Os quatro grandes trades que marcaram a história da Verde Asset, o maior hedge fund do Brasil

Luis Stuhlberger e equipe contam 20 anos de história da Verde Asset e os principais trades do início da vida do fundo, além de destacar as perspectivas para os próximos anos

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O relatório de janeiro da Verde Asset, maior hedge fund do Brasil com R$ 21 bilhões sob gestão e cuja equipe é liderada por Luis Stuhlberger, trouxe uma retrospectiva dos 20 anos recém-completados no mês passado, em que trouxe histórias sobre os principais trades realizados, além das perspectivas para os próximos anos. 

O início do fundo foi caracterizado por dois grandes trades, “que trouxeram importantes retornos e, de certa maneira, consolidaram o DNA da gestão de buscar oportunidades assimétricas de investimentos”, afirmam os gestores. O primeiro deles foi uma posição tomada em pré ás vésperas da Crise da Ásia em 1997, em que o mercado não acreditava que o Banco Central poderia subir muito os juros. “Veio a crise e, em reunião extraordinária, o BC puxou a taxa de 19% para 40%, para combater a fuga de capital e defender o câmbio”, relembram.

Já o segundo trade da vida do fundo – em termos porcentuais, o maior de todos – foi na desvalorização do real, no começo de 1999. Conforme destaca a Verde, o default na dívida externa de Minas Gerais foi a “gota d’água do modelo de câmbio fixo brasileiro”, e a máxi beneficiou a posição comprada em dólar, que fechou o ano com retorno de 135,40%. “Talvez, não fosse a máxi, nunca tivéssemos nos tornado uma grande gestora, e quem sabe estaríamos ainda buscando nosso lugar ao Sol”, afirmam os gestores. 

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Ao longo do relatório, de 26 páginas, os gestores apontam outros eventos marcantes do Brasil e da gestora. Em 2001, prenunciou-se um pouco o que viria adiante, com a crise da Argentina e o apagão contribuindo para piorar a percepção de risco Brasil, com a Verde Asset montando posição comprada em dólar para se proteger desse cenário. “Eis que veio 2002, um ano bastante difícil, mas que ofereceu a oportunidade para o terceiro grande trade da história”. Os gestores ressaltam que, entre março e maio daquele ano, o mercado acreditava numa vitória do tucano José Serra nas eleições presidenciais, não precificando os riscos de uma vitória de Lula. “Montamos as operações com opções de juros e também compramos dólar e cupom cambial, que se beneficiaram do movimento gigantesco de aversão ao risco que se seguiu a consolidação da probabilidade de vitória do PT”. O fundo fechou aquele ano com retorno de 48,72%. 

Depois disso, o fundo começou a desmontar as posições negativas por considerar que o mercado exagerava no medo e também por acreditar nas possibilidades representadas pela chamada “Carta dos Brasileiros”, divulgada em junho de 2002 pelo então candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva. “Isso nos leva a 2003 e o quarto grande trade da história do fundo”. 

Os gestores apontam que a Bolsa havia ficado muito barata durante o período eleitoral, e a combinação desse cenário com uma moeda também muito barata beneficiava muito as exportadoras. Com isso, a Verde Asset montou posições compradas nestas, iniciando a fase do fundo onde a exposição a Bolsa foi parte importante do portfólio. Os gestores ainda lembram que esta foi a época da Guerra do Iraque, e o fundo continuou gastando bastante com hedges.

