De “ação favorita” a duas grandes decepções: a análise de 10 resultados que agitam a bolsa hoje

Entre os destaques dos balanços divulgados entre ontem e hoje, destaque para Gafisa, Tenda, Iguatemi e Gol

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – A temporada de resultados do primeiro trimestre segue bastante agitada e nesta quarta-feira (10) pelo menos 9 ações reagem na B3 aos números apresentados entre a noite de ontem e esta manhã. Destaque para a Gafisa, que segue em sua derrocada após um balanço considerado pior que o esperado, assim como a Equatorial, que recua com o resultado ainda mais fraco do que os investidores previam.

Confira os resultados e as análises:

Gafisa (GFSA3, R$ 13,87, -6,28%)
A Gafisa renova sua mínima histórica na bolsa após divulgar o balanço do 1° trimestre – que veio ainda pior do que a estimativa já pessimista, segundo o Credit Suisse. Esse é o nono dia de queda da ação em dez sessões, quando acumulam perdas de 30%. A empresa encerrou o primeiro trimestre de 2017 com prejuízo líquido de R$ 126,1 milhões, excluindo-se a equivalência de Alphaville e efeitos da cisão da Tenda. Com isso, o prejuízo cresceu 97% em relação a um ano atrás, quando a construtora reportou resultado líquido negativo de R$ 64,1 milhões.

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A companhia atribuiu a piora a três fatores: i) alto ambiente recessivo da economia brasileira, com volume elevado de distratos; ii) efeito negativo no resultado financeiro, por conta do impacto contábil na repactuação de algumas dívidas de SFH; iii) mix de venda, concentrado em unidades mais novas.

O Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) ajustado foi negativo em R$ 47,3 milhões, ante Ebitda ajustado negativo de R$ 12,2 milhões um ano antes. A receita líquida totalizou R$ 136,5 milhões, queda de 20,1% na comparação anual. O faturamento foi impactado pelo mix de vendas líquidas do período, com maior concentração de vendas de produtos mais recentes e com menor evolução de obra.

Como consequência, houve menor contabilização da receita – já que o faturamento do setor é contabilizado de acordo com a evolução da obra (método POC). A companhia realizou um maior volume de provisão para distratos, com efeito redutor de R$ 4,1 milhões na receita bruta.

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Segundo o Credit Suisse, a empresa conseguiu entregar um prejuízo ainda maior do que a projeção já pessimista para a empresa (de perda de R$ 87 milhões). Os analistas comentaram que tanto a unidade da Gafisa quanto Alphaville vieram abaixo das estimativas, o que reforçou a recomendação underperform (desempenho abaixo da média) para a ação. A revisão para baixo do papel ocorreu no início desta semana. Do lado positivo no balanço, eles destacaram que a empresa gerou R$ 20 milhões em fluxo de caixa livre, devido ao baixo uso de caixa.

Tenda (TEND3, R$ 15,48, +1,51%) 
O lucro líquido da Tenda cresceu 295% no primeiro trimestre deste ano ante o mesmo período de 2016, fechando o período em R$ 18,9 milhões. A receita líquida, por sua vez, subiu 38,4% na mesma base comparativa, para R$ 324,7 milhões. A incorporadora registrou ainda margem bruta de 33,1%, ante 29,3% no primeiro trimestre do ano passado.

A companhia informou também margem bruta ajustada de 34,6%, acima dos 31,7% do primeiro trimestre de 2016. A meta é que, no longo prazo, o indicador seja superior a 30%. A companhia conseguiu registrar geração de caixa pela primeira vez no ano passado. O Itaú BBA espera reação “ligeiramente positiva” a “resultados sólidos e em linha”. 

