Ibovespa sobe 2,1% e supera 61 mil pontos com mercado “bancando” crise institucional

Ibovespa sobe apesar de agravamento da crise institucional entre STF e Senado, com a percepção de que ainda existem condições de o ajuste fiscal avançar

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O Ibovespa acelerou os ganhos durante a tarde desta terça-feira (6), com a percepção do mercado de que o ajuste fiscal continuará a pleno vapor mesmo que Renan Calheiros seja substituído por Jorge Viana (PT-AC) na presidência do Senado. O benchmark da Bolsa brasileira subiu 2,10%, aos 61.088 pontos, após chegar a avançar 2,35% na máxima do dia. O volume financeiro ficou em R$ 7,806 bilhões. Enquanto isso, o dólar caiu 0,37% depois de marcar ganhos acima de 1% pela manhã, fechando cotado a R$ 3,4159 na compra e R$ 3,4166 na venda.

Durante a tarde a Mesa Diretora do Senado Federal decidiu confrontar o Supremo e afirmou que irá aguardar a deliberação do plenário do STF (Supremo Tribunal Federal) antes de cumprir decisão liminar do ministro Marco Aurélio Mello de afastar Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência da casa.

Os contratos de dólar futuro com vencimento em janeiro de 2017 fecharam em queda de 0,45%, a R$ 3,433. No mercado de juros futuros, os contratos com vencimento curto recuaram 6 pontos-base, a 11,98%, enquanto os com vencimento em janeiro de 2021 subiram. Nesta manhã, a ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) sinalizou um corte mais expressivo na Selic.

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A reação do mercado, com a valorização do Ibovespa, ocorre apesar do agravamento da crise institucional entre Senado e STF. O Legislativo decidiu não cumprir a decisão liminar de Marco Aurélio Mello de afastar Renan da presidência da Casa, em resposta a ação movida pela Rede Sustentabilidade, pegou o mundo político de surpresa. Também é esperado que parlamentares defendam Renan contra o que entenderam como decisão abusiva do Judiciário por intervir em outro Poder e por se tratar de decisão liminar. O afastamento do peemedebista da presidência do Senado ofuscou o anúncio da reforma da Previdência feito pelo presidente Temer na última segunda-feira.

Por outro lado, o mercado passou a digerir o afastamento de Renan e passou a ver uma chance de Jorge Viana manter na pauta a votação da PEC, apesar de que serão necessárias negociações e novos acordos. Além disso, o Senado já entrou com recurso sobre o afastamento do presidente da Casa e o Supremo confirmou que será o primeiro assunto a ser votado nesta quarta-feira (7).

A reação dos mercados está surpreendendo analistas. “Realmente não estou entendendo o mercado”, desabafou um analista de mercado que preferiu não se identificar. “O mercado não está dando bola para essa crise política, após tamanha afronta do Senado ao STF. Não está dando bola para o peso do aumento da gasolina na inflação. Não está dando bola para o efeito do Fed sobre o dólar”.

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Destaques da Bolsa
Entre os destaques de alta do Ibovespa ficaram as ações da JBS (JBSS3), com ganhos de 16,92%. Analistas do Itaú BBA elevaram recomendação para os papéis de market perform (desempenho em linha com a média) para outperform (desempenho acima da média), após a empresa anunciar uma revisão em seus planos de reorganização, prevendo um pedido de IPO (oferta pública inicial de ações) da JBS Foods International (JBSFI) na bolsa de Nova York no primeiro semestre de 2017.

O Credit Suisse ressaltou que a ação deve reagir positivamente hoje ao anúncio e disse que, no cenário mais conservador, o papel tem potencial para valorização de cerca de 30%. Já o BTG reiterou recomendação neutra, mas com viés positivo, caso a JBS consiga ir adiante com essa oferta. Também tiveram alta forte os papéis da Marfrig (MRFG3), que avançaram 6%, e Localiza (RENT3), que disparou após anunciar a aquisição da Hertz Brasil.

Os papéis da Vale (VALE3VALE5viraram para alta durante a tarde, adotando movimento em linha aos preços internacionais do minério de ferro. A commodity spot (à vista), negociado no porto de Qingdao com 62% de pureza, fechou em alta de 1,41%, a US$ 79,73 a tonelada. Acompanharam o movimento as ações das siderúrgicas, com Gerdau (GGBR4), Metalúrgica Gerdau (GOAU4), Usiminas (USIM5) e CSN (CSNA3).

Ainda na ponta positiva, as ações da Petrobras (PETR3; PETR4) se afastaram do dia negativo no início do pregão com a notícia de que a estatal irá reajustar os combustíveis nas refinarias, para que fiquem alinhados aos preços no exterior. Segundo o BTG Pactual, a notícia é muito positiva para a empresa, pois reforça total independência da companhia e a credibilidade da fórmula. Com esse aumento, a empresa está com prêmio de US$ 10,00/boe na gasolina e US$ 13,00/boe no diesel.

No setor financeiro, o Banco do Brasil (BBAS3) anunciou acordo com os Correios para manter serviços do Banco Postal por até 36 meses, mediante um novo modelo de remuneração. O novo modelo é baseado em parte fixa de 5 milhões de reais “e o restante na performance do negócio por meio de comissionamento variável, de acordo com o volume de serviços prestados”, disse o BB em fato relevante.

