Eike Batista preso? Isso podia ter acontecido diversas vezes nos últimos anos

Eike cometeu uma série de crimes contra o mercado financeiro brasileiro e causou um grande dano para milhares de acionistas de suas empresas

Equipe InfoMoney

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*Felipe Moreno é ex-editor de finanças do InfoMoney e autor do livro “Eike – A Derrocada do Homem Mais Rico do Brasil”. Atualmente é editor-chefe do StartSe

Hoje a Polícia Federal bateu na casa de Eike Batista para, enfim, prendê-lo. O grande problema? Ele está viajando e deve se entregar quando retornar. Com um passaporte alemão na mão, é natural que as autoridades nacionais comecem a acreditar na possibilidade de que isso não aconteça.

Depois de ter escrito um livro sobre ele, fica uma coisa na minha cabeça: talvez isso devesse ter acontecido antes. Bem antes. Talvez há pelo menos 5 anos, no mínimo. A escabrosa história do grupo X é uma das mais estranhas do Brasil e que mais dano fez para milhares de pessoas inocentes (suas ações eram, de longe, as mais populares de toda a bolsa nacional).

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Eike era uma daquelas figuras carismáticas e apaixonantes. Sempre sorridente, com boas histórias para contar. Rico, bem sucedido, filho de uma figura importante no Brasil (Eliezer Batista, ex-presidente da Vale), casado com uma mulher bonita, pai de crianças saudáveis e que falava as coisas certas… enfim, aquela história bonita.

A história dele impressionava, principalmente pela sua experiência extraindo ouro na Floresta Amazônica (onde seu guarda costas chegou a matar um homem) e comandando a mineradora canadense TVX. Virou bilionário, mas ainda era mais conhecido como o “marido de Luma de Oliveira”. A vida mudou quando ele resolveu ir para a Bovespa, abrindo o capital de várias empresas que não produziam absolutamente nada. Uma piada comum era de que ninguém ganhou mais dinheiro com Powerpoint do que Eike Batista, nem Bill Gates.

Nos primeiros anos de bolsa, tudo corria bem. Foi lindo e maravilhoso quando ele vendeu parte da MMX (a IronX) para a Anglo American por mais de R$ 5 bilhões. Acho que ele conquistou a confiança do mercado de vez ali. Infelizmente, para a Anglo American, a história não foi tão boa assim. A aquisição foi um fiasco, a empresa perdeu o dinheiro investido e a direção da companhia chegou a ser demitida por conta dele.

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Com os anos, várias “empresas-powerpoints” do grupo X foram para bolsa: as mais famosas OGX, MMX, OSX, LLX, MPX. Só que ele era administrado como uma bagunça, sem nenhum respeito pelos acionistas. Eike escolhia seus “favoritos da última semana” e os tratava como reis. Os antigos favoritos eram escanteados conforme a companhia mudava de direção. Além disso, tudo era conforme as vontades do chefe… mesmo quando isso infringia as regras da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e a Lei das S.A.

Você lembra de quando a consultoria DeGolyer & McNaughton lançou um relatório dizendo que a OGX teria recursos exploráveis de pouco mais de 100 milhões de barris de petróleo? A resposta foi típica de Eike: ele declarou que o relatório tinha nascido velho (comparou com o Benjamin Button!) e declarou que a empresa tinha 10,8 bilhões de barris para extrair (completamente acima das expectativas mais otimistas da D&M). E parte do mercado foi completamente iludido com isso.

Eike também demonstrou, em vários momentos, que não era muito confiável. Vendeu ações antes de anúncios ruins (só em maio de 2013 foram R$ 120 milhões em ações da OGX vendidas por ele, pouco antes da companhia anunciar problemas em um poço), sendo acusado de insider trading por estes atos.

Mas nenhuma história mostrou tanto “comprometimento” dele quanto a put prometida para a OGX. Ele prometeu uma operação em que ele injetaria US$ 1 bilhão para a petrolífera se ela necessitasse, anunciado com pompa no mercado, para aumentar a confiança do mercado no futuro da empresa. Nesta operação, ele compraria ações ao preço de R$ 6,30.

Só que, como controlador, tentou adiar ao máximo o dia que a companhia pedisse o recurso, principalmente quando as ações passaram a valer centavos (ele teria que comprar uma quantidade elevada à preços muito altos!). Até que o diretor responsável resolveu pedir, publicamente o dinheiro, como prometido. E descobriu que o contrato nunca havia sido assinado. A empresa ficou sem o dinheiro e sem o executivo, pedindo recuperação judicial logo depois.

No fim, chamava atenção o conflito de interesses entre OGX e OSX. Afinal, Eike era controlador nas duas, mas tinha mais ações da OSX do que da OGX. Então os acordos entre as duas começaram a favorecer a OSX. Ambas acabaram em recuperação judicial no final de 2013 e hoje são controladas pelos ex-credores. A OGX não produz nem perto dos 2 milhões de barris diários que Eike havia projetado para 2016.

Sua prisão talvez não aconteça tão cedo, mas motivos não faltaram antes da Operação Lava Jato. Eike cometeu uma série de crimes contra o mercado financeiro brasileiro e causou um grande dano para milhares de acionistas de suas empresas. Precisa pagar por eles.