Telefônica (VIVT4, R$ 48,15, +2,23%)
As ações da Telefônica Brasil, dona da Vivo, sobem forte após resultado positivo no 1° trimestre, com destaque para o desempenho de telefonia móvel, que teve crescimento de 5% das receitas na comparação anual e mais do que compensando os dados fracos no fixo (queda de 2% na mesma base de comparação), segundo o BTG Pactual. O banco reiterou compra após a divulgação dos números, em meio ao valuation “atrativo” e boa exceção. Já o Bradesco BBI comentou que os resultados da companhia foram “previsíveis como um relógio”, “reforçando o status defensivo da companhia”.

A Telefônica Brasil encerrou o primeiro trimestre de 2017 com lucro líquido recorrente de R$ 996,2 milhões, crescimento de 13,3% em relação ao mesmo período de 2016. O Ebitda recorrente atingiu R$ 3,514 bilhões, avanço de 7,3% na mesma base de comparação. A margem do Ebitda recorrente, por sua vez, foi de 33,2%, crescimento de 1,8 ponto porcentual.

A receita operacional líquida totalizou R$ 10,590 bilhões, alta de 1,5% na comparação trimestral. O resultado recorrente desconsidera o efeito da venda de torres, que ampliou os lucros no começo do ano passado.

Apesar da evolução discreta no faturamento, a Telefônica aumentou o lucro devido a iniciativas de corte de custos, aumento na eficiência operacional e ganhos de sinergia pela integração com a GVT. Os custos operacionais recorrentes atingiram R$ 7,076 bilhões, recuo de 1,1%. A companhia teve despesa financeira líquida de R$ 290,4 milhões, diminuição de 8,3%.

Para o Credit Suisse, os números ficaram em linha com o esperado, confirmando a expectativa de um trimestre bom. Segundo os analistas, a margem Ebitda ficou entre as surpresas positivas junto com o capex, que ficou 10% abaixo da projeção da instituição. Do lado negativo, eles ressaltam a última linha que 15% abaixo do esperado, por causa das despesas financeiras maiores.

Gol (GOLL4, R$ 10,67, -5,16%)
A Gol registrou lucro líquido de R$ 232,7 milhões no primeiro trimestre, queda de 69,3% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados divulgados nesta quarta-feira pela companhia aérea. A geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação, amortização e aluguel de aeronaves (Ebitdar) recuou 31,3% na mesma base de comparação, para R$ 601,3 milhões.

Segundo o BTG Pactual, a Gol apresentou um “sólido conjunto de resultados” no primeiro trimestre, seguindo o que já havia sido apresentado na prévia operacional da empresa. Os analistas apontam que a projeção de margem Ebit entre 6% e 8% é excessivamente conservadora. Para eles, considerando a relação entre petróleo e o câmbio e assumindo um cenário sem deterioração de receita, este indicador poderia atingir níveis de dois dígitos. A recomendação deles é de compra.

Para os analistas do Bank of America, o segundo trimestre deverá ser sazonalmente mais fraco e as margens podem convergir para o ponto de equilíbrio, mas eles acreditam no forte impulso dos lucros ao longo do ano, à medida que a demanda do Brasil se recupera e as reformas fiscais em andamento abrem espaço para uma estabilidade cambial.

Iguatemi (IGTA3, R$ 34,97, +1,36%)
A Iguatemi encerrou o primeiro trimestre com lucro líquido de R$ 50,6 milhões, ficando 27% acima das expectativas compiladas pela Bloomberg, de R$ 39,8 milhões, e 30,8% superior ao mesmo intervalo de 2016. Segundo o BTG Pactual, o resultado veio acima do esperado, por conta de menor alíquota de imposto uma vez que a companhia recuperou créditos fiscais de outros trimestres. Os analistas reiteraram visão positiva no case, que segue com recomendação de compra. 