As maiores altas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 JBSS3 JBS ON 11,05 +19,07 -6,33 387,48M
 RENT3 LOCALIZA ON 34,52 +7,88 +41,53 140,38M
 MRFG3 MARFRIG ON 6,59 +6,81 +3,78 11,91M
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 13,65 +6,47 -25,38 70,71M
 CSAN3 COSAN ON 39,01 +5,43 +62,83 35,96M

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 EMBR3 EMBRAER ON 16,50 -2,14 -45,05 72,18M
 CMIG4 CEMIG PN 7,38 -1,20 +30,15 51,89M
 USIM5 USIMINAS PNA 4,01 -0,74 +158,71 79,03M
 SBSP3 SABESP ON 28,29 -0,46 +50,85 34,89M
 CIEL3 CIELO ON 28,34 -0,42 +2,96 117,89M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 PETR4 PETROBRAS PN 16,15 +3,13 1,02B 994,69M 65.330 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN ED 34,27 +1,33 412,88M 483,92M 23.672 
 VALE5 VALE PNA EJ 27,00 +1,43 394,72M 815,95M 27.353 
 JBSS3 JBS ON 11,05 +19,07 387,48M 114,07M 55.825 
 BBDC4 BRADESCO PN EJ 28,98 +2,15 315,31M 372,96M 25.139 
 PETR3 PETROBRAS ON 18,61 +3,27 292,23M 227,53M 25.921 
 BBAS3 BRASIL ON 26,68 +0,11 241,86M 264,13M 22.422 
 BVMF3 BMFBOVESPA ON 16,04 +2,56 199,87M 202,22M 26.387 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 16,75 +1,76 182,83M 252,89M 29.796 
 VALE3 VALE ON EJ 30,00 +1,35 144,68M 224,55M 16.874 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
 


Ata do Copom
O Comitê de Política Monetária reconhece que há o “risco palpável” de não ocorrer a recuperação da economia e que isso abre espaço para que os cortes de juro possam ser intensificados. “Destacou-se que o risco palpável de que não ocorra uma retomada oportuna da atividade econômica deve permitir intensificação do ritmo de flexibilização monetária”, citam os diretores do BC no parágrafo 21 da ata divulgada.

Nesse trecho do documento, os diretores explicam que foram discutidos os fatores condicionantes do ritmo e magnitude do processo de flexibilização monetária em curso. Na semana passada, o BC anunciou a redução do juro de 14% para 13,75% ao ano. “O Comitê entende que a convergência da inflação para a meta de 4,5% no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui os anos-calendário de 2017 e 2018, é compatível com um processo gradual de flexibilização monetária”, explicou o BC na ocasião e novamente no documento divulgado nesta manhã.

O BC explicou na ata que o processo em curso de corte do juro será calibrado pela trajetória da inflação. No mesmo texto, os diretores do BC reconhecem que as expectativas do mercado para a inflação de 2017 e 2018 têm caído, o que sugere que pode haver mais espaço para flexibilização das condições monetárias. “As projeções para ambos os anos (2017 e 2018) melhoraram, especialmente no cenário de mercado. Isso sugere que pode haver mais espaço para flexibilização das condições monetárias do que o percebido anteriormente”, cita o documento no parágrafo 20.

O documento também informou uma mudança na premissa para o câmbio, de R$ 3,20 na ata anterior para R$ 3,40 na atual. A cotação é utilizada para a formação do cenário de referência. Com isso, o novo valor considerado para o dólar coincide com o registrado na ptax (R$ 3,3967) do dia em que o colegiado decidiu cortar a Selic de 14,00% para 13,75% ao ano. A elevação do parâmetro cambial considerado ocorre após a corrida mais recente da moeda americana ante o real, na esteira da vitória de Donald Trump na eleição dos EUA. Do encontro de outubro do Copom para o de novembro, a moeda americana subiu quase 7%.

Bolsas mundiais
A sessão é mista para as principais bolsas europeias após um dia de recuperação na véspera, passado o “susto” do resultado do referendo na Itália e a decisão do premiê Matteo Renzi de renunciar ao cargo. A postura dos investidores locais é de espera pelas sinalizações da próxima reunião do Banco Central Europeu, marcada para a próxima quinta-feira.

Ainda no velho continente, destaque para a alta de 0,3% do PIB (Produto Interno Bruto) da zona do euro em comparação com o período anterior. O resultado confirma a leitura preliminar e também veio em linha com a expectativa dos analistas ouvidos pelo Wall Street Journal. Já na comparação anual, o PIB da região teve avanço de 1,7%, acima da leitura preliminar e da previsão dos economistas, ambas em 1,6%. Em uma base anualizada, a economia da zona do euro teve crescimento de 1,2% no terceiro trimestre.

Na Ásia, os índices acionários da China caíram, com os investidores contemplando as possíveis repercussões, sobre o comércio, das declarações do presidente da Comissão Reguladora de Valores Mobiliários — principal regulador de títulos no país –, Liu Shiyu, sobre aquisições “brutais”.

(com Agência Estado, Bloomberg e Reuters)

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.