Risco desprezado pelo mercado? Fundo Verde zera metade de suas posições em ações

Maior fundo multimercados do Brasil alerta que mercado não está precificando corretamente prêmio de risco de ações

Mário Braga

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SÃO PAULO – O rali dos mercados acionários após a vitória de Donald Trump, em novembro, indica que os investidores “escolheram” olhar apenas o lado bom do futuro presidente dos Estados Unidos, escondendo debaixo do tapete os riscos que ele representa. A avaliação é do Fundo Verde, um dos maiores e mais rentáveis do País, que não considera que o mercado está remunerando o risco de maneira adequada e, por isso, se desfez da metade de seus investimentos globais em ações.

Em sua carta de novembro, a equipe de gestão do fundo, comandada por Luis Stuhlberger, destaca que a atual combinação de elevadas taxas de juros, puxadas pela disparada dos yields dos Treasuries norte-americanos, combinadas com os mercados acionários em alta, significam “uma enorme compressão” do prêmio de risco de ações. Desde que o bilionário foi eleito, as bolsas norte-americanas têm quebrado sucessivos recordes históricos de alta, com a Dow Jones superando os 19.600 pontos e o S&P500 passando da marca dos 2200 pontos.

O Fundo Verde, o maior multimercados do Brasil, aponta que essa disparada mostra os investidores estão mirando apenas o lado “Good Trump”, “se encantaram” com a agenda econômica do republicano, levando em consideração apenas os aspectos de corte de impostos, investimentos em infraestrutura e no possível afrouxamento regulatório, que poderia significar um melhor ambiente de negócios. Por outro lado, os mercados parecem “esquecer” os riscos de conflitos comerciais e geopolíticos que o “Bad Trump” pode causar, observa o relatório.

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“Temos convicção que uma das principais razões para a sustentabilidade das margens recordes de lucro nos Estados Unidos é a globalização das cadeias produtivas. A reversão disso não é estruturalmente positivo, pelo contrário”, alerta o texto dos gestores, que administram R$ 30 bilhões em ativos.

O Fundo Verde aponta ainda que as indicações do futuro presidente dos EUA para compor o Fed devem favorecer políticas monetárias mais apertadas, o que representaria o fim da era de relaxamento quantitativo e injeções bilionárias de estímulos todos os meses por parte da autoridade monetária. O resultado prático disso será uma valorização ainda maior do dólar ante moedas emergentes. 

Foi exatamente a posição comprada em dólar contra moedas asiáticas, como o renminbi e o dólar de Cingapura, que gerou ganhos ao fundo em novembro. Por outro lado, os investimentos em renda fixa e em ações brasileiras geraram perdas. A equipe de Stuhlberger avalia que o mercado acionário doméstico só não piorou muito porque a agenda de reformas do ajuste fiscal “segue intocada”, apesar da persistente turbulência política.

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“Mas a lua de mel terminou, e a dura realidade de baixo crescimento, alto desemprego, e longo processo de desalavancagem se impõe. A nossa principal convicção continua a ser que as taxas de juro reais estão em patamar errado”, avalia o Verde, que, diante deste cenário, optou por alongar levemente suas posições em juros. O fundo rendeu 1,03% em novembro e acumula ganhos de 11,70% em 2016, enquanto o CDI avançou 1,04% e 12,74%, respectivamente.