Entre janeiro e março, os lojistas de shoppings do grupo Iguatemi venderam R$ 2,9 bilhões, 5,2% mais que um ano atrás. No conceito de vendas em mesmas lojas, a alta foi 1,7%, ante expansão de 1,8% no primeiro trimestre de 2016. Já o crescimento das vendas em mesma área desacelerou para 1,6%, de 4% um ano antes.O custo de ocupação ficou estável em 12,7%, mas a taxa de ocupação recuou 1 ponto percentual, para 93%, conforme a Área Bruta Locável (ABL) aumentou 4,3%, para 746.027 metros quadrados.

Ao mesmo tempo, a linha de custos e despesas consolidados somou R$ 42 milhões, ante R$ 41 milhões nos três primeiros meses de 2016. “Temos feito trabalho grande para buscar eficiência operacional e estamos caindo nominalmente em despesas há quatro anos”, afirmou a executiva.

Apesar dos esforços, a geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) caiu 2,5% frente ao primeiro trimestre do ano passado, para R$ 125,76 milhões. A margem Ebitda recuou para 75,2%, ante 80,4% entre janeiro e março de 2016.

O endividamento líquido da Iguatemi recuou 1,9% ano a ano, a R$ 1,65 bilhão. A alavancagem medida pela relação dívida líquida sobre Ebitda caiu para 3,19 vezes, de 3,23 vezes no término de março de 2016. “Nossa dívida é bem longa e barata”, ressaltou a executiva.

Para o Credit Suisse, a companhia começou bem o ano e entregou um crescimento solido na receita e que, “somados a um bem sucedido programa de redução de custos”, reforça o bom primeiro trimestre. Os analistas destacaram o nível de inadimplência, que se manteve estável, e o custo de ocupação alinhado com o nível do início de 2016 em função de menores taxas de condomínio.

Do lado negativo, a equipe do banco destaca o nível de vacância um pouco mais alto em relação ao trimestre anterior. Mesmo assim, os analistas apontam que a Iguatemi segue como a ação preferida no setor, com justificativa no valuation atrativo e na qualidade do portfólio da companhia.

BR Properties (BRPR3, R$ 9,81, +1,45%)
O lucro líquido da BR Properties subiu 70% no primeiro trimestre, na comparação anual, totalizando R$ 182,77 milhões, principalmente em decorrência da venda de galpão da companhia de propriedades comercial para Global Logistic Properties (GLP) no valor de R$ 240,2 milhões. Já a receita líquida somou R$ 114 milhões, queda de 10% na base anual.

O Ebitda ajustado foi a R$ 89,3 milhões, queda de 13% na mesma base de comparação, enquanto a margem Ebitda foi para 78%, leve queda ante os 79% no mesmo período do ano passado.

Segundo o Credit Suisse, a companhia entregou um trimestre levemente acima das expectativas, com destaque para o avanço da receita e do Ebitda. Os analistas afirmam que a confirmação da assinatura do “amendment” do contrato da Petrobras no Ventura Towers foi o principal destaque do trimestre e “colocou fim em uma negociação que já vinha se arrastando há bastante tempo”. O contrato representa cerca de 23% da receita total da empresa e era considerado por alguns investidores como uma das maiores preocupações para o case. 

BTG Pactual (BBTG11, R$ 19,19, -1,94%)
O lucro líquido do BTG Pactual no primeiro trimestre aumentou na comparação com o trimestre anterior devido à melhora operacional, mas recuou na comparação contra um ano antes, quando o resultado tinha sido impulsionado por venda de ativos.

O grupo anunciou nesta terça-feira que seu lucro líquido de janeiro a março somou R$ 720 milhões, queda de 29% ante mesma etapa de 2016 e alta de 5,9% sobre o trimestre anterior. Em termos ajustados, o lucro líquido somou R$ 843 milhões no primeiro trimestre, queda de 16,5% na comparação anual e alta de 24% ante o quarto trimestre de 2016.

A receita total do BTG Pactual cresceu 63% sobre o último trimestre de 2016, para R$ 1,661 bilhão. Ano a ano, porém, houve queda de 53%, principalmente devido aos efeitos da venda de participação na gestora suíça de recursos BSI e no braço do negócios de commodities ECTP.

