Os mercados já não entram mais em pânico com ataques militares e terroristas – e a explicação é simples

Joel Kruger, estrategista de câmbio na LMAX Exchange, e Fareed Zakaria, especialista em relações internacionais e comentarista da CNN, apontam uma explicação

Mário Braga

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SÃO PAULO – Um “soluço”. Assim pode ser definida reação dos mercados ao ataque surpresa de Donald Trump a uma base aérea na Síria na noite de quinta-feira (6). É verdade que o esperado movimento de aversão ao risco desencadeado pela operação militar refletiu na valorização do ouro e do iene, ativos vistos como portos seguros pelos investidores, e em uma alta do petróleo, além de recuos nos índices futuros das bolsas norte-americana.

É importante observar, no entanto, a magnitude e a duração desta reação. A alta da cotação do ouro foi da ordem de 1%, o petróleo, na máxima do dia, ganhou 1,5%, enquanto os contratos futuros do Dow Jones recuaram apenas 0,4% imediatamente após a informação da ofensiva de Donald Trump ser divulgada.

O “pânico” esperado para a abertura dos negócios nas praças ocidentais na manhã de sexta-feira (7) não se concretizou. Pelo contrário, o que se viu foi um movimento de correção ao “susto” da véspera.

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Na Ásia, os principais índices acionários fecharam no campo positivo. Na China, o bombardeio não ofuscou o otimismo com a criação de uma nova zona econômica na província de Hebei nem impediu o índice de Xangai de fechar no maior nível em 15 meses. Os efeitos do aumento do risco geopolítico não durou nem um pregão.

No Ocidente não foi diferente. As bolsas dos Estados Unidos chegaram a avançar logo após a abertura e passaram a manhã oscilando perto da estabilidade, com investidores digerindo os dados decepcionantes do payroll de março. No Brasil, o Ibovespa zerou as perdas em meia hora de pregão. Às 10h30, o barril do petróleo já devolvia os ganhos e retornava às cotações da véspera. Nem mesmo o noticiário de um atentado terrorista em Estocolmo, na Suécia, na manhã desta sexta-feira gerou estresse nos ativos.

Mas por que os mercados “ignoraram” ato de guerra envolvendo a maior economia do mundo?

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A explicação é simples, segundo Joel Kruger, estrategista de câmbio na LMAX Exchange. “Os mercados adquiriram imunidade aos riscos geopolíticos nos últimos anos, devido principalmente às medidas políticas e econômicas sem precedentes adotadas para estimular investimentos, apesar de tais riscos”, afirmou em entrevista ao Market Watch

É como se os mercados estivessem “vacinados” para os efeitos de um ato inesperado, como os atentados terroristas. No livro “Mundo pós-americano”, o especialista em relações internacionais e comentarista da CNN, Fareed Zakaria, destaca as diferentes reações dos mercados financeiros desde o primeiro grande ataque terrorista da nossa era”.

“Após o 11 de setembro, as bolsas de Nova York levaram três meses para retomar os níveis pós ataque. Depois dos ataques na Espanha, em 2004, a Bolsa de Madrid reagiu em um mês. Em Londres, em 2005, o movimento de correção se deu em duas semanas”, destaca, reforçando que os efeitos são cada vez menores à medida que tais eventos se tornam mais comuns.

O comportamento dos investidores nesta sexta-feira reforça essa percepção: houve, sim, um movimento de aversão ao risco, mas de maneira tímida e breve. Desta vez, bastaram horas para os mercados deixarem o ataque de Trump para trás e voltarem a focar na agenda econômica.

Analistas destacam que os mercados devem seguir acompanhando os desdobramentos deste ataque e que apenas informações relativas a mudanças significativas e duradouras dos Estados Unidos em relação à guerra na Síria e a outras questões globais, como a escalada nuclear da Coreia do Norte, podem levar à reprecificação dos ativos de maneira mais forte.

Nesta sexta-feira, o InfoMoney na Bolsa também explicou essa reação dos investidores. Assita à íntegra do programa no vídeo abaixo: