Endividadas em dólar disparam com queda da moeda; Itaú sobe 4%, enquanto Petrobras e Vale caem

Confira os destaques da Bovespa na sessão desta quarta-feira (15)

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O Ibovespa ganhou forças na tarde desta terça-feira (15), com o mercado brasileiro atraindo a atenção dos investidores estrangeiros diante da melhora econômica e cenário benigno na política. O otimismo segue predominando do mercado em meio às políticas de estímulo do presidente americano Donald Trump e o cenário mais positivo para a aprovação de reformas econômicas no Brasil.

Com isso, bancos registraram fortes altas, assim como as empresas endividadas em dólar, que comemoram a queda de quase 1% da divisa, que se aproxima do nível de R$ 3,05. Confira os destaques desta terça-feira: 

Endividadas em dólar

Com o dólar renovando mínimas em 19 meses e fechando na casa dos R$ 3,06, as ações das empresas endividadas na divisa subiram forte, caso de Cemig (CMIG4, R$ 10,03, +6,93%), Light (LIGT3, R$ 20,65, +4,72%) Eletropaulo (ELPL4, R$ 12,41, +2,06%), CSN (CSNA3, R$ 12,65, +1,85%), Gol (GOLL4, R$ 7,80, +6,56%), Rumo (RUMO3, R$ 8,74, +2,22%), entre outras companhias. Com a queda do dólar ajudando a diminuir a parcela de endividamento na moeda americana, essas ações comemoram. As ações da exportadora Braskem (BRKM5, R$ 32,82, -3,16%), por sua vez, registrou queda. 

Além disso, destaque para o relatório do Santander com prévia do resultado do quarto trimestre para o setor de utilities. o Santander antecipou números positivos para a Cemig, Light e Sabesp. 

Já no radar da Gol, a empresa anunciou na terça-feira um contrato de arrendamento de cinco aeronaves Boeing 737 MAX 8 com a companhia irlandesa Awas, num contrato de 550 milhões de dólares. Em comunicado, a Gol disse que os jatos serão entregues entre junho e novembro de 2018, sendo arrendadas por 12 anos.

A Gol afirmou esperar que os novos jatos permitam redução do consumo de combustível em até 15 por cento em comparação às aeronaves 737-800 Next Generation e de até 8 por cento menos combustível por assento em relação ao A32neo. As aeronaves 737 MAX 8 terão autonomia de voo de até 6,5 mil quilômetros (ante 5,5 mil atuais). Com isso, a Gol quer fazer voos sem escalas para Miami, Ft. Lauderdale, Orlando e Cancún. Em comparação ao A320neo, a previsão da Gol é que o 737 MAX 8 tenha alcance de mais de 500 quilômetros, além de ter nove assentos adicionais.

Vale destacar ainda a notícia da véspera de que o texto da Medida Provisória que trata de medidas para reforçar o setor de turismo também pode contar com a ampliação de até 100% de participação de capital estrangeiro nas companhias aéreas brasileiras. Segundo matéria do Broadcast, a expectativa de parte do governo é de que a proposta seja encaminhada até a próxima semana para discussão no Congresso, tendo como um dos temas centrais a abertura do setor aéreo nacional.

Petrobras (PETR3, R$ 16,86, +0,30%;PETR4, R$ 15,84, +0,13%)

A Petrobras registrou um movimento de forte oscilação na sessão desta quarta-feira. As ações abriram em alta, zeraram os ganhos, mas voltaram a subir no final da manhã. Após a divulgação do estoque de petróleo, que veio bem acima do esperado, os papéis chegaram a amenizar, mas seguiram em tendência positiva. 

O Departamento de Energia dos Estados Unidos informou que os estoques de petróleo no país subiram 9,53 milhões barris na semana encerrada em 13 de fevereiro. Analistas consultados pela Bloomberg esperavam um aumento de 3,5 milhões de barris. O último dado divulgado havia apontado para uma alta de 13,83 milhões de barris. Ainda segundo o Departamento de Energia norte-americano, os estoques de gasolina cresceram 2,85 milhões barris, ao passo que os estoques dos destilados recuaram em 689 mil barris. A expectativa era de alta de 500 mil barris para a gasolina. 

