Ibovespa segue pessimismo global com derrota de Trump e abre em queda; dólar sobe

Incertezas com força política do presidente norte-americano para impor sua agenda econômica põe mercado global em estado de alerta

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Após acumular uma semana negativa, o Ibovespa iniciou a segunda-feira (27) em queda expressiva, acompanhando o movimento de cautela dos mercados internacionais. Às 10h23 (horário de Brasília), o índice operava com variação negativa de 0,94%, a 63.251 pontos. No radar dos investidores segue a incerteza com relação à política nos Estados Unidos após a derrota sofrida pelo governo Donald Trump em seu plano de alteração no sistema de saúde, além do monitoramento da recuperação gradual nas atividades do setor frigorífico com a reabertura de mercados importantes.

“Trump prometeu, em 9 de fevereiro, um plano de corte de impostos em duas ou três semanas, e, até o momento, já se passaram seis semanas. A aversão ao risco sobe e o S&P começa a devolver os ganhos. Nas últimas semanas, comentamos que o risco estava muito baixo e que o S&P estava muito esticado e que uma reversão poderia acontecer em breve. Nesse momento, o S&P rompe a região de 2.340 pontos e tem potencial de queda de 5% sem perder a tendência de longo prazo”, escreveu o analista José Faria Júnior, da Wagner Investimentos, em relatório a clientes.

No mesmo horário, os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 e 2021 operavam estáveis, respectivamente a 9,875% e 9,88%. Já os contratos de dólar futuro com vencimento em abril subiam 0,43%, sinalizando cotação de R$ 3,128. O dólar comercial, por sua vez, operava em alta de 0,45% ante o real, cotado a R$ 3,122 na venda.

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Confira ao que se atentar neste pregão e na semana:

Relatório Focus
As expectativas dos economistas consultados pelo Banco Central sobre os principais indicadores brasileiros mostraram tom mais otimista conforme aponta o relatório Focus da última semana, divulgado na manhã desta segunda-feira. De acordo com o levantamento, a mediana das projeções para a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) recuaram de 4,15% para 4,12% em 2017 e se mantiveram em 4,50% no ano seguinte. Para a taxa de câmbio também houve uma pequena mudança, com a mediana das projeções recuando de R$ 3,29 para R$ 3,28 neste ano, mas mantendo-se em R$ 3,40 para 2018.

Já do lado da atividade econômica, as expectativas para o PIB (Produto Interno Bruto) apresentaram leve queda de 0,48% para 0,47% neste ano, ao passo que para o ano seguinte continuaram em 2,50%. Também houve alteração nas apostas dos economistas consultados pelo BC para a balança comercial, indo de US$ 48,10 bilhões para US$ 49,50 bilhões neste ano e de US$ 40 bilhões para US$ 41,20 bilhões no ano seguinte. A mediana das projeções para a taxa básica de juros — a Selic –, por sua vez, continuo em 9% em 2017 e em 8,50% no ano seguinte.

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Entre os cinco economistas que mais acertam em suas projeções — o chamado “top 5” — a mediana das estimativas para o IPCA seguiram em 3,90% para este ano e 4,50% para o seguinte, assim como a taxa de câmbio em R$ 3,35 e R$ 3,50, respectivamente. Já para a Selic, houve leve recuo de 9% para 8,88% neste ano, enquanto em 2018 seguiram em 8,50%.

Veja ao que se atentar neste pregão e na semana:

Destaques da Bolsa

As ações da Vale (VALE3; VALE5) afundam pregão, na esteira do movimento do minério de ferro. A commodity negociada no porto chinês de Qingdao caiu 4,10% nesta segunda-feira, a US$ 81,57 a tonelada, enquanto os contratos futuros do minério de ferro negociados na bolsa chinesa de Dailian registraram baixa ainda mais expressiva, de 5,17%, a 550 iuanes. Acompanham o movimento as ações da Bradespar (BRAP4) — holding que detém participação na Vale — e as siderúrgicas Gerdau (GGBR4), Metalúrgica Gerdau (GOAU4), Usiminas (USIM5) e CSN (CSNA3). 

No radar, a mineradora anunciou que o Tribunal Distrital dos Estados Unidos no Distrito Sul de Nova York emitiu decisão julgando extinta a ação com relação à maior parte dos pedidos aduzidos contra ela e o Diretor-Presidente Murilo Ferreira. A companhia ainda deve receber na semana uma lista com possíveis nomes para assumir a presidência da empresa, segundo um membro do governo com conhecimento do assunto. Os nomes ainda não chegaram à mesa do presidente Michel Temer e é pouco provável que seja anunciado nesta semana, disse uma fonte à Bloomberg.

A Petrobras (PETR3; PETR4) anunciou ao mercado nesta segunda-feira a aprovação do conselho para a recondução de Pedro Parente para um novo mandato na presidência, agora de dois anos. Parente foi eleito em maio de 2016 para continuar a gestão de Aldemir Bendine. Vale destacar que a companhia realiza Assembleia Geral Extraordinária, Rio de Janeiro,  às 15h. Entre outros assuntos, estão a alienação de 100% das ações detidas pela cia. na Petroquímica Suape e na Citepe para o grupo PetroTemex e Alpek por US$ 385 milhões. 

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

C?d. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 BRAP4 BRADESPAR PN 19,89 -5,42 +33,94 6,21M
 VALE3 VALE ON 27,44 -5,38 +6,85 28,08M
 VALE5 VALE PNA 26,14 -4,21 +12,00 86,66M
 BRML3 BR MALLS PARON 13,76 -3,30 +15,15 4,04M
 PETR4 PETROBRAS PN 13,10 -2,82 -11,90 49,84M

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

C?d. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 BRFS3 BRF SA ON 37,30 +4,19 -22,69 36,12M
 JBSS3 JBS ON 11,32 +3,38 -0,70 12,07M
 MRFG3 MARFRIG ON 6,05 +2,54 -8,47 3,14M
 SMLE3 SMILES ON ED 59,29 +2,22 +42,23 4,06M
 UGPA3 ULTRAPAR ON 71,21 +0,92 +5,46 5,82M
* – Lote de mil a??es
1 – Em reais (K – Mil | M – Milh?o | B – Bilh?o)

 

Agenda de indicadores

A agenda doméstica é dominada por indicadores do Banco Central. Na quinta-feira, sai o RTI (Relatório Trimestral de Inflação), que, a partir desta edição, passa a ser divulgado às 8h. Na sexta-feira, às 8h30, será apresentado o IBC-Br (Índice de Atividade do Banco Central) de janeiro, considerado uma espécia de prévia do PIB brasileiro. A LCA Consultores estima uma queda de 0,2% na margem e na comparação interanual. Além disso, a autoridade monetária divulga também as notas de mercado aberto, na terça-feira, de política monetária e operação de crédito, na quarta-feira, e de política fiscal, na sexta-feira, todas às 10h30.

Ainda no Brasil, o Tesouro divulga o Relatório Mensal da Dívida Pública, na terça, e o Resultado Primário do Governo Central, na quinta, ambos sem horário definido, além de realizar o leilão tradicional de LTN e NTN-F e o resgate antecipado de NTN-F, na quinta-feira, às 11h30. Na sexta-feira, sai a taxa de desemprego de março, medida pela Pnad Contínua. Ao longo da semana, mas sem data definida, são esperados os números da arrecadação federal de impostos.

No exterior, destaque para o PIB dos Estados Unidos, na quinta-feira, às 9h30, e para os dados de inflação medida pelo PCE, na sexta-feira, no mesmo horário. Na terça-feira, às 13h50, os investidores acompanham a fala de Janet Yellen, às 13h50, e outros dez discursos de presidentes regionais do Fed ao longo da semana.

Na Europa, a sexta-feira traz a taxa de desemprego da Alemanha, Às 4h55, o PIB do Reino Unido, às 5h30, e o CPI da zona do euro, às 6h. Na Ásia, foco nos PMIs Industrial e de Serviços da China, na quinta-feira, às 22h, e para o balanço em conta corrente de março, ainda sem data definida.

Política em Brasília

Em Brasília,  os destaques são o anúncio do corte de gastos do governo e um possível aumento de impostos que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, anuncia na terça-feira.  A estimativa é de que algo entre R$ 20 bilhões e R$ 25 bilhões virá de ajuste de tributos, aumento do IOF e do PIS/Cofins, inclusive sobre combustíveis, e eliminação de parte da desoneração sobre a folha de pagamentos.

Destaque ainda para as movimentações sobre a reforma da Previdência. Segundo informações do Broadcast, o presidente Michel Temer admitiu a possibilidade de incluir uma emenda na proposta de reforma da Previdência estabelecendo prazo de seis meses para que Estados e municípios promovam mudanças nos sistemas de aposentadoria dos servidores. 

Além disso, é esperado que o ministro relator da Operação Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), Edson Fachin, tome uma decisão sobre os 320 pedidos da Procuradoria-Geral baseados nas delações da Odebrecht.  Destaque ainda para a repercussão das manifestações do último domingo em defesa da Operação Lava Jato e pelo fim do foro privilegiado, que tiveram adesão menor do que a esperada. 

Crise da Carne

O Brasil conseguiu reverter restrições da China, Chile e Egito, o que pode favorecer empresas do setor de carne, em especial JBS e BRF, que têm sido destaques negativos na bolsa desde que a PF deflagrou a operação Carne Fraca. Além disso, o Comissário da UE Vytenis Andriukaitis vem ao Brasil para discutir a questão da carne com o ministro da Agricultura, segundo o porta-voz da Comissão Europeia, Enrico Brivio.

Vale destacar que o juiz federal Marcos Josegrei da Silva determinou a soltura de três presos na Operação Carne Fraca, da Polícia Federal. A decisão do juiz, que é responsável pela operação, foi tomada no sábado (25). Ele determinou a soltura de Rafael Nojiri Gonçalves, Antônio Garcez da Luz e Brandízio Dario Júnior.

Bolsas mundiais

A segunda-feira é de aversão a risco nos mercados, com os investidores inseguros com a capacidade política do governo de Donald Trump de implementar sua agenda econômica. Os preços das ações e commodities recuaram de forma generalizada, o que favoreceu os bônus do Tesouro Americano, conforme destaca a LCA Consultores. Na avaliação da consultoria, agora o governo parte para a importante reforma tributária, que é um tema que conta com maior apoio no Partido Republicano. Entretanto, o revés na reforma da Saúde e a forte divisão dentro do partido governista aumentam as incertezas com a capacidade política de se chegar a um consenso. 

Já a Opep sinalizou que poderá estender o corte da produção, em função do fato de que a metade dos doze países membros do cartel pleiteia por mais tempo para reduzir os seus estoques de óleo. Esse pedido foi feito por Kuwait, Argélia e Venezuela. Rússia e Omã, que não pertencem ao cartel também apoiaram a medida. A proposta é conceder mais seis meses e uma decisão final será tomada na reunião da Opep no dia 25 de maio. Contudo, em meio a incertezas sobre o corte da produção, o dia é de queda para o petróleo. 

 Na Ásia, os mercados acionários da China caíram nesta segunda-feira, com o otimismo sobre os dados mostrando aumento dos lucros nas indústrias ofuscados por novas restrições imobiliárias e sinais de que a política monetária pode ser apertada ainda mais.  

(Com Bloomberg, Reuters e Agência Estado)

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.