Entenda por que a “falta de notícias” ajudou a segurar o dólar e fez a Bolsa subir

Ausência de notícias traz alívio político e foi suficiente para sustentar o preço do real ante o dólar no curto prazo, além de sustentar os ganhos do Ibovespa

Paula Barra

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SÃO PAULO – Na volta da celebração de Natal e em sessão de baixa liquidez, com bolsas fechadas na Europa e nos Estados Unidos, o Ibovespa teve seu segundo pregão de alta seguido nesta segunda-feira (26), com alguns papéis reagindo ao noticiário corporativo. O benchmark da Bolsa brasileira encerrou a sessão com ganhos de 1,18%, aos 58.620 pontos. Apenas 9 das 58 ações do índice tiveram queda hoje. O volume financeiro ficou em R$ 1,6 bilhão, contra uma média diária de R$ 8,774 bilhões.

Em meio ao clima de “solidão” para o investidor doméstico, as atenções se voltaram para indicadores econômicos como o resultado primário do governo central e o último compilado de projeções dos economistas para o Relatório Focus no ano. O dia também trouxe desdobramentos do noticiário político, que contou com discurso do presidente Michel Temer em rede nacional, defendendo a alteração da Constituição para a construção de um novo país. 

Os contratos de juros futuros fecharam em leve baixa, com os DIs com vencimento em janeiro de 2021 cedendo 4 pontos-base, a 11,38%, ao passo que os contratos com vencimento em janeiro de 2018 – que reflete as apostas para a política monetária ao longo de 2017 – caiu 3 pontos, para 11,57%. Já os contratos futuros do dólar, com vencimento em janeiro de 2017, subiam 0,32%, a R$ 3,288. O dólar comercial fechou em alta de 0,17%, a R$ 3,2754 na venda. Na semana passada, a moeda norte-americana acumulou perda 3,56 por cento, a maior queda semanal desde o período encerrado em 1º de julho (-4,35 por cento).

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Em entrevista para a Bloomberg, o trader Olavo Souza, da Mirae Corretora, resumiu o movimento do mercado nesta sessão de alta: “a falta de notícias é uma boa notícia”. Segundo ele, a ausência de notícias, em parte devido ao recesso no Congresso e no Supremo, traz alívio político e é suficiente para sustentar o preço do real ante o dólar no curto prazo, em meio a um cenário de grande diferença entre as taxas de juros locais e externas. Isso também faz com que a Bolsa consiga seguir no positivo, sem grandes movimentos por conta da falta de noticiário.

Por outro lado, ele acredita que este alívio trazido pela ausência de notícias deve terminar logo no início de 2017, com a vida política no Brasil retornando e o presidente eleito americano Donald Trump se preparando para a posse e o início das implementações de medidas que ele tem anunciado. “Tais riscos podem impedir o Banco Central de acelerar ainda mais o ritmo de redução dos juros para 75 pontos-base em janeiro e fevereiro. Em vez disso, é mais provável que o corte da Selic seja de 50 bps”, disse.

Destaques da Bolsa
A volta do Natal foi de alta para a maior parte das ações do índice. Os bancos, assim como Petrobras, Vale e Bradespar – holding que detém participação na Vale -, figuraram entre as maiores altas do Ibovespa, com ganhos de até 3% e ajudaram a sustentar os ganhos da sessão. No noticiário da estatal destaque para a liquidação de uma dívida de R$ 16,7 bilhões contraída junto ao BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).

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Enquanto isso, as ações da Fibria subiram, após a empresa anunciar um aumento de preço de US$ 20 por tonelada, válido para a Ásia, a partir de 1º de Janeiro de 2017. Com isso, o novo preço da celulose de eucalipto da Fibria na região asiática sobe para US$ 570 por tonelada.

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 BRAP4 BRADESPAR PN EJ 14,85 +3,70 +199,92 6,82M
 VALE3 VALE ON 25,99 +3,18 +100,63 22,07M
 GGBR4 GERDAU PN 10,62 +3,11 +129,43 26,68M
 VALE5 VALE PNA 22,82 +2,47 +124,11 95,88M
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 13,47 +2,20 -26,36 15,77M

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 CMIG4 CEMIG PN 7,40 -1,60 +30,50 29,65M
 RENT3 LOCALIZA ON EJ 33,99 -1,45 +40,29 12,73M
 CSAN3 COSAN ON 36,50 -1,06 +55,35 11,30M
 WEGE3 WEG ON EJ 14,72 -0,88 +0,93 5,99M
 BRKM5 BRASKEM PNA 32,90 -0,66 +32,38 9,48M
* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)


Resultado do Governo central
O governo federal gastou R$ 38,4 bilhões a mais do que arrecadou em novembro. Esse é o pior desempenho do governo central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) visto desde quando o Ministério da Fazenda passou a registrar os dados há vinte anos.