Sanepar (SAPR4, R$ 10,84, +2,65%)
A Sanepar encerrou o primeiro trimestre de 2017 com lucro líquido de R$ 160,05 milhões, uma alta de 10,93% ante o mesmo período do ano passado, quando o resultado foi de R$ 144,82 milhões. A receita operacional, por sua vez, avançou 14,85%, passando de R$ 806,62 milhões para R$ 926,43 milhões, ao passo que o Ebitda ajustado saiu de R$ 282,60 milhões nos três primeiros meses de 2016 para atuais R$ 408,84 milhões, alta de 44,67% no período.

A companhia destacou o avanço do lucro mesmo com a provisão contábil do Programa de Demissão Voluntária com Transferência de Conhecimento (PDVTC) e do Programa de Aposentadoria Incentivada (PAI), no valor total de R$ 15,5 milhões, além do acréscimo das provisões cíveis devido às indenizações por danos morais referentes à falta de água no Município de Maringá.

As despesas administrativas diminuíram 14,2% em relação ao primeiro trimestre de 2016, passando de R$ 163,7 milhões para R$ 140,5 milhões. “A principal variação negativa ocorreu nas despesas com pessoal resultando em (18,3%) em decorrência da diminuição das despesas com abono, indenizações e avisos prévios e também relacionados ao Programa de Aposentadoria Incentivada”, disse a empresa.

De acordo com o BTG Pactual, a companhia registrou volumes sólidos e um controle de custos decente, mas as provisões foram os “vilões” por trás do resultado mais fraco do que o esperado. Os analistas do banco seguem com recomendação de compra para os papéis, com preço-alvo de R$ 17,00.

Equatorial (EQTL3, R$ 53,68, -3,63%)
A Equatorial Energia viu o seu lucro cair 38,9% no primeiro trimestre, para R$ 74 milhões, ante R$ 122 milhões no mesmo período do ano anterior. Segundo a companhia, o resultado é ajustado proporcionalmente à participação da Equatorial em cada um das companhias (65,11% na Cemar e 96,5% na Celpa).

O Ebitda ajustado recuou 11,8% de janeiro a março de 2017 ante igual intervalo de 2016, para R$ 263 milhões. A receita operacional líquida da Equatorial Energia ficou praticamente estável, em R$ 1,747 bilhão, no primeiro trimestre de 2017 ante o R$ 1,734 bilhão reportado no mesmo período do ano anterior.

Para o Credit Suisse, mesmo com o mercado já esperando um resultado fraco, ainda há espaço para um desempenho negativo. A primeira impressão dos analistas foi de um balanço bem decepcionante para o padrão histórico da companhia. Para eles, se baseando no cenário visto pela empresa neste início de ano e olhando para o passado de outras companhias, é possível acreditar que este seja um movimento temporário.

“Na nossa visão, o case de longo prazo da empresa continua muito forte, pois continuamos vendo espaço para agressivas reduções de perdas, conexão de novos clientes e aumento de consumo per capita na região”, completam os analistas do Credit.

Ouro Fino (OFSA3, R$ 25,50, -0,04%)
O prejuízo líquido ajustado do primeiro trimestre da Ouro Fino foi R$ 5,9 milhões, alta de 228% ante o prejuízo líquido ajustado de R$ 1,8 milhão do mesmo período do ano anterior. Esses resultados refletem a queda do Ebitda ajustado e aumento da despesa financeira líquida parcialmente compensados pelo efeito de imposto de renda e contribuição social, informou a companhia. A receita líquida de vendas caiu 23,3%, passando de R$ 98 milhões para R$ 75,2 milhões.

Após o resultado, o Bradesco BBI revisou o seu preço-alvo de R$ 36 para R$ 27, refletindo o balanço e a expectativa de recuperação mais lenta do que anteriormente estimado. A recomendação para o papel segue neutra. 

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.