Lojas Americanas (LAME4, R$ 16,20, -3,57%)

As ações da Lojas Americanas lideraram as perdas após a Bloomberg informar, citando fontes, que a Lojas Americanas contratou Itaú, Santander, JPMorgan e Banco do Brasil para uma oferta de ações e que o Credit Suisse, que foi contratado pela rede neste mês, vai liderar a oferta. A companhia informou em nota que “engajou outras instituições financeiras para dar seguimento à análise de operações relativas à sua estrutura de capital, que, como dito anteriormente, pode envolver um aumento de capital”.

A Lojas Americanas deve usar os recursos para fazer aquisições, tendo como potenciais alvos a BR Distribuidora da Petrobras ou a rede de varejo de eletrônicos Via Varejo, segundo relatório do Brasil Plural de 31 de janeiro. 

Vale (VALE3, R$ 33,82,  -1,69%;VALE5, R$ 31,91, -0,99% )

As ações da Vale abriram em alta, ignorando o movimento das commodities, mas logo amenizaram os ganhos e, no final da tarde, firmaram tendência de queda. O minério de ferro recuou 1,27% em Dalian, na China, após o maior produtor da África prever queda dos preços; já em Qingdao, a baixa foi de 0,72%, a US$ 91,05 a tonelada. 

Por outro lado, outras duas notícias são destaque. A Vale retomou nos últimos dias procura por comprador de quatro plantas de fertilizantes em Cubatão depois da desistência da Yara International, segundo informa a Reuters. Ainda no noticiário da companhia, o Bradesco BBI destacou em relatório ver a cotação do minério de ferro insustentável no atual patamar, mas que o curto prazo é bom para a Vale. Os analistas veem como altamente improvável que os preços do minério de ferro permaneçam nos níveis atuais; porém, “enquanto o processo de normalização não ocorrer, ações da Vale devem permanecer bem sustentadas”. O banco mantém recomendação neutra para Vale; o preço alvo por ADR é de  US$ 10, o que implica queda potencial de 12% e  preço alvo por ação de R$ 33. 

Frigoríficos e alimentos

As ações de frigoríficos e alimentos tiveram movimento diverso após o relatório do Itaú BBA revisando o setor. O Itaú BBA rebaixou a recomendação para a Marfrig (MRFG3, R$ 7,35, +0,14%) de outperform para underperform, mantendo os ratings outperform para a JBS (JBSS3, R$ 12,20, +1,58%) e a Minerva (BEEF3, R$ 12,18, +2,87%), mas com menor upside e dinamismo, além de manter recomendação market perform em BRF (BRFS3, R$ 43,96, +1,76%), Ambev (ABEV3, R$ 18,02, +3,68%).

“Atualizamos nossas estimativas para todas as empresas de alimentos e bebidas que cobrimos para incorporar nossas novas estimativas macroeconômicas. Estamos revisando todos os preços-alvo para baixa, porque a previsão de dólar mais fraco reduz a perspectiva para a maior parte do setor”, afirmam os analistas. 

Ainda sobre a JBS, em entrevista à Folha de S. Paulo, Joesley Batista, presidente da J&F (dona da JBS), afirmou que não sairá do comando da companhia e que irá provar que não houve qualquer irregularidade na relação da J&F com a Caixa Econômica Federal e com os fundos de pensão estatais que investiram na Eldorado Celulose.

Joesley nega ter interferido no trabalho de auditoria, que foi aprovado pelo conselho, disse ter certeza que ninguém de sua empresa cometeu irregularidades e nega ter relações ou negócios com o governo. Vale ressaltar que, em 6 de fevereiro, o  Ministério Público Federal pediu que a Justiça reconheça que Joesley e o diretor presidente da Eldorado, José Carlos Grubisich Filho, descumpriram o termo de ciência e compromisso firmado em setembro do ano passado com o MPF.

