Comprovado: times de futebol não repetem na Bolsa o resultado apresentado em campo

Itaú BBA analisou ações de 10 times da Europa e concluiu que elas "parecem ter uma espécie de 'vida própria'"

Mário Braga

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SÃO PAULO – O desempenho de uma ação normalmente tem forte influência do resultado operacional e da sua saúde financeira da empresa. Mas será que essa máxima dos mercados financeiros também se aplica ao mercado da bola? Um estudo do Itaú BBA indica que não. Um time campeão em campo não necessariamente vai disparar na bolsa de valores. 

O superintendente de crédito da instituição, Cesar Grafietti, analisou ações de 10 times europeus com papéis em bolsa – Galatasaray, Porto, Benfica, Juventus, Lazio, Roma, Arsenal, Manchester United, Ajax, Borussia – e a conclusão é inusitada. “Elas parecem ter uma espécie de ‘vida própria’. Não é para todos os times, mas vale como ‘regra básica'”, afirma o relatório, que aponta entre as possíveis explicações a baixa liquidez e o fato de os papéis estarem nas mãos de pessoas ligadas aos clubes.

A análise foi publicada cerca de um mês depois da entrevista do analista à InfoMoney TV, quando foi questionado quais times brasileiros seriam os “campeões” na bolsa de valores. No relatório de mais de 70 páginas divulgado nesta semana, Grafietti aponta que o Flamengo foi o time “campeão” em termos financeiros em 2016. (Leia a reportagem completa clicando aqui).

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Ao concentrar sua análise em 10 equipes europeias, o especialista observou duas tendências dominantes: a liquidez dos papéis é baixa e, em muitos casos, a “decisão de investimento” parece estar mais relacionada ao “apego” dos torcedores-investidores por seus clubes que guiadas por perspectivas de possíveis ganhos financeiros no futuro.

Assim, revela a análise, é recorrente que ações de clubes apresentem bons desempenhos mesmo quando a equipe está altamente endividada ou sem ganhar campeonatos e, por outro lado, que times com as contas em dia e vitoriosos em campo não deem grandes retornos a seus acionistas.

Os 10 clubes europeus
O Itaú BBA destaca que a maioria dos clubes possui controladores fortes e dificilmente as ações trocam de mãos – o free float das ações baixo e a liquidez, reduzida. Em sete dos dez times analisados, a liquidez dos papéis representa entre 0% e 0,4% do valor de mercado das equipes. (Veja os dados completos na tabela abaixo)

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O Galatasaray, da Turquia, é o clube em que este índice é mais alto, 3,3%. Entre as equipes analisadas, a de Istambul foi a que apresentou valorização mais forte, de 37,9% em 2017. No entanto, o relatório aponta que nem aspectos esportivos nem financeiros explicam a disparada. Apesar do bom desempenho nos campeonatos locais, o clube foi banido da Champions League em 2016 e 2017 por não cumprir as regras do fair play financeiro da Uefa (União das Federações Europeias de Futebol) e registrou elevados prejuízos, com aumento de sua dívida.

Ao detalhar a análise de outros clubes, Grafietti ressalta o exemplo dos times portugueses Benfica e Porto. Nos dois casos, os investidores se comportam mais como torcedores, que parecem não tomar decisões focadas na rentabilidade do capital aplicado. “Não há qualquer aspecto que indique que o clube é um ativo para investimento. Trata-se, aparentemente, de ‘reserva de valor sentimental'”, observa o analista. 

As exceções ficam com as equipes italianas. O Juventus, destaca o Itaú BBA, tem conquistado a série A há alguns anos e chegou à final da Champions League na temporada 2014/2015. Além disso, apresenta balanço equilibrado. “Isto justifica o bom desempenho da ação, que subiu acima da Bolsa de Milão no mesmo período. Em 2017, já cresceu 13%”, destaca.

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Já no Lazio, a situação é inversa. O desempenho financeiro ruim em 2016 e os fracos resultados na temporada ajudariam a explicar a queda de 22,2% na cotação dos papéis naquele ano. “Em 2017, apresenta desempenho melhor, em zona de classificação para a Liga da Europa, o que ajuda a explica o crescimento de 23% (no valor da ação)”, acrescenta Grafietti.