Corte da Selic, fluxo e discussão sobre distratos: entenda a disparada de até 28% das imobiliárias

Combinação de fatores faz ações de construtoras dispararem na Bolsa neste início de ano, e uma nova notícia nesta quinta pode trazer ainda mais alívio para o setor

Rodrigo Tolotti

Preços da Habitação em São Paulo foram um dos destaques entre as altas no período

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SÃO PAULO – O ano começou bastante positivo para o mercado brasileiro, mas se tem um setor que tem tudo para comemorar é o de construção civil. Desde o início desta semana, uma série de fatores vem mudado completamente o cenário deste que é um dos setores mais prejudicados do últimos anos. Algumas ações de construtoras na Bovespa já registram ganhos de quase 30% nestes quatro pregões de 2017.

Nesta quinta-feira (5), diversas ações do setor subiram forte, caso da Helbor (HBOR3, R$ 1,97, +4,23%), Rossi (RSID3, R$ 3,23, +8,75%), PDG Realty (PDGR3, R$ 1,50, +4,90%), Gafisa (GFSA3, R$ 2,20, +2,80%) e JHSF (JHSF3, R$ 1,66, +6,41%). Mas o movimento já decorre de alguns dias, com destaque para a Helbor, que acumula alta de 27,92% na semana, seguida pela PDG, com 26,05%, Rossi (19,63%) e Gafisa, que sobe 18,28% no período. Basicamente, são três fatores favorecendo o setor.

O primeiro fator é a expectativa de maior entrada de fluxo estrangeiro no Brasil. Este, na verdade, é um motivo que tem feito a Bolsa como um todo ter iniciado o ano com altas expressivas. A expectativa de melhora da economia, com queda do dólar, e um ambiente político mais calmo, tem feito o mercado por aqui registrar um ótimo início de ano, e como as imobiliárias possuem um beta alto, acabam seguindo este movimento de alta mais de perto.

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Este otimismo leva a um segundo fator, que é a expectativa de corte da Selic. Na próxima semana ocorre a primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) de 2017, a as projeções variam entre corte de 50 e 75 pontos-base. Com um corte mais forte da Selic, o custo dos financiamentos acaba reduzido, o que impacta diretamente de forma positiva as empresas do setor.

Segundo o trader da H. Commcor, Ari Santos, este ambiente positivo de negócios na Bovespa e a expectativa de corte mais forte dos juros tem tornado o cenário quase perfeito para as construtoras na Bolsa. Para ele, ocorreu uma arrancada dos papéis no início da semana após o mercado projetar corte mais acentuado da Selic, e isto pode voltar a se intensificar conforme a reunião do Copom se aproxima.

Por fim, um terceiro fator surgiu nesta quinta-feira. Segundo a jornalista Andréia Sadi, da GloboNews, o governo já estuda uma proposta para regulamentar os distratos de imóveis. A ideia é evitar a judicialização do processo, que acaba travando toda a construção do imóvel e atrasa a entrega pela construtora. De acordo com a informação, a ideia é anunciar a medida até o fim deste mês.

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Os distratos têm sido um dos grandes vilões da crise que assola as imobiliárias nos últimos anos. De uma maneira simples, a lei dos distratos permite que o comprador de um imóvel que ainda está pagando as prestações (e ainda não recebeu as chaves deste imóvel) possa receber de volta parte deste dinheiro caso ele não tenha mais condições de continuar pagando as parcelas.

Em entrevista ao InfoMoney concedida no final do ano passado, o fundador da Tecnisa (TCSA3), Meyer Joseph Nigri, explicou que os distratos afetam as empresas em duas formas: há o distrato involuntário, quando o comprador simplesmente não consegue mais pagar as prestações do imóvel, mas há também o distrato voluntário, quando o comprador adquiriu o imóvel como um investimento e, ao perceber que o preço pago inicialmente por ele está abaixo do valor atual do imóvel, pede o dinheiro de volta.

“Isso [distrato voluntário] provocou um aumento no estoque e derrubou ainda mais os preços. Esse é um problema que continua e que segue crescendo (…) esperamos para que as autoridades mudem essas leis, pois têm causado um risco sistêmico e quebrado empresas”, disse Meyer ao InfoMoney (confira a entrevista completa aqui).

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.