Na época, a J&F firmou acordo com o MPF no âmbito da Operação Greenfield, que apura suspeitas de crimes contra os principais fundos de pensão. O acordo prevê que J&F tinha até 21/outubro para depositar em juízo ou oferecer garantias no valor de R$ 1,5 bi, segundo comunicado do MP. Joesley disse ainda ao jornal que acontecimentos recentes não mudam os planos da cia, nem o IPO da JBS nos EUA.

M. Dias Branco (MDIA3, R$ 136,13, +3,29%)

As ações da M.Dias Branco chegaram a subir 5,69% na máxima do dia, após a ação ser citada em lista do Itaú BBA. Os analistas elevaram estimativas de ganho por ação da MDIA3 no mês passado por 4,1% para o trimestre atual contra corte médio de 4,2% em estimativas do EPS para seus pares globais, de acordo com dados compilados pela Bloomberg O papel acumula alta de 132% nos últimos 12 meses contra a avanço de 70% do Ibovespa.

BM&FBovespa (BVMF3, R$ 19,56, +3,99%)

As ações da BM&FBovespa ficaram entre os maiores ganhos do dia. A companhia informou nesta quarta-feira que foi concedida liminar determinando ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) a suspensão do julgamento sobre uso de critério fiscal equivocado na fusão que deu origem à empresa. O comunicado ao mercado é um esclarecimento a notícia veiculada na mídia sobre o assunto.

De acordo com reportagem do jornal Valor Econômico nesta quarta-feira, a BM&FBovespa obteve nova liminar na 6ª Vara Cível do Distrito Federal para suspender o julgamento. A suspensão trata do julgamento do auto de infração da Receita Federal que questiona a amortização, para fins fiscais, em 2010 e 2011, do ágio gerado quando da incorporação de ações da Bovespa Holding S.A. pela BM&FBovespa em 2008. A BMF&Bovespa foi multada em cerca de 1,1 bilhão de reais e Carf está julgando um recurso contra a multa.

Outras ações do setor financeiro registram ganhos. Acompanhando o movimento positivo do exterior com expectativas de desregulamentação na área bancaria e de estímulos fiscais nos EUA, as ações do setor bancário também registraram ganhos, com destaque para o Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 41,68, +4,20%), Banco do Brasil (BBAS3, R$ 31,86, +1,21%) e Bradesco (BBDC4, R$ 33,09, +2,16%). 

A ação da Cielo (CIEL3, R$ 28,76, +3,68%), por sua vez, chegou a subir mais de 4% acompanhando o cenário de otimismo. Vale destacar que o Itaú BBA cortou o preço-justo para as ações da companhia, de R$ 34 para R$ 33, mantendo a recomendação marketperform. “Apesar dos múltiplos abaixo da média, nós ainda não estamos prontos para ter uma visão mais construtiva sobre a ação dado o momentum fraco dos resultados em 2017 e incertezas nos cenários regulatórios e de competição”, afirmam os analistas. 

Saneamento
As ações do setor de saneamento registram ganhos, de olho nos próximos passos das revisões tarifárias das companhias. Sanepar (SAPR3, R$ 14,95, +3,60%), Sabesp (SBSP3, R$ 34,38, +2,24%) e Copasa (CSMG3, R$ 49,16, +0,76%) tiveram ganhos, com destaque para a estatal paranaense. Vale destacar que o Insight do Dia da última terça-feira trouxe uma análise do Bradesco BBI sobre a companhia com o seguinte título: compre agora, ou lamente depois, afirmando que o catalisador de curto prazo deve ser disparada na semana que vem. Confira mais detalhes clicando aqui. 

Cosan (CSAN3, R$ 42,55, +1,02%)

A Cosan, por sua vez, subiram após a divulgação dos resultados da Raízen, joint venture entre a companhia e a Shell. A companhia teve crescimento de 20,3% no lucro líquido atribuível aos sócios controladores no quarto trimestre de 2016, de R$ 557,8 milhões, ante R$ 463,5 milhões em igual período de 2015. Os dados foram divulgados na noite desta terça-feira no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).  A receita líquida de vendas somou R$ 3,476 bilhões entre outubro e dezembro do ano passado, 6,46% abaixo aos R$ 3,716 bilhões de igual intervalo no ano anterior.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.