Ibovespa sobe, mas não evita queda de 0,6% na semana; dólar sobe após governo revisar meta fiscal

Índice chegou a ganhar força no início da tarde, mas logo voltou a um clima de maior cautela com o governo piorando a projeção de déficit fiscal para 2018

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Após uma sequência de dias negativos pressionados pelo mau humor do investidores com a reforma da Previdência, o Ibovespa conseguiu subir nesta sexta-feira (7), apesar de não apagar as perdas no acumulado semanal. O índice chegou a subir 1,52% na máxima do dia, mas amenizou os ganhos após o governo anunciar a revisão da meta fiscal, piorando a projeção do déficit de 2018 para R$ 129 bilhões.

O benchmark da bolsa brasileira fechou o pregão com alta de 0,58%, aos 64.593 pontos – com volume financeiro de R$ 6,796 bilhões -, mas acabou com perdas de 0,60% no acumulado da semana. O dólar comercial, por sua vez, ganhou força com a revisão na projeção de déficit fiscal do governo. A moeda fechou com ganhos de 0,14%, a R$ 3,1502 na venda, enquanto os contratos de dólar futuro com vencimento em maio tiveram alta de 0,16%, sinalizando cotação de R$ 3,164.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, anunciou nesta tarde a nova meta fiscal do governo para os próximos anos, com a expectativa de um déficit de R$ 129 bilhões em 2018, piorando a projeção, que até então era de R$ 79 bilhões. O valor é R$ 10 bilhões abaixo do previsto para este ano. Segundo o governo, a previsão de crescimento para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2018 é de 2,5%.

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A revisão da meta fez o dólar apagar a queda que tinha com a divulgação do relatório sobre o mercado de trabalho norte-americano, que revelou menor criação de vagas do que o esperado em março, o que não endossa a necessidade de mais altas de juros além das duas já precificadas pelo mercado para este ano.

“O relatório do mercado de trabalho tirou força dos falcões que queriam três altas de juros neste ano, mas o mercado não está completamente entusiasmado por causa da cena geopolítica”, diz Pablo Spyer, diretor da Mirae Corretora. Quanto à tensão geopolítica no exterior, “ninguém se assustou até agora, mas vamos ver quanto tempo dura o sangue-frio”, afirma.

Além de indicadores econômicos importantes e o anúncio dos ministros Henrique Meirelles (Fazenda) e Dyogo Oliveira (Planejamento), os investidores observam o aumento de tensão em nível geopolítico, após o lançamento de 59 mísseis do governo Donald Trump a bases aéreas do governo Bashar al-Assad na Síria, em retaliação a um ataque químico.

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Já os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 recuaram 4 pontos-base, a 9,765%, ao passo que os DIs com vencimento em janeiro 2021 caíram 3 pontos-base, a 9,92%. Contribuiu para o movimento dos juros a divulgação da variação dos preços em março pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 

A inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ficou em 0,25% no mês passado, em linha com a estimativa mediana do mercado segundo levantamento da Bloomberg. A taxa é a mais baixa para o mês desde 2012. Em 12 meses, o índice acumula variação de 4,57%, mesmo número estimado pelos economistas. Também foi o menor resultado para o primeiro trimestre desde o Plano Real.

Destaques da Bolsa

Do lado corporativo, as ações da Vale (VALE3; VALE5) abriram com queda superior a 2%, em meio à derrocada do minério de ferro, mas viraram para alta. Acompanham o movimento negativo as ações da Bradespar (BRAP4) — holding que detém participação na Vale — e as siderúrgicas, com Gerdau (GGBR4), Metalúrgica Gerdau (GOAU4), Usiminas (USIM5) e CSN (CSNA3). 

A commodity spot (à vista), negociada no porto de Qingdao com 62% de pureza, fechou em forte queda de 6,76%, a US$ 75,45 a tonelada, enquanto o contrato futuro de minério de ferro negociado na Bolsa de Dalian fechou em baixa de 6,90%, a 526 iuanes. Esse movimento de forte queda ocorre após ser divulgado um relatório do governo da Austrália prever que o preço da commodity pode terminar o ano a US$ 65 a tonelada.

As ações da Braskem (BRKM5) se recuperaram após caírem 8% na mínima em meio à notícia de que o México investiga contratos entre a Pemex, petroleira estatal de Petróleos Mexicanos, e a Odebrecht, segundo informações do Valor. A Braskem, contudo, informou nesta manhã, por meio de fato relevante, que o acordo firmado por ela com o DOJ e SEC em dezembro de 2016 não contém relato ou admissão de prática de qualquer ato ilícito relacionado à sua atividade no México, inclusive ao contrato de fornecimento de etano naquele país.

