda de 0,31%, a R$ 3,2662 na venda.

“A tendência do dólar segue indefinida, podendo voltar a subir fortemente se a crise envolvendo o presidente Michel Temer se estender por muito tempo”, avaliou o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik. O Banco Central realizou nesta sessão o último dos três leilões anunciados de novos swaps cambiais tradicionais -equivalentes à venda futura de dólares – para tentar reduzir a volatilidade no câmbio após o estouro da crise política. Foram vendidos todos os 40 mil contratos.

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Destaques da Bolsa

Do lado acionário, os papéis da JBS viraram para forte alta durante a tarde, fechando na liderança do Ibovespa, após chegarem a afundar 12,21% na mínima do dia. No olho da eclosão da crise política, o noticiário da companhia é bastante movimentado. O colapso do papel e especulações sobre possível ação contra a empresa nos EUA têm comprometido os planos de um IPO da unidade JBS Foods em NY; também pesa sobre a companhia a incerteza sobre o bilionário acordo de leniência, cujas discussões foram retomadas na véspera.

Vale destacar que a JBS sofre ação coletiva de investidores nos EUA. O processo protocolado por Rosen Law Firm em nome de investidores dos EUA que compraram ADR da JBS trata de comunicados falsos ou enganosos, segundo comunicado. De acordo com o processo, houve declarações falsas e/ou enganosas e/ou falha em revelar que executivos da JBS subornaram autoridades e políticos para subverter inspeções de alimentos de suas fábricas e ignorar práticas insalubres.

As ações do setor de papel e celulose, que conseguiram driblar a crise política e acumulam ganhos desde fatídico pregão da última quinta-feira, ficaram próximas do zero, esboçando uma reação após os ganhos recentes. Nos últimos 4 pregões, a alta acumulada dessas ações é de cerca de 23%. As ações da Vale – uma das poucas que conseguiram se salvar da crise política – subiram novamente. O movimento ignora os preços do minério de ferro: a commodity à vista negociada no porto de Qingdao, na China, caiu 1,88% hoje, a US$ 62,00 a tonelada; enquanto os contratos futuros cotados na bolsa de Dailian recuaram 3,23%, a 479 iunes.

Já do lado da Petrobras, merecem destaque duas notícias. A companhia informou que efetuou uma operação de pré-pagamento de dívida com o Citibank, no valor de US$ 500 milhões e vencimentos previstos para 2017 e 2018, e que realizou a contratação de novo financiamento com a instituição, no mesmo valor, com prazo de vencimento em 2022 e sem garantias reais.

Além disso, a empresa anunciou na véspera que iniciou a etapa de divulgação da venda do Campo de Juruá, na Bacia de Solimões, no Estado do Amazonas, segundo fato relevante da companhia. A petroleira oferecerá 100 por cento de participação no campo de Juruá e disse que a transação é “oportunidade para desenvolver e monetizar uma descoberta de gás natural”.

As maiores altas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 JBSS3 JBS ON 6,55 +9,53 -42,36 477,67M
 GOAU4 GERDAU MET PN 4,53 +6,34 -5,63 125,69M
 ELET3 ELETROBRAS ON 13,06 +5,32 -38,16 22,44M
 GGBR4 GERDAU PN 9,84 +4,68 -8,89 127,00M
 MULT3 MULTIPLAN ON N2 63,30 +4,63 +6,60 102,51M

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 EMBR3 EMBRAER ON 15,98 -1,42 +0,74 78,55M
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 14,85 -0,87 +7,38 92,59M
 MRFG3 MARFRIG ON 6,52 -0,76 -1,36 22,32M
 FIBR3 FIBRIA ON 35,06 -0,40 +12,64 104,49M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 35,43 +1,58 669,23M 632,19M 42.983 
 PETR4 PETROBRAS PN 13,49 +0,67 653,34M 642,05M 54.458 
 VALE5 VALE PNA 26,58 +0,64 557,20M 703,01M 35.956 
 JBSS3 JBS ON 6,55 +9,53 477,67M 148,75M 78.328 
 BBDC4 BRADESCO PN 27,14 +0,67 389,82M 405,61M 37.883 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 18,89 +1,72 310,46M 301,52M 35.398 
 CIEL3 CIELO ON 22,94 +1,96 266,65M 193,24M 15.921 
 BBAS3 BRASIL ON EJ 27,12 +2,25 231,73M 279,92M 18.682 
 BVMF3 BMFBOVESPA ON EJ 18,59 +0,75 229,46M 257,34M 29.224 
 BRFS3 BRF SA ON 43,98 +2,52 180,03M 170,00M 20.037 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Crise política e seus efeitos
Em meio à crise política, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s anunciou na segunda-feira que colocou a perspectiva de crédito soberano do Brasil em observação negativa. A nota atribuída pela agência ao país é BB. Segundo a S&P, após recentes alegações de corrupção contra o presidente Michel Temer, o cenário político do Brasil voltou a se tornar mais complicado. Segundo a S&P, a observação negativa reflete o risco de corte no rating nos próximos 3 meses em meio ao maior estresse na dinâmica política. O ministério da Fazenda comentou o anúncio da S&P: “o CreditWatch (observação) é um alerta de curto prazo para a classificação de risco e, no caso do Brasil, reflete aumento da incerteza relacionada aos eventos políticos recentes”.

Neste cenário, o governo apelou para a economia para tentar sobreviver à crise que ameaça o presidente Michel Temer. A equipe econômica, especialmente o ministro Henrique Meirelles, recebeu a tarefa de acalmar o mercado e mostrar que “o governo não tinha acabado”. Neste sentido, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou na véspera que a votação em plenário da reforma da Previdência deve começar entre os dias 5 e 12 de junho.

Mais notícias da política

A Polícia Federal deflagrou na manhã de hoje a Operação Panatenaico para investigar organização que fraudou e desviou recursos das obras de reforma do Estádio Nacional Mané Garrincha para a Copa do Mundo de 2014. De acordo com a PF, a obra, orçada em cerca de R$ 600 milhões, custou mais de R$ 1,5 bilhão. “O superfaturamento, portanto, pode ter chegado a quase R$ 900 milhões”. 

Cerca de 80 policias federais cumprem 15 mandados de busca de apreensão, dez de prisão temporária, além de três conduções coercitivas, quando a pessoa é levada para depor e depois liberada. As medidas judiciais foram determinadas pela 10ª Vara da Justiça Federal no Distrito Federal (DF). Todas as ações ocorrem em Brasília e em outras cidades do DF. “Entre os alvos das ações de hoje estão agentes públicos e ex-agentes públicos, construtoras e operadores das propinas ao longo de três gestões do governo do DF.  A hipótese investigada pela Polícia Federal é de que agentes públicos, com a intermediação de operadores de propinas, tenham realizado conluios e assim simulado procedimentos previstos em edital de licitação”, diz nota da PF.

Ainda em destaque, a força-tarefa da Operação Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF) ofereceu ontem à Justiça Federal mais uma denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dessa vez envolvendo supostos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro relacionados a obras realizadas por empreiteiras no sítio de Atibia. Por fim, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou recurso para o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) para defender a prisão preventiva do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) e do deputado federal licenciado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). Na semana passada, o ministro Edson Fachin rejeitou individualmente o pedido de prisão e aceitou apenas o afastamento dos parlamentares do mandato. As acusações estão baseadas nas informações prestadas no acordo de delação premiada dos executivos da empresa JBS.

Inflação

O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15), considerado a prévia da inflação oficial, subiu 0,24% em maio, sobre alta de 0,21% no mês anterior, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Pesquisa da Reuters com economistas estimava alta de 0,21% para o período. 

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.