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Do pico do otimismo ao ceticismo

Os anos seguintes, de 2004 a 2006,  foram mais tranquilos, mas também mostrando mudanças para o Brasil e para a Verde Asset,. Em 2007, foi marcado o pico de otimismo com o boom brasileiro e, enquanto os EUA se viam diante de um problema no setor imobiliário, o mundo “comprou” a teoria de que os países emergentes. “O fundo obteve excelentes retornos com seu portfólio de ações, e foi nesse ano que consolidamos nosso envolvimento com um tema que nos acompanharia pela década seguinte: a alta da inflação no Brasil”, afirmam, ressaltando que havia sinais de que nem tudo ia bem. Já no ano seguinte, que foi marcado pelo início da crise do subprime, os gestores passaram a questionar os fundamentos por trás do otimismo com o Brasil. 2008 foi o primeiro ano de desempenho negativo para o fundo. Apesar de não ser um período fácil, a Verde Asset ressalta que houve oportunidade de posicionamento para a retomada em 2009, quando o fundo teve retornos de 50,37%.

“A onda de otimismo com o Brasil voltou com força total em 2010, ano de forte crescimento do PIB, mas os sinais de que debaixo da superfície algo não ia bem começava a se avolumar”. Eles apontaram os problemas em se criar demanda sem condições macroeconômicas sustentáveis, além da forte pressão da folha de pagamentos e dos benefícios sociais, a alta carga tributária, a dívida bruta em alta, entre outras questões. “Mas antes de eles serem precificados de modo importante (algo que só foi ocorrer mais recentemente), tivemos o biênio 2011-2012, onde o grande foco do mercado foi no ciclo de corte de juros”. O fundo conseguiu capturar um pedaço razoável do ciclo de corte mas, em meados de 2012, passou a questionar a sustentabilidade do modelo. 

Neste período, conforme passou a se questionar a sustentabilidade do modelo brasileiro, a Verde Asset passou a construir um portfólio de ações e outros ativos globais. 2013 se seguiu com a Verde Asset ainda cética – e com muitos questionando essa visão. A reversão do otimismo chegou, mas por razões externas, quando o Federal Reserve começou a dar os sinais do início da retirada de estímulos. “No fim de 2013, os sinais de que o Brasil seguia em deterioração eram crescentes, reforçando nossa convicção nas posições, e a piora fiscal caminhava a ritmo galopante, embora os mercados não prestassem a devida atenção ao assunto”, afirma a gestora. 

Já o ano de 2014 trouxe consigo o conturbado cenário eleitoral. A Verde Asset seguia cética, “mas a percepção de que uma vitória de Aécio Neves (ou, por algumas semanas, Marina Silva) poderia, instantaneamente, resolver os problemas, criou um rali poderoso em meados do ano”. Dilma Rousseff venceu, contrariando as previsões otimistas do mercado, o fundo conseguiria se recuperar no final do ano, mas fecharia o período com o segundo resultado abaixo do benchmark da história. “Ainda assim, podemos dizer que todo o processo de análise e gestão realizado em 2011 até 2014 culminou no ano de 2015, quando os problemas da economia vieram à tona de maneira explosiva”. 

2016, por sua vez, foi um ano improvável, com a mudança constante de cenário e com os desafios de alocação tomando velocidade com a aceleração do processo de impeachment de Dilma. Além do Brasil, o exterior também reservava surpresas, como a vitória do Brexit e a eleição de Donald Trump, que mostravam o início da reversão do processo de globalização que marcou as últimas três décadas. 

Os próximos anos para o Brasil

Conforme ressalta a equipe da Verde, o Brasil, embora afetado pela possível de-globalização, ainda é dominado no curto prazo por dois fatores: i) continuidade do processo de reformas e ii) retomada, mesmo que tímida, do crescimento. “A queda dos juros deve continuar, é condição necessária, mas não suficiente”. Em janeiro deste ano, o desempenho do fundo teve pouco a ser comemorado: ele rendeu 0,11%, enquanto o CDI avançou 1,09% no mesmo período. 

A conclusão do Verde após toda a trajetória é que a evolução da capacidade de análise foi imprescindível para acompanhar o aumento da complexidade dos mercados e a integração do Brasil nos fluxos globais. “Ao mesmo tempo, fica claro que há ciclos longos, e a capacidade de olhar a floresta, e não só as árvores, é necessária para encontrar grandes assimetrias”, afirma. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.