As maiores altas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 JBSS3 JBS ON 9,90 +4,21 -13,16 122,05M
 ENBR3 ENERGIAS BR ON 13,90 +2,51 +3,73 20,21M
 USIM5 USIMINAS PNA 4,02 +2,03 -1,95 59,49M
 CSAN3 COSAN ON 38,70 +1,92 +1,44 25,10M
 ECOR3 ECORODOVIAS ON ED 9,17 +1,89 +13,73 25,90M

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 WEGE3 WEG ON 17,05 -2,63 +10,84 76,16M
 TIMP3 TIM PART S/AON 10,02 -1,47 +27,97 17,51M
 ELET3 ELETROBRAS ON 15,76 -1,32 -30,91 21,59M
 ESTC3 ESTACIO PARTON 16,00 -1,23 +1,27 30,50M
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 13,35 -1,18 -5,99 34,56M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 VALE5 VALE PNA 27,57 +0,99 773,36M 702,39M 37.668 
 PETR4 PETROBRAS PN 14,70 +1,17 486,40M 607,24M 32.933 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN ED 38,00 +0,77 343,45M 384,58M 23.539 
 BRKM5 BRASKEM PNA 33,30 +1,71 217,05M 56,76M 18.702 
 VALE3 VALE ON 29,15 +0,83 216,34M 171,65M 19.187 
 BBDC4 BRADESCO PN EJ 31,83 +0,22 194,15M 273,61M 17.149 
 BBAS3 BRASIL ON 32,50 -0,43 172,69M 211,62M 19.712 
 BVMF3 BMFBOVESPA ON 19,46 +1,62 150,85M 283,72M 19.721 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 18,05 +0,39 145,42M 190,82M 18.794 
 CIEL3 CIELO ON 28,99 +1,76 133,72M 172,63M 16.266 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Payroll nos EUA
Os empregadores dos EUA contrataram o menor número de trabalhadores em 10 meses em março, mas a queda na taxa de desemprego para a mínima de quase 10 anos de 4,5% indica que o mercado de trabalho continua a apertar. O relatório de emprego fora do setor agrícola mostrou abertura de 98 mil vagas no mês passado, o menor número desde maio passado, com o setor de varejo fechando postos de trabalho pelo segundo mês consecutivo, informou o Departamento do Trabalho nesta sexta-feira.

Houve a abertura de mais de 200 mil postos em janeiro e fevereiro, como as temperaturas excepcionalmente quentes antecipando as contratações em setores sensíveis ao clima como construção e lazer. Em março, as temperaturas caíram e uma tempestade atingiu o nordeste. A taxa de desemprego caiu 0,2 ponto percentual, para 4,5%, o menor nível desde maio de 2007.

Economistas consultados pela Reuters projetavam a criação de 180 mil empregos no mês passado e que a taxa de desemprego permaneceria em 4,7%. O resultado fraco do relatório pode levantar preocupações sobre a saúde da economia, especialmente dados os sinais de que o crescimento anualizado do Produto Interno Bruto desacelerou para cerca de 1,0 por cento no primeiro trimestre, depois de expandir 2,1 por cento no quarto trimestre.

Reforma da Previdência

O mercado segue de olho nas articulações para a aprovação da reforma da Previdência, após o governo autorizar o relator da reforma na Câmara dos Deputados a fazer 5 mudanças na proposta.  Diante da constatação de que não teria condições de aprovar a reforma da Previdência como está, o governo federal admitiu nesta quinta-feira alterar a proposta em pelo menos cinco pontos mais sensíveis, que podem reduzir economia com a reforma em 115 bilhões de reais ao longo de 10 anos.  O governo aceitou alterar as regras de transição, as normas para aposentadoria rural, o acúmulo de pensões, aposentadorias especiais para professores e policiais e os Benefícios de Prestação Continuada.

Segundo a Folha de S. Paulo. a equipe econômica vê concessão precoce na reforma da Previdência. Em reunião, o ministro da Fazenda Henrique Meirelles defendeu que era muito cedo para concessões pelo risco de a proposta já chegar fragilizada ao plenário; Temer respondeu que era mais importante atingir o consenso antes da votação na comissão. De acordo com o jornal, Meirelles saiu da reunião contrariado. Vale destacar que a consultoria de risco político Eurasia mantém a probabilidade de 70% de aprovação da reforma da Previdência no Congresso mesmo após noticiário recente sobre dificuldades do governo. 

(com Reuters)

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.