Segundo os dados publicados nesta segunda-feira (26), o principal culpado por esse resultado é o descontrole dos gastos públicos. Somente em novembro, houve um crescimento de R$ 16,7 bilhões nas despesas. Isso representa uma alta de 17% no mês.

Com este resultado, o acumulado de janeiro a novembro atingiu um déficit de R$ 94,158 bilhões, enquanto em 12 meses encerrados em novembro, o déficit somou R$ 154,791 bilhões. Em todas as comparações, o resultado é o pior desde o início da série histórica do Tesouro Nacional, em 1997. Segundo o Tesouro, para o mês de dezembro, é esperado um déficit de R$ 73,5 bilhões.

O desempenho do resultado do governo central de novembro é reflexo de déficit de R$ 19,167 bilhões no Tesouro Nacional, de R$ 222,9 milhões no Banco Central e de R$ 18,966 bilhões na Previdência Social.

Relatório Focus
Na última edição do Relatório Focus publicada neste ano, os economistas consultados pelo Banco Central voltaram a reduzir projeções para o desempenho da economia nacional. Para 2016, a mediana das estimativas para o PIB (Produto Interno Bruto) variaram de queda de 3,48% para 3,49% negativos, ao passo que no ano seguinte as apostas recuaram de leve alta de 0,58% para 0,50%.

Por outro lado, as estimativas para a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) sofreram forte redução de alta de 6,49% para 6,40% neste ano e de 4,90% para 4,85% no ano seguinte. Apesar disso, as projeções para a taxa básica de juros ao final de 2017 seguiram em 10,50%. Para o câmbio, houve uma redução de R$ 3,38 para R$ 3,37 ao final de 2016 e uma elevação de R$ 3,49 para R$ 3,50 no fim do ano seguinte.

Entre os cinco economistas que mais acertam em suas projeções — o chamado “top 5” –, as projeções para a inflação caíram de 6,47% para 6,36% de alta neste ano, mas subiram de 4,80% para 4,90% em 2017. Do lado do câmbio, a mediana das estimativas aponta para o dólar cotado a R$ 3,38 ao final de 2016 e R$ 3,50 no ano seguinte — R$ 0,10 mais barato em comparação às projeções da semana anterior. A meta da Selic ao fim do período, por sua vez, caiu de 10,38% para 10,25%.

Indicadores internacionais
Nesta segunda, os mercados estão fechados nos Estados Unidos devido ao Natal. Entre os indicadores mais importantes estão a balança comercial de novembro e os pedidos de auxílio desemprego de dezembro, que serão divulgados quinta-feira, às 11h30 (horário de Brasília). Na quarta-feira (21), às 13h30, serão conhecidos os estoques de petróleo. Entre os dados da China, destaque para os PMIs industrial e de serviços, que ainda não tem data para serem publicados e os lucros totais da indústria em novembro, que serão publicados nesta noite, às 23h30. 

Destaques políticos
Em pronunciamento em cadeia de rádio e TV na noite de sábado, véspera do Natal, o presidente Michel Temer disse que o Brasil derrotará a crise em 2017. Ele destacou que os juros estão caindo e continuarão caindo no ano que vem. O presidente também disse que os empresários voltarão a investir e o desemprego vai cair. Durante a sua fala, o peemedebista fez um balanço das suas ações em pouco mais de 100 dias como presidente e disse que está trabalhando para desburocratizar o Estado e atingir uma “democracia da eficiência”. Ao defender as reformas, o presidente disse que as mudanças nas estruturas do Estado é um “desafio complexo” e que buscará o entendimento por meio do diálogo. O peemedebista defendeu o que entende como necessidade de se promover alterações na Constituição de 1988 para a construção de um novo país. O discurso foi recebido por panelaços, apitos e gritos de palavras de ordem em algumas regiões do país. 

Noticiário corporativo
No radar corporativo, a Petrobras liquidou na sexta-feira uma dívida de R$ 16,7 bilhões junto ao BNDES relativo a três contratos de financiamentos com a subsidiária TAG e a própria estatal. Enquanto isso, a CCR entrou com pedido de análise junto à Anbima para emissão de debêntures de até R$ 800 milhões. Já a Ultrapar, anunciou o orçamento para 2017, ano no qual pretende investir R$ 2,174 bilhões. Por fim, a Light aprovou um aporte de R$ 12,2 milhões na Renova, que, por sua vez, fará um aumento de capital de até R$ 300 milhões.